Quando há dias chuvosos, o que Alexia faz é ficar lendo seus livros deitada em seu quarto. Livros que contam histórias de amor, o que a faz sonhar e ficar se imaginando horas e horas no lugar das personagens. Mas o amor para ela não ocorreu como nos livros, e nesta tarde chuvosa ela estava deitada em seu quarto e chorando por causa desse triste amor.

Alexia era uma menina de estatura baixa, corpo esbelto, sua face era delicada e contornada por um lindo cabelo loiro levemente ondulado e comprido, seus olhos compostos do mais puro azul eram penetrantes e tudo era distribuído tão bem proporcionalmente que era excepcionalmente agradável aos olhos. Apesar de sua beleza, ela nunca havia tido contato com o amor ou com um garoto, mesmo estando com 15 anos. Talvez isso pudesse ser explicado pela sua paixão por livros e por ser uma romancista nata, a qual não via amor nos gestos dos garotos que a cortejavam.

Linda como tal, sempre chamava a atenção aonde ia, mas por ser quieta ela era classificada pelas pessoas da escola com uma “estranha” e não tinha amigos. O motivo de acharem ela estranha, também estava envolvido com a sua mania por livros, a qual não largava um segundo; as garotas da escola tinham medo de se aproximar dela, pois pensavam que ao seu lado os garotos olhariam somente para Alexia; os meninos eram encantados por sua beleza, mas não conseguiam conversar com ela, pois ela nunca saía do seu pequeno mundo de livros, não dando atenção àqueles que a rodeavam. Ela também não se importava em viver sozinha, somente os livros já bastavam a ela; as pessoas eram incomparáveis com as personagens dos livros. Para ela, o mundo é que era uma ilusão, o qual não precisava ser vivido com tal emoção com que os outros jovens viviam, tudo era muito patético: o jeito como as pessoas se tratavam, os amores que duravam apenas um dia, a verdade com a qual as pessoas realmente se importavam, o desespero em amar e ser amado, tudo parecia ser sem sentido para ela.

Era o seu primeiro dia de aula no 2º ano do ensino médio, e era a mesma turma de alunos. Nada havia mudado, eles já haviam se acostumado com seu jeito quieto e não a perturbavam mais.

Tudo estava ocorrendo normalmente, até que a aula foi interrompida com a porta que estava se abrindo. Um aluno novo chegou se apresentando como Dylan e sentou-se ao lado dela, o único lugar vazio que tinha na sala.

Na hora que bateu o sinal para o intervalo, Dylan pegou a cadeira e virou-a de frente para poder conversar com Alexia. Ele se apresentou e perguntou o nome dela, ela respondeu que seu nome era Alexia, mas ela estava tão concentrada em seu livro que nem percebeu o leve sorriso e os olhos brilhantes de Dylan a encarando com admiração.

Ele começou a conversar com ela, a qual continuava a responder as perguntas educadamente e de um modo indiferente, não dando atenção ao garoto, até que ela percebeu que a sala estava se enchendo de pessoas que vinham presenciar o novato que estava conversando com a garota mais quieta, estranha e bela daquela sala.

Vendo que aquilo estava virando um espetáculo, ela se levantou, pegou-o pela mão e o levou para fora da sala, levando-o para algum lugar que tivesse poucas pessoas.

Ela parou de repente, virou e olhou-o profundamente com aqueles olhos azuis penetrantes. Ela aparentava estar brava e envergonhada, mas esse sentimento não era bem descrito ao olhar em seu rosto. Ela pediu perdão, e disse que não seria a garota apropriada para ele conversar e saiu sem se preocupar em procurar palavras delicadas ao falar isso.

Quando saiu, ela estava com o rosto corado por olhar naqueles olhos que pareciam confusos e conhecidos. Ela não tinha reparado nele quando entrou. Dylan era um pouco mais alto do que ela, seu corpo era esbelto, tinha cabelos castanhos claros que davam um contraste aos seus olhos escuros que se encaixavam muito bem aos traços de seu rosto. Ele era o tipo de garoto considerado muito belo, então não teria dificuldade em se relacionar com outras garotas e até com os meninos, pois pareceu ser simpático. Então ela não se preocupou e voltou ao seu mundinho dos livros.

Quando voltou a sala de aula, muitos já tinham saído e ela continuou sozinha lendo, até que um barulho a despertou de sua concentração: Dylan tinha pegado uma cadeira e sentado ao seu lado dando-lhe um lanche que havia comprado.

Ela encarou-o confusa, recusando o lanche, mas aceitou após ele tanto insistir. Ela comia em silêncio e ele fitava-a observando cada movimento, como se para não perder nenhum deles. O que aquele garoto estava querendo? Ela já havia explicado para ele não conversar com ela, será que ele não havia entendido? Porque tinha que aparecer um garoto novo para atrapalhar a paz que tinha?

Apesar de ficar aborrecida com a presença dele, ela continuava a conversar com ele de modo calmo, mas sempre o tratando com indiferença.
No outro dia, desde a hora em que chegara ele já foi ao seu lado, conversando. Ela não queria a presença dele pois percebia os olhares que eles causavam. Quando o intervalo chegou e ele veio aproximar-se dela, ela levantou, olhou bem para ele e pediu que ele se retirasse, pois queria ficar sozinha para continuar a ler.

– Não. Não vou sair. – respondeu Dylan sentando na cadeira e olhando-a com um olhar desafiador.

Ela pegou seu livro e saiu da sala. Ficou sentada na escada que ficava perto e logo atraiu vários olhares, pois dificilmente ela ia ler seus livros fora da sala. Aos poucos, as pessoas vieram conversando com ela, pareciam que se sentiam mais confiantes para puxarem conversa com ela após verem Dylan fazendo isso. Como sempre, ela foi muito educada com todos, mas saiu rapidamente e voltou para a sala, o que deixou eles a achando antissocial, ou confirmando que ela realmente era estranha.

Quando ela voltou para a sala, ele ainda estava lá, como se esperando ela. Ele a olhou ironicamente e com um leve sorriso, um tanto encantador, disse:

–Já resolveu voltar?

Sentou-se sem dar atenção para o garoto. Ele se aproximou roubando o livro de suas mãos e começou a ler. Alexia levantou rapidamente para pegar o livro, mas ele o ergueu acima da cabeça onde a menina não alcançava. Por um bom tempo os dois ficaram nessa briga. Ela não dizia nada enquanto ele divertia-se ao ler o livro da garota. Ao ver que ela estava ficando realmente estressada, ele devolveu o livro.

– Então você é do tipo romântica? Que bonitinha... - disse ele com um sorriso zombeteiro que iluminava os olhos dele.

– CALE A BOCA! –retrucou gritando ao pegar o livro- AFASTE-SE DE MIM!

E nisso ela o empurrou de um jeito que o fez cair no chão. Ele a olhou espantado. Sabia que a havia irritado, mas não imaginava que tinha chegado a esse ponto.

Correu arrependida ao ver o que tinha feito e ofereceu a mão para ajudá-lo a levantar, mas ele se recusou e saiu, sem mesmo dar a ela a chance de se desculpar.

No outro dia ele não veio conversar com ela, nem sequer a tinha olhado direito. Estava arrependida, mas não tinha coragem para pedir perdão. Sabia que o que tinha feito foi errado e pensava em porque sempre queria estar sozinha, mesmo quando tantas pessoas queriam conversar com ela. Será que a sua visão de mundo seria mesmo tão certa assim?

Passado alguns dias, quando era a hora do intervalo, ela estava com a cabeça abaixada na carteira, ainda se remoendo por dentro por ter sido tão cruel. Sentiu então algo a cutucando e virou para o lado: ele estava novamente sentado na cadeira ao seu lado e olhando-a.

– Sabia que ainda estou esperando? – disse Dylan ao olhá-la carinhosamente.

– Me desculpe.... eu sinto muito... não devia ter feito aquilo, realmente sinto muito...- respondeu Alexia ao compreender o sentido daquela frase.

Quando ela disse isso, ele sorriu e também pediu perdão por a ter irritado. Mais uma vez ela se desculpou e abaixou a cabeça por vergonha de olhar novamente naqueles olhos misteriosos. Ele continuou ao seu lado, mesmo ela não levantando mais o olhar.