Traga-me para a vida escrita por Yumi Saito


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Heey!

Minha primeira one, espero que ela tenha ficado boa e que vocês gostem e aproveitem a leitura dela. Eu confesso que gostei dela. ^^

Boa leitura!



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Traga-me para a vida.

Como se sentiria se soubesse que a qualquer hora, você não poderá mais estar aqui? Como se sentiria se soubesse que tem uma doença? Como se sentiria se tivesse medo até de dormir? Se quisesse ficar acordada, para durar minutos a mais?

É assim que eu, Alice, me sinto.

Há um ano descobri que tenho leucemia. Eu, atualmente, estou fazendo tratamento enquanto não recebo uma medula óssea compatível com a minha.

Isso é tão difícil... Tão demorado.

Eu moro com a minha mãe, meus pais são separados. Bem, eu não sei o que se passa com meu pai, uma das únicas coisas que sei sobre ele é que ele deixou minha mãe quando estava grávida de mim. Já a minha mãe... ela trabalha duro para manter meu tratamento em pé. Ela tem dois trabalhos. De dia; trabalha como secretária de uma dentista. Já de noite; trabalha como garçonete em uma lanchonete vinte e quatro horas.

Minha mãe faz de tudo para me ver sorrir, e me fazer querer viver mais um dia. Eu poderia simplesmente ir até a morte agora, antes que ela chegasse até mim. Mas a minha salvadora sempre me diz:

"Viva teus últimos minutos, minha Alice, não se deixe abalar por uma doença, quando terá que ir, irá. Mas por enquanto, permaneça aqui comigo, sendo a razão do meu viver. Mas se você tiver que ir... eu vou entender."

É incrível como toda vez que essa frase soa pela minha cabeça, eu derramo uma lágrima.

Eu demorei muito para perceber que estou perto de duas pessoas tão maravilhosas, a primeira é minha mãe... E a segunda, Lysandre. Foi ele que me deu apoio esse tempo todo em meus dias tristes, foi ele que tentou me fazer dar risadas com suas piadas ao tom inglês britânico. Só um detalhe: ele é francês. Então, fica literalmente muito engraçado.

Lysandre veio para o Brasil quando tinha cinco anos de idade. Aprender outra língua foi como o fim do mundo, segundo ele.

Estou com Lysandre há seis meses. Minha mãe me falava tanto de planos para a vida toda com ele. Mas será que eu durarei tanto tempo assim como ela fala?

Fui acordada de meus devaneios pelo barulho da chave colidindo-se com a mesa. Olhei as horas: onze e meia da noite. É impressão minha ou a liberaram mais cedo hoje? Ela costuma sempre chegar ali por meia noite.

Fiquei encarando a porta, logo ela abriu, e a face de mamãe apareceu nela.

— Ainda acordada? — ela perguntou, preocupada. — Eu trouxe um novo lenço pra você.

Ela sorriu.

— Outro lenço, mãe? Você sabe que não precisa. Pra mim esses aqui estão ótimos.

— Ah, é que senão fica muito repetitivo — riu. — Vem, levanta, me deixa colocar em você.

Levantei-me da cama, e fiquei em frente ao espelho. Mamãe foi colocando o lenço delicadamente em volta da minha cabeça. O lenço era lilás, tinha algumas estampas abstratas. Era lindo. E era ainda mais lindo vê-la me encarar no espelho enquanto colocava o lenço em mim. Tão prestativa...!

— Você está linda, minha filha — ela abraçou meus ombros. — Minha princesa...

Percebi que mamãe poderia chorar a qualquer hora. Me virei para ela, dei um beijo em sua bochecha, e a empurrei de leve até a porta. Acenei um boa noite e voltei para o meu quarto.

Deitei em minha cama e fiz o de costume, ficar pensando até pegar no sono. Nem sempre eu durmo o esperado. Sempre durmo quatro ou cinco horas por dia. Eu tenho medo de dormir. Eu tenho medo de nunca mais acordar.

• •

— Filha... – a voz suave de minha mãe ecoou ao meu ouvido. — Acorda, meu bem. Lysandre acabou de chegar.

Levantei-me ficando sentada na cama. Cocei meus olhos, espreguicei-me e fui até o banheiro fazer minha higiene. Logo após isso, voltei para o quarto e coloquei o uniforme do colégio. Dei uma breve olhada na escova de cabelos que estava quase mofando na escrivaninha.

— Logo, logo eu te usarei.

Peguei minha mochila e fui até a cozinha. Nada me surpreendeu, era tudo o mesmo... Lysandre sempre chegava mais cedo, tomava café com a mamãe para me esperar.

— Bom dia, Lys — depositei um beijo em sua bochecha.

— Lenço novo, querida?! — ele tomou um gole de café. — É muito bonito.

— Obrigada... Mas realmente não é necessário outro lenço, você poderia estar guardando dinheiro para o meu tratamento, não é Srta. Rosemary? — ri.

Mas na verdade, eu só queria um doador...

Terminei de tomar meu café e logo peguei minha mochila. Assim, eu e Lysandre saímos de casa a caminho da escola.

— Lysandre...

— Sim?! — ele olhou para mim.

— Quando eu não estiver mais aqui... Você vai amar outra pessoa? Vai me esquecer rápido?

— Eu não tenho uma resposta concreta — ele disse se virando para mim. — Mas sei que nunca te esquecerei. Alice, você é especial demais pra mim. Te esquecer seria impossível.

Lysandre pegou levemente minha cintura. Encostou sua testa na minha. Sorriu e então encostou seus lábios no meu, delicadamente. Ele sorriu, sussurrando ao meu ouvido que era feio beijar na frente das crianças.

Separamos-nos rindo e seguimos nossos caminhos até o colégio.

Eu sou como os outros naquele colégio, eu gosto de ir pra lá, ninguém me olha de jeito “torto”, é como se eu fosse normal. E isso me deixa feliz.

• •

Despedi-me de Lysandre e fui caminhando até a minha casa. Tudo ocorreu bem hoje, Rosalya veio toda alegre pro meu lado dizendo: "Ai que lindo seu lenço”,ainda bem que trocou”. Rosalya é uma amiga e tanto. Mesmo sendo do jeito mais... extrovertido, alegre e eufórico, ela é muito gentil.

Peguei meu celular e vi que mamãe tinha me ligado duas vezes. Semana que vem é o aniversário de trinta anos dela... E eu não faço ideia do que dar para ela. Incrível como ela sempre diz: “Eu tendo você, já é um presente”. Eu gostaria de dar algo para ela. Algo material.

Cheguei em casa e deu tempo de ver mamãe almoçando:

— Oi, cheguei.

— Oi filha — ela disse se levantando para levar o prato até a pia de louças. — Eu estou voltando para o trabalho... Eu te vejo as sete pra te dar um oi.

— Ok, mãe. Mas se não puder, não se preocupe, tudo bem? — a mulher assentiu, me deu um beijo na bochecha e saiu. — Vejamos o que tem na televisão...

Deixei em um canal qualquer e escutei a seguinte notícia:

“Atriz Ana Lima recebe transplante de medula óssea e já se recupera em hospital no Rio de Janeiro”

Poxa... Como ela tem sorte, fiquei sabendo que ela tinha a mesma doença que a minha. E vejo que ela teve mais sorte que eu. Fico feliz por ela, agora é só esperar que isso aconteça comigo.

Passei algumas horas desenhando, desenhei vários tipos de cortes de cabelos. Desenhei todos que gostaria de experimentar depois que meu cabelo começasse a crescer. Sempre fui boa em desenhos, e aquilo me enchia de esperança.

Não demorou muito para que eu começasse a sentir algumas pontadas pelo corpo. Eu estava ficando um pouco tonta.

Às vezes isso acontece comigo. Pode ser normal. O dia está meio quente.

Caminhei até o telefone, teria de ser rápida, já sabia que a qualquer hora eu iria desmaiar. Disquei o número da mamãe.

— Alô? — disse mamãe.

— Mãe... Eu estou sentindo tonturas... Vem pra casa.

A mulher mal disse tchau. Já desligou o telefone.

Dirigi-me até a cozinha, caminhava apoiando-me nos móveis da casa. Tomei um copo d’água e fui me deitar em meu quarto.

Em questão de segundos, após ter deitado na cama, perdi a noção de tudo e adormeci.

• •

Rosemary caminhava apressadamente em rumo a sua casa. A mulher pensara muito em ligar para Lysandre a ajudar, mas estava muito tarde, mesmo o menino sendo namorado de Alice, ela não queria a ajuda dele. Ele sempre a ajudava e então decidiu levar sua filha ao hospital sozinha.

Rosemary sabia que iria ser demitida de seu trabalho noturno, é a quinta vez que sai fora de hora. No meio do caminho, ela chamou a ambulância.

A mulher chegou em casa e foi em uma disparada para o quarto da filha. Encontrou-a desacordada. Seu coração apertou como se alguém tivesse o espremido sem dó e nem piedade. A mesma se ajoelhou em frente a filha e tocou em seu coração.

Ela não queria acreditar...

Escutou a sirene da ambulância e saiu do quarto correndo. Foi até os homens que traziam para dentro de casa uma maca.

Tudo ao seu redor girava, sua visão dificultara por causa das lágrimas sendo derramadas com urgência dos seus olhos. Parecia que tudo acontecia em câmera lenta. Não poderia seguir os instintos de uma mão que não escutava os batimentos do coração da filha, mas... Mas ela queria acreditar que estava errada. Que quando chegasse ao hospital, o médico iria vir em sua direção e avisá-la que o que aconteceu com Alice fora apenas um susto.

Infelizmente não era aquilo.

Antes de os três homens a colocarem em uma maca, verificaram se a jovem ainda respirava.

Os três decepcionados, balançaram a cabeça em negativo juntos. Mesmo assim, a levaram para o hospital. De lá, já iriam preparar tudo para o enterro de Alice.

Foi tudo tão rápido, tudo num piscar de olhos. Ela estava inconsolável vendo sua filha sendo levada. A mulher não poderia dar seu ultimo abraço, tocar seu bem mais precioso pela última vez.

Rosemary pegou o telefone, discou o número de Lysandre, e esperou ele atender. Enquanto o telefone tocava, ela tentava limpar sua voz para não gaguejar.

— Rosemary?!

Ele atendeu. Rosemary ficou um tempo em silêncio e logo falou:

— Ela se foi, Lysandre... Se foi.

E o seu presente de aniversário chegou adiantado. A morte da filha.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado da one!

>> Não estranhem a capa. Pensei que pudesse ser uma foto de Alice antes de ela ficar com a doença!

Um beijo. XD