Math For Love escrita por Valentine


Capítulo 30
Peter


Notas iniciais do capítulo

Esse é o maior capítulo que já escrevi até agora. Quero agradecer a todos vocês que me acompanharam até aqui, espero que gostem.
Deixem seus comentários, beijo!



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- Não, não é assim. Você não está entendendo, Daniel. Antes de transformar a potência em logarítimo, você precisa desenvolver. Olha, é assim. - Disse, pegando o lápis da mão do garoto e desenvolvendo o cálculo em seu caderno. - Viu? É fácil. Pronto, agora é sua vez.

Mary soltou o lápis sobre o caderno, estalando rapidamente os dedos logo depois. Sentia uma pontada de felicidade escondida em seus sorrisos abafados pelo simples fato de estar com ele. Ele era muito mais que um amigo, era alguém que a fazia esquecer dos problemas, sentir um frio incontrolável no estômago apenas por ouvir sua voz.

Depois daquela caminhada pelas ruas próximas à sua casa na manhã de terça-feira, fingir o relacionamento não havia sido um problema. Sentiu-se mais motivada a ter um contato físico, a abraçá-lo, segurar suas mãos. Por mais falso que fosse, o calor e o carinho que sentia dos dedos entrelaçados de Daniel Harris a despertava um sorriso incontrolável e inevitável.

Daniel colocou sobre a mesa os seus cotovelos, dobrando os braços e escondendo o rosto entre eles.

- Já chega, não entra mais nada aqui... - Falou, sua voz sendo instantaneamente abafada pelo tecido de sua camisa de mangas três-quartos.

Mary deu um pequeno riso, escondendo os dentes em sua boca. Apoiou o rosto sobre o punho direito e olhou diretamente para Daniel Harris.

- Deve estar cansado mesmo para não conseguir entender isso. Acredite, esse assunto não é tão difícil quanto parece. Basta conhecer as propriedades e vai poder desenvolver qualquer questão.

Daniel bufou, levantando o rosto e devolvendo o olhar de Mary Monroe.

- Ah, qual é. Não é nenhuma novidade eu não conseguir aprender algo. Minha burrice está estampada no meu rosto.

Mary franziu as sobrancelhas, olhando para o caderno do garoto repleto de anotações.

- Você tá brincando? - Perguntou, balançando a cabeça. - Em apenas um mês de aulas você já está chegando no último tópico das funções! Só mais dois assuntos e você já vai ter visto todo o conteúdo do primeiro ano, sabia?

Daniel olhou para o caderno, folheando as folhas.

- Sério?... Parecia ser bem mais difícil do primeiro ano.

Mary sorriu, abaixando o olhar e esfregando as mãos.

- Eu vou passar aqui às sete, tudo bem? - Daniel perguntou, sem tirar os olhos da equação que desenvolvia.

Mary arqueou uma sobrancelha, confusa. Do que Daniel Harris poderia estar falando?

- Como assim? 

- É. Nós vamos sair hoje, não vamos?

Mary entortou a cabeça em um ângulo agudo com o ombro direito, ainda confusa pelas palavras de Daniel. Desde quando eles iriam sair?

- E-Eu não sei, vamos? - Perguntou, sentindo sua voz falhar.

Daniel parou de escrever e levantou seu olhar para a garota sentada à sua frente na enorme mesa de madeira da sala de jantar da residência dos Monroe.

- É claro. A festa da Katie, esqueceu? Eu não posso aparecer lá sem você, você é minha namorada, lembra?

Mary fechou os olhos, respirando fundo e abriu-os novamente.

- Eu não sei se quero ir a essa festa.

Daniel largou o lápis sobre a mesa, ouvindo o rápido som de seu percurso rolando sobre a superfície de madeira até cair no chão.

- Como não? É sua prima, você tem de ir!

Mary sentiu-se desconsertada.  Como explicar à Daniel toda aquela situação que vivia com Katie Monroe há quase três anos? Como explicar que a sua presença não era - nem um pouco - desejada naquele ambiente?

- A Katie e eu não nos damos muito bem. Ela nunca gosta de estar no mesmo lugar que eu, aposto que iria se sentir incomodada com minha presença na festa dela. Não vou abusar tanto assim.

Daniel revirou os olhos.

- Que se dane o incomodo dela, Mary. Você vai comigo, como minha namorada. Ela deve saber muito bem disso.

Mary suspirou rapidamente.

- Eu prometi que não iria aparecer lá, Daniel. Além do mais...

- Não importa. - Ele respondeu, interrompendo-a. - Se ela convida a mim, convida a minha namorada também, isso é o óbvio. 

Ela abaixou sua cabeça, mordendo o lábio inferior e sentindo seu coração palpitar de forma que não conseguisse formular uma resposta. 

"Que droga, Daniel, como consegue fazer isso comigo?"

- O que foi, Mary? Não está me ouvindo? - Daniel perguntou, notando a atitude estranha da garota à sua frente.

Mary deu um pequeno sorriso constrangido.

- É que às vezes você fala como se fossemos mesmo namorados de verdade. - Ela sussurrou, mas alto o suficiente para que ele a ouvisse.

Daniel sentiu-se constrangido. Passou a mão pelo pescoço numa tentativa falha de saber o que dizer.

- Me desculpa. Acho que estou levando isso a sério demais. Se você não gosta, pode falar.

Mary sorriu.

- Não é que eu não goste. É que eu não estou acostumada a isso.

Daniel riu ironicamente.

- Você nunca teve nada com ninguém, Monroe? Pelo visto não está acostumada a absolutamente nada. - Daniel arqueou uma sobrancelha. - Espera aí. Vai me dizer que nunca beijou ninguém?

Mary sentiu seu rosto queimar de repente, e faltavam-lhe as palavras corretas para responder àquele momento de constrangimento.

- Não! Quer dizer, claro que já beijei alguém. - Mary disse, olhando vagamente para um ponto qualquer da sala e sorrindo sem perceber. Mas já faz muito tempo.

Daniel desfez seu sorriso, olhando-lhe fixamente. De repente, a graça de toda aquela brincadeira sumiu de forma absurda. Fez aquela brincadeira sem imaginar as possíveis respostas e não gostou nem um pouco da reação de Mary. Porque ela estava sorrindo? Quem é esse cara? Porque ela estava sorrindo? Ela ainda gosta dele? Porque ela estava sorrindo?

"Espera, porque, de repente, eu me incomodei tanto com isso?"

- Daniel, volte para as questões. - Mary pediu, ainda sorrindo consigo mesma sem nem mesmo olhar diretamente para ele, despertando-lhe cada vez mais indignação.

"Porque ela não desfaz esse sorriso idiota?"

- Eu passo aqui às sete. - Daniel respondeu em um tom mais alto e frio, desfazendo completamente o sorriso de Mary.

Ela desviou o olhar para o porta-retratos que estava ali perto, na estante da sala de estar. A foto antiga de sua infância ao lado de sua prima, Katie Monroe, a fazia lembrar de toda a história das duas. Uma amizade que durou treze anos, na qual sempre teve confiança e esperança. Sabia que a culpa não era só do ar sonhador de Katie, mas da sua intolerância a essa característica de sua prima. Gostava de acreditar que aquilo foi o melhor para as duas.

Sim, hoje ela é satisfeita vivendo sua vida sozinha em seu mundo, e Katie é feliz com a rotina colegial que sempre sonhou. Pelo menos, é o que ela demonstra ser.

- Tudo bem. - Respondeu, revirando os olhos e passando os dedos por entre os fios de seu curto cabelo. - Agora volta para as questões, faltam só mais cinco e a gente termina por hoje.

...

- Não acredito que fiz isso.

Jhennifer olhava seu reflexo no espelho já há cinco minutos, e não conseguia desviar seu olhar. Não sabia se sentia arrependimento ou felicidade por ter mudado.

- Posso ser sincera? - Sua cabeleleira fiél ao seu lado perguntou enquanto enrolava o fio do secador de cabelo ainda quente que havia acabado de usar. 

Jhennifer mordeu o lábio inferior, receosa.

- Deve.

A mulher de cabelos vermelhos e presos deu um pequeno riso, retirando de Jhennifer a capa que usara para não manchar sua roupa.

- Você ficou bem melhor assim. Sério, está menos artificial. Sem falar que o tonalizante melhorou e muito o aspecto dos seus fios. 

Jhennifer passou os dedos pelos fios lisos que ainda estavam quentes pelo contato com o vapor do secador, olhando de perto o tom dos fios que brilhavam sob a luz fluorescente do estabelecimento. Ainda não acreditava que tivera coragem de fazer aquilo, por mais que algumas vezes sentisse vontade daquela mudança.

- Geralmente as pessoas querem clarear ainda mais os fios, e não escurecer. Porque essa mudança radical? - A cabeleleira perguntou, divertindo-se com a surpresa de Jhennifer que parecia perplexa diante do grande espelho iluminado.

Jhennifer suspirou com um pequeno sorriso nos lábios.

- É complicado, Maggie. - Jhennifer franziu os lábios. - Eu meio que só descolori os fios antes por causa de minha mãe, queria que meu cabelo ficasse igual ao dela. Ela era como um exemplo para mim.

Maggie arqueou uma das sobrancelhas perfeitamente alinhadas, abaixando o olhar.

- Não quer mais ser igual à Trish? - Perguntou, lembrando de sua velha e falecida cliente.

Jhennifer balançou os ombros, indiferente.

- Acho que não. Eu descobri que ninguém é perfeito e eu tenho de ser eu mesma. - Respondeu, lembrando da carta que recebera e dos relatos de seu pai sobre a traição e mentiras de sua mãe. - Claro que a amo muito, mas não vou rejeitar as minhas características por ela.

Maggie sorriu e saiu para outro canto do enorme salão, deixando Jhennifer sozinha com seus pensamentos. 

Não, não tinha porque se arrepender de nada daquilo. Pela primeira vez em anos estava sendo ela mesma: com suas características físicas, com sua própria personalidade. Não precisava mais agradar a ninguém. Finalmente, chega de relacionamentos falsos, de uma aparência artificial, de uma personalidade forçada. Finalmente, era a verdadeira Jhennifer Willis que estava ali.

...

Mary bateu na porta pela segunda vez, aguardando a recepção de sua tia, mas foi logo surpreendida por Katie Monroe.

- Mary, o que está fazendo aqui? 

Katie olhou para sua prima frente à entrada de sua casa. Ela segurava uma sacola grande de papel, usava mais um daqueles patéticos suéteres folgados que a transformavam num quadrado pequeno. 

"Ela deve ter uma coleção, isso fica horrível."

Mary encolheu-se em seu casaco visivelmente maior do que sua numeração.

- Minha mãe pediu que eu trouxesse uma coisa para a tia Ana, ela está?

Katie olhou para o interior da casa, procurando por sua mãe pelo corredor.

- Ela deve estar lá em cima, entra. - Abriu passagem para que Mary entrasse na residência. - Eu vou ao salão me arrumar, te vejo mais tarde.

Mary franziu o cenho, olhando para a sua prima que apanhava uma sacola ao lado da porta de entrada.

- Espera. O que disse?

Katie parou e olhou para Mary, sorrindo.

- Você vem hoje, não vem?

- Pensei que não me quisesse aqui. - Mary respondeu, negando com a cabeça.

Katie entortou a boca.

- Mas você namora o Daniel, ele é meu amigo. - Ela explicou, balançando os braços. - Não esquenta, vou gostar muito se você vier. Até mais.

O som da porta se batendo fez com que Mary percebesse que aquilo realmente era verdade. Então quer dizer que um simples namoro, de repente, tornou sua presença desejada? 

Subiu as escadas, ouvindo o clássico som irritante daquela madeira já velha e caminhou até o quarto de sua tia. Viu a elegante mulher sentada na cama, tentando levantar o zíper de um lindo vestido vermelho que usava. Ela levantou-se, sorriu para Mary e abriu os braços.

- E então, como estou? - Perguntou, dando voltas sobre o carpete e fazendo o vestido desenhar seu corpo.

Mary sorriu, entrando no quarto.

- Que pergunta, tia. Claro que está linda.

Ana sorriu, apreciando seu reflexo no espelho. 

Mary tinha uma admiração enorme por Ana Monroe. Não pelo fato dela ser uma segunda mãe, de ser carinhosa e atenciosa, mas por ter superado muito bem os problemas de sua vida.

Aos dezessete anos, Ana engravidou de um namorado mais velho. O rapaz a abandonou no primeiro momento em que soube da criança, mas Ana foi acolhida pela família do namorado. Mesmo sem notícias do pai de sua filha já há muito tempo, Katie nasceu e foi criada e acolhida pelas duas famílias. Entretanto, Ana sempre soube que a falta de um pai influenciou na personalidade forte de sua filha. 

Agora, aos trinta e cinco anos, Ana era uma das mulheres mais bonitas que Mary já conhecera. Elegante, forte e madura, alguém em quem Mary via uma personalidade inspiradora.

- Aqui estão os sapatos que minha mãe pegou emprestado. - Mary entregou-lhe a sacola de papel, sentando logo depois na cama. - Vai sair com quem hoje? - Perguntou, sentando na cama e assistindo a sua tia calçar os sapatos de saltos enormes.

- Trevor Parker. - Ana respondeu, caminhando com os sapatos já nos pés. - Conheci num leilão de quadros famosos. Espero que dê certo.

Mary riu, divertindo-se pela empolgação de sua tia prestes a sair com mais um entre seus vários pretendentes a namorados.

- E a festa da Katie hoje? O que vai usar?

Mary cruzou as pernas, franzindo os lábios. O que poderia usar? Não tinha nem parado para pensar nisso ainda.

- Não sei, tia. Não tinha pensado nisso. - Respondeu num sussurro.

Ana olhou perplexa para Mary, como quem havia acabado de presenciar um crime.

- Como não pensou? Você tem algum vestido? - Perguntou, sentando frente à sua penteadeira e abrindo uma de suas maquiagens.

Mary formou a imagem de seu closet em sua mente, tentando lembrar de todas as peças que lá estavam.

- Tenho uns vestidos, mas são muito infantis e não dão mais em mim. Estão velhos... - Respondeu, apoiando os cotovelos na cama macia.

Ana levantou-se e caminhou até uma imensa cortina, abrindo-a e deixando à mostra suas peças de roupa penduradas nos cabides.

- Vamos, escolha o que quer vestir.

Mary levantou-se da cama, confusa.

- O quê? Não, tia, não precisa...

Ana caminhou até Mary, a puxando para mais perto do closet.

- Não venha inventar desculpas porque vestimos o mesmo manequim. Você é como uma filha, não vou deixar você sair assim. Vamos, escolha uma roupa, aposto que seu namorado vai ter uma surpresa.

Mary arregalou os olhos. Namorado? Como ela sabia?

- Espera, namorado? - Perguntou, franzindo o cenho. - Quem disse isso?

Ana riu, colocando as mãos na cintura.

- Achou que eu não iria ficar sabendo? Quem é ele? - Perguntou Ana, desabotoando o suéter folgado de Mary.

Mary deixou que sua tia começasse a tirar seu suéter e deu um pequeno sorriso.

- Não estou namorando, tia. É só um favor que estou fazendo a um amigo, não é de verdade. 

- Mas você gosta dele, não é? - Ana perguntou enquanto olhava peça por peça de seu closet.

- O quê? - Perguntou Mary, de olhos arregalados com a pergunta de sua tia. - Claro que não.

- Você fala dele com essa cara de boba apaixonada. Sem falar nesse sorriso aí. Você está gostando dele, não está?

Mary deu um pulo, assustada com a pergunta de Ana. Como assim gostando dele? Daniel era só um amigo, nada demais. Além disso, o namoro era apenas fingimento. Que expressão era aquela da qual Ana estava falando? E que maldito nervosismo é esse que está sentindo?

Respirou fundo e acalmou seus nervos.

- Não tia, claro que não. Essa história vai acabar logo, não é nada demais.

- Claro, sei. - Ana respondeu, ironicamente. - Vem, não vou sair de casa enquanto você não estiver impecável. Você é linda, só precisa saber aproveitar isso.

- E o seu encontro, tia? Não vai ser em meia hora?

Ana bufou.

- O Trevor pode muito bem esperar. É bom que ele já fica sabendo quem é que manda.

Mary riu, deixando que sua tia começasse a fazer o que sempre sonhou: interferir nas suas roupas.

...

Katie estava quase surtando. Sua casa aos poucos começava a ficar lotada de pessoas e a música eletronica ensurdecia seus ouvidos. Jhennifer até agora não havia chegado, e ela estava se sentindo sozinha mesmo em meio a tantas pessoas.

Ouviu uma batida forte na porta e virou-se para a entrada, dando de cara com Daniel Harris irritado. Ele estava sozinho, nada de Mary. Katie se deu o direito de fazer suposições, quem sabe brigaram, terminaram, ou algo do tipo.

- Daniel? - Perguntou, aproximando-se do garoto. - O que aconteceu?

Daniel virou-se para Katie.

- Ah, oi Katie. Feliz aniversário! - Abraçou a garota, fazendo com que ela sentisse aquele frio rotineiro de sempre quando ele a tocava. 

Katie sorriu.

- Ah, obrigada. Está tudo bem com você? Cadê a Mary?

Daniel colocou as mãos no bolso, respirando profundamente.

- Acho que a Mary não queria vir. Passei na casa dela e não havia ninguém, acho que resolveu fugir de mim para não vir.

Katie arqueou uma sobrancelha, confusa.

- Sério? Ela esteve aqui hoje mais cedo, parecia disposta a vir.

Daniel abriu os braços, como quem não soubesse o que dizer.

- Vai entender o que passa na cabeça dela. Deixa pra lá, não vou me preocupar com ela, não gostei dela ter feito isso.

- Daniel! - Ouviu uma voz familiar atrás de si. 

Daniel e Katie viraram-se, dando de cara com a lider de torcida - agora já não mais com aquele uniforme - que ainda se sentia atraída por Harris.

- Oi Taira. - Daniel sorriu, cumprimentando a garota que - embora pareça impossível - usava um vestido absurdamente mais curto do que a saia que costuma usar na escola. 

- E aí, Dan. - Ela aproximou-se com uma intimidade aparentemente não existente.- Cadê aquela sua namorada? Não estou a vendo por aqui. - Perguntou, olhando ao redor pela casa.

Daniel cruzou os braços, olhando para Taira Smith. Por mais que aquele fosse o sobrenome mais genérico que já vira, ela estava surpreendentemente atraente naquela noite. 

Pensou em Mary, na ultima vez que tivera alguma coisa com Taira Smith. Sentiu uma raiva pelo desaparecimento estranho de Mary, mesmo depois de terem marcado de se encontrarem. Era doloroso, não podia negar que estava ansioso.

Desde aquela manhã em que caminharam juntos, começara a sentir um carinho imenso por Mary Monroe, e acreditava que era recíproco. Durante esses dias, não entendia porque pensava tanto nela. Naquele sorriso, aqueles olhos, aquela voz... Desde quando se importava tanto com isso? Tentou evitar aquela ansiedade que sentiu para encontrá-la, odiava-se por isso. E perguntou a si mesmo se ela se sentia assim também...

Pelo visto, nada daquilo era recíproco.

Então, porque se prender a isso? Essa história de namoro já deu o que tinha de dar, não é? Qual a necessidade de manter aquela farsa? Estava na hora de finalmente agir como as coisas realmente são, sem fingir mais nada. Chega de mentiras.

Era o que ele iria fazer.

- Eu e a Mary terminamos, Taira.

A garota sorriu, aproximando-se de Daniel. Katie arregalou os olhos, confusa.

- Você não me disse isso. - Disse Katie, cruzando os braços.

- Eu sei. - Danie respondeu. - Mas foi o que aconteceu. Não estamos mais juntos.

Katie franziu os lábios.

- Ah, é? Eu sinto muito. Espero que se divirta.

Afastou-se dos dois, ainda surpresa pelo término do casal. Estava preocupada com o Daniel pela irritação do garoto, mas odiava a si mesma por sentir-se tão esperançosa com aquilo tudo. Não importa, aquela líder de torcida ridícula e fútil já estava se jogando em cima dele. Não podia. Definitivamente, não podia estar apaixonada por ele. De novo não.

A festa estava marcada para às sete horas, mas muita gente ainda não havia chegado. Olhou para seu braço esquerdo, em busca do horário, mas não encontrou seu relógio. 

"Droga, deixei o relógio no quarto!"

Subiu as escadas rapidamente, e adentrou o corredor e caminhando até o final do mesmo, rumo ao seu quarto na última porta, mas parou ao ver a um feixe de luz pelo espaço entre a porta e o chão.

"Minha mãe não saiu?"

Girou a maçaneta e abriu a porta, assustando-se com a última pessoa que poderia estar ali.

- Mary? O que faz aqui? - Perguntou, encontrando sua prima sentada sobre a cama de sua mãe. - Onde está minha mãe?

- A tia Ana saiu há alguns minutos. - Respondeu Mary, estalando rapidamente os dedos. - Feliz aniversário.

Katie aproximou-se, sorrindo.

- Obrigada. Deve ser a centésima vez que ouço isso hoje. O que você está fazendo aqui sozinha?

Mary levantou-se, abrindo os braços e mostrando a roupa que usava.

- Tia Ana. 

Katie riu, vendo a obra de sua mãe no corpo de sua prima.

- Como sempre. Você está linda. Sério. 

- Obrigada. Eu acho. - Respondeu Mary. - Tem muita gente aqui?

Katie sorriu.

- Sim. Mas ainda falta uma boa parte das pessoas. Porque ainda não desceu?

Mary suspirou profundamente.

- Não sei... Estou sem coragem. Nunca fui a esse tipo de festa, nunca vesti esse tipo de roupa. Tenho medo de passar vexame.

Katie sentou ao lado de sua prima na cama.

- Tá de brincadeira? Mary, você está linda. Você é linda! - Mary sorriu, desconsertada. - Sinto muito pelo Daniel.

- O quê? Do quê está falando?

- O Daniel. O término de vocês, você sabe. Sinto muito.

Mary franziu o cenho, olhando para Katie.

- Ele te contou isso?

Katie balançou a cabeça afirmativamente.

- Sim, e agora ele está lá com a idiota da Taira. Eu sei, os homens são todos uns babacas.

Mary sentiu uma pontada no peito. Ele estava com ela, de novo? Justo ela?

- Você ainda gosta dele, Katie? - Perguntou, sussurrando entre dentes.

- O quê?! - Katie assustou-se. - Claro que não, não acredito que ainda lembra disso!

Mary sorriu com a reação de sua prima.

- Eu vou até o meu quarto. Melhor você descer, tem alguém lá embaixo que perguntou por você. E não é o Daniel.

Katie levantou-se e saiu do quarto, deixando Mary novamente sozinha.

"Quem está procurando por mim?"

...

Jhennifer Willis estava começando a se incomodar com os olhares das pessoas sobre si. Havia mudado tanto assim? 

- Você precisa avisar quando fizer esse tipo de coisa, pra evitar que eu tenha um ataque cardíaco.

Ouviu a voz de Dylan Patterson em seu ouvido. Virou-se e ficou de frente para o garoto que tinha um copo na mão.

- Ficou tão mal assim? - Perguntou Jhennifer, passando os dedos pelos fios castanhos.

Dylan sorriu, acariciando os cabelos da garota.

- Você está linda. Como quando te conheci. Como a verdadeira Jhennifer.

Jhennifer se derreteu com aquelas palavras, agora, mais do que nunca, satisfeita pelo resultado de sua transformação. Voltar à cor natural de seus cabelos foi uma escolha não só por sua verdadeira identidade, mas por sentir orgulho de quem realmente era. Seus cabelos castanhos brincavam em cachos sobre seus ombros, realçando o tom verde de seus olhos. 

- Você é muito linda. Vamos sair daqui antes que eu não me controle. Não aguento mais ter de fingir não sentir o que sinto.

Dylan agarrou a mão direita de Jhennifer e a puxou para a porta de entrada, sumindo discretamente entre as outras pessoas.

...

A sala ampla da casa de Katie Monroe havia sido esvaziada. O local onde normalmente teria um conjunto de sofás agora estava vazia, dando espaço para uma grande pista de dança. A música agitada que tocava tornava difícil o diálogo, e tudo o que Daniel Harris fazia era observar a garota que dançava à sua frente. Taira estava realmente bonita naquela noite.

- Pensei que ela não viria! - Taira gritou em meio a música.

- Quem?! - Perguntou Daniel em outro grito.

- A Mary! - Gritou Taira. - Ela está aqui! - Respondeu, apontando para uma direção.

Daniel virou-se para a direção que o braço perfumado de Taira apontava e deparou-se com algo que realmente não imaginava. 

Não parecia a mesma pessoa, definitivamente. Mary descia às escadas, e, se não fosse por sua expressão insegura, Daniel diria que era uma cena de filme. Usava saltos absurdamente altos, que davam às suas pernas - agora à mostra - curvas lindas. Pela primeira vez, Daniel pode ver uma beleza desconhecida em Mary Monroe. Os cabelos normalmente escorridos caíam sobre suas orelhas em pequenos cachos que brilhavam naquele tom preto azulado. Usava um vestido azul que mostrava as curvas de sua cintura e o volume de seus seios. De repente, todas as garotas que intitulara de bonitas naquela festa se tornaram horríveis. Ela estava não só surpreendente, mas linda. 

Muito linda.

Daniel saiu da pista, deixando uma confusa e irritada Taira Smith.

- Mary? - Perguntou, sendo recepcionado pelo olhar triste de Mary Monroe. - Onde você estava, eu passei em sua casa hoje, como pode me deixar esperando?

- Oi, Daniel. - Respondeu Mary, caminhando até o garoto. - Mandei uma mensagem para seu celular. Mas parece que não temos mais um relacionamento falso para sustentar.

Daniel esfregou os olhos com a mão direita.

- Não recebi mensagem nenhuma. Meu celular está sem sinal, me desculpa. Pensei que você tivesse sumido de propósito...

Mary deu um pequeno e falso sorriso.

- Tá tudo bem. Pelo visto, estava se divertindo. - Disse Mary, apontando para a pista de dança com a mão.

 Daniel sentiu uma pontada de arrependimento por ter julgado Mary antecipadamente. E, principalmente, por ter encerrado aquele relacionamento em um súbito momento de raiva.

- Eu disse que tínhamos terminado, achei que não precisasse mais disso. As pessoas estranharam eu ter chegado sem você. - Tentou explicar Daniel, ainda se sentindo um idiota pela besteira que fez. - Desculpa, deveria ter esperado, me desculpa mesmo.

Mary abaixou a cabeça, entrelaçando os dedos de suas mãos.

- Tudo bem. Não dá pra voltar atrás agora.

Daniel fechou os olhos e respirou fundo.

- Você está linda, inclusive.

Mary sorriu, sentindo seu rosto esquentar mais uma vez. Desviou o olhar para outro ponto da sala, até ser surpreendida por uma voz inicialmente estranha.

- Mary Monroe?

Virou-se e encontrou com um rosto imensamente familiar.

- Peter? Peter Johnson? - Perguntou Mary, sentindo sua pulsação aumentar rapidamente. - Nossa... Quanto tempo!

Daniel encarou o garoto alto e de cabelos tão loiros quanto os de Katie Monroe e reconheceu em Mary o mesmo sorriso daquela manhã, e, de repente, sentiu aquela mesma sensação de raiva nascer em seu peito.

- Eu perguntei de você à Katie mais cedo, não acredito que te encontrei depois de tanto tempo.

Mary riu, abaixando a cabeça. 

- Daniel, esse é Peter. Ele é um... - Fez uma pausa, sem saber ao certo como contar sobre um envolvimento infantil há alguns aos. - amigo.

Daniel cumprimentou o rapaz que sorria simpaticamente, correspondendo um sorriso forçado. Porque Mary olhava para ele daquele jeito? Quem é esse cara?

- Daniel, você saiu sem falar nada, vem dançar! - Ouviu a voz de Taira Smith, que lhe puxava pelo braço para a pista de dança.

Mary olhou para a as mãos dadas de Taira e Daniel, ainda sentindo aquela sensação horrível pelo simples fato de ver os dois juntos. Voltou o olhar quebrado para Daniel, e sibilou algumas palavras com os lábios, sem emitir nenhum som.

"Vai lá." Foram as palavras que lera dos lábios de Mary Monroe antes de voltar para a pista e fingir estar interessado no que aquela garota falava. Seus olhos estavam fixos numa única cena: Mary conversando com um tal de Peter Johnson. 

Daniel já sentira raiva antes. Mas, aquela era muito diferente. Porque além de ter raiva de si mesmo, era acompanhado por uma dor horrível no peito.


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Notas finais do capítulo

Vamos lá, comente! Sem um número bom de comentários, o próximo capítulo não vem!!