Amor ou Amizade? escrita por Aki Nara
A vida agitada do meio artístico não deixava Richard se desligar completamente e quando isso ocorria, ele seguia à risca duas únicas opções.
Primeiro, pegava seu violino para tocá-lo até que seus músculos retesados pedissem clemência. E quando isso não bastava... Entregava-se a segunda opção, a de saciar o corpo com qualquer mulher que se infiltrasse em sua cama.
***
Porém hoje, nada saciava a sua fome. Deixara sua companheira deitada na cama e com seus dedos ágeis atacava seu violino furiosamente até o último acorde.
_ Ricky, querido – uma voz melosa se fez ouvir no dossel. – Seus dedos bem poderiam estar tocando algo mais quente.
_ Acho que já está na hora de você sumir? Você já tem muito do que se gabar para suas amiguinhas, não é mesmo?
_ Tenho? – a garota se vestiu com rapidez, deixando apenas a calcinha que jogou na cara dele. – Pode ficar de lembrança.
_ Não me leve a mal – ele cheirou a peça entregando-a de volta para a dona. – Mas sou menor e seria complicado explicar, você não acha?
_ Não levo... – disse provocante passando a mão pelo torso descoberto.
As mãos atrevidas da garota abaixaram até a cintura dele puxando o elástico da calça folgada.
_ Nossa! Ficou quente...
Ele agarrou a garota, puxando-a para si e massageando-lhe o quadril desnudo por baixo da saia.
_ Você é gostosinha e eu até posso querer de novo. – Richard usava seus dedos para acariciá-la intimamente como ela havia sugerido logo no início, arrancando-lhe gemidos de prazer. – Gostaria disso?
_ Hummm! M-muito... - a garota conseguiu apenas gaguejar amolecida nos braços dele pronta para fazer qualquer coisa que ele desejasse.
Sexo era útil quando não envolvia sentimento. Richard não se fez de rogado, virou a garota contra a parede, de modo que ficasse com o rosto colado na parede fria, segurou-lhe os braços acima da cabeça e a tomou como um animal grudaria em sua fêmea.
_ Assim é bom?! – ele parava um pouco para que ela implorasse por mais.
_ Por favor... Não pare... – a garota gemia em êxtase.
A porta se abriu intempestivamente e ele foi rápido em se recompor. A mãe entrava em seu quarto deixando um clima desconcertante.
_ Querida! Acho que já se divertiu bastante. Aqui tem dinheiro mais que suficiente para um táxi. E por favor... Não esqueça nada.
A garota saiu apressada tropeçando em si mesma.
_ Acho que eu tenho o direito de ter certa privacidade.
_ Desde que não traga essas vadias para casa, Richard.
_ Esta é minha casa. Você não mora nela.
_ Correção! Não moro nela, mas ainda assim é minha casa. Você está deplorável!
_ Estaria melhor se não tivesse me interrompido.
_ Tome um banho frio e vá dormir.
Michie, sua mãe saia intempestivamente assim como entrara. Richard deu meia-volta para tomar a ducha de água fria, seu corpo ainda estava quente e sob os efeitos dos hormônios que nem mesmo sua mãe conseguiu abortar.
Ele precisava de alívio e só tinha as mãos para isso, nenhum empecilho para sua mente criativa fantasiar, ele queria muito possuir as duas garotas amigas e só assim, com o corpo cansado conseguiu paz para dormir um sono com lembranças do passado.
Era um inverno frio quando Michie Lê Clair chegou à estação de trem com seu filho único de seis anos após a morte do marido. Os flocos de neve caiam enquanto caminhava pela rua que andou durante a infância até sua casa. Nada parecia ter mudado naquela pequena vila onde sua família era a mais antiga e poderosa.
A criança apertava a mão gelada da mãe, ela estava sem luvas porque as dera para ele usar. Com o coração apertado olhava vez em quando para receber um sorriso reconfortador, a mulher tinha fibra e naquela época só queria sua aprovação.
Eles chegaram diante da cerca do grande casarão, um Yashiki dos tempos feudais, uma senhora sentada à varanda olhava para as duas meninas brincando na neve, ela olhou para eles e teve um sobressalto, os olhos encheram-se de lágrimas fazendo-a correr para eles com braço aberto.
_ Michie! Você voltou! – a mulher idosa agarrava a mãe.
Um homem surgiu na varanda trazida pelos gritos da mulher. A criança se encolheu, pois os olhos daquele homem estavam frios e zangados como as do pai quando exalava o hálito após a bebida. A criança foi minuciosamente examinada da cabeça aos pés.
_ O que veio fazer aqui, Michie? Trazendo esse bastardo para casa... – a voz controlada parecia a de um trovão. – Quando resolveu sair desta casa eu lhe disse que não a aceitaria de volta. Entre, mulher e traga suas netas! A neve irá piorar, é melhor que se vá.
_ Anata! – a mulher agarrava-se a única filha em desafio e era a primeira vez que desobedecia ao marido.
Um longo silêncio quase sepulcral se instalou antes que ele falasse novamente. A neve caia efusivamente e as crianças que brincavam a pouco já haviam entrado para o conforto da lareira aquecida.
_ Muito bem. Ela pode ficar esta noite desde que deixe esse bastardo longe de minhas vistas.
***
As palavras ditas ao vento têm o dom cortante de ferir uma alma afogada em incertezas, deixando cicatrizes que latejam caladas até que exploda em mais palavras amargas.
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