Um beijo romântico. Que tirou meu fôlego. Anthony olhou para mim e sorrimos. Pareceu tão clichê, um beijo adolescente no quarto. Mas foi perfeito, pelo menos naquele momento, me senti especial. Senti como se só houvéssemos nós em toda a Terra, e mais nada. Como se eu não precisasse mais me preocupar com escola, amizades, família, vida. Tudo se foi, mas apenas por alguns instantes. Lembrei de que preciso me preocupar com isso, e que não quero me deixar levar pelo amor. E que tenho medo.

- Anthony, eu acho que devemos...

- Parar?

- Sim, daqui a pouco minha avó vem me chamar e estamos aqui, e isso não está muito certo. – Ri nervosa.

- Tem razão. - Ele se afastou.

- Eu acho que deve ir embora, Anthony.- Falei.

- Mas...

- Só vai embora, por favor.

- Samantha, há alguns segundos atrás você estava dizendo que está apaixonada por mim, que me ama. Não entendi...

- Eu nunca disse que te amo, só que posso estar me apaixonando, sim. Mas, eu não quero continuar com isso. Vamos apenas esquecer, fingir que nada aconteceu nessa noite.

- Não quero esquecer. – Disse Anthony, chegando perto de mim.

- Anthony, não.  Eu sei, também não quero. Mas devo, não podemos fazer isso.

- Por favor, não entendo porque... Acabou de dizer que está apaixonada por mim e agora não quer mais olhar em meu rosto?

- Eu estou apaixonada por você, completamente. Mas isso é ruim, e se você me deixar, e se isso for um amor passageiro?  Não quero sofrer depois, então temos que ceder.

- Não, Samantha. Eu já disse, sinto coisas muito fortes por você. Não vou te deixar, agora eu te amo e não quero acabar com isso. – Ele segurou em meu rosto e novamente, me beijou.

Não consegui conter um sorriso. Mas me afastei.

- E agora? – Falei.

- E agora o que?

- O que fazeremos? Digo, você está apaixonado por mim e eu por você. Mas eu moro do outro lado do país Anthony, nunca vamos poder ficar juntos. E só ficarei aqui por mais alguns dias, isso não vai seguir em frente.

- Pode ser que sim, pode ser que não Samantha. Mas eu acredito no que está acontecendo entre nós. Se eu te amo tanto da forma que não consigo ficar  sem você, então vamos ver o que é que dá.

- Eu não sei...

- Samantha, não faz isso. Não estraga tudo, por favor.

- Eu quero estar com você, agora não sou mais eu quem decido e sim, meu coração.

O beijei, agora com mais intensidade do que antes. Foi melhor, segurei em sua nuca e o abracei forte. Mas uma batida na porta acabou com nosso momento. Era vovó.

- Samantha, com quem está falando?  Vem jantar.

Saí dos braços de Anthony rapidamente.

- Estou indo vovó. Só um minuto.

Ouvi os passos dela descendo as escadas e falei:

- Anthony, você sabe que estou apaixonada por você. Agora vá.

- E eu sinto o mesmo. – Sorriu. – Amanhã quero te ver na festa.

- Vai me ver. – Retribuí o sorriso.

Ele foi em direção á janela e sentou-se. Chegou perto de meu rosto para tentar novamente um beijo, mas fracassou. Escorregou quebrando um pedaço da lateral da parede de madeira e quase caiu. Segurei-o pelos braços e começamos a rir.

- Anthony, shhhh.

- Apenas mais um.

- Hoje não. Boa noite. – Respondi, e saí para meu quarto.

Anthony desceu a janela e me aproximei novamente quando vi ele lá embaixo. Saiu correndo, pegou um  cavalo que estava ali, provavelmente era dele e foi para sua casa. No interior da noite.

Suspirei. Ele me deixava voando. O que seria de mim agora? Pensei. De nós? Eu estava amando pela primeira vez, e sentindo algo surreal.

Resolvi parar com meus pensamentos e ir para a sala, vovô e vovó já estavam me esperando. Desci as escadas e encontrei Christina na cozinha, arrumando a mesa. Peguei os copos do armário e ajudei-a.

- O que estava fazendo Samantha? – Perguntou ela.

- Lendo. Por que?

- Ouvi uns barulhos, de risadas e conversa. Estava no telefone?

- Ah sim vovó, estava com minha amiga na internet.

- Entendi... Essas tecnologias de hoje,  pode até falar por telefone no computador... – Riu ela.

Ri de volta, aliviada. Vovó acreditou em meu argumento. Terminei de ajudar na cozinha e fui para a sala ver vovô. Estava sentado na poltrona, bebendo uma cerveja e assistindo á televisão. Fiquei por um tempo ali com ele. Comentamos alguma coisa sobre os programas que passavam e a pizza chegou. O entregador buzinou com seu carro antigo e muito bonito e resolvi ir pegar a comida.

- Eu busco. – Falei. Peguei o dinheiro na bancada e abri a porta da casa.

Naquele momento eu simplesmente travei. Fiquei parada sem saber o que fazer, encantada com o entregador. Tudo bem, era só um entregador de pizza. Ou, o cara mais lindo que eu havia visto em toda minha vida. Diferente de Anthony, tinha cabelos louros, olhos azuis da cor do oceano e um sorriso encantador.

- Oi. Voce deve ser Samantha? – Disse ele, com uma voz suave e deliciosa de ser ouvida.

- Sou sim, como me conhece?

- Bom, eu tenho um irmão na verdade,e ele se chama Anthony, sabe?

- Ah, sei. Ele não me contou que tinha um irmão.

- É, é que não nos damos muito bem... Sabe como é.

- Na verdade não. - Dei risada.

- Então, ele e meu pai contaram-me sobre você, que vai ficar aqui por algumas semanas, na casa da avó, certo? 

- É, eu mesma.

-  Sempre entrego pizza aqui na casa de Richard, e as vezes trabalho aqui também.

- Entendi... – O que eu estava fazendo? Pensei. Conversando com o irmão do rapaz pelo qual eu estava apaixonada. Sim.

- Bom, mas agora parei de trabalhar aqui, e estou com esse novo emprego...

- Ah, sim. Desculpe, não perguntei o seu nome. – Ri sem jeito.

- Que nada, meu nome é Nicholas.

- Muito prazer, Samantha, como você já sabe. – Ele sorriu e me deu um aperto de mãos, até lembrarmos de que eu estava ali para pegar a pizza, e ele para receber o dinheiro e ir embora. Nicholas entregou-me a caixa e o refrigerante, pegou o dinheiro.

- Não precisa de troco? – Perguntou.

- Não, está certinho.

- Então, até mais, Samantha. – Sorriu, deixando-me até tonta com a beleza.

- Nos vemos por aí. – Falei.

Abri a porta de casa e entrei.

- Quantas horas ia ficar conversando com Nicholas? – Perguntou vovô, rindo, pegando a garrafa de refrigerante e me acompanhando até a cozinha.

- Que exageiro! Só estava sendo simpática, não sabia que Anthony tem um irmão.

- Sim, os dois trabalhavam aqui na fazenda para mim antes, mas agora Nicholas conseguiu este emprego de entregador e está faceiro... Esses jovens...

- Hm, e quantos anos ele tem vovô?

- Nicholas tem 18.

Jantamos, depois ajudei vovó com a louça e a cozinha em geral. Quando terminamos, ficamos todos na sala jogando cartas, conversando. Foi uma noite boa, apesar dos apesares. Mas mesmo assim, tranquila.

Eram perto das nove da noite e resolvi deitar, amanhã vai ser o centenário, e vou passar o dia com Anthony, o que vai ser uma coisa boa, eu acho.

- Boa noite vovó, e vovô. Vou deitar.

- Boa noite minha neta, até amanhã. – Disse vovó.

- Bons sonhos querida. – Disse vovô, abraçando-me.

Subi as escadas para meu quarto, entrei, fechei a porta e procurei meu pijama na mesa de cabeceira. Me vesti e fui ao banheiro fazer minha higiene pessoal. Voltei ao quarto e deitei na cama, deixando apenas minha luminária acesa, meu Romeu e Julieta estava ali, também na mesinha cabeceira. Li algumas páginas, lembrei de Anthony citando Romeu para mim, aquele dia na clareira. Pensei em nosso beijo, pensei em cada palavra que ele me falou, mas também em Nicholas e em sua beleza surreal. Sem perceber, caí num sono profundo, com o livro aberto sobre meu rosto.