– Acorda, Percy – ouvi Annabeth me chamando, mas como sempre ignorei – vamos levanta. Você sempre reclama do jeito que eu te acordo, mas quando eu tento fazer isso direito você nem abre os olhos!

Ela então finalmente desistiu e jogou o peso do seu corpo no meu. Apesar de eu sempre reclamar dizendo que ela era pesada, o que era uma mentira, a sensação de pressão era reconfortante. Continuei de olhos fechados sentindo o seu peso, por algum motivo eu não queria levantar hoje tinha a impressão que alguma coisa ruim iria acontecer.

- Percy, esta tudo bem? – ela disse um pouco preocupada, normalmente eu já teria começado a reclamar.

- Eu não quero ir hoje – disse, como uma criança, me virando para poder encarar seus olhos tempestade.

- Por quê?

- Não sei – tive que admitir.

- Para de bobeira e levanta logo, seu preguiçoso – ela disse bagunçando meus cabelos e logo depois me deu uma mordida no ombro, se levantando para ir para a cozinha. Levantei esfregando o local da mordida, Annabeth dava tantas mordidas naquele mesmo lugar que eu achava que um dia ia ficar uma marca permanente.

Tomei um banho rápido e coloquei o uniforme. Sinceramente eu sempre o achei ridículo. O porquê de eu ter que usar roupa social para estudar era um mistério para mim. Cheguei à cozinha e vi que Annabeth e minha mãe conversavam animadas.

- Finalmente chegou, Percy – disse minha mãe mais animada que o comum – Seu pai acabou de ligar. Ele e Tyson estão vindo para o seu aniversario.

Meu pai, Poseidon, e minha mãe eram separados desde que eu tinha três anos, mas apesar de tudo, ainda se davam bem. Ele morava em Moontalk com meu meio irmão Tyson e tinha uma escola de surf. Eu não o via muito, no geral uma ou duas vezes por ano, sempre no meu aniversario e as vezes no natal. A vez que eu mais passei tempo com ele foi quatro anos atrás quando eu e Annabeth fomos passar as férias de verão em sua casa. Nesse verão eu e Tyson acabamos por nos tornar muito amigos e sempre que podíamos nos falávamos.

Eu achava meu pai legal e tudo mais, porem a verdade é que eu não conseguia olhar para ele sem me resentir, ele sempre cometia o mesmo erro. Antes de se casar com minha mãe ele era casado com uma mulher, chamada Anfitrine, e tinha um filho, Tritão, mas parecia que isso não era suficiente. Ele estava sempre traindo a mulher, e foi quando conheceu minha mãe, que na época não sabia que ele era casado. Depois de um tempo ela engravidou de mim. Então meu pai se separou da mulher e se casou com minha mãe. Anfitrine nunca perdoou Sally nem a mim, ela e filho simplesmente nos odiavam. Sempre que tínhamos que nos encontrar, por algum motivo de força maior, eu podia sentir o desprezo no ar. Então, quando eu tinha três anos de novo meu pai engravidou uma mulher fora do casamento, minha mãe decidiu se separar dele, e veio morar comigo nesse apartamento, deixando meu pai na casa de Moontalk. A mulher que ele tinha engravidado então foi morar com ele, mas pouco tempo depois de ter Tyson, simplesmente não aguentou as traições de Poseidon e sumiu no mundo, e nunca mais apareceu, nem mesmo para ver o filho.

– Que bom – disse então porque minha mãe parecia esperar que eu falasse algo. Eu não conseguia parar de pensar que alguma coisa ruim iria acontecer hoje.

– Que isso, filho?

– Não se preocupe, Sally, ele acordou de mau humor hoje – disse Annabeth, bagunçando meus cabelos novamente.

Logo acabamos o café e saímos para a escola. No caminho para a escola Annabeth veio tentando me animar o que me fez sorrir um pouco, mas a sensação de que eu não devia ter me levantado da cama hoje continuava a me incomodar.

Chegamos à escola e vimos Bianca, Thalia e Grover perto dos armários, os três pareciam muito animados enquanto conversavam, mas quando chegamos perto eles se calaram repentinamente o que achei estranho, mais estranho ainda foi o olhar que Thalia e Annabeth trocaram. Eu conhecia aquele olhar Annabeth estava tramando alguma coisa.

- Sobre o que estavam falando? – perguntei desconfiado.

- Nada –disse Bianca rápido de mais.

- Não é nada pro meu aniversario, é? – perguntei desconfiado. Eu já tinha deixado bem claro que eu não queria festa.

- Não é nada disso – falou Grover – estava contando pra eles... que eu estou namorando.

Dava para perceber pelo jeito como estava vermelho que a parte da namorada era verdade, mas pelo jeito como enrolou e depois falou rápido demais se percebia que tinha feito aquilo para desviar minha atenção. E estava funcionando. Como assim Grover tem uma namorada?! Se bem que eu já tinha reparado que ele parou de dar em cima das meninas na ultima semana. Percebi pelas expressões de espanto que aquilo também era novidade para os outros.

- Como assim?! Quem foi a maluca que aceitou sair com você? – disse Thalia um tanto indignada.

- Ela não é maluca, – disse Grover ressentido – o nome dela é Juniper.

Eu já ia perguntar de onde ele a conhecia, quando eu vejo uma pessoa extremamente indesejada se aproximar, Luke. Ele vinha com um andar rápido e seu olhar estava fixado em Annabeth, o típico sorriso malicioso nos lábios, que tanto me irritava. Quando chegou nos ignorou completamente e prensou Annabeth contra os armários, sussurrou algo em seu ouvido e então lhe deu um beijo quase pornográfico. Ver eles dois juntos sempre me deixava com raiva, eu tinha certeza absoluta que ele não era a pessoa certa para Annabeth. Os dois se separarão ofegantes.

- Também estava com saudades – disse Annabeth ainda sem fôlego.

- Han, han – cocei a garganta interrompendo os dois – O sinal já bateu, nós temos que ir.

- Um estraga prazeres como sempre, Percy – disse Luke debochado.

- Melhor eu ir, lindo – disse Annabeth dando um selinho em Luke e se virando para ir embora, mas ele a puxou pelo braço e a segurando pela cintura lhe beijou com luxuria.

- Te vejo no intervalo – disse e foi embora, não sem antes me lançar um olhar desafiador que me deixou com ainda mais raiva.

Fomos em direção a sala, eu pisava duro, não estava conseguindo controlar a raiva por algum motivo desconhecido. Eu nunca gostei de Luke e nunca escondi isso, mas hoje eu sentia que faltava pouco pra eu lhe dar um soco. Annabeth pareceu perceber e se aproximou mais de mim.

- Percy? – eu lhe encarei – te amo.

- Também te amo, sabidinha – falei e envolvi seus ombros com o braço – E é por isso mesmo que eu não gosto de te ver com ele, ele não está a sua altura.

- Deixa que eu decido isso, esta bem?

- Tudo bem – disse a contra gosto e lhe beijo a testa – Eu só me preocupo com você.

Chegamos um pouco atrasados a aula e o treinador Hedge deu um sermão que só ele sabia dar. Se fosse outro dia eu provavelmente estaria me segurando pra não rir, mas hoje eu só escutava impassível.

As aulas antes do intervalo passaram rápido, e quando vi já estava sentado no refeitório com Rachel tagarelando animada sobre alguma coisa que eu não prestava atenção, porque Annabeth e Luke não tinham aparecido, e isso estava me deixando preocupado.

- Percy! Você esta me ouvindo? – perguntou Rachel um pouco irritada.

- Que? Ahm... claro que estou te ouvindo, Rach.

- E então, o que vai fazer?

- Sobre o que?

- No seu aniversario – percebi que ela começava a ficar impaciente.

- Nada de mais, na verdade. Minha mãe vai fazer um bolo lá em casa. Meu pai, meu irmão e Annabeth vêm. Provavelmente a família dela também vai. Se quiser pode ir também – assim que terminei de falar percebi pela cara de Rachel que tinha dito alguma coisa errada. ‘Droga!’ pensei assim que me toquei. Bom eu nunca tinha tido uma namorada antes dela só alguns poucos casos que nunca duravam, então nem passou pela minha cabeça que ela devia querer fazer alguma coisa especial comigo, não até agora. Engoli em seco tentando pensar em alguma coisa pra dizer. Rachel me olhava parecendo que ia chorar e aquilo me fazia sentir mal comigo mesmo. Eu era um péssimo namorado, não tinha nem conseguido contar sobre o “ataque” de Calipso. E agora isso.

- Ei Rachel, posso falar com você um minuto? – perguntou Thalia que até pouco tempo conversava com Bianca. Aquilo me surpreendeu, mas fiquei extremamente aliviado de não ter que continuar com aquela conversa agora. Rachel parecia ainda mais surpresa, ela e Thalia nunca foram exatamente amigas, mas se levantou e seguiu ela para fora do refeitório.

- Percy? – me chamou Bianca já que agora só tínhamos nós dois na mesa.

- Fala.

- Por que você faz isso com ela?

- Do que você ta falando? – perguntei confuso.

- Você sabe, todo mundo sabe na verdade – levantei uma sobrancelha, realmente não sabia do que ela tava falando – Não é dela que você gosta. Devia parar de ficar dando falsas esperanças pra coitada e ir atrás do que você quer.

- Claro que eu gosto dela! Por que mais eu estaria com ela se não gostasse? E que história é essa de ir atrás do que eu quero? Eu não quero nada! – percebi que minha voz tinha se elevado enquanto eu falava, e que algumas pessoas no refeitório me olhavam assustadas. Bianca por incrível que pareça, apesar de ser o alvo dos gritos, me olhava curiosa.

- Desculpa, não tinha a intenção de gritar.

- Está tudo bem, Percy. A culpa é minha. A vida é sua, e eu não devia ficar me intrometendo.

- Olha, eu já te considero minha amiga, apesar de nos conhecermos a pouco tempo. Por isso eu respeito a sua opinião, você pode me dizer sempre o que pensa que eu vou escutar. O problema é que hoje eu não acordei muito bem, então me desculpa. Tá? – disse sincero.

- Esta bem – ela disse e me deu um sorriso, que retribui sem graça.

Nas poucas semanas que convivi com Bianca, ela tinha se mostrado uma boa amiga, no geral não falava muito, era mais de observar, parecia que queria desvendar a tudo e a todos. Mas sempre nos ouvia com atenção, e em geral dava ótimos conselhos. Sempre se fazia uma companhia agradável, também. Por isso não ia deixar que meu mau humor causasse algum desentendimento entre nós, até porque eu não tinha tantos amigos assim pra me dar ao luxo de perder um por um motivo tão bobo.

- E então soube que se juntou a equipe de Arco e Flecha. Está gostando? – disse mudando de assunto.

- Muito, – vi que seus olhos se iluminaram – a equipe é ótima. O capitão Lee disse que tínhamos chance de chegar as Nacionais esse ano!

- Que legal! Vou estar na torcida.

Passamos o resto do intervalo conversando, e acabei me esquecendo um pouco daquela sensação ruim que vinha me atormentando desde de manhã, e até mesmo que estava preocupado com Annabeth, naqueles poucos minutos. Mas então o sinal bateu me trazendo tudo de volta. Caminhei sozinho até a aula de Frances me perguntando se Annabeth iria a aula.

- Percy! – ouço a voz dela me chamar, e começo a achar que estou enlouquecendo. Mas logo depois ela me agarra pelo braço.

- Não para mais quando as pessoas te chamam? – falou num tom de falsa irritação, mas era denunciada pelo sorriso.

- Desculpa, achei que estava ouvindo coisas. Sabe, já que você sumiu durante todo o intervalo – o cinismo e a raiva eram visíveis em minha voz.

- Que isso, Percy? – disse ela soltando meu braço e me olhando um tanto magoada como se não entendesse o porquê de eu estar daquele jeito, na verdade nem eu entendia. – Se é assim é melhor eu ir logo para a sala, se não vou me atrasar – falou irritada e me deu as costas indo em direção à sala, mas eu a detive, a segurando pelo braço.

- Me desculpa – disse sincero – não sei o que acontece hoje, estou descontando tudo em cima dos meus amigos. Eu sei que não é justo, mas eu não consigo me controlar. A verdade é que eu só estava preocupado com você.

- Olha, não se preocupa o Luke não vai fazer nada que eu não queira – ela disse séria.

- Vocês já...

- Não – disse ela me interrompendo, e eu suspirei.

- Sabe, às vezes eu queria que você se juntasse a Rachel no clube do celibato.

- E eu, que você não fosse pior que o meu pai de tão protecionista. Mas a gente nem sempre tem o que quer. Não é mesmo? – disse ela um tom de brincadeira.

- Pois é – disse num riso falso.

- Vamos – ela disse de repente me puxando pela mão. Pensei que iria me levar para a aula de Frances, para a qual já estávamos bem atrasados, mas ao invés disso fomos até a piscina, que há essa hora estava fazia. – Pronto. Agora me conta o que tá acontecendo nessa sua cabeça de algas?

- Nada, – ela levantou uma sobrancelha como se não acreditasse – quer dizer, eu não sei. Eu simplesmente acordei com um pressentimento ruim eu acho. O Luke ter chegado também não deve ter ajudado nada no meu humor.

Sentamos na arquibancada, e eu acabei deitando no colo de Annabeth enquanto ela passava as mãos pelos meus cabelos me fazendo carinho. Ficamos assim um bom tempo, às vezes conversando, mas a maior parte em silencio. Eu estava me sentindo muito melhor, de alguma forma eu sentia que se ela ficasse ali comigo tudo ficaria bem. Ficamos tanto tempo ali que acabamos por perder a aula de Alemão também. Era a primeira vez que matávamos aula desde que entramos na Academia Yance, contudo não estava me importando muito com isso.

- Vamos Percy, – ouvi Annabeth me chamar, pelo jeito eu tinha dormido – a gente tem que almoçar antes de ir para o treino.

- Aham – concordei sonolento, enquanto me levantava.

- Você parece uma criança, sabia? – disse ela rindo.

Não me importei com o comentário e fomos almoçar. Sentamos-nos em uma mesa junto com Grover, Bianca, Nico, Alex e Zane. Nós conversávamos animados até que Luke chega.

- Posso saber onde você estava? – perguntou Luke obviamente irritado, olhando para Annabeth.

- Bem aqui, almoçando.

- Não me enrole. Eu fui te buscar na saída da aula de Alemão, e me disseram que nem você e nem e o seu amiginho – disse ele se referindo a mim com o maior escárnio possível – apareceram.

- Vamos, Luke. Não quero atrapalhar o almoço de mais ninguém por causa dos seus chiliques – disse Annabeth e foi puxando ele para fora do refeitório.

- Nossa – comentou Grover – é o primeiro dia dele de volta e já estão brigando por sua causa. O que fez dessa vez? Mordeu ela de novo? – falou rido.

- Não, a gente matou as ultimas duas aulas – disse dando de ombros.

- Essa é nova. O que ficaram fazendo? Acho que nunca vi vocês dois faltando em uma aula, quanto mais duas.

- Nada na verdade.

- Quem era aquele? – perguntou Alex curiosa entrando na conversa.

- O namorado da Annabeth – respondeu Zane que já o conhecia.

- Deu pra perceber pelo jeito que ele agarrou ela mais cedo – comentou Nico de boca cheia.

- É... – disse desanimado ao lembrar.

- Pera ai – interrompeu Alex – eu pensei que ela fosse sua namorada – disse ela apontando para mim.

- Não, ela é só minha amiga. Não sei por que todo mundo fica falando isso – falei já um pouco frustrado. – A minha namorada é a Rachel.

- Talvez seja porque vocês não pareçam nem um pouco “só amigos” – respondeu Alex. – E quem é essa Rachel que eu nunca vi?

- Ruiva, olhos azuis, muitas sardas – disse Grover – parece um pouco maluquinha, mas é gente boa?

- Nunca vi.

- Deixa que amanhã mesmo eu te apresento – disse irritado.

- Vamos parar com isso, não é? – disse Bianca se pronunciando pela primeira vez – Já esta na hora dos treinos. Eu vou pro meu, e vocês deviam ir pro de vocês.

Disse ela me lançando um lançando um olhar que dizia claramente ‘acalmasse’, e logo depois se levantando.