INTRODUÇÃO

Sobre os Diários e Eu

Em meados de junho, fui morar com minha irmã Catherine, que se casara há alguns meses. O marido dela, Carl, homem muito simpático, me convidou para passar uns tempos com eles em sua nova casa. Eles compraram uma mansão antiga ao norte de Londres, uma residência realmente maravilhosa. Carl teria que resolver seus negócios na cidade, por isso não poderia ficar muito tempo com a esposa até se livrar de tudo. Minha função ali era fazer companhia a Catherine e ajudá-la a deixar a mansão com um ar mais moderno, ou pelo menos com a cara do novo casal. Eu precisava de um tempo longe de casa pra esclarecer a mente e desejava muito rever minha amada irmã, e passar um tempo na maravilhosa Londres não era nada mal.

Dias realmente trabalhosos, tivemos que jogar uma quantidade de velharias fora. Quando fomos trocar os papéis de parede, descobrimos duas coisas. Primeiro percebemos porque a mansão continuava intacta, incontáveis camadas de papéis de parede protegeram e firmaram a edificação. Isso, na verdade, foi uma piada de minha irmã, pois a casa era muito bem conservada e imponente, mas realmente havia muitos papéis de parede. Pensamos que nunca acabaríamos, retirávamos um e lá estava outro. A segunda coisa que descobrimos foi uma porta que dava para o sótão, oculta por anos pelos papéis.

A porta estava trancada a chave. Catherine foi pegar um pé-de-cabra. Depois de muitas piadas dela sobre filme de terror que começavam assim e terminavam com todos mortos, minha curiosidade venceu e arrombei aquela porta como se abrisse um túmulo egípcio.

Encontramos muita poeira, teias de aranha, quadros, diversos objetos e caixas. Catherine se distraiu com algumas esculturas e pinturas, tentava tirar o pó com as mãos, perguntando se eles não tinham algum valor. Eu caminhei até uma pilha de livros que desastradamente derrubei ao tirar um do lugar. Quando os livros se espalharam pelo chão, levantaram uma cortina de poeira e revelaram um baú de tamanho médio acomodado num canto. Tirei o baú do sótão e quebrei o cadeado com facilidade, já que estava muito enferrujado e gasto. Para decepção de Catherine só havia ali dentro uma lata de chá inglês, bem antiga, livros e papéis.

– Escute Catherine... – eu falei – se você me deixar ficar com este baú, poderá ficar com tudo que está no sótão.

– Mesmo se aquelas coisas valerem milhões?

– Sim. A casa é sua mesmo.

– Você quem sabe.

Ela estava brincando e achou que eu também estivesse, mas eu estava falando sério. Perguntava-me o que aqueles livros teriam de especial para terem sido trancados num baú e não somente agrupados juntamente com os outros.

Descobri que se tratava de diários. Depois de algumas leituras e de ter organizado todos em ordem cronológica, percebi que tinha encontrado uma história maravilhosa, linda. A história verdadeira de pessoas que viveram ali há muito tempo. Uma história real.

Ao ler os diários, descobri uma história de amor proibido. Fiquei tão encantada com aquelas pessoas, com aquela história que pesquisei tudo sobre elas e sobre o lugar.

Apresentarei aqui parte dos diários e de tudo que descobri sobre seus escritores. São relatos do cotidiano de pessoas comuns que, talvez, quando escreviam sobre os seus dias, pensassem que suas vidas eram chatas, tristes e monótonas. Mas esses mesmos relatos, lidos muito tempo depois, são comoventes.

Se você, assim como eu, for uma pessoa curiosa... Leia! Se não for, não leia. Mas saiba que perderá a chance de conhecer duas pessoas maravilhosas.

Sebastian Michaelis e Ciel Phantomhive.

Boa leitura...