È fácil lembrar com detalhes a maioria das coisas que fizemos juntos, especialmente o dia em que a conheci.

    Ela usava uma calça jeans clara e uma bata florida, tinha os cabelos longos presos em um meio rabo. Estava com 14 anos e eu 16... Fazíamos um show em Hamburg e quando eu sai do palco ela estava lá, junto com mais um bando de adolescentes que também tinham conseguido passe VIP para o backstage. Mas foi ela que chamou a minha atenção... Abbey era de longe a mais tímida e algo em seus olhos e no modo tímido como agia me deixou intrigado. Eu ainda era extremamente imaturo, não pensava antes de fazer as coisas. Achei que seria divertido ver sua reação se eu a levasse para algum lugar e a beijasse, simplesmente não conseguia acreditar que ela era tão inocente e pura quanto aparentava. Então depois de ter distribuído autógrafos para um monte de gente eu fui até ela e peguei na sua mão.

-O que está fazendo? - perguntou sem graça, sorri ao ver suas duas bochechas corarem.

-Vem comigo... - disse sem parar de andar, ainda segurando forte em sua mão. Eu a levei até um corredor escuro e deserto atrás do camarim e prensei-a contra a parede juntando nossos corpos com força.

-O-O que está fazendo? – repetiu a pergunta gaguejando visivelmente nervosa e respirando com alguma dificuldade.

 -Qual é o seu nome? – perguntei roçando meu nariz em seu pescoço, me divertindo ás custas de seu nervosismo.

-A-Abbey...

-Você gosta de mim, Abbey?

-Sim.

    Eu sorri e a beijei, senti que ela recuou, estava confusa e não sabia o que fazer, como reagir ou aonde colocar as mãos, a sentia tensa perto de mim, mas aquilo não me fez parar, me fez ficar com mais vontade ainda de continuar. Passei minhas mãos pela sua cintura e a puxei para mais perto. Ela pareceu relaxar e finalmente correspondeu ao beijo, passando suas mãos frias e trêmulas pelo meu pescoço. Quando nós nos separamos ela olhou para mim sem graça mordendo seu lábio inferior, rindo timidamente.

-Por que está rindo?

-Você foi o meu primeiro beijo...Eu realmente sou uma menina de sorte, não acha? - perguntou exibindo um enorme sorriso. Eu não tenho certeza do que aconteceu depois, lembro que senti minhas bochechas queimarem e provavelmente fiz alguma cara engraçada, por que ela começou a rir alto. Talvez tenha sido naquele momento que eu me apaixonei pelo seu sorriso, pela primeira vez eu me encontrei sem palavras diante de uma menina.

     Depois disso eu pedi o seu telefone e ela foi embora com o irmão. 2 dias depois eu sabia aquele número de cor e de trás pra frente. Ligava sempre que conseguia e em pouco tempo ela já conhecia a minha família e o mundo a conhecia como minha namorada. È engraçado me lembrar de tudo agora... Eu nunca sabia como agir, não sabia o que fazer, o que iria aborrecê-la ou o que a deixaria feliz. Simplesmente não sabia ser um namorado. Fiz coisas que nunca imaginei que faria, senti coisas que nunca julguei reais. A Abbey tinha um jeito de me olhar que era diferente de qualquer outra pessoa, tinha esse poder de te fazer sentir especial e ao mesmo tempo uma merda por não ser como ela... Eu me divertia ás suas custas, fazendo tudo que podia para provocá-la. Simplesmente adorava vê-la irritada comigo, bufando pela casa e reclamando das minhas manias calculadas para deixá-la nervosa. Mas toda a raiva ia embora assim que eu dizia “eu te amo”. Fácil assim.

     Nós estávamos juntos há quase 2 anos e 6 meses quando ela descobriu que tinha câncer, me lembro da sensação de estar desabando em um buraco sem fim, tentando me agarrar a alguém ou alguma coisa para me impedir de cair. Então ela me ofereceu sua mão e eu me agarrei a ela, com todas as forças que consegui.

    Decidimos não tornar isso público, foi uma decisão dela e de sua família... E eu dava total apoio. Pode parecer mentira, mas a Abbey nunca chorou na minha frente, ao invés disso ela me falava para não chorar por ela. Se fazia de forte e nunca me deixava ter muitas esperanças. Eu sabia que era só por medo de me fazer sofrer mais depois, mas eu podia ver em seu rosto que ela tinha esperanças, eu sabia ela acreditava que tudo ficaria bem. E eu fiz o mesmo. Me iludi tanto que ás vezes até me esquecia da doença dela, era ingênuo demais... Achava que nossa história era boa demais para ter um fim.

    1 ano e meio depois parecia que as coisas finalmente estavam melhorando. Ela dificilmente tinha recaídas e aceitou se mudar para o apartamento comigo e com o Bill. Vivíamos de um jeito normal, fazíamos tudo o que queríamos fazer.

    No fim de semana onde tudo aconteceu, a Abbey estava no meio do tratamento. Ela estava de um lado pro outro reclamando que estava tonta e se sentindo um pouco fraca, mas ninguém deu muita atenção, nem mesmo o Bill que estava sempre preocupado com qualquer coisinha... Todos achamos que era só um efeito dos remédios. Eu tive que sair cedo para uma reunião no estúdio e a Abbey ficou dormindo no apartamento.

     O Andreas me ligou no meio da reunião. Eu olhei sem graça para todas aquelas pessoas me olhando estranho ao redor da mesa quando Samy Deluxe ecoou pela sala onde acontecia a reunião.

-È o Andreas... - sussurrei para o Bill. - Com licença – pedi para as pessoas ao redor. - Hallo?

-Você atendeu!! Graças a Deus!!! Onde você está, cara!?!? - Ele gritou visivelmente alterado.

-Não grita, caralho!! – pedi afastando o celular do ouvido com uma careta. Georg começou a rir. – Que foi?!

-Liga a TV!! Rápido!! È a Abbey... - Ele quase sussurrou no final. Senti meu coração desacelerar como se houvesse parado no meu peito, meu estômago se revirando, minhas pernas perdendo a força. Sabe aquela sensação de aperto no peito? Quando você sabe que alguma coisa está errada?!