Acredite, eu tenho um carro. Era mantida como uma prisioneira, mas Erick queria que eu fosse buscar e deixar as crianças no colégio, então só tinha permissão de usá-lo para ir até as escolas e ir ao salão de beleza de vez em quando. Abri a porta da garagem. As paredes foram pintadas de cinza claro. Lá tinha 6 carros, um meu e os outros do Erick. O meu era prata. Entrei nele. Em seguida sentou Ferris no banco da frente e as meninas no banco de trás. Estabeleci essa ordem para que não ocorresse confusão emtrei os três. Olhei para Ferris. Ele era tão fofo que nunca conseguia me aborrecer com ele. Tinha apenas oito anos, o cabelo e os olhos eram do mesmo jeito do meu. Agora olhei para as meninas. Amanda tinha o rosto tão angelical e Natasha tinha um jeito mais sério, ambas tinham 15 anos.

Liguei o automóvel. Peguei um pequeno controle, apertei um botão e o portão da garagem se abriu. Já estávamos na estrada. Natasha falou:

- Eu estou morrendo de sono!- ela tirou o cinto, sentou mais perto de Amanda e encostou a cabeça no ombro dela.

- Vocês são muito molengas! Preguiçosas!- disse Ferris.

- Vá se danar!- respondeu Amanda.

- Parem com isso!- interrompi -Não podem agir de maneira civilizada, um com o outro pelo menos uma vez na vida?

- Não!- falaram os três ao mesmo tempo.

Chegamos a escola de Natasha e Ferris. Os dois desceram do carro e atravessaram a avenida. Agora Amanda ela estava sentada ao meu lado. Não estudava na mesma escola que os outros, porque se dedicava de corpo e alma à arte, então estudava numa escola de artes.

- Mãe está acontecendo algo entre você e o pai?- perguntou ela.

- Por que essa pergunta?

- Porque eu, a Nat, o chato em miniatura e a Margaret percebemos que sempre que o papai está por perto a senhora fica toda irritada e furiosa. Mamãe, você não consegue nem disfarçar, é uma péssima atriz, sabia?

Confesso que ri com o último comentário. Não queria que meus filhos soubessem dos meus ferimentos, da vendo dos meus pais e aquela pessoa que me trazia tanta saudade.

- Querida, nós adultos passamos por... desavenças as vezes.

- Elizabeth Costa Gomes, eu não sou mais uma criança! Mãe pode contar o que quiser para somos amigas, não somos?

- É claro que somos. Agora, Amanda Costa Gomes, você precisa ir para à escola.

Ela saiu do carro e, do outro lado da pista, deu tchau para mim balançando a mão. Agora, eu estava voltado para casa. Uma lágrima pingou na minha calça jeans. Tentei parar de chorar, mas não consegui. A dor e a tristeza eram mais forte que eu. Comecei a soluçar. Chegando em casa, enxuguei meu rosto com a blusa, desci do carro e fui até a porta de entrada. Antes de entrar rezei para que Erick já tivesse ido trabalhar, mas quando entrei ele estava sentado no sofá.

- Estava só esperando você voltar.

- Já cheguei então pode ir embora.

- Não estou com tanta pressa. Podíamos passar um tempo só nós dois. Agora.

Erick andou até mim. Passou a mão esquerda por debaixo do meu queixo, subiu até as minhas bochechas e me puxou para ele. Eu pus minha mão no tórax dele e me empurrei para longe.

- O que foi?- perguntou.

- Agora não!

- Por que não? As crianças não estão em casa, Margaret está lavando a louça, somos um casal...

- Para mim não somos um casal!- eu já estava gritando com ele- Você é um completo idiota por achar que eu te amo! Eu detesto ter que te chamar de marido! E já que não tem mais ninguém entre nós, vou aproveitar a situação. Eu ainda sou completamente apaixonada pelo Jonas!- eu coloquei o dedo na cara dele- Ele sim é um homem de verdade, que conseguiu me fazer feliz. Você pode me dar várias jóias raríssimas e vestidos de grife, mas nunca terá meu coração!

Eu saí e fui em direção à cozinha. Meu ombro direito foi puxado para trás e acabei rodando. Erick estava apertando meu pescoço e dizendo:

- Você, querendo ou não, é minha esposa. Eu exijo respeito! E não quero mais ouvir o nome daquele infeliz pobretão! Fui entendido?

Ele me soltou. Minha respiração estava muito ofegante. Fiz que sim com a cabeça.

- Que bom que entendeu o recado.

Ele virou de costas para mim, mas rapidamente voltou a ficar de frente. Ficou parado me encarando durante uns dez segundos. De repente ele faz um movimento muito rápido e me deu um tapa com tanta força que perdi o equilíbrio e caí no chão. O lado esquerdo do meu rosto estava ardendo e minhas lágrimas escorrendo. Ele saiu. Fiquei chorando no chão da cozinha.

- O que aconteceu?- perguntou Margaret.

Ela sentou no chão com as pernas cruzadas e eu coloquei minha cabeça em cima do joelho dela, que ficou alisando meu cabelo

- Você não quer conversar comigo?

Fiquei sentada em frente a ela.

- Tudo começou quando eu tinha 12 anos. Namorei com Erick durante uns  3 meses. Ele era muito possessivo.

- Mais do que hoje em dia?

- Não. Passado algumas semanas conheci outro garoto. Pobre, moreno com cabelo preto e muito gaiato.- eu ri- Acho que ele e Ferris teriam se dado muito bem. O nome dele era Jonas Maciel. Um simples garçom. Me apaixonei pelo jeito de ser dele. Livre, divertido, valente e humilde.- comecei a chorar de novo. Contei a ela sobre a história dos meus pais terem me vendido e a promessa de Jonas de vir me buscar.- E até hoje eu espero por ele.

Ela olhou para mim e disse:

- Você está agindo errado.

- O que?

- Por que você não vai atrás dele? Como disse, ele é pobre. Não vai ter condições de vir até os Estados Unidos te pegar.

- Fugir de Erick? Combina com o filme Missão Impossível.

- Na verdade é possível e até fácil.

Margaret se alevantou e estendeu a mão para que eu fizesse o mesmo. Fiquei em pé também. Nós duas ficamos de mãos dadas e subimos as escadas. Entramos no meu quarto.

- Me ajude a tirar o quadro.

Em cima da minha cama tinha em quadro enorme. Eu segurei de um lado e ela do outro. Fizemos muita força e conseguimos tirar. Na parede tinha um cofre.

- Você sabe a senha?- perguntou ela.

- Vou tentar.

Digitei a data do nosso casamento. Não deu certo. Tentei o meu aniversário, o dele, o das crianças e nenhum foi o certo.

- Coloque algum dia que foi muito importante na vida dele.

Pus o dia em que ele me comprou. O cofre abriu. Tinha muito dinheiro e de vários países.

- Agora o que você tem que fazer o seguinte.- falou ela. Seu plano era realmente brilhante.

Peguei toda o dinheiro. Tirei meu celular que estava no bolso da calça e liguei para minha mãe.

- Oi minha filha!- falou ela cheia de animação.- Como estão meus netinhos? Faz tempo que não vejo você e eles!

- Mãe, você tem alguma notícia de Jonas? Estou louca para reencontrá-lo!

- Você nem pense em ir atrás daquele fracassado. Ele foi morar na Argentina para trabalhar no restaurante de um tio dele.

- Obrigado pela informação!

- Elizabeth não...

Desliguei na cara dela. Eu e Margaret passamos o resto do dia tramando o plano.

Já estava de noite. As crianças estavam dormindo e Erick estava deitado na cama olhando seu tablet. Eu estava no banheiro, usando uma camisola vermelha muito curta, cheia de rendas e transparências. Saí do toalete rezando para dar tudo certo.

- Você nunca usou este traje antes.- disse Erick.

- Eu queria te impressionar e pedir desculpas pela briga. Foi bobagem tudo aquilo. Desculpe.- fiquei abraçada com ele. - Posso pedir uma coisa?

-O que quiser?

- Vamos ao shopping! Eu, você e as crianças. Seria muito divertido. Nesse domingo agora.Por favor.

- Tudo bem.

- Eu te amo Erick.

Eu abracei ele e depois nos beijamos.

E a Amanda diz que eu não sou boa atriz.