Círculo das Ruas escrita por Marykelly


Capítulo 5
Liberdade às Escuras


Notas iniciais do capítulo

Oe meu povo... desculpem pela demora :/ mas enfim as coisas estão caminhando.

Já estou escrevendo o próximo capitulo :) espero que gostem. Boa leitura.



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− Me serve outra.

− Tem certeza que você é maior de idade?

− Você já viu minha identidade. O que mais você quer?

Contrariado, e sem argumentos, o barman acaba cedendo e me serve mais um drink. Falsifiquei minha identidade para que me deixassem entrar. Era a primeira festa da Ukansy local. Não perderia por nada.

O lugar ficou fantástico. Eles reformaram uma mansão gótica que estava abandonada na Melrose. Derrubaram todas as paredes internas que serviam para dividir os cômodos e deixaram apenas as pilastras de sustentação. O pouco que se conseguia ver na escuridão se devia aos lampejos de leds que vinham de toda parte. Havia alguns toques da antiga arquitetura, como os desenhos e gárgulas que saiam das paredes ricas de detalhes. Porém do lado de fora era como se fosse qualquer outra mansão. As paredes grossas não deixavam que som nenhum escapasse.

Genial.

Já tinha dançado por mais de uma hora e estava tonta quando chequei ao quarto copo de drink, entretanto não queria ir embora. Não é todo dia que eu tenho um álibi. Nesse momento estou com Margaret, totalmente segura. Felizmente Margaret não tem telefone, então não tinha como meus pais entrarem em contato com ela antes que eu voltasse. Amanhã pensaria em algo para dizer.

− Eu sabia que viria! – A voz soou bem próxima do meu ouvido. Me viro para ver quem é e pisco com a proximidade dos nossos rostos.

− Não me diga. – O empurro até uma distância normal. – E eu conheço você?

− Eu que te convidei! Não se lembra? – Ele não me era estranho... Ah! O cara do panfleto. Ele Não estava muito diferente do outro dia.  Era baixinho e tinha um piercing na sobrancelha. Seus olhos eram pequenos e escuros e seu cabelo tinha tanto gel que escorria pela testa. Arg. – Você quer dançar?

– Ah! Eu adoraria, mas eu já estava indo embora. Já fiquei tempo suficiente.

– Eu sei. Vi você dançando com um monte de caras. – Ele dá um sorriso torto. – Estava esperando você ficar sozinha para me apresentar. Sou Lidin. – Engasgo com a bebida, me controlando com todas as forças para não soltar uma gargalhada. Isso tinha que ser um apelido.

– Eu não estava dançando com eles. Estava dançando sozinha.

– Não foi isso que eles pensavam. – ele olhou paro o alto do seu lado esquerdo e começou a me puxar pelo braço. – Vou te apresentar ao DJ. Vem.

– Espera! Eu não... – Mas eu já estava sendo arrastada. A bebida deixou minha força de resistência estava quase nula.

                                                                                                                                                                

– Hey Maicon!

– Hey Lidin! – Subimos alguns lances de escada e fomos para plataforma de metal onde ficava o Dj. Eles se cumprimentam com um aperto de mão estranho e teatral. Lidin sussurra algo para Maicon que lhe devolve um sorriso malicioso, desviando-se para mim. – E você, gata. Como te chamo?

– Abby! – tenho que falar ainda mais alto do que antes. O som era ensurdecedor. – O que é que tem lá embaixo? – Aponto para a parte logo abaixo de onde estávamos. Havia um espaço, no centro da parede, totalmente fechado por uma caixa escura que era mais alta que um poste, e mais larga que um caminhão.

– Ah, é uma surpresinha. Uma coisa exclusiva da Ukansy.

– Sério? E o que é? – Lidin parecia estar meio chateado por ter sido deixado de lado. Maicon tinha os cabelos cumpridos e era tão alto que já estava me dando dor no pescoço olha-lo. Ele enrugou a testa quando eu perguntei.

– Não posso falar nada agora, gata. Ordens são ordens. Mas... se você gosta de uma performance... vai curtir muito! – Ele pisca para mim e depois observa Lidin, só agora notando sua cara feia.

– HAHA! Já sei o que é. – grito e depois, rindo, coloco o dedo indicador nos lábios. – Shhh. Não contarei a ninguém.

– Certo. Pode Escolher a música que quiser e eu a colocarei. – diz, divertido comigo.

Lidin me levou de volta a pista de dança assim que escolhi a música, mal tive tempo de me despedir do Maicon. Fiquei meio tensa quando ele me puxou para perto de si, para que dançássemos.

– Eu gosto dessa música. – Ele diz, fazendo pequenos círculos com os dedos que seguravam a minha cintura, me girando e em seguida me puxando de volta. Agradeci, internamente, por ter optado por usar calça a um vestido, seus movimentos eram tão bruscos que teria que segurar a barra do vestido o tempo inteiro para que ela não levantasse. Ele tentou repetidamente se aproximar mais que o considerável, mesmo eu sempre o afastando. Quando a música finalmente acabou, fui me sentar com a desculpa de que estava me sentindo mal.

– Escuta – diz, sentando-se ao lado. Ele não vai desgrudar nunca? – Eu não entendo bem dessa coisa de código de amizade, mas... não ligo pra isso, e tenho certeza que a Amanda também não liga.

– Como é? – fingia estar distraída com qualquer coisa, mas quando tocou no nome da minha melhor amiga ele chamou a minha atenção.

– Ela não vai se importar. Você sabe... se acabar acontecendo alguma coisa entre nós dois.

– Você – Arrasto a cadeira e me levanto. – com certeza deve ter tomado alguma coisa estraga e não está raciocinando direito. De onde você conhece a Amanda?

– Oh, Ela não falou de mim? A gente namorou há um tempo. Não se preocupe, porque não rola mais nada.

Nariz fino e alongado, olhos castanhos, roupas de skatista. Sim, era ele. O cabelo estava diferente e ele não tinha mais o corpo magrelo, mas ainda era o mesmo cara que deixou a Amanda na festa, no seu aniversário.

E eu nem ao menos o reconheci. Você é a melhor amiga do mundo, Abby.

A culpa me atingiu e imediatamente a raiva a sobrepôs com mil vezes mais força.

O encarei com tanto ódio que não me surpreenderia se estivesse faiscando. Não pensei em mais nada e num movimento rápido peguei uma garrafa que estava no balcão do bar e taquei na sua cabeça como se ela fosse uma bola de baseball.

A garrafa se estilhaçou e ele caiu, desmaiado.

– Isso é por ela, seu imbecil.

– Ele morreu? – Perguntam algumas pessoas que estavam próximas.

– Caramba. É melhor você ir embora antes que as coisas piorem. – o barman aponta a porta para que eu entenda.

Como que por resposta, alguém imita o que fiz e estilhaça outra garrafa na cabeça de alguém e depois grita:

– BRIIGAAAA!

O que se passou a seguir foram apenas flashes na minha visão enquanto eu corria, cambaleante, para a porta: pessoas batendo umas nas outras, bebidas sendo lançadas, cadeiras e mesas sendo arremessadas, seguranças chamando a polícia quando viram que não conseguiriam parar nada. Eu fui espremida por uma multidão quando passei pela porta, dei alguns empurrões e consegui passar antes que ela entupisse totalmente.

Quando cheguei à esquina, ofegante, me juntei a um o grupo de pessoas que também conseguiu sair, e, quando a viatura passou, fingimos todos nos conhecer e estarmos apenas de passagem. Assim que os despistamos fomos andando até o ponto de taxi. Acompanhados por uma crise de gargalhadas histéricas.

***

Já passava da meia-noite e eu não podia mais entrar pela porta da frente. Possivelmente havia câmeras pelo jardim. Eu só rezava para que não se preocupassem em assistir aos vídeos.

Chego à arvore mais próxima do meu quarto, teria que dar um pequeno salto e me agarrar ao cercado de madeira que ficava logo abaixo da varanda.

Eu subi e andei, agachada, até o fim de um galho, estiquei meu pé até as ramificações de plantas que se enroscavam no cercado e o prendi. Enganchando bem para que eu não escorregasse e caísse. Quando senti que ele estava bem preso, saltei, me segurando à sacada.

− Ok, tudo bem. – Suspirei.

Comecei a dar impulso para subir, mas logo fui puxada de volta. Só agora entendendo o tamanho da burrada que tinha feito.

Meu pé estava preso.

Tentei puxa-lo com toda força de consegui, mas não era uma questão de pressão. Teria que me agachar e desatar os nós que se formaram ao redor do meu tornozelo. Eu não conseguia ver o suficiente, os pontos de iluminação só serviam para criar sombras assustadoras. Então, me segurando com uma das mãos, desci com a outra fui tateando até que alcançasse o emaranhando de plantas e começasse a desata-las.

Quanto mais eu desfazia, mais nós aparecia, e depois de várias tentativas sem obter sucesso, a tontura e a náusea estavam me matando. Comecei a puxar os galhos, irritada, e esqueci de me apoiar no parapeito. Pisei em falso com o único pé que me sustentava, além do meu braço na varanda, e escorreguei. O impacto contra a parede escurece a minha visão, já embaçada. Em segundos eu estava de cabeça para baixo e pendurada apenas pelo meu pé que estava preso. Centímetros para esquerda estava a janela da biblioteca.

Uh.

O barulho do impacto não havia sido alto demais. Pelo menos era o que eu esperava.

Paraliso quando ouço a porta da biblioteca sendo aberta. Com movimentos lentos e dificultosos, seguro na moldura almofadada da janela e me estico até que consiga escutar algo, tomando cuidado para que não seja vista através do vidro. Não seria nada legal ver alguém de cabeça para baixo do lado de fora. Principalmente alguém que já devia estar dormindo.

− ... sempre fará isso. – A minha mãe estava sentada na poltrona, carrancuda, curvada sobre seu laptop.

−  Ela não sabe do que está em jogo. Se pudéssemos...

− Não! Isso não é uma opção. Ela não saberá. Não enquanto der pra evitar.  

Meu pai mantinha os braços cruzados e se encostava na beira da mesa. Ele estava preocupado e muito – muito – irritado. Eu iria levar a pior bronca da história da humanidade. Tento foca-los, mesmo com meus olhos implorando para serem fechados. Eu cairia de sono se não estivesse pendurada.

− Margaret não a viu hoje. – Minha mãe resmungou. Sua voz transbordava decepção. Eles não estariam falando da mesma...

Praguejo baixinho. Eles se voltam para a janela e eu imediatamente solto a borda que me segurava. Meu tornozelo latejava, em protesto. Mordo o lábio inferior para não gritar.

Estavam falando de mim? Que conversa era aquela?

. Quando alcanço novamente a borda da janela uso uma mão como apoio no parapeito e o alívio faz lágrimas escorrerem pela minha testa.

− Melrose. O rastreador dela aponta para lá. – Meus olhos se arregalaram no estante em que eu assimilei o que minha mãe havia dito.

− O OQUE? – Eu pretendia que tivesse saído como um grito, mas tudo que saiu foi uma voz rouca. Foi o suficiente para que eles me vissem, espantados e confusos.

− Abby? O que....

O ranger do cercado de madeira que começara a se desprender da parede me acorda do estado de perplexidade. Grito quando meu pé se desprende e vou em direção ao chão. Depois não vejo mais nada.

***

− Eu fiz alguma coisa muito ruim? – O tecido grosso e acolchoado da poltrona grunhe enquanto eu passo minhas unhas por ele. – Acreditem... eu diria como cheguei em casa se me lembrasse... na verdade não lembro nem de ter saído de casa.

− Eu sei. Tudo bem. – É tudo que minha mãe diz. Ela estava com uma caneca de café nas mãos, e tinha a aparência de alguém que não havia dormido.

Eu havia acordado no sofá da sala, com os dois sentados em poltronas logo a frente, me encarando. A dor de cabeça horrível indicava que eu havia bebido ontem, e muito.

− Tudo bem? Quer dizer... tudo bem... tudo bem? – Tenho motivos de sobra pra não acreditar que estava realmente “tudo bem”.

− Sim. – A respiração pesada do meu pai indicava a situação não era agradável. – Tome isso como um sinal de trégua. – Ele tinha a voz firme e controlada, era um exemplo de controle emocional enquanto minha mãe era totalmente compassível. – Você o que sempre quis. Vai ter a condição de sair... sem monitoramento. Sem seguranças. Apenas você.

− O que? – Levando, despertando imediatamente. – Vocês tomaram café demais? É alguma piada?

− Não... na verdade, não.– Cerro os olhos para observa-los.

 − Isso é sério? – questiono, desconfiada. – Por que isso agora?

−  A conversa que nós tivemos, sobre você. Consegue lidar com isso? – Eu questionei minha mãe, embasbacada, e seu sorriso confiante foi a confirmação que eu precisava.

− OH MEU DEUS! – Grito. – Sim. Sim! Vocês não vão se arrepender... vou me comportar, vocês vão ver.  – Eu diria qualquer coisa.

− Porém... – Ela cantarolou.

− Ah, não. – resmungo, murchando.

− Não é nada demais, apenas um detalhe.  Esse seu “passaporte” só valerá em Crenshaw. – ela dá de ombros. – Você iria para lá de qualquer forma...

Não. Pensei em dizer, lá é um cemitério.

Mas eu não recusaria uma chance como essa mesmo que seja em Crenshatisse.

– Por que Crenshaw? – Por fim, perguntei.                                                      

– Digamos que Crenshaw é o lugar mais seguro de Los Angeles, agora. – Eles sorriem para mim e eu retribuo, mas não pelo mesmo motivo. Não faziam ideia do que havia por lá. E continuarão sem saber.

~mansão~

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Notas finais do capítulo

HEHE gostaram? Próximo capítulo de Jonatan *-*



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