Meu relógio de pulso marca 6:00h. Penteio meu cabelo, ajeito o uniforme, pego minha bolsa. Atravesso a porta, desço os degraus até o corredor. Dando uma última olhada para a porta-retrato em cima da mesinha com flores, abro o meu sorriso de costume. “Tchau, mamãe”. Saiu pela porta da frente, logo após dar um beijo na bochecha de papai. Nada fora do normal. Tudo dentro de minha cansativa rotina. Hoje parecia ser um dia como outro qualquer. Ao chegar na escola, me reúno com meus mesmos colegas de sempre, no mesmo lugar de sempre, a esperar o mesmo de sempre: o início das aulas. Neste meu grupo, digamos, estão inclusos Miyuki, Seiji, Takeshi, Sakura, Ryo e Ryoko.

    Ora, onde estão meus modos? Perdoem-me pela minha falta de educação. Chamo-me Asuka Mishima Sakazaki, uma estudante comum, que estuda em um colégio comum. Tenho 16 anos e curso o segundo grau. Nada de interessante, de fato. Perdi minha mãe aos 8 anos. Ela foi assassinada quando nossa casa havia sido assaltada, e só mamãe estava presente. Ela era realmente linda, e tinha apenas 27 anos. Com seus cabelos longos e castanhos, pele macia e branca, lábios levemente avermelhados e os olhos numa variação de castanho e mel. Seus olhos realmente chamavam atenção. Eram profundos e transmitiam serenidade. Ela era uma mulher excepcional. Seu nome era Sayuri Mishima Sakazaki. Recordo-me muito bem de minha mãe, ela era uma boa pessoa. Estava sempre por aí, ajudando os mais necessitados, fazendo doações a asilos e orfanatos. Papai sempre me diz que quanto mais eu cresço, mais pareço com mamãe. Acho que seja verdade, embora meus olhos não transmitam nada além de vazio. Vocês devem me achar estranha, mas eu perdôo o Atsuki, isto é, o homem que tirou a vida de minha mãe. Como meu pai reagiu a isso? Bem... ele jurou matá-lo. Ele se chama Tomoya Mishima, e ele têm sido meu melhor amigo e meu protetor nesses anos. Espero conseguir tocar o coração de papai para que ele perdoe Atsuki também, e só lembre de mamãe com felicidade.

    Retornando à minha vidinha medíocre, as aulas da manhã haviam acabado, e eu e meu “grupinho” estávamos almoçando nos fundos do colégio, debaixo de nossa costumeira cerejeira. Miyuki e Seiji naquele clima romântico, Takeshi e Sakura competindo quem comeria mais rápido, Ryo e Ryoko discutindo coisas de irmãos, e eu apenas comendo e vendo a cena. Nada fora da rotina. Até que sinto algo pesado caindo sobre minhas costas, e me derrubando no chão.

- Asuka! Você está bem? – Miyuki e os outros me levantam do chão.

- Olha por onde anda, seu idiota! – dizia Ryo, com a mão fechada em punho.

- Desculpem! – grita o estranho garoto de cabelos negros e pele da cor de marfim, que havia me derrubado, e agora estava a corre para longe.

- Ta tudo bem, gente. Mesmo. – eu limpava meu uniforme enquanto todos retomavam suas posições de costume, inclusive eu. Apenas um acontecimento fora da rotina, nada demais.

    Na semana seguinte, a professora anunciara um novo aluno em minha classe, que havia sido transferido de uma escola do sul da cidade, cujo nome sequer me importei em ouvir. A porta da classe foi aberta, e ali estava o garoto estranho da semana anterior. Trajando o uniforme escolar, com a bolsa debaixo do braço, e uma cara que parecia dizer “não quero nem saber”. Parecia um típico delinqüente. Como sempre, as garotas começaram a cochichar sobre o novo aluno. Típico. Seu lugar foi escolhido para ser duas carteiras atrás da minha. Enquanto ele caminhava para seu novo lugar, encarando todo mundo a sua volta, seus olhos encontraram a minha face. Parecia ter parado por alguns segundos, mas logo voltou ao seu trajeto até sua carteira. A aula seguiu normalmente e eu, como sempre copiando tudo, porém com meus fones de ouvido cuidadosamente escondidos entre meu cabelo. Parece que minha rotina que por muito tempo parecia uma lei que não podia ser quebrada, finalmente vai mudar.