O Homem Que Consertava escrita por Miya


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Um conto bem pequeno que escrevi outro dia e decidi postar.
Qualquer crítica é bem vinda.
Boa leitura.



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Dizem que o mundo é como uma grande máquina, onde cada pessoa atua de algum modo para fazer tudo funcionar corretamente. Não existem peças excedentes e nada pode estar quebrado. Também podemos comparar o mundo como um grande corpo. Se alguma parte adoece, existem anticorpos que tentam conserta-la.

É isso o que ele considerava ser sua tarefa no mundo: consertar as pessoas quebradas. 

Ele conhecia alguém. Passava confiança para essa pessoa. A pessoa contava o quão quebrada ela estava e porque. Ele tentava ajudar, acalmar, mudar o ponto de vista, reconfortar. Apaixonavam-se. A pessoa dizia “Você mudou minha vida para melhor. Obrigada por estar sempre comigo e ser tão bom para mim. Eu te amo”. Tudo parecia ir bem. Então a pessoa estava consertada. Estava sempre bem e sorrindo e ele pensava “Espero que agora possamos passar belos dias juntos e viver uma vida perfeita”.

Mas a pessoa estava consertada. Não precisava mais dele. Afinal, ninguém mantém o carpinteiro em casa, depois que a mesa da sala está consertada. Ninguém deixa o carro no mecânico, depois que o mesmo já está pronto para o uso. Ninguém se mantém ao lado de um homem que o consertou.

Como se as pessoas gostassem de serem feridas, cada um de seus trabalhos terminou do mesmo jeito.

“Eu conheci outra pessoa. Começou com algo inocente, mas agora vejo  o que eu sinto de verdade. Você é um bom homem, mas não posso continuar com você. Não consigui retribuir o amor que você me deu. Me desculpe. Seja feliz, você merece”.

E ele voltava a ficar sozinho. Era como se as pessoas o empurrassem do segundo andar de suas casas: machucava e ele eventualmente se quebrava também.

Mas ele era o Homem que Consertava. Se ele conseguia ajeitar as pessoas, uma queda tão boba quanto aquelas seriam facilmente resolvidas também. E sempre funcionava e sempre se repetia.

Era um ciclo sem fim.

E com o passar do tempo, o sorriso do homem se entortou. O coração já estava tão remendado que não era nem possível reconhecê-lo. Sua pele havia perdido a cor e seu cabelo desbotara. Os olhos observavam o nada. E a alma se fora.

A cada nova tarefa, deixava uma parte de sua alma nas pessoas, para que elas não se quebrassem novamente. Suas palavras continuavam sempre na mente delas, embora talvez elas nem mesmo percebessem isso. Ele as deixava mais fortes para encarar suas vidas e não se deixarem cair a cada obstáculo. Ele entregava a elas essa força. Entregava a própria força, até se esgotar. Entregava palavras reconfortantes até que não sobrasse nenhuma para uso pessoal. Não sobrara nem vontade para remendar mais uma vez o coração que sempre sofria a dor da perda de alguém precioso. Esquecera-se que ele não era apenas um Homem que Consertava. Era um Homem que Amava.

E de tanto concertar pessoas, quebrou-se. 


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