Não chore, não chore, não chore. Isso era a única coisa que eu conseguia pensar enquanto eu segurava uma lâmina de apontador sobre meus pulsos isso já passara por várias fases: (1.) clips, (2.) facas e (3.) lâminas . Meus braços e antebraços tinham cicatrizes em cada centímetro quadrado, algumas já fechadas, outras, recém abertas. A lâmina desceu pelo meu pulso e abriu minha pele novamente. Segurei um grito ardente em minha garganta. Meus olhos lacrimejaram.

Sabe aquela vontade de viver?

Eu não tinha.

Sabe aquela sensação de estar presa?

Havia dois anos que as correntes de sangue me mantinham prisioneira.

Comecei a cortar os pulsos quando tinha 12 anos. Ninguém gostava de mim. Meus pais brigavam comigo. Meu irmão mais novo fazia bullying comigo. Eu não tinha razões para viver. Tinha tentado suicídio uma vez, com as pílulas de dormir de meu avô, mas acordei no outro dia com uma dor de cabeça estridente. Auto mutilação fora minha saída por esses anos.

Eu tinha apenas dois amigos Annabelle, que estudava junto comigo, e James, meu amigo virtual (que eu tinha uma quedinha) . Jamie tentava me ajudar a parar com isso, mas nunca dava certo. Ele sempre deixava meu ânimo para cima. Já Bells não se importava muito, mas eu sempre contava tudo para ela. Os dois eram os únicos que sabiam dos cortes. Os outros idiotas da escola nunca se perguntavam por que eu sempre usava mangas longas, moletons e casacos.

Eu estava abaixando a lâmina para rasgar minha pele novamente quando a música Hey There Delilah,do Plain White T's começou a tocar no meu celular. Eu imediatamente reconheci que James estava me ligando.

Essa música tinha uma história para nós. Uma vez ele fizera um cover dessa música e postou no youtube, para mim, com o título Hey there Delilah, this is for you. Depois desse dia, essa se tornou a nossa música.

Passei um algodão no corte, retirando um pouco do sangue e fechei os olhos, me segurando para não soltar uma lágrima. Me levantei e corri para o celular que já tinha parado de tocar. Liguei de volta.

Alô? ele atendeu do outro lado da linha.

Oi, Jay minha voz tremia Me ligou? Aconteceu alguma coisa?

Oi Lilah sorri ao ouvi-lo falando meu apelido Na verdade aconteceu sim... Mas antes, quero saber por que não me atendeu da primeira vez!

Você já deve saber porque... o medo em minha voz era totalmente explícito.

Delilah, eu juro, estou quase pegando um metrô até a sua casa pra jogar essa lâmina maldita fora! a preocupação dele me deixou corada.

Eu vou tentar parar ok? Isso é difícil, você sabe... uma lágrima escorreu pelo meu rosto, eu sabia que o que falara era mentira, eu sempre dizia que tentaria parar, mas nunca sequer pensava em parar Mas voltando a você, o que aconteceu?

Me prometa que vai tentar Delilah! Você sempre diz que vai, mas nunca tenta! ele suspirou do outro lado da linha Mas enfim... Eu me mudei! PARA NOVA YORK!

Não pude deixar de esboçar um sorriso quando ele falou isso. Meu único amigo além de Belle, que havia viajado com seus pais para Londres , veio morar na mesma cidade que a minha. Finalmente eu teria alguém para conversar, para desabafar, alguém me entenderia mais que a lâmina.

James William Payne você está de brincadeira comigo não está? Jamie, não brinque com isso.

Você realmente acha que eu estou brincando Lilah? Isso é extremamente sério!

Minhas bochechas doíam de tanto sorrir agora. Dei uma olhada em meus pulsos. O sangramento havia parado uma pouco. Respirei fundo e continuei falando.

Quando você vai poder sair? Nós podíamos nos encontrar em algum lugar não é?

Claro! Mas antes nós temos que desencaixar as coisas e colocar tudo no lugar... Pode ser daqui a mais ou menos uma semana?

Pode sim! Como você conseguiu vir para cá?

Meu pai recebeu uma promoção. Nós estávamos planejando nos mudar de qualquer jeito. Aí recebemos essa notícia e viemos direto para cá! Tenho que ir, sábado a gente se vê?

Ata... Combinado! Nos vemos no Central Park?

Pode ser! Até lá! Beijos

Até! Beijos ouvi o bip bip bip do outro lado da linha e deixei meu celular na cama.

Fui ao meu banheiro e passei uma água onde se encontrava o corte. Pressionei uns lenços de papel contra o pulso até o sangue parar de sair. Minha mãe gritou da cozinha:

O jantar está pronto!

Coloquei meu moletom, escondi minha lâmina, respirei fundo e fui jantar.