Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 27
Sofrendo


Notas iniciais do capítulo

Oii! Tudo bem com vocês? Ok, ok, eu sei que eu demorei e me perdoem por isso. É que, apesar de o capítulo não estar muito comprido, eu queria era mesmo caprichar nele e por bastante emoção. Espero que eu tenha conseguido! Enfim, se vocês quiserem escutar esse música enquanto leem ajuda a chorar http://www.youtube.com/watch?v=NvR60Wg9R7Q Até lá embaixo :*



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POV Susan

Entro no quarto de Ian pela milionésima vez – ok, eu sei que estou usando uma hipérbole, mas é apenas uma maneira de me expressar um pouco melhor. Ultimamente estou visitando muito Ian – não consigo ficar longe dele – e cada dia fico um pouco mais para baixo. Ele não reagir faz a tristeza sempre me invadir em um novo grau de dor e culpa.

Caminho através do quarto que está iluminado apenas pelas luzes dos postes do lado de fora que entram pelo vidro da janela e da varanda. Sento-me ao seu lado na cama e pego uma de suas mãos, apertando-a firmemente e beijando-a. Com a outra mão, faço carinho em seu rosto que permanece sem expressão. Sorrio fracamente ao constatar mais uma vez sua beleza e de sentir em meu pulso sua respiração calma e compassada. Mas o sorriso logo vai embora, substituído pelas antigas lágrimas que pinicam meus olhos e escorrem pelo meu rosto, queimando-o.

Há uma semana. Ian está apagado há exatamente uma semana. Nenhuma reação vem dele. Nada para nos mostrar que ele sobreviverá mais uma vez.

Queria tanto que ele apertasse minha mão e me confirmasse que viveria mais alguns anos. Queria a certeza de que aproveitaríamos mais nossa vida como irmãos. Sabia que se ele acordasse, nós ficaríamos juntos e viveríamos tudo o que perdemos nesses últimos anos.

Sentia que eu estava perdoada e que era amada. Caso contrário, ele não teria morrido por mim. Não, ele ainda não morreu. Ele ainda respira, certo? Enquanto houver respiração, haverá vida.

– Eu não gosto muito desse silêncio – sussurro com a voz rouca e falha, mas não faço nenhum esforço para fazê-la voltar ao normal. – Tenho a impressão que você está muito ausente.

Mais lágrimas escorrem pelo meu rosto. Afago sua mão carinhosamente.

– Eles dizem que devemos desistir de você – fungo. – Eu não concordo. Mas, Ian... É bobagem acreditar que você sobreviverá? É tolice acreditar que você irá piscar desorientado e quererá me bater? Eu aceitaria tapas. Eu aceitaria tudo, se significasse te ter novamente.

Mais uma pausa. Espero pela resposta que não vem e isso tudo me deixa mais melancólica ainda.

– Você consegue me ouvir? – pergunto, ainda com a voz sussurrada. – Porque eu tenho a impressão de que você ouve tudo. Tenho a impressão de que você consegue captar as minhas expressões pela minha voz ou pelas minhas palavras. Você sempre o fez, não é? Conseguia captar a essência. Enxergava tudo, percebia tudo. Era incrível.

Relembrar de como Ian era - não do fato de ele não ser mais – fez um sorriso sincero brotar em meu rosto. Era um sorriso pequeno, fraco e cheio de melancolia. Mas era sincero.

Soltei sua mão e me deitei ao seu lado, arrumando seu braço de modo que eu pudesse me aconchegar na curva de seus ombros. Encolhi-me nele como um gatinho que procura abrigo e comecei uma sequência de desenhos aleatórios em seu peito.

– Você sabe o que está acontecendo, Ian? – questiono, com a esperança de receber uma resposta. – Nós o resgatamos. Na verdade, fomos resgatados. Acho que você já sabe disso, mas quero te explicar melhor. Explicar o meu lado disso tudo. Algumas almas boas apareceram. Almas como a Peg. Eles convenceram os Buscadores a nos deixarem. Bom, não foi exatamente isso. Eles chamaram outros Buscadores – Buscadores legais mesmo -, que prenderam os ruins. Exatamente isso. Almas prendendo almas. Estranho, não? Descobriram que eles estavam “possuídos” por uma força maior (no caso, essa força maior seria o instinto de vingança), e os mandaram para outros planetas extremamente distantes. Quando chegarem lá, nós já estaremos mortos... - outra pausa. Talvez Ian morra muito antes disso tudo. Não consigo controlar minhas lágrimas novamente. – Enfim, nós fomos cuidar de você depois disso. Mas demoramos tempo demais para tirar a bala de sua barriga e é por isso que você não responde. É por isso que há uma semana que você não consegue acordar.

Não consigo falar muito. Tenho que fazer pausas longas para me recuperar e conseguir o inteirar de toda a história. Concentro-me, pensando em alguma outra parte.

– Nessa semana, aconteceram muitas coisas. Acredita que os outros voltaram para a caverna de madrugada somente para buscar Kyle escondido e trazê-lo para cá? Tem um motivo para isso além de você. Pois é. Não achei agradável, mas a minha opinião não se fez muito ouvir.

Uma interrupção.

– Sabe, Ian, nós estamos livres. Esses outros Buscadores nos entenderam, eles gostaram de nós. Peg conversou com eles e explicou como nós éramos. Eles nos perdoaram por machucar alguns deles. Eles o perdoaram por ter matado aquele homem para proteger Peg, Ian. Eles nos deixaram viver livres. Sem interrupção, sem nada. Você tem que sobreviver para sentir isso. Tem que sobreviver para sentir essa nossa nova liberdade.

Minha voz se esvaiu pouco a pouco. Não porque eu chorava demais, nem porque eu queria chorar. Ela se esvaiu pelo simples fato de eu me ver sem ter o que falar. O que poderia dizer mais? Quem havia nos resgatado? Mas isso era surpresa para quando ele acordasse. E quando ele acordaria?

– Ian, por que eu ainda acredito? – era uma pergunta retórica. – Por que eu não aceito, não desisto, como todos os outros fizeram? Por que eu não consigo deixar você um segundo sozinho? Por que eu ainda tenho tanta esperança? Você não irá me decepcionar, não é? Prometa que não. Prometa que você irá provar a todos eles que você será o maior sobrevivente da história. Prometa que você será maior sobrevivente que Peg e Mel. Prometa-me, Ian, prometa.

Deixei meus olhos se perderem. Deixei que por um segundo tudo se neutralizasse. Meus sentimentos, minhas emoções e os meus pensamentos. Não queria pensar com clareza, pois a clareza me assustava. Peguei a outra mão de Ian, que jazia largada ao lado de seu corpo, e a segurei com firmeza. Ela ainda era a minha âncora. Não, melhor dizendo, ela era minha algema. Eu não escaparia enquanto segurasse dessa mão. Eu não me entregaria enquanto essa mão estivesse segura nas minhas.

– Não sei se você consegue perceber, mas estou deitada em seu peito – tornei a falar, conversando com um Ian sem emoção e sem vida. - Tem um colchão aqui ao lado para eu me deitar, mas nenhuma das vezes que eu dormi com você eu o usei. Eu não consigo me afastar. Quero saber exatamente o momento em que você acordará. Não sei se você tem percepção do tato, tenho apenas conhecimento de seus olhos fechados e de sua boca calada. Mas sempre me disseram: “o essencial é invisível aos olhos”. Também dizem que o silêncio pode ser a maior resposta que podemos ter. Contudo, acredito que você ouça. Eu te escuto, apesar de você não falar nada. Eu sei o que o teu silêncio significa. Significa a aceitação, eu sei. Significa que você está aprendendo a aceitar sua condição de não-culpado. E eu sei que você enxerga com as palavras, com as essências. Você sabe o gosto de cada pessoa. Você consegue sentir.

Fechei meus olhos, talvez pronta para dormir.

– Eu sei que você me perdoa. Eu sei que você me ama. Eu sei, Ian, eu sei por que você quis morrer no meu lugar. E eu quero que saiba que eu também te amo. Amo-te tanto que me prendo nesse fio de esperança que é a sua respiração calma e regular. Eu a sinto em meu rosto agora, e me mantenho firme por causa disso. Combinei com os outros que enquanto você respirasse, nós teríamos que ficar com você. Eles aceitaram. Então, me prometa, Ian, que você nunca irá parar de respirar, tudo bem? Prometa-me.

Eu sabia que ele prometia. Eu sabia que minha esperança não era vã.

E com o meu senso de atenção ligado, eu afundei no esquecimento da noite mais uma vez abraçada a Ian, sentindo meus cabelos serem balançados suavemente de tempos em tempos.

Só acordei algumas horas – talvez minutos – depois, com a surpresa da redenção.

Sua respiração havia parado.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Bom, eu espero do fundo do meu coraçãozinho que vocês tenham amado! E, mesmo que bem atrasado, feliz natal e um ótimo ano novo, que tudo o que vocês sonham se realize e que tudo do bom e do melhor aconteça com vocês. Se quiserem ler o texto que eu escrevi sobre 2013 no meu blog tá aqui: http://disparoparaocoracao.blogspot.com.br/2013/12/2013.html e se vocês estão se perguntando, sim, eu tenho outro blog, embora não goste muito dos textos dele. Sinto que eu me estendi muito por aqui, mas acho que já acabei. Até o próximo capítulo :**