POV’ Megan

Duas semanas.

Duas semanas inteiras de fisioterapia, analgésicos para a dor lancinante na minha perna e cabeça e minha família me dando bronca. Mas o lado bom foi que eu pude tirar aquele gesso incômodo do meu braço e não vi mais o meu amigo morto. Aquilo estava me enlouquecendo.

No final da tarde, voltei para o meu quarto, ou o meu santuário, como eu o chamava. Claro, lá tinha todas as minhas preciosidades: meus livros, meus CD’s, meu computador e meus bichinhos de pelúcia.

A primeira coisa que eu fiz foi colocar um CD de rock bem alto e me jogar na cama, só pensando no primeiro dia de aula, que seria em poucas semanas.

Mas, claro, o meu sossego não durou muito, já que meu amigo tinha que aparecer. E, posso dizer, não foi de um jeito muito confortável. Em um segundo eu estava de olhos fechados e ouvindo o som, no outro, eu abri os olhos e dei de cara com meu melhor amigo Ryan. É sério. Ele estava em cima de mim, com as mãos ao lado da minha cabeça, olhando diretamente nos meus olhos com suas belas órbitas azuis. Meu coração deu um salto mortal.

- Ah meu Deus! O que pensa que está fazendo? – eu perguntei, sem me mexer.

- Como você pôde sair do hospital e nem me avisar? Fiquei preocupado quando você sumiu – ele aproximou seu rosto para mais perto do meu.

- Você queria que eu fizesse o quê? Que ficasse gritando o seu nome no quarto? As enfermeiras iriam me dopar e me internar em um hospício...

- Não precisa gritar o meu nome. Esse é o segredo. É só você pensar em mim e eu apareço, simples assim.

- Você falando parece fácil...

- E é. Existem muitas coisas sobre fantasmas que você nem imagina... – ele sorriu de orelha a orelha.

- O quê, por exemplo? – eu acompanhei o gesto feliz com o olhar.

- Você pode nos tocar, dependendo do fantasma com que você está lidando; pode ser tocada por nós – ele colocou a mão no meu rosto –; pode ser beijada por nós...

E ele me beijou. Tudo bem, eu não recusei o beijo, mas correspondi a ele. Eu realmente estava gostando do beijo.

Eu acordei.

Estava arfando e suava frio. “Não acredito que sonhei com isso, ah meu Deus!”, eu pensei, enquanto esfregava os meus olhos e me sentava na cama. Pensei no Ryan, e em poucos segundos ele apareceu. Foi sem querer.

- Me chamou? – ele perguntou sorrindo.

- Que horas são? – eu perguntei, tentando dar foco à visão do meu amigo.

- Três e meia da manhã. O que foi?

- Eu... eu tive um pesadelo...

- Já entendi... Você quer que eu durma com você, certo?

Eu assenti. Aquilo era loucura, mas eu estava realmente assustada, e precisava de um amigo do mau lado.

Ele deitou, se cobriu com o cobertor e me abraçou. Ele sorriu e beijou o topo da minha cabeça, me deixando calma.

- Fantasmas dormem? – eu perguntei em um sussurro.

- Não vou responder essas perguntas agora. Boa noite.

- Boa noite.

Eu sorri e dormi, envolta nos braços do meu melhor amigo morto Ryan.