L'ultima Canzone escrita por Suehime


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Escrevi essa história em uma madrugada de chuva e insônia.
Boa leitura.

*Fréderic Chopin: Nocturne Op.9 No.2
(http://www.youtube.com/watch?v=POoZIvqMsVY&feature=player_embedded)



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Ele estava sentado na última fileira da pequena sala, esta com apenas mais umas seis ou sete pessoas que a ocupavam, observava atentamente a mulher que estava no pequeno palco, sentada em frente ao piano, tocando aquela melodia já conhecida, seus dedos corriam ágeis e habilidosos por aquela infinidade de teclas, ela estava com aquele semblante sério e ao mesmo tempo feliz e satisfeito, Daniel sabia o quanto ela adorava tocar aquele grande instrumento, ela sempre dizia a ele que aquilo a fazia esquecer por momentos o quão cruel a vida poderia ser, e a fazia entrar um fantasioso e perfeito mundo. Ele sentia a mesma coisa quando a via tocar, achava lindo a forma elegante com que os dedos se moviam, como era a postura da garota quando sentava-se a frente do piano.

Naquele dia em especial ela estava mais radiante que o normal, os cabelos longos e negros estavam soltos, vestia um vestido verde que lhe caia até a altura dos joelhos, seguido por uma grossa meia calça branca, e uns simples sapatos marrons. Desviou o olhar para ver através da grande janela no lado direito da sala, a neve caia fina do lado de fora, aquele inverno estava sendo o melhor que ele já presenciou, houve poucas nevascas e o clima estava agradavelmente frio.

Ouviu as notas do piano ressoarem uma última vez pela sala até finalmente pararem, voltou a atenção para quem agora se levantava e agradecia cordialmente a quem ficou até o fim da apresentação. Esperou até todos se retirarem do local e então foi em direção ao minúsculo palco.

– Foi uma linda apresentação, Emily - disse alegremente dando em seguida um pequeno beijo nos lábios da moça a sua frente.

– Obrigada. Achava que você não viria hoje.

– Acabei me desocupando cedo na universidade, você sabia que agora os alunos não querem assistir até o final das aulas?

– Mas quem em sã consciência gosta de aulas de matemática mesmo? – disse pegando alguns papéis e os enfiando na bolsa.

– Assim você me magoa, Em! - disse dando uma gostosa gargalhada. Daniel dava aulas na University of East London, trabalhava lá o dia todo, mas as quintas sempre dava um jeito de sair um pouco mais cedo para ver Emily tocando, ela era professora de literatura e escritora, ela trabalhava naquele lugar e nas quintas ao fim das aulas, gostava de tocar para seus alunos, apesar de que nem sempre eles ficavam ali para ver até o final das apresentações, mas ela não se importava, fazia isso por si mesma, sentia a alma limpa após as apresentações e sabia que Daniel estaria esperando por ela, sabia que ele apreciava vê-la deslizar os dedos nas teclas do belo piano.

– Vamos? - perguntou ele.

Pegaram seus casacos e saíram porta a fora, Emily se despediu das colegas de trabalho e ao chegarem à rua, a neve já tinha quase desaparecido, tornando a caminhada mais fácil. Daniel foi o caminho contando como as coisas na universidade estavam melhorando e como ele estava feliz em ter aceitado a oferta de trabalho de uns anos atrás. Emily apenas assentia com a cabeça e fazia alguns comentários, não era muito de falar, sempre fora fechada para as outras pessoas, até mesmo para Dan, ela simplesmente não conseguia tagarelar sem parar, diferentemente de seu parceiro que falava praticamente pelos dois.

– Você lembra quando nos conhecemos, Em? - claro que ela lembrava, como poderia esquecer? Fora há dois anos, ela havia ido deixar algumas coisas para uma amiga que trabalhava lá, Katarina estava conversando com um homem alto e loiro, disse que ele era um novo professor e que ela estava mostrando o campus a ele. Além da aparência jovem, ele tinha um elegante charme, estava bem vestido e falava bem, um pouco mais de dois meses desde esse dia, ele a chamou para um passeio ao parque e ela aceitou de bom grado, e desde então estão juntos.

Chegaram à cafeteria que ficava próximo aonde Emily trabalhava e pediram o de sempre, Daniel agora falava sobre uma futura viagem que eles fariam no próximo verão.

– Eu não sei você, mas eu gostaria de ir pra um lugar como a Itália ou conhecer a América do Sul.

– Acho a Itália um ótimo lugar para visitarmos juntos, sempre quis conhecer na verdade.

– Hum, então acho que será a Itália - deu um gole em seu café e continuou - eu já fui lá com meus pais, mas à muitos anos atrás. Mudando de assunto, vi sua tia Margareth hoje... - Dan sabia que tinha tocado em assunto não muito agradável, Emily e sua tia, e único parente próximo, tinham um difícil relacionamento desde a morte dos seus pais, coisas sobre "você não está seguindo o legado dos seus pais de continuar com os negócios". Acontecia que ela não tinha vocação e nem queria assumir os negócios da família, não gostava de administrar, gostava de arte, gostava de ensinar e não de dar ordens em uma empresa, não nasceu para aquilo. Mas sua autoritária tia dizia que era seu dever já que era a única filha de seu irmão, Emily disse que não assumiria nada e que se ela quisesse ela cuidaria dos tais negócios, e foi isso o que Margareth fez, na verdade seu marido, enfim, ninguém se importa, muito menos Emily, ela tinha ficado com todos os bens dos falecidos pais, mas a construtora deles nunca foi uma coisa que ela quis, então "dá-la" à tia não seria nada demais. - você deveriam se entender, ela já está dando uma quantia de dinheiro a você dos lucros, se entender não seria nada...

– Eu não irei pedir desculpas a ela Dan. - retirou os óculos e limpou as lentes com um guardanapo de papel - Eu não devo desculpas a ela.

– Eu não disse que você devia desculpas - Ela lhe lançou um olhar de aborrecimento. Ele sabia que era inútil ter essa conversa com ela, já às tinham há muito tempo e todas foram sem o resultado esperado.

– Eu não quero mais discutir sobre esse assunto! Isso não levará a nada - disse se levantando.

Daniel deixou o dinheiro que pagaria o que eles haviam consumido sobre a mesa e a seguiu. Ela caminhava lentamente até a saída quando braços seguraram os seus.

– Você deveria me esperar. - disse recebendo um suspiro cansado como resposta, levou-a até a saída ficando em frente ao estabelecimento. - Você sabe que eu apenas quero que você se entenda com ela porque eu quero o seu bem, certo?

– Eu me entendendo ou não com ela, não vai mudar nada em meu bem estar.

– É bom ter um relacionamento saudável com a família - disse com um sorriso meia boca.

– Isso pra mim não faz diferença, nunca fui muito apegada com a minha família.

– E quando nos casarmos? - Ah sim, o casamento, ela nunca soube como lidar com coisas como família, nunca sonhara em se casar, na verdade quando ele a propôs ela quase não aceitou, pensar em ter filhos, cuidar de uma casa, de sua própria família... Tudo parecia tão complicado.

– V-vai ser diferente, vai ser a nossa família. - Dan riu, e isso a fez desviar o olhar, sabia que estava corada, e estava sem graça, não gostava de se sentir assim, era constrangedor e patético.

– Eu te amo, Em.

A face já erubescida, corou violentamente e a única coisa que pode ser ouvida foi um simples "hn". Daniel ficou por um momento triste, ela nunca dissera que o amava, o sentimento não parecia ser recíproco mesmo depois daqueles quase dois anos. Afagou os cabelos negros da mulher à sua frente fazendo-a olhar para ele, aqueles intensos e indecifráveis olhos verdes agora o fitavam por de trás dos óculos, desceu a mão até a sua cintura e a puxou para um beijo, um gentil e terno beijo que logo se tornou em algo mais intenso, quando os dois necessitaram de ar as bocas foram separadas.

Ela olhou para Daniel e ele deu um leve sorriso.

– Eu preciso ir agora, você realmente ficará bem indo sozinha?

– Sim, eu sempre faço o mesmo caminho todas as noites, não há nada demais.

Após a despedida Emily seguiu seu caminho para casa, as ruas de Londres pareciam mais desertas que o normal naquela noite. Em dava passos largos e rápidos e sua cabeça estava em Daniel, o rapaz sempre fora atencioso e bondoso com ela, o primeiro homem de sua vida, o primeiro que a fez sentir uma mulher de verdade, tudo que ela era hoje ela devia a ele. Emily sabia o quão difícil era amá-la, não era uma mulher fácil de ser domada, sempre disposta a conseguir o que queria, não deixava se levar fácil, muito menos ser levada por sentimentos como o amor e o desejo da carne, mas com Daniel era diferente, ele mostrou a ela como a vida poderia ser mais divertida a dois, e pouco a pouco aquela barreira que um dia foi criada, foi aos poucos desaparecendo, e ela foi se tornando mais flexível a seus sentimentos, mesmo não conseguindo expressá-los em palavras...

– Ei, moça - seus pensamentos foram interrompidos por uma grave voz que vinha a poucos metros atrás dela. Ela parou e estremeceu. - O que você tem aí dentro dessa bolsa? - Emily se virou e observou o homem que estava a sua frente, ele vestia roupas escuras e era muito mais alto e maior do que ela, sabia que se o fosse o caso de precisar fugir dali, não conseguiria mesmo se tentasse.

– Apenas alguns documentos.

– Será mesmo? Por que você não deixar eu dar uma olhada? - Emily abraçou a bolsa, não mentiu totalmente quando disse o que tinha na bolsa, talvez tivesse algumas coisas de valor, mas o que realmente importava era alguns importantes papéis que ela carregava, eram praticamente a vida dela que estavam neles - Vamos moça, entregue a bolsa pra mim, tenho certeza que só tem papéis ai, hã?

– Não. - disse apertando mais a bolsa contra o corpo.

– Então deve ter mais alguma coisa aí dentro, - disse se aproximando e ficando mais sério - passe a bolsa.

– Não! - deu alguns passos para trás, mas ele foi mais rápido, Emily segurou a bolsa com as duas mãos e tentou puxá-la das mãos do homem, sem sucesso, sabia que o que estava fazendo era loucura, mas não podia, não podia deixar que aqueles papéis ficassem com ele, eram muito importantes para serem levados por um qualquer. Enquanto tentava arrancar das mãos do assaltante percebeu que ele colocou a mão dentro do casaco dele e viu algo brilhante ser retirado de lá.

Estremeceu.

Mas mesmo morrendo de medo, não soltou a bolsa. Na verdade seu medo era tão grande que mesmo seus pensamentos e ações estavam uma bagunça.

– Solte a bolsa! - ela não soltou, não percebeu quando a faca foi em sua direção, apenas sentiu um fervor em sua barriga e a falta de forças que agora lhe consumiam. Soltou a bolsa, e viu o homem olhá-la assustado e se afastar, correndo na direção contraria a dela. Emily caiu de joelhos em meio a rua vazia. Passou a mão aonde o fervor, agora misturado com dor, estava, viu o vermelho vivo entre seus dedos, sentiu náuseas e as pernas ficarem cada vez mais fracas, caiu em meio ao sangue, olhava fixamente para as mãos sujas com o mesmo. Viu seu sangue sendo derramado, seus planos, sonhos, desejos indo embora, seu futuro escorria pelos seus dedos. Lembrou-se de Daniel sentado em um dos bancos do pátio da universidade conversando com sua amiga, Katarina, a primeira vez que o viu, ele estava lindo naquele elegante suéter azul, com um cachecol xadrez no mesmo tom, o cabelo loiro penteado cuidadosamente para trás, aqueles olhos que a observavam, penetrantes e sinceros. Lembrou-se daquele primeiro beijo no parque, o inicio de tudo, fora um delicado e rápido beijo, inesperado, mas não menos apaixonado do que os que trocavam nos tempos de hoje. Também se lembrou do primeiro 'eu te amo' vindo dele, da primeira noite juntos, dos planos para o futuro. Quando seus pais morreram naquele trágico acidente de carro há oito meses, ele estava lá, ele sempre esteve.

Sentiu o corpo ficando mais fraco a cada vez que respirava, essa que já estava pesada e descompassada. A tontura que sentia fez sua visão ficar embaçada, ouviu algumas pessoas conversando perto de si, pareceu um casal de jovens "Moça, ei! Ela não responde, ligue para a emergência, George!" pode ouvir entre zumbidos. Não adiantava mais, já era tarde, as poucas forças que tinha e sua consciência já estavam se esvaindo, sabia que aquele era o fim, que não tinha mais volta, lembrou de uma última coisa, o que a fez se sentir mais triste, amargurada, arrependida, queria poder voltar no tempo apenas para corrigir esse erro, o mais cruel que ela já cometera:

"Eu não pude dizer que o amava também, por favor, me perdoe, Daniel."

Assim como uma bela e triste melodia chega ao fim, a sua vida acabava ali, em meio ao sangue, arrependimentos, mesmo com a certeza de que um dia foi amada.


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Notas finais do capítulo

Bom, essa foi a primeira história original que eu realmente terminei, sempre começava a fazer e as deixava pela metade. E então, gostaram?
Aceito qualquer crítica construtiva (:
Obrigada por ter lido até o final.



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