-Sa, vai mesmo fazer isso? –Hizaki olhava pelo lado de dentro da enorme casa, mais uma mansão que simples moradia, era elegante e cheia de belos enfeites, de toda limpa e invejada até mesmo pelos ricos, assim como seu morador, que descia as esscadas com duas malas de viagem.

-Eu vou, aproveitar os dias quentes e ver se consigo relaxar um pouco. –Parou em frente ao amigo de longa data, olhando fundo em seus olhos com aquele sorriso que tanto admirara por anos, deixando as malas no chão e suspirando baixo, os olhos escondidos pelos óculos escuros. –E você devia fazer o mesmo sabia? Está tão cansado quanto eu, tenha certeza.

O homem era alto perto dele, os cabelos castanhos lisos e cheios duas cachoeiras em seu rosto limpo e perfeito, olhos escuros porém igualmente expressivos como seu sorriso de leves covinhas, um homem deveras atraente, uma das poucas jóias que se acha em meio á sociedade nipônica. Viu-o levantar sua bagagem e seguindo para sua mercedes branca, o andar calmo e altamente belo fazia os olhos de Hizaki petrificarem em suas costas de tal maneira que ele se virou, o sorriso novamente nos lábios carnudos e claros.

-Oi, Hi-chan, você tranca tudo pra mim? –Dizia enquanto guardava no banco de trás as malas, parecia tão feliz com aquilo tudo, nem parecia que estavam tão desesperados com o amontoado de trabalho que o Versailles estava tendo, e assim foi, eles finalmente tinham seus dias de folga, e logo estariam entrando na gravadora para mais semanas de extremo cansaço e noites em claro para colher seus tão almejados frutos. –Hi-chan?

-Hm? –Perdera completamente a noção de tempo, quem imaginava que aquele homem estava saindo de férias não planejadas pela saúde pobre? Sim, seu rosto estava marcado com a dor do cansaço, mas ele não ligava, parecia e muito feliz com seu sucesso, só inflava seu peito de orgulho por ser reconhecido por seu talento, disso ele se orgulhava, ser um ícone frente a tantos bons músicos, mesmo embora não se sentisse tão grande. –Ah, tá, eu tranco sim.

-Hizaki-san, tá tudo bem? – O homem pálido perguntava, olhando de braços cruzados o amigo em leve curiosidade.

-Tô sim, desculpa Yuu-kun é que eu tava pensando em algumas coisas... –Respondeu sem mentir, não era muito disso e nem gostava do mesmo, para ele a mentira era um dos meios de se fugir á realidade, e ele gostava de ser realista.

-Ahhh, e no quê estava pensando, exatamente? –Se aproximou do homem em passadas leves, abraçando o loiro de cabelos muito longos com vontade. –Era trabalho? Diversão? Me conta! –Falava num tom alegre, brincalhão como só ele conseguia, sem nunca perder sua elegância e carisma.

-Na verdade sim, estava pensando no trabalho. –Olhou o amigo ao se afastar num igual sorriso. –Olha, se cuida ok? Eu ando ruim, você anda ruim, sabe como estão sendo os dias ne?

-Sim, eu sei. Mas quero que pare de desmaiar no palco Hi-chan, fiquei muito preocupado com isso sabe? –O mais alto falava, voltando a enlaçar os braços nas costas do amigo de longa data num olhar preocupado, de todos, ele era uma madrasta, assim como Hizaki era uma mãe e Kamijo um líder e pai de sua tão amada banda e amigos. Voltou a olhar fundo nos olhos do loiro, dessa vez sem os óculos. – Escuta, descansa quando puder ok? Logo eu volto, assim que eu estiver me sentindo melhor eu juro que volto com força total! –Levantou os braços como se estivesse comemorando um fim de show ou festa com os amigos, o sorriso radiante de um herói que trazia nas costas o prêmio de sua conquista.

Hizaki não pode segurar, sorriu alto e deu um leve tapa no ombro do amigo, sorria como uma criança, assim como Yuuichi. Sabia que ele estava preocupado, a carga de trabalho excedia o peso que o corpo e mente podiam suportar, e Yuu sabia disso mais que ninguém, pois ele andava mal, a ponto de cancelar ensaios para poder descansar e, quando possível, deitar no sofá da gravadora e dormir por lá mesmo. Hizaki em si não estava mal, não como Yuuichi, que andava passando da conta com os ensaios, mesmo sabendo que não conseguia acompanhar o ritmo de seu trabalho ele continuava, mesmo em shows ao vivo onde tinha de ser amparado por Teru ou Kamijo, Hizaki mesmo o amparava outro dia, nunca vira o amigo arfar e suar tanto.

Até que ele simplesmente não aguentou, pediu permissão para que saísse, e agora ele fazia suas malas para seu repouso, iria descansar em algum lugar onde pudesse ver o mar, onde pudesse respirar e sentir o ar puro, onde o som fosse somente as râs e vagalumes. Sim, ele merecia, estava demasiado doente para continuar os ensaios, e a decisão fora unânime, e logo ele pedia desculpas por estar fraco e se retirou, levando a tristeza de não poder ajudar como antes ajudava. Seu único desejo: melhorar logo e subir num palco novamente, assim ele mostraria a todos seu amor pela música, paixão essa evidente até mesmo para um desenformado na arte musical. 

Assim que terminaram de arrumar tudo, Yuuichi entrou no conversível e arrumou os óculos na ponte do nariz, Hizaki debruçou na porta e mostrou sua preocupação uma última vez.

-Sa, quando você voltar estaremos esperando com um bolo e bebida ok?

-Jura? Pôxa, assim eu vou ficar de vez, nem vou pedir licença médica! –Ambos riram alto, deram um último abraço e se afastaram com o sorriso iluminando as faces. Yuuichi estava ligando o carro quando Hizaki abaixou novamente.

-You, espera. - Dessa vez deu um chaveiro nas mãos do amigo, um chaveiro em forma de baixo com uma palheta tomando as costas do instrumento. Viu o sorriso do amigo de longa data alargar e um novo abraço se fazer necessário. –É  pra você lembrar que estamos te esperando ok? Vê se volta logo Jasuminu-kun.

-Hai, yakusoku.

~  ***  ~

Mais uma tarde, mais pessoas iam e vinham, mais sofrimento e choro enchiam o quarto do hospital, sabia que uma hora ou outra teria que enfrentar a realidade e simplesmente parar de chorar, mas as lágrimas eram seu último recurso. Estava tão mal que nem mesmo Yuki, sendo o homem forte que era, conseguia amparar Hizaki em seus braços, Teru chorava no abraço mole de Kamijo, este já não conseguia mais chorar, smente as lágrimas caíam, nada além de lágrimas onde antes haviam alegrias. As palavras já não saíam, a dor era tão imensa que ele estava no chão, ajoelhado pela fraqueza, deixando a camisa de Yuki molhada com o choro intenso.

-Ele me prometeu, prometeu a todos que ficaria melhor, que voltaria a tocar! Porquê então?! -Hizaki chorava alto, a dor dos companheiros de banda só aumentava com o sofrimento do guitarrista. –Ele disse eu prometo!

-Eu sei que disse, mas não podemos fazer nada agora. –Yuki dizia choroso, a voz emplastada e rouca de tanto chorar, tentava abraçar mais forte o amigo num consolo em vão. –Não podíamos fazer nada...

-MAS ELE PROMETEU! –Hizaki agora gritava, como se a dor fosse cessar, nova ação feita para nada, só servia para aumentar sua dor.

-HIZAKI SE ACALME! –Desta vez foi Kamijo quem afastou Yuki e levantou forçado o homem loiro. –SE CONTROLE, EM MEMÓRIA DELE, POR JASMINE!

Dizer aquilo, o nome dele, só serviu para trazer mais desolação. Tão jovem e agora tão distante...

~ *** ~

-You, espera. - Dessa vez deu um chaveiro nas mãos do amigo, um chaveiro em forma de baixo com uma palheta tomando as costas do instrumento. Viu o sorriso do amigo de longa data alargar e um novo abraço se fazer necessário. –É  pra você lembrar que estamos te esperando ok? Vê se volta logo Jasuminu-kun.

-Hai, yakusoku. – Sorriu, e dessa vez ligou o carro, antes de seguir sua viagem porém ele se levantou, abraçando Hizaki apertado e porque não dizer, tristonho. Seria uma longa viagem e ele não sabia quando veria os amigos novamente. Com um beijo no rosto do grande amigo ele voltou a sentar-se no banco do motorista. –Até breve então ne.

-Hai, até breve Jasmine.

E assim ele partiu, seguindo reto a estrada interminável sem um destino fixo, seguiria por lugares que nunca vira, veria as dores e sofrimentos de todos, mas isso ele podia encarar com força. Choraria de fato, seria impossível não chorar, mas ele tinha de ser forte, por todos, pela memória dos risos e dias que tanto o fizeram derramar lágrimas de felicidade.

Estava indo a um lugar onde não poderiam alcançá-lo, num lugar onde a viagem nunca cessa, onde não haviam automóveis e prédios, pessoas sofrendo ou dicussões, lá sim, era o paraíso que ele sonhava, e agora, ele era um dos poucos que encontraram a felicidade e calmaria do sono eterno no paraíso, onde ele seria o vigia de todos, rezando nas horas necessárias a eles, sorrindo com eles quando ele fosse lembrado, olhando das estrelas para sempre, ou até o dia que ele volte a ser mais um dos que ficam...