Amor ou Amizade? escrita por Aki Nara


Capítulo 18
Capítulo 18 - A Separação




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O orgulho é um anestésico para a dor, mas em contrapartida, ele não permite que alguém encare a verdade de frente para que essa dor se vá da alma e cicatrize as feridas mesmo que lentamente. Então, você se apega a fragilidade fazendo dela uma desculpa para não viver o presente.

***

_ Por favor...

Erika suplicou num fio de voz, que lhe falhava naquele momento crucial e vendo-lhe os olhos decididos, calou-se preferindo recolher os cacos de si para dentro do casulo que lhe amorteceria a dor.

_ É melhor pra nós! – Kazuyuki disse enfático como se quisesse convencer não apenas a ambos, mas ao mundo inteiro.

_ Pra nós? Você decidiu tudo sozinho... – o nó na garganta dela queimava fazendo sua voz sair rouca.

_ É verdade, mas estou comunicando o que decidi.

_ Muito obrigada pela parte que me toca, mas onde exatamente nós ficamos? – Erika reuniu coragem para dar voz ao que receava.

_ Você não precisa mais de um agente quando tem sua própria produtora.

_ Você sabe que não estou falando da minha ou da sua carreira, Yuki! – ela o interrompeu abruptamente num esforço para comprimir a dor que sentia no peito.

_ Tem razão! Não estamos falando sobre o mesmo assunto – Kazuyuki foi lacônico em sua resposta sucinta.

_ O que faço pra ser perdoada? – ela sentiu que parava de respirar querendo ouvir uma resposta positiva apesar de estar sem a menor esperança.

_ Quem dera fosse simples como pegar uma borracha e apagar tudo aquilo que a gente não quer... Há algo para ser perdoado? Descobri que não consigo ser magnânimo a esse ponto, Erika.

_ Eu...

Kazuyuki gesticulou para que ela parasse de tentar se explicar.

_ Poupe a nós dois mais esse sofrimento. Eu não sei se consigo ouvir de sua própria boca. Acho que de fato eu não consigo agüentar... Ainda quero lembrar como foi bom entre nós.

_ Você está me dando o fora?

_ Na verdade, acho que foi você quem me deu um passa fora primeiro – ele desviou o olhar para o teto rindo sem graça.

Para Erika foi um jato de água fria. O tempo congelou enquanto olhava para aquele rosto querido, tendo o silêncio deixado um abismo de palavras não ditas a cada minuto que se estendia.

_ Isso é cruel... – abalada demais para falar, Erika conseguiu dizer.

_ Não mais cruel que a sua traição, não acha?

As palavras machucaram como pontas de faca. Eles estavam separados por uma distância mínima quando os olhos se encontraram, se estendesse a mão para ele podia tocá-lo, mas não o fez.

_ Posso pelo menos ajudá-lo com a Banda? – ela engoliu o orgulho procurando manter algo em que pudesse se apegar.

_ Nops! Desisti da música pra cuidar da minha mãe, mas agora que essa oportunidade surgiu... Eu quero conseguir por meu próprio mérito.

Erika perdeu sua batalha íntima e se acorvadou, já não tinha forças para suplicar. “Amo e vou perdê-lo” pensou antes de falar novamente, pois não queria que a conversa morresse porque isso seria definitivo, o fim.

_ Nova Iorque... Precisa ir para tão longe? – um sorriso amargo surgiu nos lábios dela.

_ Nem é tão longe assim... Só do outro lado do mundo – Kazuyuki sorriu enviesado e suspirou antes de prosseguir. – O tempo é o melhor remédio pra gente, você verá... Um dia a gente vai rir de tudo isso.

_ Promete? – era uma ponta de esperança a que ela queria muito se agarrar.

_ Já vou! – ele se levantou fazendo menção de sair, mas antes enfiou a mão no bolso de sua jaqueta e depositou um objeto na mesa. – Comprei isso pra você. É seu pra fazer o que quiser...

Erika não soube dizer de onde surgiu sua repentina coragem, mas surpreendeu-o com um abraço.

_ Me deixa ficar assim só um minuto? Quero ouvir as batidas de seu coração – ela encostou o ouvido em sua costa e disse sem conter as lágrimas que vertia molhando a camisa dele – seu coração está dizendo “Amo você, amo você”.

_ Eu sei que está... Essa é a primeira vez que a razão leva a melhor sobre meu coração – Kazuyuki apontou para a cabeça e depois para o peito.

_ Então... Suma daqui! Você está indo para os meus concorrentes. – Erika se afastou virando as costas para não vê-lo partir.

_ Seu desejo é uma ordem, minha lady!

Kazuyuki saiu do escritório deixando um imenso vazio, não só na sala em que ele ocupava, mas também no coração de Erika e a única coisa que a sustentava naquele momento era seu amor próprio.

Os olhos correram para a mesa onde ele havia deixado a caixa de veludo. Ao abri-lo encontrou um anel de ouro branco incrustado com brilhantes. Erika baixou os olhos e finalmente deu vazão a dor.

O furgão o esperava na saída do escritório da produtora e se abriu para deixá-lo entrar, a banda seguiria diretamente para o aeroporto, Kazuyuki olhou uma última vez para o prédio.

Havia muitas lembranças ali, mas aquele não era tempo para rememorar. Ele entrou no carro decidido a recomeçar, o futuro o aguarva bem longe dali.

***

Kazuyuki partiu me deixando com a sensação de levar um grande pedaço de mim. Revivi o momento de sua partida várias vezes em meus sonhos, e lá, somente lá, tivemos um final feliz.

O fundo do poço é sombrio, mas havia como enxergar uma réstia de luz. Às vezes temos sorte de a sabedoria nos acompanhar no instante de uma queda, trazendo-nos a lembrança de como devemos cair.


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