Cheguei ao enorme pátio do Convento. Olhando em volta, vi grupos de pessoas conversando tranquilamente sentadas nos bancos, outras cuidando do jardim de rosas e mais ao longe um pequeno grupo de crianças se divertindo no parquinho de areia. Notei de repente Yuri ali entre aqueles pequenos seres, ajudando-os a construir castelos de areia enquanto dirigia a eles diversos sorrisos bondosos. Com seu cabelo longo agora preso em duas tranças que descansavam sob seus ombros, usando um vestido curto e com os pés descalços enterrados na areia, Yuri parecia outra pessoa.

Já estávamos ali há quase 3 meses. Nesse tempo, cada um de nós pouco a pouco cedia às pressões do Fim e vinha se adaptando cada vez mais àquela nova forma de vida. Eu sabia que era o único que me mantinha afastado de todos; eu não busquei conhecer as pessoas dali, quase não sabia seus nomes, mas eu não me importava... E eu sabia o porquê....

Como se essa paz fosse ser capaz de aquietar aquele abismo dentro de mim.

Desde que ela se fora (tento não pensar em seu nome, em seu rosto ou sua voz), uma parte de mim foi embora com ela. E eu era teimoso (ou cego demais?!) para enxergar a chance que ela talvez quisesse me dar.

Caminhei para longe das vozes e dos sorrisos daquelas pessoas. Me dirigindo por uma trilha estreita que levava para o alto do Convento, encontrei a minha calmaria ali. Por meio das árvores e musgos que cobriam tudo ao meu redor agora, subi em uma das árvores e fiquei a encarar o lado de fora daqueles portões. Poucos zumbis estavam ali, mas nenhum me viu escondido na vegetação. Eu ouvia o grunhido mucoso que saía do fundo de suas gargantas mortas, a baba escorrendo por seus queixos ossudos e suas peles descascando cada vez mais.

Essas eram as criaturas nojentas e monstruosas que estavam dominando o mundo. Eu quis rir, enquanto olhava cuidadoso para elas, mas nenhum som saiu de minha boca. Eu sequer me mexia; era apenas um caçador estudando suas presas.

Sacudi a cabeça de repente, encarando um pouco mais ao longe, para o grande carvalho no qual eu levara ela um dia...

Hey... você ainda se lembra daquela árvore?

Daquela grama que se estendia até o horizonte como um tapete verde infinito?

É... eu queria ter aquele lugar de volta. Porque você estava ali.

Saí do meio daquela vegetação escura apenas quase uma hora depois. Eu deixei que as lembranças tomassem conta de mim por todo aquele tempo, mas elas me sugavam demais - e eu ficava esgotado cada vez mais depressa.

–Shiro! - antes mesmo de sair da escuridão, uma voz chamou por mim.

Levantei os olhos, vendo um sujeito alto se aproximando de mim. Ele me estudava preocupado por trás de seus óculos escuros.

–Onde você esteve? - ele perguntou, tenso, mas não esperou por minha resposta - Eu estava procurando por você. Venha comigo, por favor.