Antes Do Amanhecer escrita por Jaque Morello


Capítulo 12
Fragmento Onze - Segredos revelados




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Passei a noite tendo pesadelos. De manhã eu estava cansada demais e tentava dormir na carteira da sala de aula, numa aula vaga que estávamos tendo. Eu estava quase dormindo quando senti algo agarrar meu tornozelo, abri os olhos assustada e Camel - que sempre se sentava na carteira em frente a minha - se virou para trás.

 - Dee! - ouvi a voz dele e não senti mais nada me apertando. - Você está bem?

 Olhei para os seus olhos amarelos e lágrimas rolaram o meu rosto. Eu não podia continuar evitando Camel, pois ele espantava todos os meus monstros e tirava as coisas ruins de perto de mim. Levantei-me e o abracei forte. Chocado por eu estar chorando, ele pousou a mão em mim em câmera lenta, mas depois envolveu minha cintura e me apertou contra seu corpo. E então aconteceu… Dentro de mim se instalou paz e reconforto e eu me senti mole. Camel me pegou no colo e foi andando comigo para longe da sala. Me levou até o pátio da escola e sentou-se comigo num banco de madeira que havia ali. Me aconcheguei no seu colo, ele beijou minha cabeça e eu adormeci.

 Quando acordei não sabia onde estava, mas me sentia bem. Estava em um quarto branco. A cama king-size que eu estava tinha lençóis e cobertores pretos. Havia uma enorme TV de plasma, e tinha um cheiro gostoso de erva emanando pelo ar.

 - Cam? - chamei olhando em volta.

 A porta se abriu, e ele veio sentar-se na cama ao meu lado.

 - Conseguiu descansar? - perguntou ele.

 - Me sinto mil vezes melhor. - sorri. - Mas dormi quanto tempo?

 - Só umas duas horas. - ele deu de ombros. - Está com fome?

 - Deveríamos estar na escola. - eu disse me levantando.

 - Você faz o tipo rebelde, mas é tão certinha. - riu ele. 

 - Vou fazer você engolir o que disse! - rosnei o empurrando. - Vamos fazer alguma coisa. - eu disse amarrando meu cabelo em um coque enquanto ele se levantava. 

 - Ótimo, quero te levar a um lugar.

 Camel me guiou pela sua enorme casa, passando por um corredor com várias portas que deviam ser os quartos de seus irmãos, descemos uma escada em caracol que nos levou até sua sala de estar super sofisticada que assim como o quarto onde eu estava tinha uma bela vista para a Torre Eiffel, depois fomos para a pequena cozinha toda preta e passamos por uma portinhola que nos levou até a garagem. A garagem dos Barker mais parecia um estacionamento, tinha muitos carros e motos, e não era qualquer carro! Tinha uma BMW branca, um Porsche preto reluzente, uma Ferrari amarela e um Jipe Mercedes. Moto havia duas Harley Davidson, uma vermelha e uma preta. Camel me levou até a preta e me entregou um capacete. Eu o coloquei em minha cabeça.

 - Já ouviu falar no Bosque de Bolonha? - perguntou ele enquanto subíamos na moto e ele dava  a partida.

  - Aquele que é duas vezes e meia maior que o Central Park? - disse eu e ele assentiu com a cabeça.

 - Vou te mostrar meu esconderijo secreto de lá. - sorriu ele. - Segura firme, meu doce.

 E arrancou rumo a rua. O portão se abrindo e fechando sozinho. Eu estava com medo pois Camel corria feito um louco, por isso me vi agarrada a ele com toda a força, com a cabeça enterrada em suas costas. Eu não queria ver nada ou acabaria surtando, achando que estávamos prestes a cair.

 Depois de alguns minutos ele parou. Senti a brisa do bosque e ouvi crianças rindo ao longe. Tirei o capacete e entreguei para ele assim que desci da moto, deixando o verde tomar conta de meus olhos. O lugar era realmente encantador.

 Antes que eu pudesse perceber o maluco do Camel me pegou pelos braços e me fez ficar de cavalinho em suas costas. Eu ri sentindo o cheiro gostoso de seu cabelo. Aquilo me lembrava os velhos tempos onde ele me carregava para todos os lados. Fomos andando até uma parte afastada do bosque, e começamos a entrar em uma parte onde as árvores ficavam mais fechadas, escondendo a passagem onde as pessoas normalmente ficavam. Avistei uma pequena fresta entre duas árvores. Ele entrou comigo na fresta.

 - Bem vinda a Caverna Azul! - disse ele. 

 Olhei em volta embasbacada. A luz do céu refletida nas paredes de pedra deixavam tudo de um azul-claro impressionante. Camel me pois no chão e ficou de frente para mim sorrindo.

 - Gosto de vir aqui e… Pensar em você. - disse ele me deixando ruborizada. 

 - Deve dizer isso pra todas que trás aqui.

 - Ah é verdade. - disse ele sarcástico. - Já trouxe tantas, não é mesmo?

 Eu ri.

 - Então… - comecei pisando na caverna com cuidado. - Você  me trouxe aqui para…?

 - Queria te contar uma coisa. - disse ele. - Uma coisa muito séria e você tem que jurar que não vai rir, porque senão vou ficar muito nervoso.

 - Me deixe adivinhar… Você ta gravido! - disse brincalhona.

 - Isso foi na semana passada! - brincou ele também.

 - Ah, que pena. - fingi estar triste. - Eu queria muito ser pai.

 - HAHAHAHA idiota.

 - Está apaixonado por mim ou algo assim? - brinquei lhe dando um empurrão.

 Ele ficou muito vermelho. Era a primeira vez que eu via Camel com vergonha.

 - Me deixe terminar, Desirèe! - disse ele muito sem graça.

 Eu fiz que estava fechando minha boca com um zíper invisível e jogando a chave longe. 

 - Muito bem… - ele chacoalhou as mãos nervoso. - Eu queria te mostrar o que eu realmente sou.

 - Ai meu Deus, você… Você vai me matar ou algo assim? 

 - Dee! - grunhiu ele. - Me deixa terminar.

 - Desculpa. Continua.

 Ele tirou a camiseta preta que estava vestindo devagar.

 - Hmm, Camel… - comecei. - Eu já sei que você é musculosinho e bonitão. Você não precisa… - mas antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa ele me puxou e me beijou.

 Bom… Por um momento achei que tivesse morrido, porque tudo ficou escuro e frio, mas depois tudo foi ficando quente e eu comecei a sentir a pele dele contra a minha. Ele me soltou devagar, e afagou a minha bochecha.

 - Eu sou assim. - disse ele e então ouvi o bater de enormes asas.

 Olhei em volta achando que algum pássaro tivesse ficado preso dentro da caverna, mas depois reparei que havia uma sombra estranha atrás de Camel, e depois de olhá-la por alguns segundos constatei que as asas eram… dele!

 Ele agitou-as com cuidado, mesmo assim, diversas penas negras se soltaram dela e caíram no chão.

 - Quando você tem que falar alguma coisa, você fica calada! - resmungou ele. - Dee, por favor, diga alguma coisa!

 Dei um passo em direção a ele, curiosa.

 - Dói? - perguntei apontando para as asas.

 Ele riu:

 - Essa é sua primeira pergunta?

 Fechei  a cara.

 - Não. - ele ficou pensativo. - Não dói… Eu acho. Não sinto… dor.

 - Como assim não sente dor?! - esbravejei. - Nem quando eu faço isso? - dei um murro na barriga dele, mas meus dedos doeram demais. - Ai que droga! - olhei para a cara dele e ele me olhava achando graça.

 - Hmm… Não. - disse ele. - Não sinto nada.

 - Espera! - eu disse indo para as costas dele.

 - Dee! - disse ele sem conseguir me ver. - O que você vai fazer?

 - Eu to vendo se não dói mesmo! 

 - Ah! - berrou ele quando cheguei mais perto. - Pra te falar a verdade eu to com medo. - ele tentava me olhar por trás das asas, mas eu continuava pequena demais para ele em ver. - Dee! - choramingou ele. - Sai daí! 

 Toquei em uma das asas dele, mas então ele ficou mais calmo. Apertei… Nada. Chacoalhei… Nada.

 - Que bizarro! - eu disse espantada. - Não dói.

 Ele riu. Voltei-me a postar-me na frente dele.

 - Só dói em um lugar. - disse ele dando de ombros.

 - Onde? - perguntei curiosa.

 - Aqui. - ele pegou minha mão e colocou em seu peito. Demorei um segundo para sacar que ele estava falando de seu coração. - Dói aqui… - disse. - Toda vez que você se afasta.

 Me senti meio tonta e coloquei a mão livre na testa. 

 - Desirèe! - disse ele indignado. - Você tem que respirar enquanto eu falo com você, guria. Ta louca? 

 Soltei o ar devagar.

 - Ta… - disse eu. - Agora guarda isso.

 - Isso o que? 

 - Essa coisa! - eu apontei para suas asas.

 - Ah! - disse ele como se tivesse acabado de lembrar que elas estavam ali. Então fechou os olhos e elas foram se abaixando até sumirem atrás de suas costas.

 Fiquei mais um minuto em silêncio, queria formular a segunda pergunta, mas estava difícil  Eu só conseguia me lembrar dele me beijando. Ele deu uma risadinha.

 - Qual é a graça?

 - Você fica uma gracinha desse jeito.

 - Que jeito? - rosnei.

 - Hmm… Desse jeito: bravinha.

 De repente formulei a pergunta rapidamente em minha cabeça e a soltei feito um tiro:

 - Por que você foi embora?

 - Eu tinha sete anos! - disse ele bravo. - Meu pai não disse direito o porquê e nem minha mãe, eles só disseram que eu precisava me afastar de você, porque eu era muito jovem e tinha que aprender a proteger você. - ele colocou a camiseta enquanto falava. - Meu pai disse que era melhor eu jamais voltar, mas ele era…

 - Ele era o que? 

 - Ele era um demônio. Eu  nunca o ouvia. - disse ele mais bravo do que nunca.

 Fiquei em choque.

 - Seus irmãos são iguais a você? - perguntei indo me sentar em uma enorme pedra que tinha ali. 

 - Sou diferente deles. - disse ele vindo se sentar ao meu lado. - Eles são anjos completos, eu sou os dois.

 - Os dois? - perguntei confusa.

 - É… Meu pai era um demônio e minha mãe um anjo. Na verdade, ela era uma serafim. Os serafins são líderes de todos os anjos, comandam e são os mais próximos de Deus, podendo fazer o que quiser. Logo sou meio a meio. Mas renunciei ao meu cargo porque não queria essa responsabilidade para mim, eu já tinha muito trabalho tentando te manter viva e segura.

 - Por que… me escolheu?

 Ele deu uma risada amarga.

 - Há cada cem anos nasce um ser humano como você. Você tem uma marca especial, Dee. - disse ele. - É muito raro nascer um meio-a-meio como eu, uma vez que quando nasce, este dente a ficar perto de alguém como você, com a marca.

 - Que marca? 

 - A marca da paz. - disse ele quase sombrio. - Se um meio-a-meio como eu se casa com uma marcada como você dá a ela a vida eterna e então ela trás paz até os próximos cem anos quando o próximo marcado nasce. Mas se outro meio-a-meio não nascer, a paz continua vindo de você.

 - Bom… E se eu não quiser? 

 - Acha mesmo que é opcional? Você só precisa existir.

 - E me casar com você. - lembrei-lhe.

 - É um sacrifício tão grande assim? 

 Pensei em sua beleza, em seu corpo sarado, em seu jeito fofo e em todo o resto que vinha com o pacote.

 - Você não sente dor, mas e o resto? - perguntei.

 Ele voltou a sorrir.

 - Sinto toque, emoções, cheiro, pele… Só com você.

- Então se outra pessoa te beijar…

 - Não sinto nada. - completou ele.

 - Estou começando a gostar da ideia. - eu disse me aproximando dele. - Gostar muito…

 - Ta é? Não me acha uma aberração.

 - Acho… Mas eu também sou, então acho que combinamos. - disse e ele sorriu antes de me beijar com carinho.

 - Quer mais? - perguntou com a testa colada na minha.

 - Mas é claro que eu quero mais. - dei-lhe outro selinho. - Muito mais.

____________¨____________

  Enquanto isso Wally e Anabelle marcaram um encontro na casa dele. Eles conversavam sentados na cerca, um de frente para o outro.

 - Como é ter uma nova melhor amiga? - perguntou ela.

 - A Dee é ótima, mas sinto a sua falta. - disse ele. - Por que se afastou de nós.

  - Estão acontecendo coisas comigo… E eu tenho estado com muito medo. 

 - Que tipo de coisas?

 - Coisas sombrias. - disse ela sentindo as lágrimas vindo aos olhos. - Mas eu não posso falar com você sobre nada disso.

 - E com Lucius pode?! - perguntou ele sarcástico.

 - Você não entende não é? Ele está me ajudando com isso, Wallace.

 - Eu poderia te ajudar.

 - Não. Não poderia. E é melhor eu me afastar de você antes que você se machuque.

 - Bells você nunca me machucaria.

 - Eu não sei mais do que sou capaz, ursinho. - disse ela chorando, e se levantando, indo correndo para o carro dela. - Não me procure mais.

 - Mas Bells…! - ainda tentou ele, mas era tarde demais, ela já partia para longe.

Sinto muito Wally! - pensou ela. - Eu amo você, mas preciso ficar longe. Espero que um dia me entenda, e me perdoe.

 Wallace olhava o carro se afastar desolado. Por que Anabelle sempre escolhia os caras que faziam mal a ela do que ele, que sempre fez de tudo para deixá-la bem, e feliz. Ele não entendia. E seu coração estava partido.

Lucius vai me pagar! - pensou ele furioso. - Ninguém me afasta do amor da minha vida!


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