POV’ Megan

– Que parte não acelerar igual uma louca você não entendeu? – Craig gritou, batendo as mãos no painel do carro.

– Eu estou tentando, mas você fica gritando comigo! Que saco! – eu gritei de volta. Se aquele era o jogo dele, eu iria jogar.

– Você não assimila! Vamos sair desse estacionamento com o carro destruído! – ele me lançou um olhar obscuro com aqueles olhos verdes neon.

– Quer saber?! Eu desisto! Quer que eu saia?! Eu saio! – eu tirei o cinto de segurança e abri a porta. Ele tinha conseguido me tirar do sério.

Saí do carro vermelho pisando forte. Não queria mais ver a cara dele, afinal, ele tinha conseguido uma grande habilidade de me tirar do sério e estragar o meu dia.

Quero dizer, o que ele esperava de uma garota que ia dirigir pela primeira vez na vida? Eu não era um piloto de fórmula um, poxa... Coloquei a bolsa no ombro e peguei o celular. Olhei no visor e me espantei com o horário, afinal, eu estava duas horas atrasada para o jantar.

“Estou sentindo que irei ficar de castigo para sempre hoje” eu pensei. Meus pais realmente não aturavam atrasos.

…

Cheguei em casa e abri a porta devagar, para não fazer barulho. Todas as luzes estavam apagadas.

“Ótimo, agora é só eu subir para o meu quarto e dizer que quis dormir sem jantar”, eu pensei.

Quando terminei esse pensamento, um barulho de copo se quebrando invadiu meus tímpanos. Enquanto tentava assimilar uma razão para isso estar acontecendo às dez horas da noite, ouvi um grito, outro copo se quebrando, outro grito e um vaso se quebrando.

O barulho vinha do quarto dos meus pais, no andar de cima.

Corri escada acima. Meus quatro irmãos estavam sentados no sofá da sala de televisão, todos olhando para o vazio, com uma cara triste. Ajeitei a bolsa no ombro e coloquei as mãos na cintura. Logo outro grito surgiu, e notei que era da minha mãe, soltando um palavrão bem cabeludo.

– Uau! O que está acontecendo aqui? – eu disse, ainda arfando um pouco.

– Mamãe e papai estão brigando – Tony disse.

– E é tão sério assim? Tipo, está acontecendo a Terceira Guerra Mundial ali dentro – eu apontei para o quarto com o dedão.

– Se eu fosse você, não entraria lá. Quase acertaram uma garrafa de vinho na minha cabeça – Michael disse.

– Qual a razão?

– Mamãe quer o divórcio. Ela descobriu que papai tem uma amante – James disse.

Eu me segurei para não rir. “Meu pai? Com uma amante?”, eu pensei. Fui até a porta e a abri.

Minha mãe estava em um lado da cama, com uma garrafa de uísque na mão, e no outro lado da cama, meu pai segurava um copo. Eles gritavam muito.

– Ei! Vocês dois aí, podem parar de brigar! Seus quatro filhos e eu estamos ouvindo tudo, entenderam? Se querem discutir, contratem seus advogados e arranjem o divórcio. Nem eu, nem meus irmãos somos obrigados a ficar ouvindo essa gritaria.

Eu saí e fechei a porta.

Fui até meu quarto e tomei um banho.

…

No meio da madrugada, tive um pesadelo, e acordei arfando e suando frio. Também estava com uma fome desgraçada. Resolvi que teria que descer até a cozinha e comer alguma coisa. Poxa, não me julguem! Eu dormi sem jantar!

Desci os degraus frios e fui até a cozinha. Peguei uma rosquinha de chocolate na geladeira, e quando me virei para sair e subir até meu quarto, Ryan me observava parado à minha frente. Quase gritei alto.

– Está maluco? – sussurrei. - Quer me matar do coração?

– Só vim ver aonde você estava. Você sumiu do seu quarto.

– Tive que comer alguma coisa. Não jantei hoje, e minha barriga parece um rinoceronte.

– Então você está bem, não é?

– Claro que sim! Por que não estaria?

– Eu sinto os seus medos, e você estava apavora há uns minutos atrás.

– Eu... tive um pesadelo.

– Quer que eu durma com você? Igual àquela outra vez?

– Tudo... tudo bem. Eu aceito.

Nós subimos juntos, e chegando ao meu quarto, deitamos na minha cama. Ryan me abraçou na cintura e beijou minha testa. Me desejando boa noite.

Repeti o “boa noite” e dormi.

Com Ryan, eu consegui dormir bem.