Com O Tempo escrita por Helena


Capítulo 1
O Bar


Notas iniciais do capítulo

Eu ouvi uma musica e essa história me veio á cabeça. Não faço apologia a nada e me perdoem os erros. Aproveitem.



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A moça entrou discreta no bar da esquina. Procurou por um banco vazio na frente do balcão. Sentou-se delicada e deixou a bolsa vermelha no banco ao lado.

O movimento era pouco naquela quinta-feira. Na verdade, tudo era pouco: poucas pessoas, pouca música, pouca luz, pouca paciência.

"Um whisky duplo" pediu determinada ao garçom que secava um copo. Com a precisão de quem faz isso sempre, o homem barrigudo e quase careca, depositou três cubinhos de gelo e dois dedos de whisky Chivas Regal em um copo curto.

E com a precisão de quem precisa urgentemente de álcool, a moça virou todo o conteúdo em sua garganta. Não sentiu.

"Outro" pediu enquanto desfazia uma careta.

O barrigudo arqueou a sobrancelha esquerda desconfiado.

Mas quem era ele para julgar? Já vira moças bebendo rápido daquela forma milhares de vezes antes.

Mais dois dedos de Chivas no copo.

Mais uma virada ligeira para dentro. Essa ardeu mais do que a primeira.

"Outro!" disse mais grossa e com menos careta.

Agora o garçom franzira o cenho, mais desconfiado ainda.

Mas novamente, quem era ele para julgar? Já vira muitos homens bebendo daquela forma. E agora os tempos eram outros e as mulheres bebiam até mais do que os homens. Preencheu o copo pela terceira vez, agora sendo um pouco mais gentil e colocando um dedo a mais da aguardente.

E tão rápido como os outros, o copo já se encontrava vazio.

"Dia difícil?" o garçom resolveu perguntar. Se arrependeu um segundo depois de fazê-lo.

A moça começou a chorar. Chorar desoladamente. Deixava as lágrimas escorrerem pelo rosto e pingarem no vestido vermelho rubi que combinava com a bolsa. Seu choro ficou mais forte, parecendo uma tempestade. Na verdade, era uma tempestade. Uma tempestade dentro dela. Remoendo as mazelas de um amor recém finado.

Com um suspiro pesaroso, o garçom assistia á cena sem poder fazer muito. Sentindo pena da moça desolada, o muito que pôde fazer foi servir outro copo de whisky, mesmo ela não pedindo. Ele sabia que ela precisava de mais um copo. O pedido mudo estavam em suas lágrimas salgadas e amargas. Sentia raiva do, agora, ex-namorado. Queria matá-lo. De mil formas diferentes. De mil formas torturantes. Mil vezes!

Mas seu olhar fora gentil para o copo novamente cheio á sua frente. Olhou agradecida para o garçom. Finalmente um homem que ela não odiava.

Deu uma bebericada de leve, enquanto secava as lágrimas com a mão desocupada.

"Acalme-se, vai dar tudo certo" incerto sobre o que dizer, o garçom resolveu arriscar.

"Será?!" ela rebateu, querendo acreditar nas palavras do outro.

"Namorado?" arriscou novamente.

"EX!" frisou e depois bebeu mais um gole.

Mais um gole para a garganta, para esquecer o que passou.

"Mas chorar não irá resolver...Não irá trazê-lo de volta"

"Eu não o quero de volta. Quero que morra!" respondeu raivosa.

Mais um gole. Para esquecer.

E mais lágrimas. Queria esquecer. Será que conseguiria? Não... Seria impossível esquecê-lo. Ela lembraria todos os dias dessa dor que assolava seu coração. Seu coração que agora estava mais do que quebrado. Estava moído. Reduzido a pó. Como esquecer essa dor? Simplesmente não poderia. E ao lembrar da dor, lembraria do responsável.

Chorou novamente. Bebeu o último gole e empurrou o copo para frente.

Com outro suspiro pesado, o garçom pensou antes de reabastecer o copo. Não estava gostando daquilo. Sentia-se desconfortável com o choro compulsivo da moça. Queria ajudar de algum jeito. E também não estava gostando da forma como ela bebia. Ela não parecia nenhuma mulher de 50 anos, acostumada com tanto àlcool. Parecia mais uma moça de 27 que bebia socialmente. Pensou que se fosse uma de suas filhas, não gostaria que bebesse mais um copo de whisky puro.

Mas, quem diabos era ele para julgar?

Não conhecia a moça. Talvez ela realmente bebesse como uma mulher de 50. E se fosse uma de suas filhas, daria mais um copo porque não iria aguentar vê-la chorando de forma tão dolorida. Como um bom pai, faria de tudo para deixa-la melhor.

E agora, o melhor, era outra dose de Chivas.

"Chorar limpa a alma. Lava..." ele continuou depois de empurrar o copo para ela.

"Mas beber assim... Não ajuda muito." ele dizia preocupado.

"Olha, o que passou, passou. Como tudo passa. E se tem algo que a vida me ensinou, é que o tempo cura tudo. O tempo ajuda. A bebida não. Tudo se pacifica."

"E alguma coisa em tudo que passa, acaba ficando. Os momentos que marcaram..."

Ela parecia não ouvir, absorta em seus pensamentos. Com a borda do copo na ponta dos lábios, seus olhos fitavam o nada.

"Pense nos momentos bons que tiveram".

Ela ergueu os olhos do nada, para o garçom. E o choro parou. E veio a raiva. Que porra de conselho fora aquele?! Agora não era hora para pensar em momentos bons! Era a hora da raiva, do choro, da fossa. Não queria pensar nos momentos bons, queria pensar no quanto doía o que o ex fizera com ela. Queria pensar nas mil formas de matá-lo.

Bebeu mais um pouco. Olhou com raiva para o garçom. Novamente, mais um homem que ela odiava.

"Pro inferno com os momentos bons!" ergueu o copo, como num brinde e deu mais uma bebericada.

Pegou sua bolsa vermelha e revirou dentro dela. Girou o corpo no banco, dando as costas para o garçom, pegando um cigarro e seu isqueiro. Colocou o cigarro entre os lábios, acendeu e deu uma tragada forte. Deixou a fumaça preenchê-la até sentir o gosto da nicotina. Quando se deu por satisfeita, soltou de leve a fumaça branca. Olhou ao seu redor. Só homens. Três jogando sinuca, um solitário numa mesa no canto, dois conversando animadamente em outra mesa e um grupo de uns cinco mais adiante. Nisso, um senhor se aproximou do bar, pediu uma cerveja e reclamou alguma coisa sobre a fumaça do cigarro.

A moça ficou mais enraivecida, e resmungou, bem baixinho, algo como "velho broxa". Mas antes de xingá-lo mais alto, achou melhor beber mais um pouco. Voltou-se de frente para o balcão, encontrando o resto de sua bebida. E engoliu tudo, como se engolisse o que passou.

"Outro!" berrou.

"Cabô!"

"Então vai se ferrar! Você e todos esses homens de merda!" xingava enquanto procurava o dinheiro em sua bolsa. Bateu com o dinheiro em cima do balcão encarando o garçom.

Ele segurou por cima de sua mão e retornando ao papel de pai, disse doce:

"Não se esqueça filha: Tudo se pacifica"

Ela tirou a mão debaixo da dele com rispidez. E com a mesma agressividade, deu as costas e foi embora daquele lugar que cheirava testosterona. E enquanto andava para fora, pensava nas palavras do garçom amigo. E mesmo irritada com tudo não pôde deixar de pensar que ele estava certo.

O tempo iria curar a sua dor. O tempo iria reconstruir seu coração moído. E ela deveria ficar com os momentos bons do relacionamento passado. Foi bom enquanto durara. E agora chegara ao fim. Como tudo acaba.

Andava pela rua um pouco mais confiante. Sabia que ficaria bem. Não tinha mais raiva do garçom. Não pensava mais em formas de matar seu ex. Ele que fosse se danar. Acabou não é? Então, o que passou, passou.

E com o tempo, tudo se pacifica.


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Comentem :)



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