Estávamos andando tranquilamente à beira mar, eu e Annabeth, conversando sobre coisas sem importância e rindo aleatoriamente, apenas por rir e sentir diversão nisto – aliás, o sorriso dela me encantava tanto, que às vezes eu me pegava sorrindo junto e ela dizia que meus olhos estavam incrivelmente brilhantes.

Connor Stoll estava correndo ao longe, tentando nos alcançar. Quando ele parou, não conseguia dizer nada, pois respirava com dificuldade.

–Casa... Grande, filme – ele dizia ofegante. Olhei para ele com um ar confuso. Ele respirou fundo e depois de alguns instantes conseguiu falar. – Travis e eu trouxemos um filme que acho que vocês gostariam de assistir, vocês precisam ir para a casa grande para podermos começar.

Olhei para Annabeth e vi que ela estava com a mesma expressão perplexa que a minha. Ela deu de ombros e nós seguimos para a Casa Grande com Connor nos acompanhando.

Subimos as escadas da varanda e fomos direto para a sala de televisão, onde muitos campistas já estavam reunidos, formavam um meio circulo sentados no grande tapete marrom felpudo. Só Clarisse estava sentada em uma poltrona no canto da sala, e é claro, Dionísio – o que diabos ele estava fazendo ali mesmo? – que estava sentado em outra poltrona, no outro canto da sala.

–Tivemos que concordar que ele poderia assistir, se quiséssemos conseguir sua permissão – murmurou Connor, como se lesse minha mente.

Eu e Annabeth sentamo-nos em um espaço perto da parede, tinha uma leve impressão de que fora reservado para nós.

Connor foi até o aparelho de DVD e inseriu um CD nele, que começou a rodar imediatamente e fez a tela da televisão brilhar, mostrando trailers de filmes e logo depois o menu. Dionísio, que estava com o controle remoto, olhava para este atrapalhado, sem saber o que fazer e apertando botões que faziam a tela mudar, mas não o filme começar.

Os campistas deram risadinhas abafadas e Dionísio lançou a eles um olhar fuzilante que fez todos se calarem e engolirem em seco.

–Senhor... Posso... Hã, tentar? – disse Travis, cauteloso.

–Ora, essas bugigangas mortais não servem para nada mesmo – disse Dionísio, orgulhoso. – Tome garoto.

Travis pegou o controle e rapidamente fez o filme começar, o que fez todos ficarem vidrados na televisão.

–Espera – disse e Travis pausou o DVD. – Afinal, que filme é esse?

–É o filme que conta a missão de vocês quando foram em busca do raio mestre de Zeus. E bem, em parte o acampamento meio-sangue, ah você vai ver! Podemos voltar para o filme agora?

Assenti atónito, como é que esses mortais poderiam saber da nossa história? Ah, mas deixa pra lá, melhor ver o que eles fizeram com nossa missão.

Os créditos ainda estavam sendo exibidos quando um garoto de mais ou menos dezesseis anos apareceu debaixo d’água, notavelmente uma piscina. Ele estava segurando a respiração e parecia bem confortável sentado lá em baixo, e demorou um bom tempo – os créditos até acabaram – até que ele voltasse à superfície e se sentasse enquanto um garoto de pele escura lhe estendia uma toalha – calma gente, sem preconceito, só quis descrever o garoto – e parecia ter a mesma idade.

–Espera, espera, espera! Para tudo – Grover começou a protestar. – Quer dizer que esse dai sou eu? Sério mesmo? Eu não tinha essa cara de velho não...

–E se você é esse Grover, então o Percy é esse... Hã, cara lindo ai? – ouvi Silena Beauregard, do chalé de Afrodite, suspirar quando falou do tal “cara lindo”.

–Cara, eu acho que eles realmente nunca viram o Percy na vida real – ouvi Connor dizer e todo mundo rir.

–Ei! – protestei. Em minha opinião, o ator até que se parecia bastante comigo...

–Sem contar que ele não era, aliás, nós não éramos tão velhos assim...

–Tá bem Grover, você não está parecendo um velho! – manifestou-se Annabeth. – Agora vamos voltar ao filme.

As cenas a seguir foram: eu na escola, o Sr. Brunner-Quíron ensinando mitologia, a professora-fúria Dodds me atacando, eu a transformando em pó com Contracorrente e murmúrios de algumas filhas de Afrodite presentes de como o ator que me interpretava era “lindo de morrer”.

O filme foi se passando um tanto quanto rápido, e a minha mãe cara, parecia mais uma senhora acabada de sei lá, quarenta e cinco anos ou mais?! Só sei que não gostei nada daquilo, minha mãe não era nada parecida com aquela atriz ou o que fizeram com ela, ela era uma guerreira, não uma mulher acabada.

A minha luta contra o minotauro no topo da colina meio-sangue e a suposta “morte” de minha mãe se passaram, e eu acordei em uma cama confuso.

–Você baba enquanto dorme – sussurrou Annabeth em meu ouvido e eu sorri com a lembrança. Mas aquilo não aconteceu, Annabeth não apareceu e muito menos falou aquela frase.

–Ah, estão de brincadeira com a minha cara né?! – murmurou Annabeth e todo mundo fez barulho para que ela se calasse, enquanto eu e Grover andávamos pelo Acampamento meio-sangue.

Quíron apareceu em sua forma de centauro e com o pelo marrom ao em vez de branco, o que me fez pensar: eles podiam com certeza prestar mais atenção nos detalhes da próxima vez.

E eu reforcei mais ainda a minha frase acima depois que vi a atriz que fazia Annabeth – tudo bem, ela era bonita e tinha, Hã, como os Stoll estavam ressaltando com o olhar furioso de Annabeth alternando entre eles e a televisão, um corpo lindo.

A garota, de vista, não tinha nada – e quando eu digo nada, eu quero dizer nada mesmo, sem exageros – a ver com a verdadeira Annabeth. Ela era morena e tinha os olhos azuis brilhantes, tem coisa errada ai em produção.

–Espera um pouco! – falaram Annabeth e as filhas de Afrodite juntas depois que Grover deu em cima das meninas de Afrodite no filme, e elas foram bem atiradas.

–Eu não tenho essa aparência, e Connor, eu acho melhor você parar de babar antes que alguma coisa te atinja e você não vai ver nem de onde veio – continuou Annabeth, raivosa. Ela até se levantou, o que significava que ela não estava gostando nadinha daquilo.

Travis parou o filme novamente.

–Caramba Annabeth, o Percy ou o Grover também não estão iguaizinhos no filme, mas nem por isso estressaram desse jeito.

Ela lançou a Travis um olhar que dizia “cala a sua boca, ou você morre”, e eu acho melhor não brincar com esse olhar de Annabeth, ou você pode, Hã, realmente não se dar bem.

–E nós não somos atiradas assim! – completou Silena Beauregard, também se levantando. Ela e as meninas de Afrodite saíram da sala, indignadas com a situação.

–Esse filme já está me dando tédio – se manifestou Clarisse. – Afinal, quando é que eu apareço nisso?

–Na verdade Clarisse, eu e Connor já assistimos ao filme e... Bem, você não aparece – disse Travis com tanto cuidado ao falar que parecia que uma simples palavra errada poderia ativar uma bomba, e na verdade, com Clarisse podia mesmo.

–O que? Então vocês me fizeram assistir a esse filme idiota por razão nenhuma? – disse e então se levantou de sua poltrona. – Que coisa estúpida.

Ela saiu logo depois das filhas de Afrodite e a sala ficou um pouco mais vazia.

–Já estou até vendo – disse o senhor D depois de um longo bocejo. – Que eu também não estou presente nesse filme. Esses mortais tolos, nem um filme direito sabem fazer. Já vou indo crianças, divirtam-se.

E dizendo isso ele se foi, e a sala ficou com um ar mais vazio ainda, principalmente depois que a força caiu e nós todos ficamos no escuro.