Nárnia Além Da Vida Parte II escrita por Pevensie


Capítulo 14
Dia do Acerto de Contas


Notas iniciais do capítulo

Mais um gigantesco capítulo, perdão. Eu achava que essa fic seria curta, mais já vi que não vai ser, então não vou me preocupar mais com a quantidade de capítulos. Muito obrigada pelos comentários, pena que muitos dos antigos leitores não tenham chegado ainda. Estou aguardando os comentários, já que o capítulo é enorme, façam um resumo das situações.
Beijos



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Caspian tinha pegado no sono, mas seus sonhos não o confortavam. Infelizmente sonhava com a partida de Susana, no sonho os dois estavam no fim do mundo, o oceano que encontra o céu, que dividi os mundos, e Rabadash a chamava de dentro da água, como se fosse um reflexo de um espelho. Caspian puxava Susana por um braço, mas o bando de Tash a puxavam com correntes na outra mão, eles eram muito mais fortes, eram vários contra um. Susana pedia ajuda, e Caspian tentava puxá-la com mais força, mas isso machucava e muito o outro pulso dela que era puxado por correntes, Caspian não queria soltá-la, mas viu que se continuasse lutando a machucaria muito mais, visto que o pulso dela sangrava e muito. Teve que soltá-la e rapidamente ela foi engolida pelo mar, Caspian via pelo reflexo da água, seus tristes olhos a chorar. O rei acordou assustado com o pesadelo, nem dormindo tinha paz. Ele entendeu seu sonho anterior, o homem que levava Anna no cavalo, era Alvaro e o outro Rabadash. A flor do cabelo significava sua pureza que foi arrancada por aquele rapaz, e ele a tirou de si, o que fazia Caspian se sentir pior, já era duro perder a esposa, agora perderia a filha também? A menina de seus olhos. O ódio por Rabadash cresceu de forma surreal, ele conseguira, acabou com sua filha, desvirtuou seu filho, e agora tiraria sua esposa. Se Rabadash estava doente por ter Susana, Caspian ficaria também, doente para se vingar dele e de Alvaro. Ele queria tanto pegar sua espada e cortar a garganta daquele miserável, queria pendurar sua cabeça como recordação, assim como Rabadash ficou preso naquela grade, na terceira crônica. Mas o que ele mais desejava agora, era admirar aquela linda mulher, que dormia como um anjo ao seu lado, e isso ele fez a noite toda, não pregou mais os olhos, apenas ficou observando-a e a acariciando até que o próximo dia chegasse.

...


Edmundo era outro que não dormia, Jill havia adormecido ao lado de Edward, e Edmundo apenas os olhava, com o pote nas mãos. Com certeza o que havia naqueles doces era muito mais perigoso do que o que havia nos seus, há milhares de anos atrás, agora os inimigos estavam mais poderosos, e aqueles doces não causavam dor de barriga ou enjoo, aquilo estava levando a vida de seu filho aos poucos. Edward não comia a dias e isso estava deixando Edmundo louco, ele e Jill, ele não queria preocupá-la e dizia que sentiu as mesmas coisas e ficou bem, mas tinha muito medo do jogo pesado de Jadis, afinal o que ela queria? Para sua alegria alguém chamou na porta, e a voz cansada revelou que era doutor Cornélius.



– Doutor o que faz aqui? Entre.


– Sei que está muito tarde, mas também sei que seu filho precisa de muita ajuda, e rápido.

– Descobriu alguma coisa? - perguntou ansioso

– Sim, quando voltei para casa, peguei um antigo livro chamado ´´ feitiços e venenos´´. E sei mais ou menos o que seu filho tem.

– Diga logo qual é a solução Cornélius.

– Bom, os poderes de Jadis estão ampliados, não só dela como também a dama de verde. Ela tem poderes concedidos por Tash e então, o feitiço que ela fez pode estar modificado.

– Como assim? É um veneno?

– Sim, como diz o nome do livro. - Edmundo mostrou para Cornélius o pote e os três últimos doces, e o ancião ficou ainda mais preocupado e também aliviado por saber do que se tratava.

– Então me explique sobre esse feitiço, quanto tempo Ed tem?

– É complicado, como eu disse os poderes de Jadis estão melhorados. Pelo o que li, o feitiço que ela lançou nos doces, não muito diferente do que lançou nos seus, as trufas envenenadas farão Edward definhar até a morte. Isso o deixou muito viciado e quanto mais ele comer, mais vontade terá e pior ficará o seu coração.

– O que? Isso afeta o coração dele?

– Pelo que sei isso causa nele uma certa rebeldia, e muito mal estar, o rapaz não conseguirá comer nada e morrerá.

– Qual é o remédio.

– Isso eu não sei, mas Edward precisa dessas trufas.

– Como o veneno vai curar o veneno?

– É como as chamadas injeções de seu mundo, um exemplo, é o veneno de cobra, o próprio veneno é a cura. Tenho livros antigos sobre a medicina de seu mundo.

– Jadis com certeza vai querer algo em troca.

– E você está disposto a pagar o preço dela?

– Qualquer preço! - disse convicto


No castelo os malditos malfeitores comemoravam, zombavam do sofrimento e das expressões dos rivais. Quem não gostou nada daquela farra, foi Alvaro, isso mesmo, agora entenderemos um pouco o lado dele, só um pouco. Alvaro acordou com uma dor de cabeça enorme, a enxaqueca intensa parecia que o levaria a loucura. O fato era o seguinte: Alvaro não podia responder por suas ações, pois estava sob feitiço. Tirza usou seus poderes para manipular as ações do rapaz, foi ela que o controlou quando este abusou de Anna, e também o controlou naquela manhã. Os poderes dela fazem com que a pessoa fique mais ousada e façam tudo o que ela quiser, mas isso só era possível se a pessoa permitisse. Ela também fez isso com Rilian, o próprio desejo dele o derrubou, Tirza sabia que Rilian a desejava, mas o rapaz queria resistir a qualquer custo, mas mesmo tentando resistir, Tirza só precisava do desejo dele, e com esse desejo o manipulou, Rilian só se deitou com ela porque sentia la no fundo do seu coração um amor reprimido por ela. Naquele dia o príncipe não tinha cabeça para isso, mas ela com seus poderes de persuasão o convenceu. No caso de Alvaro foi mais ou menos o mesmo, no fato de fazer amor com Anna, ele aceitou, mas a ousadia e coragem para fazer isso só ocorreram por causa dos poderes dela, nesse tempo ele ainda não estava apaixonado por Anna. No caso dessa manhã, Alvaro foi enganado por seu pai e a feiticeira, ele achava que apenas terminaria com Anna em público, eles lhe disseram que tudo o que ele faria era terminar com a moça, o fizeram acreditar que ele apenas pediria o anel de volta, e Alvaro como não tinha coragem para fazer isso, deixou-se ser possuído pelo espírito chamado persuasão. Era como se Alvaro não estivesse em seu corpo, não era ele, estava possuído, ele não era assim, jamais faria isso com Anna. Aquele Alvaro daquela manhã era um fantoche de Tirza, o rapaz nunca imaginou que a feiticeira e seu pai pudessem ir tão longe, humilhar Anna, bater nela, rasgar as vestes, não era isso que ele faria, diria apenas que não a amava mais e ele acreditava que isso já era muito doloroso. Com certeza ela jamais o perdoaria, caramba se já seria difícil perdoá-lo só com o fora, imagine com a humilhação que persuasão a fez passar. Logicamente William também não o perdoaria, e o pai e os irmãos de Anna o matariam, como ele se defenderia se nem sabia usar a espada? É claro que não reagiria com o seu arco, pois já estava errado, não queria cometer mais um pecado. Esse espírito dominava a pessoa por horas, ela não tinha o menor controle de suas ações, mas via e lembrava de tudo, tudo.



Alvaro levantou cambaleando e foi como um louco atrás de seu pai, que já estava quase caindo de tão bêbado, todos estavam.



– Rabadash! - gritava furioso, e Rabadash que mal se aguentava em pé, quis zombar do filho


– Que foi seu moleque? Esqueceu de tomar a mamadeira? - ah mais o rapaz não estava para brincadeiras, e agora não tinha pena, nem o menor carinho por seu pai. Alvaro deu um soco tão forte no rosto de Rabadash, que o nariz dele espirrou sangue até na cara do rapaz, o tisroc caiu imediatamente.

– Que palhaçada é essa? - dizia Miraz que também estava muito bêbado, a música parou e todos esperavam pela reação de Miraz. O tirano puxou a espada e apontou para o jovem, mas como estava tonto, mal conseguia mantê-la estendida, e Alvaro que estava sóbrio, puxou a espada com a mão fazendo um pequeno corte, e também deu um forte soco na cara do rei, mas Alvaro segurou Miraz antes que este caísse, e segurando-o pelo colarinho apontou a espada em seu pescoço.

– Quem é palhaço aqui? - disse soltando a camisa do rei, mas não tirando a espada de seu pescoço, que já fazia a garganta do rei sangrar. - O palhaço aqui participou do jogo sujo de vocês, mas saibam que foi a última vez!

– Uma vez um rapaz muito parecido com você, fez o mesmo, estava assim, apontando uma espada para minha garganta, sabe quem ele era? Era Caspian. Tinha tanto ódio nos olhos como você, mas era um covarde! - disse as últimas palavras gritando e foi lançado ao chão. Todos estavam embriagados demais para reagir, seu pai nem tinha se levantado do chão ainda.


Alvaro largou a espada no chão e foi na direção de Tirza, que tonta, tentou sair da direção dele sem exito. Alvaro a agarrou fortemente pelo pescoço e iniciou um lento estrangulamento.



– Maldita ordinária, conseguiu me enganar não é? Me fez de marionete. Acabou com o resto da minha vida miserável – agora batia com a cabeça dela na parede, ainda segurando seu pescoço fortemente. - Conseguiu desgraçada, mas eu vou acabar com você. O combinado era apenas terminar com a Anna, você me prometeu que eu seria amável, mas o que é amável para você? Estou sendo amável o suficiente agora? Anda responde! Não tem folego?


– Tem sorte de Tash não estar aqui. - disse Jadis rindo por causa da bebedeira.

– E você não se meta, se não quiser sofrer as consequências. E você papai, levante-se, eu sempre te ajudo não é? Mas agora quero ver você se levantar sozinho. - Disse Alvaro transtornado.

– Seu desgraçado, quando levantar daqui vou te matar, como fiz com a sua mãe... - Alvaro lhe deu um forte chute no rosto, fazendo Rabadash cair de novo.

– O que você vai fazer? - perguntou ainda mais furioso. - Estou cansado de ser um objeto seu. A morte de minha mãe aturei, seus mal-tratos aturei, e até a minha prisão, mas isso não, eu não aceito. E saiba que você terá seu castigo, e eles vão te dar um muito bom, e saiba que nesse dia estarei ao lado deles, vendo a sua derrota. - deu outro chute quando Rabadash tentou levantar.

– Seu merda, você vai se arrepender. - disse com a cara cheia de sangue.

– É? e quem vai fazer isso? Você? Levanta agora e resolve isso como homem, sem armas e sem magia. Ah mais esqueci que você não é homem, é um verme, um louco doente que vai apodrecer no inferno! - Alvaro sentou em cima de Rabadash e ameaçou – Você ainda pagar, e eu quero assistir de camarote.


Felizmente Tash não estava, e o lobo, o anão, o soldado e todos os outros comparsas desses malditos, estavam arrasados de tanto beber. Mas a sorte de Alvaro foi que todos estavam completamente bêbados, a bebida era de André, mágica, e no dia seguinte, ninguém se lembraria de nada, só da dor.



O dia amanheceu e os inimigos dos narnianos, não se lembravam de nada, mas sentiam muita dor. O pescoço de Miraz tinha uma cicatriz, Tirza sentia uma enorme dor na cabeça e seu pescoço estava roxo, e Rabadash estava com o rosto um pouco inchado. Alvaro fingiria que nada havia acontecido, ou colocaria tudo a perder, afinal Susana precisaria da ajuda dele quando estivesse lá, e declarar guerra não seria nada bom para ele. Alvaro também se feriu de propósito, na boca e na testa, para que ninguém desconfiasse. Os outros lhe perguntavam o que havia acontecido, só os quatro estavam machucados, e os outros não, Alvaro disse que se lembrava um pouco da farra do dia anterior, lembrou-os que todos tinham tomado da bebida de André, e ficaram muito bêbados e como diversão, se bateram brincando de luta. Alvaro disse que Jadis e os outros ficaram de fora da brincadeira, e que Rabadash e Miraz começaram. Os ordinários engoliram a desculpa, e dentro de si, Alvaro queria matá-los, mas precisava se controlar.



Helen tinha ficado com Anna no navio, mas a moça não dormiu, tinha os olhos inchados e muita mágoa do amado. Se Anna soubesse que Alvaro fora vítima daqueles abutres. Ela queria muito se despedir da mãe, mas seus pais precisavam de um tempo sozinhos, ao menos Susana não tinha raiva dela, mas o que seria da moça quando sua mãe se fosse? Não aguentaria o desprezo do pai. Então para passar o tempo, a garota pegou sua pomba para acariciá-la, ela sentia raiva por lembrar de Alvaro, então em um instante de loucura, colocou sua pomba em uma comoda e pegou seu arco e flecha. Anna mirou o arco na pomba, mas atirou em sua asa direita. O barulho do pássaro não acordara sua avó, que tinha sono pesado. A pomba quebrou a asa, e Anna se arrependeu de ter feito isso, mas entregaria a ave assim, se visse Alvaro de novo, como acertou o braço dele, acertara também a pobre pomba e quebrara suas asas, assim como Alvaro quebrou seu coração.



Carlos foi dormir na Casa de Lúcio, e a mãe do garoto ficou um pouco animada por ver que seu filho, quebrou as barreiras entre o primo. Mas estava preocupada com Roberta, que estava bastante assustada com tudo. Lúcia se lembrava de quando era uma garotinha que entrou em um armário, lembrou como o tempo passou rápido e na mulher que havia se tornado. O que Aslam diria sobre os ciúmes dela? Com certeza a repreenderia e diria que não parecia mais aquela garotinha amável e compreensível. Agora era uma mulher ciumenta, e ela não gostava dessa nova Lúcia, mas todo mundo tem um defeito e ela viu que esse era o seu.


Carlos e Lúcio não conseguiam dormir, e foram surpreendidos por Benjamim que apareceu na janela e tinha uma ideia: construir mais armas, Lúcio fazia isso muito bem, e Carlos também poderia ajudar, em Nárnia não havia muitas espadas e arcos então eles precisavam providenciar isso o mais rápido possível, e foi isso que fizeram a noite toda.


Susana sentiu a claridade invadir seus olhos, e acordou esperando que tudo fosse apenas um sonho. Mas a expressão de Caspian mostrava que tudo era realidade. Ela se virou lentamente na cama, e viu o marido com os olhos vermelhos, fitando-a.



– Foi um sonho? - limitou-se a dizer


– Eu queria tanto, dizer que sim. - respondeu Caspian acariciando as mãos dela.

– Você parece tão cansado e desgastado, não dormiu direito amor?

– Não consegui – dizia friamente – Tenho medo de não... - tentava segurar as lágrimas, pensar nisso já era um desespero – voltar a te ver.

– Olha Caspian – dizia Susana com a voz já embargada – Você não precisa olhar nos meus olhos pra saber que eu te amo. Eu prometi que te amaria pra sempre. Não importa o que aconteça.

– Mas você já me esqueceu uma vez, e eu tenho tanto medo de que você deixe de me amar. - Caspian parecia um anjo, um verdadeiro garotinho, e Susana tinha tanta vontade de acalentá-lo, sabia que estava sendo mais difícil pra ele do que para ela.

– Eu esqueci de uma promessa, de uma vida inteira, mas não esqueci do seu rosto, do seu olhar, dos seus lábios. Eu nunca deixei de te amar, e mesmo estando com outro, não tinha um dia em que eu não pensasse em você.

– E se você se apaixonar por esse Rabadash? Se ele te conquistar?

– Amor nunca repita uma loucura dessas, eu odeio o Rabadash, tenho medo, nojo dele. Jamais poderia amá-lo, se não fiquei com ele no passado, imagine agora que só tenho olhos para você.

– Tenho medo do que ele possa fazer com você, todos eles. - dizia agora encostado na cabeceira da cama, olhando sem direção.

– Não se preocupe comigo Caspian, se preocupe com nossos filhos. Eu não temo mais o que eles possam fazer comigo, temo o que possam fazer com Nárnia.

– Acha que eles podem nos destruir? - perguntou preocupado

– Tenho certeza de que podem. Afinal para que ficariam aqui se podem me levar com eles?

– O que será de nós, sem o Aslam?

– Caspian eu juro que não quero imaginar.

– É melhor não pensarmos nisso agora, deixe cada mal para o seu dia.

– Preciso me despedir... - disse ela, e Caspian fechou os olhos suspirando.

Susana foi para a cozinha do Peregrino da Alvorada e encontrou seus pais lá, os três. E também os pais de Caspian, Abigail e o rei Caspian IX, e foi cumprimentar estes primeiro.


Sua sogra Abigail foi correndo para abraçá-la – Querida tudo vai dar certo, não se desespere. - dizia a sogra que era uma segunda mãe para Susana.


– Eu confio em Aslam rainha, eu sei que ele vai me dar forças. - Susana odiava despedidas

– Minha pequena, eu te amo tanto – dizia Joseph segurando o rosto dela – Ah Susana se eu pudesse fazer alguma coisa pra te ajudar

– Não diga isso pai – disse chorando – Eu me lembro de quando vocês se foram e... foi tão difícil pra mim. Eu não quero me despedir de novo.

– Meu amor, não fique assim, eu sei que é difícil mas queremos estar com você nesses últimos momentos. - falava Helen

– Eu sei, e são desses últimos momentos que tenho medo, eu os amo tanto. Isso também me lembra a despedida na estação de trem, quando fomos para a casa do professor...

– Você já passou por tantas coisas ruins filha, tantas despedidas, mas você vai conseguir Susana. Esse homem vai te deixar em paz, quando perceber que você ama o Caspian.

– O Rabadash não é o Robert mamãe, e se ele fizer alguma coisa contra o Caspian?

– Caspian sabe se defender Susana, sinto tanta pena do meu filho, ele parece tão perdido – dizia Caspian IX.

– Por que vocês não vão falar com ele? O Caspian está muito angustiado, a visita de vocês vai fazer bem a ele.

– Ele está no quarto? - perguntou Abigail e Susana respondeu com a cabeça.


– Oh Su perdoe esse pobre fauno, que nada pode fazer por você. - Tumnus a abraçou com força, com carinho, com saudade e Susana se afundou nos braços do pai.


– Não há nada mais confortador que o seu afago.

– Eu queria te dizer tantas coisas, mas o tempo é muito curto. Você precisa falar com seus filhos, Carlos está muito abalado, mas uma coisa boa aconteceu, ele se entendeu com Lúcio.

– Lúcio é um anjo, a amizade dele vai confortar o meu Carlinhos, mas a Anna...

– Coitadinha da minha neta, eu sabia que ele estava apaixonada, eu devia ter investigado sobre esse príncipe, mas não fiz nada. Susana sua filha está muito mal e Caspian precisa falar com ela.

– Tumnus tem razão filha, e se Anna tentar... suicídio? Ela está tão mal.

– Não diga isso mãe, Anna vai superar, por favor ajudem ela, não sei se Caspian poderá fazer isso. Ele sempre teve muito zelo com a Anna, morre de ciúmes dela, e o que aconteceu foi o fim para ele.

– Eu vou conversar com o Caspian Susana, ele está abatido e angustiado, entendo o lado dele, está sendo muito difícil, como rei, como pai, como marido, como homem, é muita coisa pra ele.

– Cuidem da minha família... eu só vou conseguir suportar se eles estiverem bem.

– Meu amor, se preocupa tanto com os outros que se esquece de si mesma. Susana seus filhos vão ficar bem, Caspian vai reagir e o povo vai ajudar. - dizia a mãe da rainha

– Não por favor, não permitam que o Caspian brigue com Rabadsh ou tente reagir, qualquer atitude pode piorar a nossa situação. Não deixem que o Benjamim e nem a Liliana tentem nada, eles são jovens, estão com o sangue fervendo, não entendem, nossos inimigos estão muito poderosos, e unidos. No passado foi muito difícil vencer cada um deles, só Jadis reinou por 100 anos, Tash destruiu Nárnia, imagine o que eles podem fazer juntos.

– Nós também podemos nos unir filha, somos muito mais numerosos que eles.

– Mas eles tem armas e poderes, nós nem esperança temos.

– Susana está certa Joseph, essa batalha não venceremos pela espada.


Caspian recebeu seus pais e se sentiu um pouco melhor por ter o apoio deles.


– O que eu vou fazer meus pais? De onde tirarei forças para seguir em frente? - dizia sentado a mesa do quarto

– Caspian você precisará ser forte, por Susana, seus filhos, por você mesmo. - disse a mãe do rapaz acariciando os cabelos dele.

– Eu não consigo. Como serei forte? Daqui a algumas horas ela se vai e eu... - o rei colocou a mão no rosto tentando segurar as lágrimas.

– Caspian meu filho, ninguém está mais fragilizado do que você. Mas nem podemos lutar, não temos armas suficientes, Caspian conte comigo e com sua mãe pra tudo.

– A Susana, ela está se fazendo de forte, mas está tão apavorada, triste e desamparada, e eu meus pais, eu não posso fazer nada. Viram como aqueles miseráveis humilharam minha filha. Eu queria acabar com eles de uma vez, mas Tash é muito poderoso e me esmagou como um rato. Não sei o que dentro de mim é mais forte, a dor ou o ódio.


Tumnus também entrou no quarto para falar com o genro. E Abigail e Caspian IX saíram, com a promessa de encontrá-los na ágora.



– Caspian não chore assim, sabe que te considero como um filho.


– Eles me destruíram...

– Você precisa se reerguer.

– Me sinto tão fraco, tão sozinho.

– Não é só você que se sente sozinho, sua filha também.

– Por favor Tumnus, não quero falar dela. Não quero mais olhar na cara dessa moça, eu não tenho mais filha.

– Não fale assim meu rei, não seja tão duro. Imagine o quando está sendo duro para ela. Anna era só uma garotinha, foi assim que vocês a criaram, esses jovens nunca conheceram o mal, só as coisas boas, nunca a guerra e as aflições da vida. Sua filha só conheceu o amor.

– E se entregou em tão pouco tempo! - disse com ironia.

– Se você soubesse o quanto Anna está sofrendo, e o seu desprezo só piora tudo. Seus filhos precisam tanto de você, principalmente ela, e o Rilian também. Não os desampare, Aslam jamais faria isso. Todo mundo erra, e esse erro está consumindo todos nós, e também destruirá seus filhos. Tenho certeza de que você os ama, e não quer ver o mal deles, Caspian só o seu perdão pode restaurar a Anna e o Rilian, o ódio dos nossos inimigos por eles já basta, não faça o mesmo.


Carlos chegou em casa acompanhado de Benjamim e Lúcio, o primo mais novo ficou penalizado com os rostos tristes de sua tia e avós.


– Carlos, Benjamim, não façam essa cara meus amores – pedia Susana com pena das expressões deles.

– Eu não vou deixar que eles levem você mãe. - dizia Benjamim nervoso e ofegante.

– Não meu amor, não faça nada, por mim e por todos nós. Não coloque mais sua vida em risco Benjamim. - dizia Susana beijando o filho com sofreguidão.

– Me perdoe por não ter feito nada mãe, eu não sirvo... - Carlos voltou a chorar e Susana foi abraçá-lo com força, Lúcio passou a mão nas costas do primo, triste pela insuportável situação daquela família.

– Meu filho não fique assim, você é tudo pra mim Carlinhos. E eu quero que você seja forte, os dois, quero que ajudem o pai de vocês e sua irmã também. Agora estou nas mãos de Aslam, e onde ele estiver, sei que estará pensando em mim. Também quero te agradecer Lúcio, muito obrigada por oferecer sua amizade ao Carlos. Eu nunca poderei retribuir – disse acariciando o rosto do sobrinho e em seguida dando um beijo caloroso em Lúcio.

– Não tem que me agradecer tia. Você vai ver como tudo ficará bem.


Nesse instante Anna entra na cozinha deixando todos mudos. A menina foi caminhando devagar até mãe, tentava dar um tímido sorriso com os olhos marejados, Susana também tentava sorrir, mas com Aninha ela sabia que não conseguiria conter suas emoções. Susana sentia tanto dó, de si mesma e de sua filha, Aninha parecia tão arrasada, certamente estava pior que Caspian, o rosto dela dizia tudo. A distância foi interrompida e Anna se jogou nos braços de Susana, Aninha chorava silenciosamente e Susana sentia o líquido quente escorrer por seus ombros. O que ela poderia dizer aquela menina que estava totalmente destruída por dentro?



– Eu sinto tanto mãe! - Anna apertava Susana bem forte, e a mãe da menina via o quanto ela estava carente.


– Minha vida eu não queria que você passasse por isso.

– Promete que não vai me odiar mãe. - pedia soluçando

– Como você pode pensar uma coisa dessas Aninha, eu te amo tanto, e nada pode muda o que eu sinto.

– Mas você vai com eles por minha culpa, por minha causa eles entraram aqui e agora, Aslam não pode fazer nada. Quando você estiver com eles, vai se dar conta do que fiz e vai me odiar. O papai também, nunca vai me perdoar, ninguém vai. E o Edward vai morrer por minha causa. - dizia em desespero

– Aninha ninguém te odeia. - dizia Lúcio tentando acalma a prima.

– Mas e o meu pai... ele tem toda razão em não querer nem olhar na minha cara.

– O Caspian está confuso e triste, mas isso vai passar.

– E se você não voltar nunca mais? O que vai ser de mim? Eu não quero mais viver.

– Anna não diga mais isso! - Susana falava, e abraçou a menina fortemente dando-lhe um beijo na testa. E Caspian, percebendo que a hora era chegada, também veio se despedir não acreditando que estava tudo acabado.


Anna se separou de Susana, e mesmo Tumnus tendo conversado com ele, Caspian não quis falar com Anna, que duramente entendia a rejeição do pai.



– Já está na hora. – percebia-se o tamanho da dificuldade para que a voz dele saísse. - Adeus!


– Como assim adeus? Não vai comigo? - perguntava Susana sentida

– É melhor não – dizia ele choramingando – Ou não vou conseguir fazer isso. É melhor você ir sozinha.

– Não Caspian, você não pode me deixar sozinha agora, não mais do que já estou.

– O que você quer? - dizia perdendo o controle, quase gritava. - Que eu te entregue na mão dele?

– Caspian se acalme! - pedia Joseph

– Me desculpa amor, Susana eu não vou conseguir. Eu não quero me despedir de novo, isso dói demais e eu vou morrer se tiver que fazer isso mais uma vez.

– E se tudo der errado e eu nunca mais puder voltar, e assim que você quer que acabe? Quer que essa seja a última lembrança?

– Não. Eu não vou dar esse gostinho à ele, eu vou com você. - Ele mal terminou de falar quando alguém chamou na porta, era Maugrim, o lobo de Jadis.


– Vocês devem se dirigir a ágora imediatamente. - dizia a voz rouca do lobo


– Todos já estão lá? - perguntou Caspian friamente.

– Sim. Se não forem lá imediatamente, virão buscá-la aqui.

– E para onde a levarão?

– Para o castelo do baile. E não tentem nenhuma gracinha, ou não terá acordo.

– Caspian deixe essa espada aqui.

– Não Susana, eu vou levar.

– Caspian escuta ela. - dizia Benjamim sério




Quando chegaram na praça principal, também chamada de ágora, puderam ver a satisfação dos inimigos, e que o lugar estava cheio, mas não como no dia anterior, muitos preferiram não reviver o pesadelo. Apesar do desgaste físico e emocional, Susana estava lindíssima, o que fez Rabadash suspirar. Alvaro agora que estava sóbrio e livre de espíritos maus, pode observar Anna, a jovem estava em estado deplorável, completamente arrasada, parecia que tinha até perdido a juventude. E isso fez o rapaz querer apodrecer no inferno. Toda a família de Susana estava lá, todos queriam vê-la, e sabiam que não poderiam se despedir, todos foram desarmados para não cair em tentação, lutar era inútil. Caspian segurava as mãos de Susana bem forte, e tentava se manter firme sobre suas pernas que queriam desabar, ela deu umas olhadas pra ele, quando Rabadash começou a falar.



– Esse é o início de uma nova era, e a realização de um grande sonho, do verdadeiro objetivo de minha vida. Hoje Nárnia está sob novo comando, hoje anões e faunos serão nossos escravos e, ai de quem tentar contender. Está proibida qualquer forma de distração, o lazer e as festas estão proibidas, também será ilegal qualquer fabricação de armas, e todas que vocês tiverem pertencerão a nós. Reuniões também estão proibidas, qualquer um que tirar uma fruta de uma árvore, será morto e extirpado desse mundo, se algum fruto for colhido e consumido por vocês sem nossa autorização vocês estarão sob pena de morte, como dito. Teremos o direito de tomar os filhos de vocês para nos servirem de escravos, não importa se estarão doentes ou se são pequenos para o serviço, se não o fizerem direito serão mortos.


– Vocês não tinham dito nada disso! - falou Pedro indignado

– Saibam que foram vocês mesmos que nos deram legalidade para estar aqui. E ainda não terminei, os alimentos de vocês serão supervisionados, e comerão apenas do mínimo, o que for autorizado pelo chefe de polícia Maugrim.


Tudo isso era muito pior do que eles já estavam vivendo ou imaginavam, mas Rabadash chegou no ponto que Susana mais temia.



– Vamos meu amor, já está na hora – disse estendendo a mão para ela.


– Agora não, por favor, me dê um tempo para me despedir. - suplicou ela

– Cinco minutos.


Meus deus o tempo chegou e Caspian não estava preparado, ele olhava para ela com a visão turva, já que seus olhos estavam marejados, e apertou sua mão com mais força ainda, as dele suavam e tremiam. Susana ficou de frente pra ele, segurou as duas mãos do esposo e começou com o triste tormento.



– Ainda que seja muito triste, é melhor ouvir a verdade Caspian, é hora de dizer adeus.


– Não.

– Eu sinto tanto. Mas não torne isso mais difícil.

– Você não pode ir.

– Eu preciso, e... nós vamos sobreviver.

– Susana a gente pode arrumar um outro jeito.

– Não tem outra saída Caspian.

– Sempre há uma saída. Você não pode me deixar. - Caspian fazia de tudo para não chorar na frente de Rabadash.

– Eu sempre vou voltar pra você amor. - ela não conseguia mais segurar as lágrimas, e Rabadash sentia inveja do amor que ela sentia por Caspian.

– Eu sei. Eu vou ficar aqui te esperando. - dizia tocando o rosto dela

– A gente tem que aceitar que acabou. Esquece tudo o que eu te disse Caspian, me esquece, vai ser melhor assim.

– Para com isso, porque me machuca desse jeito Susana.

– Acabou, eu não quero mais, não quero que sofra por minha causa.

– Não diz isso amor!

– Vai ser melhor assim Caspian. Sabíamos desde o começo que era impossível. E vamos sobreviver um sem o outro. Vamos acabar com isso logo, de uma vez.

– Está sendo muito mais difícil do que eu imaginava. Susana não pode perder a esperança, eu vou te salvar.

– Nosso tempo está acabando Caspian, me abrace e terminemos logo com isso. Sem chorar, amor, sem sofrer, vai ser melhor pra nós dois, a gente já sofreu muito.

– Me beija! Como nunca nos beijamos antes, esse é o meu último pedido. - dizia segurando o rosto dela, ainda com as mãos trêmulas. Era difícil para Susana, mas era para o bem dele.


Susana abraçou as costas dele, ele a segurou bem forte, bem firme, e lhe deu um beijo, desesperado, angustiado, sofrido, porém muito apaixonado, e Susana não queria se separar desse beijo nunca. Caspian se separou do rosto dela, a olhou firme e voltou a beijá-la.



– Eu te amo muito. Muito, e nada do que eles digam ou façam mudará isso. Se nós conseguimos ficar juntos depois de tanto sofrimento e impossibilidades, ficaremos de novo. Será o que tiver de ser, e o nosso destino é ficarmos juntos, sempre.


– Eu também te amor muito, nunca vou amar outro homem como amo você. Por mais que eu queira o melhor pra nós dois, eu não consigo resistir ao nosso amor. Você nunca poderá entender a imensidão do amor que sinto por você, Caspian não importa o que aconteça isso nunca vai mudar.

– Eu sei. - disse dando mais dois beijos rápidos nela.

– Você é a minha vida! Lembre de todos os momentos em que passamos juntos, não se esqueça de ontem a noite, não esqueça do meu amor.

– Jamais, nunca vai acabar, nem a distância pode destruir o que sentimos.

– Já chega dessa baboseira – dizia Rabadash extremamente irritado com a declaração dos dois – O tempo acabou. Vem logo amor.


Os olhos de Caspian tinham uma mistura incrível, água, ódio e fogo. Ele queria matar Rabadash, se sua espada estivesse ali ele não exitaria em usá-la, nem se perdesse sua alma. Susana deu dois passos lentos em direção ao calvário, quando Caspian a puxou para mais um beijo apaixonado. Apaixonado, mas calmo, como primeiro que deram antes dela partir pela primeira vez. Rabadash perdeu a paciência, e a puxou pelo braço, Caspian se lembrou de seu terrível sonho, mas não pôde fazer nada.



– Isso amor, vem comigo, ah... - disse dando um beijo frenético no pescoço dela, que a enojou.


– Solte ela! - pediu Caspian tentando se manter calmo.

– Agora ela é minha. Veja só como eu a beijo. - disse provocador, e puxou o pescoço de Susana, que estava de costas, dando-lhe um beijo bruto e nojento, Susana tentava recuar, mas ele a apertava com força, e a puxou pela cintura deixando-a imóvel. - Tá vendo como ela é minha? - Caspian queria separá-la dele, mas Pedro o segurou.


Rabadash cheirava os cabelos de Susana, e a acariciava como um louco obsecado. Estava muito feliz, em total êxtase, finalmente conseguiu o que tanto queria, tê-la para si e se vingar de seu rival por ter se casado com ela. Rabadash queria provocar Caspian, que já estava a ponto de chorar por ver sua mulher sendo dominada por aquele selvagem.



– Está vendo reizinho? Está vendo como beijo minha bárbara rainha? Vai chorar como um bebezinho? Chora vai, chora porque nunca mais a verá de novo. Chora porque sou o dono dos beijos dela, chora porque serei dono do corpo dela, da vida, da alma.



Rabadash virou Susana para si e lhe deu longo beijo nos lábios, ele saboreava os lábios da rainha que continuava imóvel e completamente inerte, Rabadash queria ter Susana ali mesmo, por muito tempo sonhou com os lábios dela nos seus, com o corpo dela, por mais que ela o odiasse. Susana começou a chorar de nojo e vergonha, com medo do que Rabadash faria com ela depois, Caspian levou os olhos aos céus para não chorar na frente do inimigo. Todos os inimigos estavam lá, e todos estavam adorando o show, quem mais vibrava era Miraz, estava adorando ver a dor do sobrinho. Caspian era um grande guerreiro, segurou as lágrimas o quanto pôde, mas já era demais para ele, e chorou, para a realização de Rabadash que ficou com os olhos iluminados.



– Já chega! Ainda não está satisfeito? - disse o rei com a voz embargada.


– Só falta uma coisinha. - Rabadash pegou a mão esquerda de Susana e tirou a aliança de casamento dela, e jogou na lama. Caspian se ajoelhou e foi pegar, mas seu rival pisou em sua mão fortemente.

– Essa é a única lembrança que terá dela, então é melhor gravar bem em sua mente, esse lindo rosto. - disse ríspido como se não quisesse mais brincar. - A brincadeira acabou, vamos.


Um ciclope pegou Susana pela cintura, e a colocou em uma charrete, Rabadash em seguida subiu sentando-se ao lado dela, e os outros montaram seus cavalos, menos Alvaro que ficou lá parado sem saber o que fazer. Caspian com muita dor no coração, virou-se e pôs-se a caminhar com lentidão, não enxergava nada, nem ninguém, era como se estivesse sozinho naquela multidão, seus passos eram vacilantes. Ninguém sabia o que dizer, Caspian não era mais o mesmo, estava completamente tonto e desnorteado, tudo girava em sua volta, estava sem chão, sem rumo, e então desmaiou, para o espanto de todos.



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Notas finais do capítulo

Por favor! por favor comentem tudoooooooooooo!