Metamorfose escrita por Tulipa


Capítulo 1
Capítulo Único - Fora do casulo


Notas iniciais do capítulo

Eu escrevi esse one-shot conforme fui me lembrando do enredo do filme. Confesso que ela demorou a ficar pronta porque eu não saí muito contente do cinema. No entanto, adorei a mudança da personalidade do Tony, porque assim a minha outra fic Pepperony faz mais sentido. Hahahaha. Mas agora eu gosto de IM3, não é o meu favorito, mas eu gosto, acho que enfim entendi a história ~palmas para mim~



Daí a história começou a fluir, bem deu nisso aqui...



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Essa noite eu descobri que a Pepper é a mulher certa para mim, não que eu ainda tivesse dúvida, ela é mesmo a mulher da minha vida, porém, vê-la em ação foi algo inexplicável, sensacional. Que mulher. Nem de longe lembrava aquela que ficou histérica ao me ajudar a trocar o dispositivo do peito há algum tempo.

E então a adrenalina abandonou seu corpo e ela voltou a si, ficou assustada por estar naquele estado, em chamas, um tanto agressiva, mas eu a via. Via a mulher doce pela qual eu me apaixonei, que nunca foi frágil, apesar da aparência. Sempre soube que um dia Pepper me surpreenderia, e, bem, esse dia chegou. Vê-la ser torturada foi algo doloroso, eu pude sentir a dor dela, cheguei a torcer para que o organismo dela não rejeitasse o vírus extremis, pois, livra-la dele com certeza seria mais fácil do hipoteticamente viver sem ela.

—Isso foi super violento.— ela disse se dando conta da dimensão da força ou talvez fosse poder que ela tinha agora, para acalmá-la fiz os meus gracejos corriqueiros, mostrando que ela podia ficar tranquila, que havia acabado e então tentei abraçá-la.

—Não, não chega perto eu posso machucar você.— esquivou-se apavorada.

—Você não vai me queimar, eu sei que você não me machucaria.— eu disse e enfim consegui tomá-la em meus braços, o corpo dela irradiava calor, mas era suportável, seus olhos estavam turvos, escuros, mas a Pepper de sempre ainda estava lá.

—Eu vou ficar bem?— me perguntou com a respiração sôfrega e a voz vacilante.

—Vai, meu amor, você vai, eu garanto, cuidarei de você. Mas sabe, você está numa relação comigo, então...— a abracei mais forte, sabia que ela queria voltar a ser apenas a Pepper normal sem aquele vírus correndo em suas veias. E ela voltaria. Dei-lhe um beijo na bochecha, senti seu corpo ficar menos tenso —Jarvis, faça o que ela quer.

Protocolo começar do zero, Sr?— Jarvis prontamente me perguntou.

—Isso mesmo.— afirmei e percebi que os olhos dela me fitaram com desconfiança.

Tem certeza, Sr?— Jarvis quis assegurar, eu nunca tive tanta certeza na minha vida.

—Sim.— afirmei e imediatamente todas as minhas armaduras começaram a explodir e o céu mudou de cor.

—Tony?!— ela disse surpresa olhando para o céu outrora negro, incapaz de articular algo —Tony...são as suas...?

—As minhas armaduras, todas elas.— eu respondi.

—Mas elas são parte de você.— disse atônita —E agora eu...eu entendo porque você nunca quis se livrar delas.— ela tentava se desvencilhar dos meus braços.

—São distração, Pep.— a segurei firme e beijei seus cabelos.

—Tony, não era isso que eu queria que você fizesse, só queria que você se desse conta de que não era saudável ficar enfurnado naquela oficina aprimorando os seus projetos.— ela disse consternada.

—Pronto. Acabou. Não há mais oficina, não há mais projetos.— Pepper balançava a cabeça negativamente —O que está te afligindo?— perguntei.

—Um dia você irá me culpar por isso, por ter destruído tudo o que você construiu, dirá que fez por mim, porque eu pedi.— ela se desvencilhou do meu abraço.

—Eu nunca farei isso, fiz porque eu quis, até porque, se eu não quisesse não teria feito. Afinal de contas, por mais que você me dê conselhos eu sempre acabo fazendo só o que me convém, não é?

—Ah, Tony, estou confusa, porque fazer isso? É uma atitude extrema, é loucura, você faz isso agora e daqui uma semana estará reconstruindo tudo...

—A oficina já era, Pepper. É hora de repensar a minha vida, como homem, como herói, empresário, é hora de recomeçar.— eu disse a ela.

—Porque eu não estou gostando desse rumo?— ela franziu a testa.

—Não sei, eu, sinceramente, achei que você adoraria que eu tivesse mais tempo para você.

—Eu quero que você tenha mais tempo para mim, no entanto, você terá mais tempo para um monte de outras coisas, daqui alguns dias você estará entediado e...

—E você tem medo que eu volte a ser aquele canalha?— eu a cortei —Que eu deixe você dormindo e em vez de ir para a oficina eu saia por aí na badalação, é isso?

—Talvez seja isso, já disse que estou confusa, é muita coisa.— ela confessou —Mas ao mesmo tempo eu sei que não vai acontecer, eu sei o quanto você amadureceu, sei que você não me trairia.

—Pelo menos eu vejo que você tem um pouco de fé em mim.— eu sorri.

—O que me inquieta é esse papo de repensar a vida como homem e não sei mais o quê,...tenho medo de levar um pé na bunda.— ela admitiu me fazendo rir.

—Abro mão de tudo da minha vida antiga, menos de você.— garanti para ela.

—Mesmo?

—Mesmo!— afirmei —Bom, pelo menos enquanto você ainda estiver assim, até porque, eu levaria uma surra ao tirar você do sério. Enquanto você não voltar ao normal é você quem dita as regras, não farei nada que te deixe zangada, Super Pep— brinquei e ela sorriu.

—Super Pep?— arqueou uma sobrancelha.

—Não gostou do nome? É só a primeira opção, que tal, Garota Flamejante? Resgate? Afinal, você meio que me salvou, não foi? Mas precisamos rever esses trajes por que...

—Amor, não viaja.— ela me disse.

—Estava só descontraindo, a noite já foi tensa o bastante.— justifiquei.

—E como será daqui pra frente?— ela me perguntou.

—Não sei, mas acho que precisamos de um descanso, é natal. Amanhã começamos a pensar.— eu disse a ela.

Eu não dormia bem há dias, mas hoje estava realmente exausto, fisicamente, mentalmente, só não emocionalmente porque tinha Pepper comigo, no entanto, foi um susto vê-la cair daquela altura, foram minutos angustiantes até vê-la ressurgir das cinzas, chamas, sei lá, só sei que cada vez o mito da Fênix ganha mais força.

—Vamos para o meu apartamento então.— ela disse me despertando dos meus pensamentos.

—Isso é um convite para...?

—Para uma coisa deliciosa e relaxante, um bom banho e depois uma boa noite de sono.— ela disse e piscou para mim —E fique feliz por não dormir no sofá.

—Por que eu dormiria no sofá?— perguntei confuso.

—Por quê? Você ainda pergunta?— mostrou-se indignada —Vem meu amor, eu seguro você— fez uma voz irônica —E então eu despenco de 60 metros, agradeci por ter virado uma mutante, ou seja lá o que eu sou agora.— ela disse olhando para as próprias mãos.

—Você não é uma mutante, você é a Pepper de sempre, a minha Pepper, embora flamejante, numa roupinha sexy que...Deus do céu, está calor aqui, não está?— ela amarrou uma careta e então eu parei com os comentários —Me desculpa?— dei um sorriso amarelo.

—Depois que você me consertar.— ela me deu um beijo casto e depois me deu a mão —Como eu me livro disso?— perguntou olhando braço de umas das armaduras que ainda estava acoplado a ela.

—Jarvis?— chamei e ele logo compreendeu, e então o braço soltou dela e as peças caíram pelo chão.

Deixávamos o estaleiro e, segurando-a pela mão, eu fui dando passos em direção ao nada, em meio àquela noite escura. Passos um tanto hesitantes em direção a uma nova vida, abandonando a minha própria vida.


Na manhã de natal, eu me dei conta que a minha jornada chegava ao fim, eu não dormi bem à noite, com a Pepper não foi diferente, mas a minha ficha finalmente caiu. Você começa com uma coisa pura, visando um bem comum, algo que te empolga, e então, surgem os erros, as concessões, ambição. Eu criei os meus próprios demônios, e só eu posso me livrar deles. Nova York é só uma cidade, e tudo o que eu vivenciei lá, fez parte de uma experiência diferente, nem positiva, nem negativa, é hora de voltar, encarar os meus fantasmas, até reerguer a minha casa, a mansão de Malibu precisava mesmo de uma reforma.


Como eu havia prometido comecei a resolver o problema da Pepper, deu trabalho para consertar, e então, eu me lembrei que a equação para a solução do problema dela eu havia começado há quase quinze anos, bêbado numa noite de ano novo, não seria difícil continuar agora. E então eu pensei: Porque parar aqui? Eu poderia me consertar também, é isso o que eu faço, conserto as coisas.

Há quem diga que o progresso é perigoso, que manipular algo dessa proporção pode ter circunstâncias desastrosas, mas nenhum desses idiotas questionadores teve que viver com o peito cheio de estilhaços, agora, eu também não vou ter. Quando as coisas estão nas mãos certas, o progresso é só evolução, provei isso no setor de armamentos e provarei isso no setor de biotecnologia. E depois de tudo, foi a melhor noite de sono que eu tive em anos.

Equipei a oficina do Harley, já que eu não tenho mais a minha. Queria poder ver o sorriso no rosto dele, queria poder ver o que ele criará com todas as ferramentas que eu dei para ele, talvez eu veja. O mundo um dia precisará de um novo mecânico. Aquele garoto tinha algo especial, ingênuo, sagaz, ele mexeu mesmo comigo, despertou algo em mim e, mesmo que eu nunca mais o veja, nós tivemos sim uma conexão. Me lembrarei dele para sempre e sei que ele não me esquecerá também.

Agora é hora de abrir mão da última coisa que me liga ao passado, mesmo que por causa dela eu tenha sobrevivido àquele piquenique de três meses numa caverna no Afeganistão. Você vivência coisas e elas terminam, chega a hora de seguir em frente. Mesmo que eu ainda estranhe me olhar no espelho depois do banho e ver o meu peito vazio. Mesmo que eu ainda tenha que me acostumar a não ter mais esse dispositivo brilhante refletindo na pele clara da Pepper quando nós estamos intimamente ligados. Ou não ter mais ela bailando com os dedos entre os feixes de luz azul, enquanto aguarda o sono chegar. Às vezes eu me pego tamborilando com os dedos no local onde antes estava o reator arc, como fazia enquanto me perdia em meus pensamentos, o som é diferente agora.

Sem nostalgia. É hora de deixar certas coisas para trás. Se dependesse da Pepper, ela colocaria esse dispositivo numa caixa de vidro, como fez com aquele protótipo, sempre me lembro de agradecer por ela ter feito aquilo. Agradecer. Nunca me importei com agradecimentos, mas, Yinsen, a Pepper e até o Harley, me devolveram a vida, me deram esperança quando eu achava que tudo havia acabado.

Porém, esse dispositivo não é mais necessário, não ficará exposto num relicário, a Pepper já me provou que eu tenho um coração, e é dela, ele não precisa mais desse eletroímã que eu tenho agora em minhas mãos, para continuar a bater. O fundo do mar parece o lugar certo para ele. Acabou. O arremesso sem culpa e com a sensação de dever cumprido, eu fiz o que me propus a fazer, se um dia for necessário, assumo o meu posto novamente. Por que eu sou isso, e ninguém nunca me dirá o contrário. Nunca foi algo para chamar atenção, ou um hobby, minha armadura era um casulo, não se sai do invólucro sem estar pronto, e agora o casulo foi aberto, a metamorfose está completa. Eu sou um novo homem.

—Demorei?— perguntei ao chegar onde ela estava.

Pepper não quis ir comigo até a mansão, ou o que sobrou dela, disse que aquele era um momento meu, e então preferiu ficar na praia esperando por mim. A encontrei caminhando na areia não muito longe de casa, ela estava linda num vestido branco com uma faixa florida marcando-lhe a cintura, seus cabelos voavam com o vento.

—Tudo pronto?— ela me perguntou e eu assenti —E agora?

—Aquela nossa viagem de férias e depois...

—Torre Stark, tem certeza?— ela perguntou preocupada, mais uma vez eu concordei com a cabeça. —Então tudo bem, se é o que você quer.— ela disse me livrando do blazer e abrindo os primeiros botões da minha camisa.

—O que significa isso?— perguntei.

—Estamos na praia, não sei se você percebeu.— ela me disse —Tire os sapatos.— fiz o que ela disse, e dobrei a barra da minha calça duas vezes, há anos não sentia a areia sob os meus pés, mesmo morando tão próximo do mar. —Pés no chão, não é boa essa sensação?— ela me perguntou sorrindo —Há anos eu venho e volto por essa estrada, olhava para cá, mas nunca vinha até aqui.— ela disse, Pepper pensava da mesma maneira que eu.

—Pep, você não acha estranho olhar para mim e não ver mais aquele dispositivo no meu peito? Não sente falta de brincar na luz dele antes de dormir?— não contive a minha curiosidade.

—Não sinto falta, embora saiba que por causa dele você sobreviveu, e viveu todo esse tempo, mas agora ele não é mais importante.— ela deu de ombros —E, sobre brincar na luz do reator, quem é que liga pra um brinquedo quando se tem um parque de diversões tão grande?— ela me deu um sorriso sacana.

—Parque de diversões?— a segurei pela cintura.

—É só uma metáfora.— Pepper pôs os pés sobre os meus e envolveu os braços ao redor do meu pescoço, nos beijamos avidamente. Os lábios dela logo correram para o meu pescoço e então ela deitou a cabeça no meu ombro, afaguei os seus cabelos.

—Passamos por tanta coisa, não foi?

—Acho que eu viveria tudo novamente, se tivesse a certeza de que no final estaríamos aqui, juntos como estamos agora.— ela me disse.

—Tudo mesmo?

—Não.— ela torceu o nariz —Abro mão das partes angustiantes.

—Me desculpa por ter te colocado em risco tantas vezes, e por...

—Você anda pedindo muitas desculpas— ela levou os dedos aos meus lábios me calando —Eu assumi o risco quando me envolvi com você, e não me arrependo, sabe por quê?— ela me perguntou.

—Por quê?

—Porque eu amo você, e isso faz o risco valer a pena, porque você volta pra casa e, ainda que eu tenha que te fazer uma porção de curativos, tenho você de novo, e minha agonia termina.

—Eu também amo você.— disse e afastei os cabelos do seu rosto, capturei os lábios dela com os meus novamente num beijo intenso.

—Acho que é hora de irmos, está ficando tarde.— ela disse ofegante eu concordei, ainda tínhamos uma porção de coisas para ajeitar antes da viagem.

Peguei os meus sapatos e o meu blazer do chão, envolvi o meu braço livre ao redor de Pepper e voltamos para o carro. Pela primeira vez na vida não me importei com o fato de que não tirar a areia dos pés sujaria todo o assoalho do meu carro luxuoso. Talvez, por que pela primeira vez na vida eu tenha literalmente os pés no chão.

Eu sei o que eu conquistei, sei o que eu sou, e quem me conhece realmente e se preocupa comigo, quem me ama, independente de qual aparência eu tenha. Certa vez eu defini que sem a armadura eu era um gênio, bilionário, playboy e filantropo, eu sou tudo isso, e sou um mecânico também. Posso não ter a minha casa, meus truques e minhas distrações, mas uma coisa não podem tirar de mim. Eu sou o homem de ferro.



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Notas finais do capítulo

Curtiram?
Digam o que acharam, ok?





Beijos =)