Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 31
Escolhendo


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi! Bom, mais um capítulo! E estamos cada vez mais perto do final, dá pra acreditar? Eu não consigo acreditar não ): Anyway, leiam escutando http://www.youtube.com/watch?v=tbkOZTSvrHs E eu espero do fundo do meu coraçãozinho aqui que vocês gostem ♥



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Pensei um pouco sobre o assunto. Se eu aceitava? Pesei os prós e contras. Eu teria minha mãe novamente e junto dela o meu pai. Aposto que minha mãe ficaria feliz em me rever e conviver comigo novamente. Meu pai também, depois dessa história que eu soube dele. Eu queria. Sem sombra de dúvidas eu queria. Então por que eu não conseguia pronunciar a palavra “sim” facilmente, assim como eu pronunciei para Peg no seu pedido de casamento? O que me impedia?

Decidi que a história que cada alma contou que me paralisou. Meus pais queriam morrer, estavam cansados dessa vida. Provavelmente adorariam tê-la novamente, mas se cansariam facilmente. Enjoariam. Estavam cansados, na verdade, de fugir. Cada um do seu próprio problema.

Mas não era somente isso. Algo mais cutucava o fundo da minha alma com um espeto fervente.

O que me impedia de dizer o “sim” que seria antes tão certo?

E então eu lembrei-me de Peg. Lembrei-me de quando ela quis ir embora, abandonar o corpo de Mel e evaporar no espaço. Nessa hora, eu lembrei-me dela. Por quê? Simples. Porque eu me encontrava na mesma situação.

Naquela época, defendi Peg com garras e dentes, mas entendia Jared. Sabia que se a situação se invertesse – Peg como humana e Mel como alma –, eu defenderia Peg. Pouco me importaria a vida de Melanie, se Peg estivesse lá dentro.

Será?

Agora, por que não consigo aceitar os meus pais novamente, mesmo que eu tenha querido isso por tantos anos? Proponho uma explicação. Se eu defendi Peg no passado em sua situação de alma, eu teria que defender as almas aqui e agora para ser justo. E é isso que eu estou fazendo. Estou pensando na vida que eles construíram.

Há 15 anos que não tenho minha mãe e há 10 anos que não tenho meu pai. Brigarei para tê-los logo agora? Minhas dúvidas já foram respondidas e eu não tenho mais argumentos nem para enganar a mim mesmo. Essas almas boas construíram uma vida nova, assim como os humanos constroem a vida deles. Eles têm o direito de tê-la.

Além que os humanos – Sandra e Luís – talvez não se agradassem com esse esforço. Tiraremos anos de descanso deles para substituir pela vida incerta, vivendo perigosamente. Eu não era capaz de fazer isso com alguém.

– Não – meu “não” foi forte e definitivo. Nenhum argumento seria o suficiente para detê-lo. Nada o mudaria. Era inexorável.

– Sim – respondeu Kyle, também de forma objetiva. Em seguida, me encarou. – Você enlouqueceu? Por que disse “não”?

– Kyle, pense um pouco – quase implorei. Meu olhar suplicava compreensão. – Nossos pais talvez não se agradassem com isso. E não é nada justo com eles – inclinei minha cabeça para as almas que habitavam os corpos de meus pais, enfatizando que na segunda frase me referia a eles. – Eles merecem uma vida, assim como Peg.

– Mas, Ian...

– Assim como Sunny – eu sabia que estava o calando com essas palavras. Sunny merecia uma vida, não merecia? Com esse argumento, ele teria que aceitar.

Todos permaneceram em silêncio. Olhavam-me com olhares questionadores. Queriam explicações melhores, mais consistentes. Eu as daria.

– Há 15 anos que eu não tenho minha mãe e há 10 anos que não tenho meu pai – comecei, sem encarar ninguém em especial. – Há 10 anos que Luís foi tomado, mas há apenas 2 que Sandra foi tomada. Entretanto, estou sem eles faz anos e mais anos. Eles já tinham morrido para mim. Reencontrar seus corpos agora foi uma surpresa tremenda, logo quando eu os considerava fora do mapa. Eu já aprendi a conviver com a falta. – encarei as almas que estavam na mesa conosco. Eles me olhavam apreensivos. – E vocês merecem uma vida, considerando que já construíram uma. Não temos o direito de arrancar essa vida de vocês logo agora por um capricho.

O silêncio se estabeleceu. Emudeci adotado pela verdade de minhas palavras. Eu estava livre finalmente. Não necessitava mais da vida de meus pais me acompanhando em cada passo meu. Conquistei a minha independência do mundo. Estou pronto para viver.

– Mas, Ian, são os nossos pais – Kyle protestou com a voz fraca, tão diferente do tom habitual usado por ele.

– Não – neguei, sem olhá-lo. – São almas que habitam os corpos de nossos pais.

– E essas almas estão oferecendo o corpo e a mente das pessoas que nos geraram.

– E não é justo aceitar.

– Por quê?

Voltei meu olhar para ele, querendo repassar toda a certeza de meus olhos para sua mente e seu coração.

– Pense em Sunny – ele calou, ficando sem argumentos mais uma vez. – Agora ela tem o direito de ter uma vida, certo? Você não tiraria isso dela. Por que podemos então tirar o direito de vida que eles têm? Ela aceitaria se você pedisse para ela abandonar o corpo, como os dois estão oferecendo. Isso não quer dizer que eles querem. É da natureza das almas pensarem sempre no bem dos outros antes de pensar no próprio bem.

Ele ficou quieto por um bom tempo, antes de demonstrar sua raiva tão comum.

– Por que você sempre tem que voltar para o nome de Sunny?! – ele levantou-se bruscamente, levando a cadeira que estava sentado junto consigo.

Levantei-me também, me igualando de tamanho com ele. Elevei meu tom de voz

– Porque eu sei que você a ama! Mais do que amou Jodi algum dia. Entretanto, você não é capaz de admitir porque ela é uma alma. E sabe por que você não é capaz de admitir também? Porque um dia você me criticou pela minha escolha e teme assumir uma parecida.

O punho dele atacou rápido e eu estava despreparado outra vez. Cambaleei alguns passos para trás, arrastando algumas cadeiras. Não revidaria, mas não calaria a boca.

– Você acabou de assinar embaixo de tudo o que eu disse com esse soco.

Ele avançou para me atacar novamente quando foi surpreendido. Susi saltou na minha frente e gritou a plenos pulmões:

– Chega! – todos recuaram com sua súbita interferência no assunto. – Parem de brigar, poxa vida! Ian acabou de acordar de sua quase-morte e vocês já estão discutindo e brigando? Pra que toda essa cena? Defendam seus argumentos, mas não briguem desse jeito.

– Você bem que é esquentada também, não é? – Kyle a provocou, com as sobrancelhas arqueadas.

Ela não teve nada para dizer.

– Ai, meu Deus! – exclamou Tocada Pelas Nuvens, se deixando cair sobre uma cadeira. Ela também havia se levantado durante todo o confronto. – Vocês, humanos, fazem a minha cabeça dar nós. Eu nunca sei se vocês falam sérios e eu nunca sei também o que querem dizer. Que decisão vocês tomaram sobre a nossa proposta, afinal?

– Eu não a aceito – respondi de prontidão.

– Eu a aceito – disse Kyle, firme em sua decisão também. Encarei-o demoradamente.

– Isso se resume a um empate – concluiu Tocada Pelas Nuvens. – A decisão está em suas mãos, Susan.

Nunca vi tantas pessoas voltarem os olhares para só uma ao mesmo tempo e tão rapidamente. Ela pareceu se encolher, querendo fugir da responsabilidade que havia sido posta em suas mãos. Franziu o cenho e estreitou os olhos azuis, pensando um pouco sobre o assunto.

Pareceu uma eternidade a demora para chegar sua decisão crucial. Kyle não se aguentava de impaciência enquanto ela analisava rosto por rosto minuciosamente. Ela fechou os olhos para proferir sua decisão.

– Ian está certo – ela começou com a voz baixa. Kyle se preparou debilmente. – Vocês merecem essa vida que já tomaram partida de construir. Apesar de eu sentir muita falta de minha mãe, aprendi a viver sem ela. E ela merece descansar depois de tanta luta. Quanto ao pai deles, eu nunca o conheci para querê-lo de volta. Com tudo resumido a isso, minha decisão é que vocês devem permanecer na Terra, assim, da maneira como vocês são.

Ela abriu os olhos. Quando o fez, recebeu um sorriso sincero meu, uma expressão de alívio das almas e uma distorção de lábios de Kyle. Ele não aceitava sua decisão.

– Vocês só podem ter algum sério problema! Por que não aceitam?! É a nossa vida completa voltando para nós! Por que não conseguem aceitar? – ele gritou e saiu da casa, batendo a porta tão forte que eu tive a impressão de o chão tremer.

...

– Voltem para nos visitar – disse Tocada Pelas Nuvens, com lágrimas preenchendo os seus olhos.

Sorri gentilmente para aquela alma boa que havia me ajudado a voltar para a vida.

– Não sei se será possível. Não sei se eu consigo aguentar – apostei na sinceridade. E eu estava sendo de fato sincero. Eu não aguentaria mais uma visita, sabendo agora que nunca mais veria os olhos de meus pais novamente.

– Eu te entendo – ela fungou, com o rosto tristonho. Abracei-a, fechando meus olhos quando o fiz. Eu a estava consolando. Sorri fracamente.

– Eu sei que sim. Vocês, almas, são muito compreensíveis.

– Mas me prometa uma coisa, Ian.

– Qualquer coisa – logo que o disse me arrependi. Qualquer coisa não.

– Seja feliz. Aproveite sua vida ao lado de Peg, de Kyle, de Susan e de todas essas pessoas que você conhece e que são suas amigas verdadeiras.

– Eu prometo só se você me prometer outra coisa.

– O quê?

– Continue sendo quem você é. Exatamente assim.

– Prometo.

Abraçamo-nos de novo, com as promessas e as dívidas feitas. Ela beijou meu rosto e eu tive certeza que estávamos prontos para o que a vida nos oferecesse.

Soltei-a, andando em direção a Luís. Minha próxima despedida.

– Tente perdoar seu pai – disse Luís, que havia adotado o nome do hospedeiro, na despedida.

– Tentarei.

– Ele era uma boa pessoa.

– Agora eu sei.

– Ele te amava.

– No fundo, eu também o fazia.

– E, bom, aproveite sua vida de humano.

– Eu a aproveitarei.

Ele me abraçou desajeitadamente, cumprindo o papel de meu pai que se fora. Em seguida, apertou minha mão. Era a nossa despedida.

– Acredite.

– Acreditar? No quê?

– Na hora certa você descobrirá. Não queira se afobar com relação a isso.

Ele apontou com a cabeça para o furgão que me esperava com toda a minha família adotiva. Respirei fundo e o olhei profundamente, tentando desvendar seus pensamentos. Não obtive nada.

Soltei sua mão e segui meio confuso em direção à minha antiga vida. Caminhei lentamente, passo por passo, cada vez mais próximo do meu destino. Não olhei para trás, não vacilei nenhum passo. Para começar de novo, você não pode olhar para trás. Eu queria erguer minhas mãos para o alto e gritar de felicidade. Anunciar que eu havia conseguido. Contudo, não o faria. Apenas andei com a felicidade percorrendo rapidamente por minhas veias. Mas de uma coisa eu estava convicto. Pela primeira vez em muito tempo, eu me aceitava.

Afinal, eu havia feito a escolha correta. Eu havia escolhido viver.


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Notas finais do capítulo

E entãããão? Particularmente, eu amei. Esperavam essa decisão do Ian? E agora, o que vai acontecer no próximo capítulo? Enfim, enfim. Comentem muuuuito. Sério. Eu quero muito saber sobre a opinião de vocês. Espero que tenham gostado ♥ E, aliás, gostaria que vocês lessem uma one shot que eu criei recentemente *-* http://fanfiction.com.br/historia/464760/Learning_How_To_Live/ Eu amei escrevê-la e ficaria contente caso meus leitores resolvessem lê-la. Ok, então, sem mais delongas, até o próximo capítulo :* :*



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