Camel nem deixou que eu fosse perguntar a Anabelle o que tinha acontecido. Ele apenas continuou matraqueando sobre coisas nada a ver sem parar. Ele só deu uma pausa na hora do almoço quando parecia nervoso ao me puxar para a mesa onde estava os seus irmãos.

 - Hora da família me aprovar? - perguntei brincalhona.

 - É. - riu ele. - Quase isso. - e quando chegou a mesa. - Galera essa é a Desirèe, Dee essa é a galera.

 Jarede deu um sorriso para mim, Fernando acenou sem desviar os olhos do notebook que estava sobre a mesa, Roody fez uma careta, e Henri olhou pra mim e depois desviou o olhar.

 - Não liga pra eles. - disse Jarede dando uma cotovelada em Fernando. - Estão de mau humor hoje.

 - É por que eu roubei o irmão de vocês o dia todo não foi?

 - Ta nos fazendo um favor. - disse Roody. - Detesto as caras e bocas que ele faz ao longo do dia mesmo.

 Camel riu e nós dois no sentamos.

 - E aí lentinha? - sorriu Fernando me olhando. - Estou ansioso por uma pérola sua.

 - Ei… Não fala assim dela poxa! - disse Jar. - Ela não tem culpa de ser meio lesada.

 - Jarede seu babaca, cala essa boca! - eu disse rindo, jogando um pedaço de pão nele.

  Cheguei mais perto de Henri.

 - O que foi que aconteceu contigo? - sibilei.

 - Ah, vou embora, não aguento mais ouvir essa história. - disse Roody se levantando e saindo antes mesmo que alguém pudesse protestar.

 - É saudade. - disse Camel a mim.

 Henri tirou uma foto velha do meio de seu livro de Shakespeare.

 - O nome dela é Adrielly Sanders. - disse em um sorriso olhando com carinho para a garota na foto. Ela tinha compridos cabelos castanhos, e um sorriso pequeno no rosto. Era linda! - E eu sinto falta dela, como se sente falta de um dente da frente quando ele cai. E dói aqui no meu peito saber que talvez eu nunca mais tenha a chance de vê-la novamente. 

 - Ela é de muito longe? - perguntei triste por ele. 

 - Mais longe do que realmente parece estar. - disse ele. - O problema não é a distância. O problema é que ela simplesmente sumiu do mapa.

 - E você?

 - Eu fico tentando convencer meu coração que é melhor esquecê-la, mas parece ser uma tarefa tão inevitável como não pensar em nada. - ele colocou a foto de volta ao livro. 

 Camel me puxou para perto de volta e beijou meu rosto enquanto me abraçava forte.

 - Já senti isso. - disse Camel. - Dói tanto quanto retirar um membro do corpo sem anestesia. Mas agora ta tudo bem. - suspirou entre meus cabelos. - Quando encontrar ela, Henri, também vai ficar bem, eu garanto.

 Henri deu um sorrisinho.

 O sinal tocou e fomos todos para nossas aulas, nos despedindo com um aceno. 

 No meio da aula me deu vontade de ir ao banheiro, pedi ao professor e ele me liberou. Fui bem devagar porque aquela aula estava um tédio e eu queria perder bastante tempo dela. Quando entrei no banheiro dei de cara com Charlote se maquiando. 

 - Oi. - disse indo para a cabine.

 - Oi Dee. - disse ela se virando para mim. - Espera aí, preciso falar com você sobre uma coisa importante.

 Charlote queria falar comigo? Sobre o que?! Oxe!

  - Pode falar. - eu disse pra ela.

 - Eu queria que você parasse de dar em cima do Jarede.

 - Oi? 

 - É isso mesmo que você ouviu! - ela chegou mais perto de mim me intimidando. - Se não vai ter guerra e das boas.

 - Será que você enlouqueceu?

 - O que disse? - De repente uma nuvem preta a tomou e seu corpo foi coberto por trevas. Eu não sabia o que havia pegado o corpo de Charlote, só sentia que não era bom. Não era nada bom. A porta do banheiro bateu e as luzes falharam por várias vezes. - Eu vou matar você. - disse com uma voz dupla horripilante. - Lucius está enrolando demais.

 Saí do banheiro gritando e correndo. Avistei Jarede passeando pelos corredores da escola e corri até ele, talvez ele parasse aquela doida.

 - Jar! - o gritei. - A… Charlote… - eu estava arfando.

 - Calma, calma, calma! - disse segurando meu ombros. - Respire fundo ok? E entre aqui nesta sala que eu vou falar com ela. - ele me colocou pra dentro de uma sala vazia.

 Eu tentava controlar minha respiração e trazer saliva de volta para minha garganta seca quando Charlote chegou perto de Jarede.

 - Char… Calminha aí, nós dois não queremos brigar não é? - disse ele se aproximando mais e mais dela até ficarem um de frente pra o outro, quase se tocando.  

  - Essa garota me deixa irritada!! - rosnou ela para ele. - Você passa tanto tempo com ela e…

 - Char… Nós dois, eu e você, não somos um casal. - disse ele pegando na mão dela.

 - Mas eu gosto de você e você sabe Jarede! Mesmo que a gente brigue, e quebre o pau é você que eu amo. 

 - Acontece, meu amor, que eu não gosto de você como você gosta de mim. - ele colocou o cabelo dela atrás da orelha. - Pela lei da natureza não devíamos nem nos suportar. 

 - Que desculpa idiota! - disse ela o empurrando. - Vai! Vai embora, vai ficar com a sua namoradinha.

 - Não é minha namoradinha, Charlote, é namorada do Camel. Para com isso.

 Eles se encararam por um minuto.

 - Ta bom. - disse ela. - Tudo bem.

Ele lhe deu as costas e ela caiu no choro.

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 Saí da escola direto para o hospital para buscar Wally, já que ele finalmente teria alta. Ainda bem que o atropelamento só lhe deixou uma perna quebrada, que agora estava engessada e com o nome de Anabelle escrito em letras grandes e garrafais e a frase “Meu otário!” enfeitada com coraçõezinhos.

Ajudei ele a entrar no carro e dirigi para a casa dele.

 - E aí? O que me diz? - perguntei sorrindo.

 - Eu digo que eu odeio hospitais, mas o mousse de lá vai fazer falta HAHAHAHA.

 - Idiota. - eu ri também. - Então a Bells foi te visitar?

 - Sim, ontem antes de ir pra sua casa.

 - Ela tava tão estranha comigo hoje de manhã. Me deu o gelo a manhã toda e não me lembro de ter feito nada para magoá-la ou deixá-la brava.

 - Vou procurar saber o que rolou. - disse ele. - Mas é esquisito Bells agir assim. Ela nunca para de falar do nada com ninguém.

 - Não sei. - suspirei pensando nisso.

 - Vai ver ela descobriu que você é uma mané! - disse ele zoando.

 - Você é muito idiota! - eu disse rindo.

 - E você me ama desse jeito. - disse quando parei em frente a casa dele. - Eu entraria de novo na frente do carro por você só fosse preciso. Você é a melhor amiga do mundo.

 - Você que é, seu babaca. - sorri e ele saiu do carro, e acenou para que eu fosse embora.

 Fui para a academia já morrendo de preguiça. Não queria perder meu tempo com aquilo. Achei uma vaga, mas tinha alguém parado no meio dela. Era Raoul.

 - Ta guardando lugar? - perguntei colocando minha cabeça para fora do vidro.

 - Não, to te esperando pra fugirmos. - disse entrando no meu carro. - Estou louco pra comer. Vamos numa doceria que tem a dois quarteirões daqui. - ele ligou o rádio e abriu o vidro. Começou a mexer nas coisas e eu lembrei de Camel. 

 - Só não bagunça muito, que tem alguém que fica com ciumes. - eu disse sorrindo, virando a esquina.

 - Seu namorado? - disse em um sorriso. - Tenho que ver um defeito pra ficar falando mal dele. Aposto que o cara é um babaca.

  Dei risada.

 - Ele é gordo? Aposto que ele é gordo.

 - Ele não é gordo.

 - Feio! O problema dele é que ele é feio.

 - Ele não é nada feio.

 - Impossível, no minimo chato ele tem que ser.

 - Por que? 

 - Ah pelo menos um defeito ele tem que ter pra eu ficar apontando HAHAHAHA.

 - Ta… Ele é chato. Muito chato.

 - Aposto que ele tem uma verruga. - disse ele quando chegamos a doceria, saindo do carro.

 - Para Raoul, não tem.

- Ta bom, ele é indiano. - disse e eu ri. - Qual é?  O cara não é indiano?! Você tem cara de quem tem quedinhas por indianos! Ele é careca?

- Você é irritante! - eu disse rindo e entramos para comprar os doces. Ficamos na doceria conversando e rindo até escurecer. Raoul é uma ótima companhia, é o tipo de pessoa que você não se importa em passar horas conversando. Sem contar nas palhaçadas dele! Moleque besta!

 Assim que anoiteceu nos despedimos e eu fui embora. Raoul ia aproveitar um pouco mais da doceria. Fui direto para casa, estava cansada e queria um banho quente e minha cama. Mas ao chegar em minha rua vi as luzes de casa todas acesas, e Gruten saindo correndo pela rua toda arrumada.

 - O que aconteceu? - perguntei a Isaac que estava na porta de mãos dadas com Suri.

- Jolly sofreu um acidente de carro. - disse ele.

- O que?! - perguntei pasma.

- Ouvi ela dizer que ia se matar Dee. - disse Suri chorando. - Ela disse que se não podia ter Camel era melhor morrer.

 Será que Jolly tinha enlouquecido também? PUTA, QUE MERDA!