– Aisha...

... Quem está me chamando...?

– Aisha...!

... Els... É você...?

– ...Aisha!!!

Sim... Era ele... Elsword.

Aquele ruivo esquentado... Que sempre estava a me provocar. Eu podia jurar que o odiava.

Quando nos encontramos, na floresta próxima a Ruben, perseguindo aqueles bandidos... Eu o ajudei a deter aquele monstro, e ele me indagou muitas coisas, nervoso. Parecia não querer admitir que eu houvesse o ajudado. Mesmo assim, eu me apresentei, educadamente. Mas ele continuou a não me aceitar... E então, nossas brigas começaram. Elas pareciam não ter fim.

Ele dizia coisas que me magoavam, e eu, num surto nervoso, acabava dizendo coisas que me faziam sentir-me arrependida depois. Porém, ele nunca me pedia desculpas. E eu não iria ferir meu orgulho pedindo desculpas a ele também.

Afinal, naqueles momentos, era mais uma briga de orgulho. Mas eu sentia meu orgulho ferido cada vez que brigávamos.

Rena nos separava das brigas... Dizia que se não parássemos de brigar, ela nos faria de espantalhos para treinar sua mira com as flechas. Engolíamos a seco, e ficávamos quietos. Sempre encarando um ao outro bravo, cheio de birra como duas crianças mimadas.

... Mas ele cresceu... Talvez repentinamente. Ele se empenhou mais que nunca a ser um bom líder, e então se tornou um Cavaleiro Soberano. Técnicas poderosas... Fora a grande responsabilidade que exerceu sobre todos. E sua mania de sempre implicar comigo, parecia ter ido embora junto com seu jeito infantil... Devo admitir que sentia falta daquilo. Apesar de não ter mudado sua personalidade explosiva.

Com toda a sua responsabilidade sobre os integrantes do grupo, e principalmente sobre Eve e sua sede por conhecimento em tecnologias avançadas, faziam Elsword prestar atenção mais nela, e logo, o mesmo foi se esquecendo de implicar comigo. Eu me senti deixada de lado, trocada. Algo em mim se apertava e agonizava quando o via próximo a ela – mesmo que “ela” não fosse uma garota assumida, e sim um Nasod fabricado para ser uma garota, mas fora defeituoso, então era considerado neutro, criada como uma garota entre nós -.

Mesmo eu também me tornando uma Maga Elemental, logo em seguida dele, eu me sentia sempre atrás... Sentia-me a mais fraca, mesmo dizendo que eu era forte.

Eu não era forte. Elsword era forte. Rena, Eve, Raven e Chung eram fortes. Eu era apenas... O suporte atrapalhado do time.

– Aisha...!

Eu o ouvi me chamar novamente, parecendo que a voz estava mais próxima de mim. Assim que dei por mim, eu estava num campo de batalha, frente a frente com um Orc.

Segurei firme em meu cajado, sentindo-me amedrontada pelo tamanho dele. Tamanha fora a surpresa, que não me permitiu fugir, ou ataca-lo. Não pensei que poderia olhar para os lados e procurar algo para me defender... Apenas permanecia com meu olhar centrado ao adversário. Minhas pernas tremeram quando o vi levantar seu porrete cheio de espinhos, e com certeza me acertaria. Eu precisava dele. Eu precisava de Elsword... Mesmo não querendo admitir! Eu era dependente dele, sempre querendo sua atenção. O que eu faria para recebê-la e ser reconhecida pelo mesmo? Aquela era minha meta...

– Elsword!!! – Instintivamente o chamei... Desejando que ele estivesse ali, pronto para me salvar. Apertei mais meu cajado junto ao corpo, após ter gritado com todas as minhas forças.

– Aishaa!!!

Após o chamado, eu notei um vulto passar em meu lado... Ligeiro. Empunhava uma espada rubra, na qual usou para lutar com o Orc. Em poucos minutos, o inimigo já estava no chão.

E então... Eu o vi.

O vi parado diante de meus olhos, olhando para mim com um sorriso no rosto. Pude jurar que o mesmo havia dito algo como “Você está bem?”, mas não me importei. Estava assustada, e ao mesmo tempo feliz por ele estar ali... Aliás, ele sempre estava presente quando eu mais precisava, por mais que ele tivesse parado com as provocações. Corri para abraçá-lo... Abraçar o mais forte que pude. Entrelacei meus braços ao redor do tórax do mesmo, e sim escondi meu rosto em seu peitoral, chorando baixinho. Pude sentir uma de suas mãos afagar meu cabelo, e a outra repousar sobre minhas costas.

– Tudo bem, eu estou aqui... – Disse o ruivo, calmamente.

– E-Elsword... E-Eu... Desculpe-me, e-eu sou... Sou o atraso no time... Eu quero ser forte! – Deixei de ser covarde por um instante, e assim o disse o que estava entalado em minha garganta. Juntamente, deixei de esconder meu rosto, e por mais que eu tivesse um pouco de vergonha, encarei profundamente seus olhos carmesins.

Elsword retribuiu o olhar, desta vez sorrindo ternamente.

– Aisha... – O ruivo deu uma pausa, tirando sua mão de meu ombro, levando a meu rosto. Tocou com seus dedos minha bochecha, e com o polegar, tocou brevemente em meus lábios, logo o abaixando para meu queixo delicadamente. – Você é forte. Todos são fortes... Se chegamos até aqui, não foi por causa de um ou dois do time... Foi por causa de todos... Incluindo você. – Ele riu desajeitado. – Você também foi bastante tempo forte, aguentando minhas infantilidades e idiotices.

Bobo! Idiota! Ele queria me ver chorar ainda mais?!

Tais palavras fizeram meus olhos arderem, de forma que não consegui segurar o choro, ou os soluços. Fechei fortemente meus olhos, a fim de conter aquela vontade de chorar... Não queria fazer isso na frente dele.

Repentinamente, ele depositou um leve beijo em minha testa, e em seguida, um mais demorado na ponta de meu nariz. Em resposta, corei, abrindo os olhos rapidamente em seguida, e juntei minhas sobrancelhas preparada para bater no mesmo. Tinha essa mania... Bater nos outros quando me deixavam muito constrangida.

– Não chore... – Murmurou ele, separando seus lábios de meu nariz, voltando a me encarar.

O ruivo olhou ligeiramente aos meus lábios, parecendo cogitar a ideia... De fazer outra coisa. Porém, apenas balançou a cabeça brevemente, e sorriu sem jeito de volta.

Afinal... O que eu sentia por ele? O que ele sentia por mim? Em suma, eu ainda era uma criança perto dele. Ele parecia estar tão maduro... E eu continuava a mesma criança mimada e orgulhosa de sempre. Enxuguei minhas lágrimas, e então retribui o sorriso dele... Que para mim, era o mais perfeito e sincero sorriso que eu havia o visto dar.

Pouco tempo depois, ele me disse que era melhor irmos ao acampamento descansar, pois teríamos uma longa jornada à Hamel. Não neguei acompanhá-lo, mas não esperava que ele entrelaçasse seus dedos aos meus, juntando nossas mãos no meio do caminho, com outro lindo sorriso nos lábios.

E naquele dia, eu vi o quanto necessitava crescer... E o quanto fui estúpida em negar que eu o amava.