A área que a floresta cobria era bem maior do que imaginavam. As árvores começavam a amarelar por conta do outono e algumas folhas, as mais apressadas, já haviam caído. Eram essas folhas que forravam o caminho pelo qual Jacob passava, flutuando ao redor dele por conta da velocidade exercida sobre elas.

Jacob havia prometido a si mesmo que encontraria a garota, mas não pensara nos contras que essa ação acarretaria. Primeiro, não a conhecia. Segundo, não se lembrara de pedir uma roupa ou objeto que pertencesse a ela, para facilitar a procura. Mas, afinal, do que adiantaria? A mãe dela preferia perdê-la a aceitar qualquer ajuda de sua parte.

Os ouvidos captaram um ruído vindo do lado oposto ao que estava. Parou e olhou para aquela direção. Nenhum humano. Em compensação, os pássaros existiam aos montes ali. Talvez devesse ter levado alguns dos lorens, se eles falavam com animais, poderiam perguntar aos bichinhos onde a tal de Kahli estava.

Jacob balançou a grande cabeça, espantando pensamentos desnecessários e obrigando os pelos avermelhados a seguirem o mesmo caminho.

Focou a atenção nos pensamentos dos rapazes.

Os outros também não tiveram grandes avanços e começavam a perder o pouco de ânimo que possuíam. A questão era que aquela missão estava fadada ao fracasso, mas o alpha não admitiria isso nem para si mesmo. Com uma ordem, ele mandou os irmãos à cidade para “procurarem” por lá.

Depois que eles se foram, Jacob apreciou o silêncio em sua mente. Às vezes – quase sempre –, ter sua cabeça invadida por ideias, lembranças e visões que não são suas era incômodo, para não dizer um verdadeiro pé no saco.

Com um desejo enorme de acabar logo com aquilo, o lobo castanho avermelhado rumou à frente, focando-se na trilha que seguia a contornos tortos e flores silvestres. Seria uma bonita vista, se não fossem as circunstâncias.

O começo da tarde se iniciava quando a trilha acabou. A mata era completamente fechada naquela área, sem qualquer possibilidade de que alguém conseguisse espreitar pelas árvores imensas que pareciam ter crescido umas sobre as outras.

Ele teria dado as costas e voltado para o lugar de onde veio, mas algo lhe convidava para aquela direção.

Sabendo que não conseguiria atravessar o corredor estreito em sua forma de lobo, Jacob deixou a mente livre e sentiu o calor nos ossos proveniente da transformação. A calça branca, que nem se lembrava de ter amarrado ao tornozelo, caiu no chão e ele se apressou em vesti-la.

— Não acredito que vou fazer isso. — Soltou antes de tomar impulso e pular sobre a raiz de um enorme carvalho que deveria estar ali há gerações.

As palmas das mãos começaram a arder conforme avançava. A calça não estava tão branca quanto havia sido e as solas dos pés encontravam-se em pior estado que as mãos. Não adianta muito se curar rápido quando o espaço de tempo entre um corte e outro é minúsculo.

Contrariando suas expectativas, após algum tempo andando na mata fechada, as árvores começaram a se abrir como num leque. O chão, antes coberto apenas pelas raízes das plantas, estava forrado por rosas amarelas. Ao invés das flores crescerem em arbustos, elas nasciam cobrindo toda extensão de terra que surgisse, formando um tapete que parecia brilhar na direção do sol.

Tomando um cuidado excessivo, Jacob atravessou o caminho das rosas amarelas por cima dos troncos. Não havia pegadas sobre as flores, e isso era a confirmação de que ninguém passava por aquela trilha, mas ele seguiu em frente somente pela sensação de que era ali que deveria estar.

Apesar da belíssima paisagem, não havia pássaros daquele lado. Jacob podia ouvi-los cantando uma melodia desconhecida num só coro, que parecia muito bem ensaiado, contudo, não os via em parte alguma.

O vento tomou a direção contrária à sua e soprou o cheiro das flores em seu rosto. Era algo cítrico com um tom pouco adocicado. Ele inspirou novamente, expandindo os pulmões. O cheiro era delicioso. Viciante.

Fechou os olhos, parando por alguns instantes.

Os pássaros continuavam a cantarolar, porém, não estavam mais sozinhos. Havia uma voz no fundo. Uma voz humana.

Jacob sentiu os pelos do corpo se arrepiarem. Quem mais poderia estar ali?

Seus pés adquiriram vontade própria, e, antes que percebesse, estava correndo na direção da música. Aquele cheiro incomum percorrendo seu corpo.

No coração da floresta. Em meio a rosas amarelas, ele a viu. Estava rodeada de pássaros de todas as cores e tamanhos. Cercada por uma luz rosada, ela mexia o corpo esguio com o vento.

Os cabelos longos balançavam, numa combinação de tranças e penas vermelhas. As mexas soltas escondiam parte do rosto moreno e o sorriso radiante que ostentava obrigou Jacob a sorrir também.

Sem notar que estava sendo observada ela continuou com a melodia. Não estava afinada e tão pouco era tão perfeita quanto à das aves. Pelo contrário, sua voz oscilava entre as notas sem o menor cuidado, mas a jovem mal parecia ligar para isso. Ela estava feliz. A sua vida era perto da natureza e estar ali, compartilhando da sua energia, era muito mais do que merecia.

O alpha mal podia se conter e fez o que há muito queria. Aproximou-se. Entretanto, as aves o notaram e, bruscamente, pararam com a cantoria.

Assustada a garota também parou.

Bem em frente a Jacob ela abriu os olhos castanhos, quase negros.

E só então o alpha dos quileutes entendeu. Entendeu o porquê daquela solidão. O porquê das noites mal dormidas. O porquê da necessidade de chegar aquele lugar. Era ela. Tudo girava em torno dela. A partir daquele momento ele viveria para que ela fosse feliz. Sorriria com o sorriso dela. Porque ela era o seu céu e o seu inferno. Sua força e sua fraqueza. Ela era o seu imprinting.