Você olha para o rosto de sua mulher e suspira.

Você deita de lado para melhor admirá-la. Ela parece tão jovem quando está dormindo, quando todas as preocupações que ocupam sua mente desaparece.

O corpo curvilíneo e bonito estava deitado de bruços ao seu lado, coberto pelo grosso cobertor. As mãos repousam tranquilamente ao lado do rosto calmo, em uma posição infantil e meiga. As costas se mexem levemente no ritmo da respiração, e a alça da camisola rosa pálido desliza pelos ombros alvos e sardentos a cada suspiro feminino.

Os cabelos flamejantes escorrem pelo bonito rosto enquanto os acaricia. Os cabelos mais bonitos que você já viu, de uma cor única. Nem vermelho, nem laranja. Cor de Lily.

Foram eles que chamaram sua atenção naquele dia. Uma garotinha com a expressão assustada e cabelos cor de fogo conversando com um menino de aparência estranha e cabelos feios, enquanto procuravam uma cabine vaga no imenso trem.

Você sorri com a lembrança. O início de tudo, da história de vocês.

Você corre os dedos pela bocheche sardenta e corada. Você sabe exatamente quantas sardas estão espalhadas por aquele corpo. Você adora contá-las quando acabam de fazem amor, mas sempre acaba achando uma nova.

Você escutou a respiração pesada de sua mulher enquanto tentava estabilizar a sua própria.

"Já cansada, meu amor?" Você provocou-a, vendo-a desabar nos travesseiros e cobrir o corpo com um lençol.

"James, querido, você pode não perceber, mas correr atrás do seu filho o dia todo cansa quase tanto quando uma noite de sexo selvagem." Ela resmunga, se aninhando em seu peito. Você correu seus dedos pelos ombros desnudos e macios.

"Acho que você está velha, e fica inventando lorotas." Você murmurou e beliscou a cintura fina dela, que deu um gritinho e bateu em seu peito.

"Você é um grande babaca." Ela comentou enquanto fechava os olhos e suspirava longamente. Você, como de costume, contou as sardinhas de seu rosto.

"Lily, da última vez você tinha vinte sardinhas no rosto. Agora está com vinte e três." Você cantarolou e ela levantou a cabeça, apoiando o queixo em suas delicadas mãos.

"Talvez eu seja uma mutante." Ela sorriu com a própria piada, e você revirou os olhos.

"Talvez. Mas eu preciso ter certeza sobre quantas sardas você tem ao todo."

"Está pensado em fazer um mapa do meu corpo, Mr. Potter?" Ela sorriu maliciosamente e você girou na cama invertendo as posições, prendendo-a em baixo de seu corpo e escutando o grito feminino de surpresa.

"Futuramente, Mrs. Potter. Já que não tenho o material necessário, eu sugiro recomeçar o tal 'sexo selvagem' outra vez, para quando acabarmos eu contar poder suas sardinhas como faço todas as noites. Que tal?" Você propõe enquanto distribuía beijos pelo rosto dela, fazendo-a suspirar.

"Sinceramente, você não presta." Você riu quando ela agarrou seu pescoço e beijou seus lábios apaixonadamente.

Você não via a hora de encontrar uma nova sardinha novamente.

Você move seus dedos levemente para os lábios rosados e macios de sua esposa. Lily suspira, resmunga algo e volta a dormir. Você adora o formato desses lábios. Quantas vezes eles já se abriram para xingá-lo? Ahh, os lábios dela que tanto já o fez sofrer. Os mesmos lábios pelo qual era apaixonado, os mesmo lábios que - agora - você beijava apaixonadamente todos os dias.

"Você é um babaca!" Lily andava pisando duro para longe do vilarejo de Hogsmeade.

"Um babaca? Por livrar você das guarras daquela ave de rapina? Poupe-me, Evans." Você bufou, revirando os olhos e seguindo-a pela rua estreita.

Ela virou o corpo, ficando de frente para você e apontou o dedo em seu peito, batendo ele em você a cada palavra dita. Naquele momento, você ficou com medo dela. "Você. Estragou. Meu. Encontro. Seu. Bastardo. Inútil!"

"Como se Luke Collins fosse um garoto muito importante." Você deu alguns passos para trás tentando afastar-se da garota - algo realmente raro - e bateu com as costas em um muro. Droga. "Qual é, Lily. Você deveria me agradecer."

"Agradecer por ter jogado cerveja amanteigada no garoto? Você tem o quê na cabeça, Potter?" Ela gritou, se aproximando novamente. Você engoliu em seco, ela estava furiosa. Suas bochechas estavam vermelhas e ela apertava a barra da saia com força. Você sabe que não era bom sinal.

"Foi um acidente! Sirius esbarrou em mim, você sabe, o Três Vassouras é realmente pequeno e..."

"Você sabe que aquele lugar é enorme, Potter. " Ela rosnou. Vocês estavam cara-a-cara, suas respirações se misturavam, mas você sabe que não estavam em uma situação boa. Os olhos dela estavam queimando. "Eu sei que você fez de propósito, e eu vou matar você."

Você corre os olhos pelo lugar, e refletiu sobre sua situação. Você estava em um beco estreito em Hogsmeade, longe dos estudantes. Oh, você estava encurralado e sua varinha estava com Sirius, essa é uma informação importante, e os dois estavam longe de você. Uma ruiva suicida estava na sua frente com a varinha girando entre os dedos.

Merda.

"Hm, Lily, você está perto demais. Eu posso te beijar a qualquer instante, você sabe." Você tentou blefar, torcendo para que ela acreditasse em sua frase enrolada. Você não ia beijá-la, sua vida já estava por um fio e não precisava piorar a situação, obrigada.

"Você não teria coragem, Potter." Ela falou lentamente, com a voz carregada de desprezo. Você estava morto de medo.

Sua mente estava a todo vapor. A qualquer momento, ela iria se distrair - pelo menos você torcia para que isso acontecesse -, e seu plano brilhante poderia ser executado.

Seu plano brilhante era sair correndo daquele lugar o mais rápido possível.

Como um milagre divino, um latido atrás de Lily fez com que a menina desse um pulo e se afastasse subitamente Aproveitando a distração da garota, você correu de volta para o centro de Hogsmeade, e tudo o que você escutava eram os gritos dela, xingando-o e lançando azarações para todos os lados.

Você só suspira aliviado quando vê que está novamente na frente do Três Vassouras.

Pela primeira vez na vida, Sirius Black serviu para alguma coisa.

Você passa os polegares pelos cílios de sua mulher. Ela treme as pálpebras e geme baixinho. Você ri e ela se remexe na cama. Você adora a cor dos olhos dela, e adora que o filho de vocês tenha a mesma cor. As duas pessoas que você mais ama no mundo possuem olhos incríveis.

"Querido, não jogue Harry para o alto!" Lily bronqueia, aparecendo na porta da cozinha.

Você estava brincando de aviãozinho com ele no tapete da sala, se deliciando com a risada do pequeno.

"Relaxe, meu amor. Papai está cuidando do bebê direitinho não é mesmo, filhão?" Você retrucou infantilmente, jogando o garoto para cima mais uma vez e recebendo resmungos alegres e incoerentes como resposta para sua pergunta. "Viu? Harry está concordando."

"James, Harry só tem cinco meses. O máximo que ele consegue fazer é balbuciar alguma coisa, e isso só acontece quando Sirius o irrita." Você soltou uma gargalhada, lembrando das 'broncas' que Harry dava no padrinho cada vez que o cachorro mordia seus pés gordinhos. Harry bateu com os punhos pequeninos em seu rosto, pedindo atenção.

Você sentou no sofá e colocou Harry em pé, apoiando-o em suas pernas. "Harry é um bebê prodígio, querida. Ele se comunica com os olhos." Você espiou sua mulher pelo canto dos olhos, e percebeu que ela está escorada no batente da porta com uma expressão de desafio no rosto.

Harry balançou o corpinho como se estivesse dançando, e balbuciou mais coisas incoerentes. Lily riu, encantada com o filho. "Se expressa pelos olhos, como você faz? Então ele é realmente seu filho."

Você fez cara de falsa indignação e pegou Harry o colo. Andou até Lily,que desencostou da porta e arrumou o corpo, cruzando os braços e olhando curiosamente para você.

"Quer dizer que existia alguma chance de Harry não ser meu filho?" Você resmungou baixinho, tentando ser intimidador. Lily riu e pegou Harry de seu colo.

"Você pensou nessa possibilidade? Olhe para o cabelo do garoto, James. Se Harry não é seu filho, eu não sei de quem seria." Ela revirou os olhos, fazendo cosquinhas na barriga do filho que se contorcia em seu colo. Você sorri olhando a cena.

"Você obviamente não iria me trair. Quer dizer, eu sou gostoso demais para ser traído." Você estufou o peito, e recebeu um tapa de Lily como resposta.

"Os anos passam e você continua metido." Ela brincou, dando um sorriso torno nos lábios.

"E você continua linda. Você disse que Harry se expressa pelos olhos como eu, mas eu acho o contrário. Harry se expressa pelos olhos exatamente como você. Eu olho para ele, e vejo você. Vocês tem os olhos mais lindos do mundo."

Lily se aproximou e colou seus lábios brevemente. Você percebeu que os lindos olhos verdes estavam marejados. "Você e Harry foram as melhores coisas que aconteceram na minha vida."

Você abraçou a sua esposa e seu filho. Seu coração se encheu de amor e, naquele momento, você soube o que era felicidade.

Você leva seus dedos para as costas e Lily e faz movimentos para cima e para baixo. Novamente, ela resmunga e se mexe. Dessa vez, ela abre os olhos e sorri para você.

"Olá, Bela Adormecida." Você sorri também, e beija os lábios vermelhos.

"Estava me vendo dormir?"

"Estava lembrando." Você comenta e ela chega mais perto, enlaçando seu pescoço e fazendo carinho na sua nuca.

"Lembrando do quê?" Ela pegunta franzindo a testa, e você percebe como ela fica adorável assim.

"Lembrando de nós. Você sabe, me deu um trabalhão para ter você na minha cama." Você dá de ombros e ela puxa seu cabelo, repreendendo-o.

Você ri e a beija novamente. Ela se aninha, aconchegando seus corpos em baixo do cobertor quentinho.

"E valeu a pena?" Ela pergunta, a voz carregada de expectativa.

"Foi a melhor coisa que eu já fiz."

Porque amá-la foi melhor escolha de todas.