Eu vi Marcelo pela primeira vez quando tinha 11 anos e desde então ele tem sido o motivo pelo qual ainda estudo na mesma escola e moro na mesma cidade.

Meus pais desapareceram alguns anos e não tive noticias deles desde então, tudo que me sobrou foi a herança e uma carta que dizia que eu devia ir embora sumir daquela cidade, eles diziam que eu corria um risco muito grande, mas eu queria correr esse risco pelo simples fato de ver Marcelo todos os dias.

Aquela era apenas mais uma manhã de segunda-feira comum como todas as outras, procurei meus sapatos e minha bolsa no closet, foi então que percebi que meu diário havia desaparecido, claro que só havia coisas de sei lá dois anos atrás. Porem se alguém estivesse lendo eu ficaria super constrangida.

Eu não sou o tipo de garota atraente mas não porque o destino me fez assim, mas porque simplesmente não me importo com aparência e espero que as pessoas não me notem – meus pais me pediram que fosse assim— acredito que já seja ameaça suficiente ter nascido em berço de ouro e sei bem que as pessoas se aproximariam de mim pelo que tenho, por isso considero a vida solitária e isolada bem melhor que uma vida exposta.

Sei bem que poderia estar entre os populares no recreio – Seria uma ótima líder de torcida se usasse as habilidades que tenho como na ginástica – ou simplesmente poderia estar no grupo dos riquinhos, mas prefiro encostar minha BMW longe da escola e seguir a pé mesmo com todo o frio.

Essa era minha rotina, sair de casa, encostar o carro longe, depois de finalmente passar pelas pessoas na entrada da escola seguir para o meu canto e continuar a minha leitura e então ver o Marcelo e disfarçadamente o observar de longe o dia todo, depois ir para casa tomar um banho e dormir. É um tédio não é? Mas você se acostuma quando imagina que pode correr um risco só de sair porta a fora.