Somente Amigos escrita por Awdrey Knight


Capítulo 1
Parte 1 - Capítulo 1 - Annabeth




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- Percy? –chamei batendo na janela do quarto do meu melhor amigo. Esperei um pouco, e assim como eu temia não tive resposta. Era o primeiro dia de aula no nosso último ano escolar, e como em todos os outros eu teria que acorda-lo a força. Abri a janela, que ele sempre deixava destrancada e pulei, aterrissando na bagunça que era o quarto dele, roupas, livros e até o uniforme e a espada para as aulas de esgrima estavam espalhados pelo chão e mesa de estudos.

                - Vamos Percy, acorda! A gente tem que ir pra escola – disse enquanto o sacudia pelo ombro nu. O garoto que dormia de bruços usando apenas shorts gruiu reclamando, e não se deu ao trabalho de abrir os olhos.

                - Você que pediu! – falei fingindo irritação e me joguei em cima dele. Isso fez com que ele finalmente abrisse seus olhos verdes, e virasse para me encarar.

                - Isso era mesmo necessário? – me perguntou ainda sonolento – Agora sai de cima de mim que eu tenho que me vestir. Além disso, você é muito pesada!

                Eu saí, mas não sem antes lhe dar uma mordida no ombro. Então fui para a cozinha dele ver o que sua mão estava fazendo para o café. Assim que entrei na cozinha Sally me deu um sorriso.

                - Bom dia, Annabeth. Vejo que ainda não se adaptou as portas normais – disse ela rindo. Eu e Percy morávamos no mesmo prédio desde uns três anos de idade, e como eu morava logo no andar de cima, sempre usávamos as escadas de incêndio para ir um na casa do outro já que elas davam para os nossos quartos. A primeira vez que fiz isso devia ter uns 7 anos, meu pai ficou desesperado e veio na casa de Sally me procurar, quando os dois descobriram que estava aqui, a cara deles de alivio foi tão engraçada que até hoje me fazia rir.

                - Quando se tem escadas de incêndio, elas se tornam desnecessárias – disse brincando.

                - Vai querer ovos querida? – me perguntou já me passando um ovo estrelado, com clara azul e uma torrada. Sally sempre fazia comidas azuis em ocasiões especiais, porque era a cor favorita do filho. Logo comecei a comer e uns minutos depois Percy apareceu já vestindo o uniforme escolar e carregando o blazer no braço.

                - Odeio esse uniforme – disse ele se sentando ao meu lado na bancada da cozinha, enquanto tentava afrouxar a gravata – deve estar fazendo uns 20 graus lá fora, eu vou acabar derretendo desse jeito.

                - Ah, Percy. Deixa de ser bebê, e toma o seu café logo se não a gente vai se atrasar – por causa do comentário ele me deu um olhar vingativo, mas antes que ele fizesse qualquer coisa o impedi.

                - Nem vem. A última vez que você me mordeu deixou marca, e o Luke quase pirou – disse eu me referindo ao meu namorado, e Percy bufou. Ele deixava bem evidente sua opinião sobre Luke.

                - Qual é Annie, vai deixar esse filhinho de papai ficar mandando em você?

                - Você fala como se fosse ficar feliz se a Rachel aparecesse com uma mordida no pescoço!

                - Parem vocês dois! Eu já venho dizendo há muito tempo que esse negócio de ficar se mordendo não é bonito – disse Sally como se brigasse com duas crianças de 7 anos e não dois adolescentes de 17. Percy abriu a boca, provavelmente para dizer que eu tinha mordido ele mais cedo, mas sua mãe o impediu de falar.

                - Annabeth tem razão, filho, já estava mais que na hora de vocês pararem com isso – disse encerrando o assunto. Fazendo-me lhe lançar um olhar superior e um sorriso brincalhão. E ele ficar de bico.

                Essa história da gente ficar se mordendo começou como uma competição quando nós dois tínhamos apenas 10 anos. A gente sempre foi muito competitivo em tudo, não importava no que fosse, queríamos saber quem era o melhor, fosse em notas, esportes, videogame, tarefas, absolutamente tudo. Então quando a gente tinha 10 anos, eram férias de verão, a luz tinha abado, e estávamos sem nada pra fazer quando inventamos esse jogo idiota de quem aguentava mais dor. Então para medir isso a gente simplesmente ficava mordendo um ao outro, e quem pedisse pra parar perdia. Acho que a lição que tiro desse dia é que ninguém deve subestimar o orgulho de uma criança, nenhum de nós desistia, só paramos quando a mãe dele chegou. Resultado: vários hematoma, uma bela de uma bronca e um vicio.

Pois é depois disso virou comum que de repende a gente virasse e desse uma mordida no outro, quase que uma tradição. Que depois que entramos para a Academia Yance, também passamos para nossa amiga Thalia. Porem, no meio do ano passado Luke entrou na escola, e algum tempo depois começamos a namorar. De inicio ele nem notou já que Percy e Thalia geralmente me mordiam no braço ou no ombro e o uniforme da escola escondia. Então um belo de um dia no começo desse ano, Percy me deu uma mordida bem no pescoço, e assim que me viu Luke estranhou e perguntou como eu tinha feito aquilo, e a idiota aqui na maior naturalidade respondeu “A foi o Percy que me mordeu, não foi nada de mais.”. Bom, dá pra imaginar o chilique que se seguiu a isso. Desde então tenho tentado evitar que Percy me morda, apesar de às vezes não ter jeito.

Terminamos de comer em silencio. E logo nos despedimos de Sally, e como sempre fomos para o quarto de Percy, pegamos as bolsas da escola e descemos pela escada de incêndio, porque ela saia mais perto da entrada do metro. Deviam ser umas sete e pouco da manhã e já podíamos ver algumas pessoas na rua. Pegamos então o metro do Bronx, que como num milagre tinha dois acentos livres, para a ilha de Manhattan, onde nós estudávamos.

- Vai Percy, fala comigo – falei cutucando sua barriga, e percebi que ele se esforçava pra continuar sério, então disse desistindo – se você não deixar marca, te deixo me morder.

Ele então chegou mais perto e apenas raspou os dentes na minha bochecha, me dando nervoso. Então limpando a baba do meu rosto com o dedão, disse feliz:

- Viu, sem marcas – agora voltando ao normal perguntou – E então, como ficou o seu horário?

- Saúde, Psicologia, História Mundial, Língua Francesa, Língua Alemã. E Esgrima e o Clube de Debate, como sempre – respondi.

- Ficou parecido com o meu então. Saúde, Biologia, Ciência Ambiental, Língua Francesa, Língua Alemã. E Esgrima e Natação. Queria ter pego História Mundial também, fiquei sabendo que quem da é o Sr. Brunner, mas Grover insistiu tanto em Ciência Ambiental que eu acabei cedendo.

- Você sabe que Rachel vai te matar, não é? – disse quando percebi um pequeno detalhe do horário de Percy, ele não tinha nenhuma aula junto com a namorada.

- Ai, droga! – disse ele percebendo o que eu quis dizer – Tem certeza que ela não vai cursar Saúde esse ano?

- Absoluta, eu lembro muito bem dela buzinando no meu ouvido, no ultimo semestre, que “eu” não deixei você fazer essa matéria junto com ela – fiz uma careta.

- E as outras? Nada? Não é possível – disse ele se lamentando.

- Percy, – eu ri – você realmente acha possível a sua namorada, Rachel – falei enfatizando – vá cursar alguma dessas matérias? Tirando Saúde e as eletivas, são todas de nível universitário. E você sabe muito bem que ela só cursa o obrigatório e as aulas de Artes.

- Eu to morto – declarou, mas logo depois começou a rir e eu o acompanhei.

A verdade é que nós dois somos uns Nerds, a gente precisa ser na verdade. Nossas famílias não tem dinheiro pra pagar a mensalidade da nossa escola, na verdade eu acho que nem o salário do meu pai e da mãe do Percy juntos seria suficiente. Nós temos bolsas de 100% na Academia Yance, devido as nossas notas quase perfeitas, e olha que a maioria das matérias que a gente pega desde o ano passado são de nível universitário, já que a escola provem aulas AP.  Mas principalmente os campeonatos que a escola ganhou desde que entramos 3 anos atrás, se eu e Percy levarmos a equipe de esgrima a ganhar as Nacionais esse ano já seria o 4 consecutivo, sem falar nas medalhas que ele ganha na natação, e ano passado em um interescolas o meu grupo de debates ganhou fácil. Então a gente basicamente promove a escola, e em troca nós esperávamos muitas cartas de recomendação para a Universidade de Harvard, um sonho que eu e Percy dividíamos.

Quando finalmente chegamos à escola já eram umas 7:45, ou seja, quinze minutos para começar as aulas. O prédio da Academia era enorme, ocupava uma quadra inteira e tinha três andares. Lembro-me a primeira vez que pisamos ali, ha 3 anos. No estacionamento carros de luxo, enquanto alguns alunos eram deixados por seus motoristas na porta da escola e logo eram cercados por seguranças. Assim que eu e Percy entramos, de mãos dadas em nossos uniformes desbotados, pois os tínhamos comprado usados, a grande maioria dos alunos nos olhou como se fossemos a escoria da Terra ou ETs recém-chegados de Marte, já o resto fingia que não existíamos. Passei a maior parte do dia grudada em Percy, até que na hora do almoço uma menina de cabelos negros e olhos de um azul tão elétrico que parecia soltar faíscas, se aproximou usando botas de combate e uma jaqueta de couro preto, ao invés, do blazer com a insígnia da Academia. Ela simplesmente disse que a gente ia ser amigos dela, quase como uma ordem e se sentou com a gente, contando como as coisas funcionavam na escola. Segundo a visão dela, a maior parte era como todos eram uns idiotas. E eu instantaneamente pensei que seriamos grandes amigas.

Hoje em dia as coisas tinham mudado, e muito. Quando passamos quase todos nos cumprimentavam. Acho que o motivo era principalmente Percy, ele era com certeza o sonho de consumo de quase toda garota naquela escola, inteligente, capitão da equipe de natação, cocapitão da equipe de esgrima, bonito, gostoso (mesmo ele sendo meu melhor amigo até eu tenho que admitir, o garoto é gostoso pra caralho) e por ultimo, mas mais importante nessa escola, popular. Fomos direto para os nossos armários, e lá estavam Grover e Thalia discutindo como sempre.

- Vamos Tha, vai ser legal – implorava Grover, ele era legal, mas era o tipo de cara que atirava para todo lado pra ver se acertava alguma coisa. Antes de eu começar a namorar Luke ele me chamava pra sair pelo menos uma vez por dia, agora graças aos deuses esse tormento foi herdado por Thalia. E metade da população feminina daquele colégio.

- Nem pensar Grover. Quantas vezes eu vou ter que dizer não pra você me deixar em paz?

- Quando você disser sim, eu paro – disse ele com um sorriso safado.

- A essa hora da manhã, e você já esta assim, Grover – cheguei rindo.

- O que posso fazer? São os hormônios.

- Sei, – disse Percy – daqui a pouco você vai começar a dar em cima de mim.

- Finalmente vocês chegaram – disse Thalia me abraçando – não aguentava mais ficar sozinha com ele. E então qual a primeira aula de vocês?

- Saúde – nos três respondemos juntos e rimos.

- Eu também! – comemorou Thalia.

Não foi coincidência termos escolhido essa aula na verdade, nós sempre ficávamos de olho em que aulas o treinador Hedge daria no próximo ano. Ele era uma tremenda figura, sempre chamando os alunos de cupcakes e gritando em seu megafone, ano passado tínhamos feito Educação Física com ele e tinha sido hilário. Continuamos a conversar enquanto andávamos para a sala, quando uma menina ruiva de olhos azuis e cheia de sardas, chega por traz de Percy tapando seus olhos.

- Adivinha quem é? – perguntou Rachel de forma infantil. Percy se virou com um sorriso e cumprimentou a namorada com um selinho, o que a deixou corada e a fez dar um passo pra traz. Rachel era uma menina muito religiosa e juntando isso à pequena bolha em que seus pais milionários a mantém, beijos em publico para ela eram quase um pecado. Mas ela vinha tentando relevar pelo menos os selinhos que Percy a dava como comprimento.

Quando Percy me contou que ele ia pedir Rachel em namoro eu fiquei chocada, tinha sido pouco tempo depois de eu começar a namorar Luke, por isso eu não podia falar muita coisa. Então quando eu perguntei para ele porque ele gostava dela, ele simplesmente disse que era por ela era diferente. Se diferente quer dizer esquisita eu concordo. O pouco que eu conhecia da garota na época não me agradava, não sei direito o que era, talvez o fato de ela estar sempre tão feliz e animada, para mim isso não é normal. E a menina não tinha muito senso de comum, ela só cursava as matérias obrigatórias, que não são muitas, e todo o resto do seu horário era ocupado com disciplinas de Artes. O que ela achava? Que viveria o resto da vida sustentada pelo pai. Pensando bem, pra gente como ela isso não deve ser difícil. Com o tempo porem, eu acabei me apegando. Não me entenda mal, ela ainda me da nos nervos, principalmente quando me acusa de “roubar” o Percy dela. Se toca minha filha, ele é meu melhor amigo e eu conheci ele primeiro, então se alguém ta roubando ele de alguém é você (tá, parei com o ciúme bobo. Fazer o que? Me acostumei de ter ele só pra mim durante anos). Mas digamos que ela tinha suas qualidades.

- Então Rachel, - disse Grover - conseguiu os cartazes para a campanha contra a derrubada das árvores?

- Consegui! – disse ela toda animada – Eles ficaram lindos! Todos vocês vão participar do protesto, não é mesmo?

- Vamos sim – respondeu Percy um pouco desanimado, desde que conhecemos Grover ele vem fazendo de tudo para proteger a natureza desde abaixo-assinados a protestos públicos. E sempre nos arrasta pra ir junto. Uma das vantagens da Rachel namorar o Percy, é que agora ela se oferece para fazer todos os cartazes e antes eu, Thalia e Percy é que éramos obrigados a fazer isso.

- Que ótimo! Vai ser um máximo! – então pareceu se lembrar de alguma coisa – A é, Percy. Posso ver o seu horário?

- Pode sim, - disse ele cabisbaixo e o entregou vagarosamente como se estivesse com medo da reação da garota, o que provavelmente era verdade. O sorriso de Rachel se apagou, e sua voz, mostrava vontade de chorar.

- De novo, Percy. Nenhuma aula igual a minha – disse ela. Aquilo sinceramente me revoltava as pessoas não vinham para a escola namorar e sim pra estudar! Mas fazer o que? – Assim parece que você não quer passar tempo comigo!

- Não é nada disso, Rach. Eu nem pensei sobre isso. Você tem que entender que eu tenho que escolher as matérias que vão me ajudar a passar para uma boa faculdade – disse Percy.

- Eu sei disso, mas aposto que se eu pegar o horário da Annabeth vai estar quase idêntico ao seu – disse a menina um pouco irritada. Bom, agora ele tava ferrado. Mas antes que qualquer coisa pudesse ser dita o sinal tocou.

- Olha Rach, a gente conversa depois, agora eu tenho que ir.

Então fomos eu, Percy, Grover e Thalia para um lado e Rachel pro outro. Esperei um tempo e sussurrei em seu ouvido:

- Salvo literalmente pelo gongo – e ele riu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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