Eu acordei e olhei no relógio, ele marcava 10:00 horas da manhã. Eu fiz uma careta, murmurei alguma coisa ininteligível e voltei a me enfiar embaixo das cobertas... Cobertas macias... Travesseiro fofinho.... Não me lembrava da minha cama ser tão confortável... E cheirosa e...

   -Merda!! - gritei me levantando com um pulo, tinha me esquecido que agora estava trabalhando. No contrato dizia que eu tinha que acordar ás 7:00 para fazer o café da manhã, o que eu achei estranho já que julgando pelo físico daqueles dois qualquer um pensaria que eles simplesmente “não comiam” . - Droga droga droga! - sussurrava enquanto descia as escadas com a roupa que usara para dormir mesmo. Um camisetão e um shorts velho. - Meu primeiro dia aqui e eu acordo 3 horas atrasada...Merda!! -exclamei, finalmente chegando na cozinha. - AHHH!!!

   -AHHH!! - Ele gritou. Seus olhos arregalados devido ao susto que tinha dado nele.

   -Gustav..? 

   -Que susto! - exclamou levando a mão ao peito um tanto ofegante. - Você deve ser a Liz.

   -Hallo... - respondi sem graça.

   -Belo trabalho com a sala e a cozinha! Me desculpe se te assustei, só vim acordar os gêmeos, eles tem que chegar cedo no estúdio e se ninguém passa para acordá-los eles só aparecem lá ás 6 horas da tarde! - disse rindo alto.

   -Você quer que eu acorde eles? - perguntei para não interromper seu café da manhã.

   -Você não ia conseguir... E de qualquer forma eu sempre me divirto fazendo isso! - disse com um sorriso levado passando por mim. - Você não vai contar a eles sobre como eu gritei como uma menininha agora á pouco, não é? - perguntou piscando um olho, eu sorri e senti minhas bochechas corarem.

   -Você vai contar a eles que eu acordei atrasada? – brinquei, Gustav exibiu um grande sorriso.

   -Temos um trato! – Ele disse passando por mim e subindo as escadas 2 degraus de cada vez.

      Continuei parada na porta durante alguns segundos, observei o sanduiche que o Gustav havia feito e fiz mais dois iguais áquele, cortei algumas frutas que estavam na geladeira e fervi água para fazer um café. Depois subi as escadas, troquei de roupa e fiz minha higiene matinal. Quando voltei a descer as escadas Tom estava tomando o café que eu preparara e Bill me esperava escostado na parede da sala mexendo em seu celular.

   -Ah finalmente! Estava te esperando. - ele disse fechando o celular e o guardando em sua bolsa. - Ok...È o seguinte, nós só vamos chegar á noite e eu quero que você limpe o estúdio hoje. Mas não toque em nenhum instrumento, e tome muito cuidado quando for limpar os prêmios, principalmente os do Comet Awards por que eles são redondos e bem...Rolam! Não precisa passar pano, só tire o pó! E com muito cuidado para não apertar nenhum botão e desregular tudo! - Bill explicou de uma forma no mínimo assustadora. - Limpe o quarto do Tom primeiro depois o meu e por último o estúdio. Não precisa fazer nem o almoço nem a janta.

   -Primeiro o quarto do Tom, depois o seu,depois o estúdio. Sem comida, só tirar pó, prêmios que rolam... Entendi.

    Bill me deu as costas e se sentou ao lado do Tom na mesa. Eu corri para o quarto do Tom, peguei todas as roupas do chão e joguei em uma cesta de roupas sujas, arrumei a cama, peguei o espanador de pó e tirei o excesso de poeira dos móveis, parei quando cheguei no criado-mudo. Descansando sobre a tampa de vidro próximo do abajur havia um grande porta retrato branco com detalhes de brilhantes, provavelmente um dos mais bonitos e delicados que eu já havia visto. Peguei-o em minhas mãos e analisei a foto cuidadosamente.

      Havia um casal abraçado na foto e eu demorei alguns segundos para identificar que era o Tom e a Abbey. Seu cabelo estava diferente, ele ainda usava as rastas loiras que lhe davam um ar mais infantil, mas o que me deixou mais desconsertada era o sorriso que exibia.O sorriso que eu tantas vezes me peguei admirando em fotos espalhadas pela cidade, aquele sorriso enorme que forçava seus olhos a se fecharem e exibia todos os seus dentes perfeitamente alinhados. Seu sorriso puro de criança...

    E a mulher que sorria ao seu lado...Tão linda! Ela usava um vestido florido e sua pele branca entrava em contraste com a roupa preta de Tom, seus cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo alto e apenas alguns fios pareciam lhe escapar caindo sobre suas bochechas rosadas. Eu já havia visto fotos da Abbey em revistas e na televisão mas sempre me pegava sem palavras diante de sua beleza delicada, como se fosse quebrável  e feita de porcelana. Tom a agarrava por trás apoiando o queixo em seu ombro e ela segurava na mão dele que contornava sua cintura sorrindo para a foto, um sorriso enorme... Um sorriso de quem estava real e verdadeiramente feliz.

    Fui pega por uma sensação de pena e desconforto, aquele Tom para quem eu olhava agora na foto parecia a pessoa mais feliz do mundo ao lado dela...Mas a dor de sua perda pareciam ter escurecido o brilho de seus olhos e escondido seu sorriso. Não precisava ser muito perceptivo para notar que a saudade o tornara uma pessoa amarga, com rancor e raiva de tudo.

-Era tão bonito na foto... -  sussurrei deslizando meus dedos pelo vidro frio do porta retrato. - Por que você parece incapaz de seguir em frente? – perguntei – È a Abbey que está te segurando?

-Ela era linda não era? - Uma voz interrompeu meus pensamentos. Eu me assustei e voltei a colocar a foto no lugar rapidamente.