- Eu não acredito. – Rachel estava com a boca completamente aberta. – Você está alucinando Kurt.

- Não, eu não estou. – Ainda mantinha os olhos fixos no homem.

- Ele não existe. – Rachel me encarou.

- A não? Então me explique o senhor ali. – Não toquei mais em meu café.

- Não é ele Kurt, é uma mera coincidência. – A morena dizia calma.

- Coincidência? Impossível. – Bati a mão na mesa fazendo com que o homem se virasse para mim.

Eu corei imediatamente. Minhas bochechas estavam vermelhas como maçãs. Eu não sabia se olhava para ele ou fingia que ele era invisível. Eu não sabia como me portar. Eu simplesmente fiquei sem reação.

- Vai falar com ele. – Ouvi a voz da Rachel.

- Tá maluca? – Praticamente gritei e afundei na cadeira, não ia suportar outros olhares vindos dele.

- Não. – Ela disse como se fosse a coisa mais normal do mundo.

- O que quer que eu diga? Oi, sabia que eu sonhei com você há alguns anos e desde então não tiro a sua imagem da minha cabeça? – Rachel riu. – Ele ligaria para o hospício.

- Ou para a polícia. – Ela tomou um gole do café e o meu continuava intacto.

- Eu só queria saber de onde ele é. – Fingi olhar para a porta e cuidava o garoto pelo canto do olho.

- Isso é muito estranho. – Rachel ria.

- O que? – Retornei o olhar para ela.

- Você sonhar com um estranho e alguns anos depois encontrar ele em uma cafeteria. Em Lima. – Ela parecia incrédula. – É muita coincidência.

- Estou muito confuso. – Minha cabeça parecia girar.

- Kurt, e se ele é da CIA e deu um jeito de entrar na tua mente? – a morena tinha uma expressão pensativa.

- Rachel, volte para o mundo real. – Ri.

- E o mundo real parece bem sensato, não é? – Na mesma hora o garoto passou ao nosso lado.

- O perfume dele é bom. – Fechei os olhos inalando o doce cheiro.

- Kurt! – Abri os olhos e os fixei em Rachel. – Você parece um louco.

- E quem disse que não sou? – Sorri.

- Eis a questão. – Ela riu. – Ele sentou atrás de você. – Rachel sussurrou.

- Eu percebi. – Respondi o sussurro.

- Pelo perfume?

- Sim. – Ambos começamos a rir. – Shh. – Fiz sinal para ela parar.

O garoto agora atendera ao telefone. Ele falava algumas coisas que eu não entendia muito bem pelo volume da voz. Eu entendia apenas um “tudo bem”, “claro”. Meu olhar fixo em Rachel que ria sem parar.

- Kurt, você está completamente maluco. – Ela estava corando de tanto rir.

- Rachel, fica quieta. – Elevei minha voz demais.

- Tem muito barulho aqui, te ligo mais tarde. – E então ele desligou o telefone.

- Obrigado. – Disse entre dentes para Rachel que ainda não tinha cessado os risos.

- Droga! – Ouvi a voz em minhas costas exclamar. – Posso pegar um guardanapo? – E quando me dei por conta ele estava parado ao lado de nossa mesa, com a camisa suja de café.

- Claro. – Rachel entregou alguns guardanapos para ele que voltou a se sentar. – Ele é bonito. – A morena sibilou sem som algum.

- Blainey! – Outro homem mais alto e também moreno entrou na cafeteria gritando e sentou-se ao lado do garoto.

- Cooper, pode chamar menos atenção? – Agora o garoto sussurrava, mas alto demais para um sussurro.

- Qual foi, Blainey. – Não pude me segurar e comecei a rir.

- Viu, está fazendo pessoas rirem de mim. – Parei no instante e Rachel me encarava.

- Vocês estão rindo do Blainey? – E não pude me conter de novo.

- Não. – E continuava a rir.

- Não precisa mentir. – E parei imediatamente vendo o sorriso do garoto. O sorriso mais perfeito do mundo.

- E-Eu não estou. – Desviei o olhar para Rachel que ainda ria.

- Sim, ele está. – E gargalhou.

Senti meu rosto corar como nunca antes. Rachel tinha esse pequeno dom de me envergonhar na frente dos outros, maldita Berry. Mas terá troco, como em todas as outras vezes.

- Tudo bem. – Ele deu um sorriso e se virou para frente. – E Cooper, pare.

Olhei Rachel com tanta raiva que ela logo ficou séria. Levantei-me e sai da cafeteria. “Droga, tá muito frio” pensei e logo senti um braço entrelaçar no meu. A garota tremia de frio e seu rosto estava completamente pálido. Caminhamos em direção a nossas casas, quase morrendo no caminho.

- Tchau, Kurt. – E ela correu para dentro de casa.

- Tchau, Rach. – Lhe dei um aceno e saí em disparada para a minha casa.

Eu havia conhecido o garoto na qual eu sonhei há anos atrás, isso não pode ser. É meio impossível, meio maluco. Será que eu estou sonhando de novo? Não pode. Está muito frio. A neve voltou a cair, não nevava tinha algum tempo. Peguei o celular e mandei uma mensagem para meu pai avisando que estava chegando. Meu pai, acho que se pode dizer, é o melhor pai do mundo. Ele me apoia em minhas escolhas, bom nem em todas, mas ele me deu total apoio quando lhe contei sobre minha sexualidade, o que é muito raro. Maioria dos pais não aceitam seus filhos.

Cheguei em casa e senti um cheiro agradável vindo da cozinha. Carole estava preparando o jantar junto com meu Pai. Finn, meu meio irmão, estava no quarto jogando vídeo game em um volumo extremo.

- Oi irmãozinho. – Ele disse ao me ver passar pela porta entreaberta.

- Oi Finn. – Passei sem me demorar muito.

Tomei um banho quente e me deitei para ler um pouco, mas acabei pegando no sono. Quando retornei a abrir os olhos a claridade já tomava conta do quarto e o despertador soava alto. Levantei-me e fui direto para o banheiro, tomei uma ducha rápida e me vesti.

Desci e encontrei todos a mesa, peguei uma maçã na fruteira e sai apressado, tinha que passar na casa de Rachel antes de ir para escola, como de costume.

- Não quer carona? – Finn disse com a boca cheia de panquecas. Olhei a neve e o frio lá fora e me virei para encara-lo.

- Sim. – Sorri e sentei a mesa.

Mandei uma mensagem para Rachel e ela ficou um pouco irritada, mas ninguém merece encarar esse frio a essa hora da manhã. Ela disse que um de seus pais a levaria para a escola e que ela me aguardaria lá.

Por conta da acumulação de neve nas estradas, Finn não correu muito com o carro. Chegamos em cima da hora à escola lotada. Os corredores continham pessoas que iam para todas as direções.

- KURT! – Ouvi a voz de Rachel me chamar do outro lado.

Sorri e caminhei até ela, na verdade, lutei para chegar. Hoje todos estavam mais eufóricos e aparentavam estar mais fortes que o normal. Cheguei até ela e a morena continha um sorriso no rosto. O seu armário estava aberto e pude ver as milhares de fotos a Broadway e partituras.

- Olha quem está aqui. – Ela fechou o armário para que eu pudesse ver.

- Oi. – Com um sorriso tímido o garoto me cumprimentou.

- Oi. – Rachel mantinha o sorriso no rosto, mas eu tinha uma expressão de surpresa.

- O Blaine vai estudar aqui na Mckinley, Kurt. – Rachel disse e tive que fazer o máximo de esforço para que meu queixo não caísse no chão.