– Dios mio! Me voy a murir! – Santana se jogava no sofá do apartamento. Tinham chegado do mercado e o que pareceu na ida ser bem perto, na volta, carregando várias sacolas, foi bem mais difícil.

– Meus dedos estão quase cortados com essas sacolinhas! Você quis trazer o mercado inteiro! – Jessie falava pra provocar, porque foi ela quem quis comprar a maioria das coisas.

– Nem vou te responder... eu fiz só o que a minha tia mandou! – Santana se fez de inocente – E ainda pedi certinho as coisas pro moço lá dos Frios!

– Ahhh claro! Depois de repetir 4 vezes a mesma coisa, o coitado conseguiu te entender! – a ruiva caía na risada – Mas eu achei uma fofura você falando português. Queria te agarrar ali mesmo!

– Ele que tá com o ouvido sujo! Meu português foi lindo! Eu compreendo o tesão repentino que te deu – ela falava pra fazer graça e Jessie rir mais, sabia que tinha sido péssima nas tentativas.

– Bom, o importante é que chegamos! E teremos um almoço bem suculento, preparado por Santana Lopez! – ela falou animada, como se apresentasse um talk show e chamasse a próxima atração.

– O QUÊEE? Nem pensar amor... Tô acabada! – ela tentava escapar, mas a ruiva estava irredutível.

– Não adianta, vai descansar... tem tempo ainda! Hoje o almoço é por sua conta! – a latina fez menção de reclamar – Ahhhh olha lá! Lembra da massagem maravilhosa que você vai ganhar hoje a noite!

– E você acha que eu esqueci? Minha bunda e minhas costas estavam doendo, agora depois de todas essas sacolas, está impossível! – ela fazia drama, colocando a mão nas costas.

– Olha eu morrendo de dó de você! – ela foi se levantando sem dar muita bola – Mas vou tomar um banho que o calor tá forte lá fora! Suei pra caramba! Vai escolhendo um filme pra gente ver aí!

– Ahh também quero tomar banho! – fez manha - Com você !

– Senhora grude grude...eu sei muito bem como terminam nossos banhos juntas! – Jessie procurava a toalha – E como você está toda dolorida e cansada... acho melhor não se esforçar muito! – soprou um beijo e saiu saltitando, rindo da namorada.

– Filha da mãe... usando minhas palavras contra mim... – Santana cruzava os braços e resmungava sozinha, enquanto ligava a TV pra procurar um filme, como Jessie tinha sugerido.

A ruiva saiu do banho, colocou um vestido de tecido leve, um rosa salmão com estampas de pequenas flores. Prendeu o cabelo num coque alto para espantar o calor e foi para a sala. Santana estava jogada no sofá, com um ar de tédio, mudando de canal sem parar.

– Amor, que isso? Não achou nada? Vai acabar com a pilha do controle! – Jessie pegou o controle da mão da namorada – Vamos ver desenho!? – ela sentou ao lado da morena no sofá.

– Não achei nada interessante na TV. O interessante estava lá no banheiro, tomando banho... – olhou pra ruiva – Você está tão linda nesse vestido... dá até vontade de tirá-lo! – ela mordeu o lábio inferior querendo seduzir.

– Obrigada, San! É lindo e por enquanto vai ficar aqui no meu corpinho! O banheiro está livre, pode ir lá se refrescar! – ela deu um beijo na namorada, próximo a boca – E não esquece, o almoço é seu hoje! Pensou em algo? Quer que eu vá adiantando?

– Não... – ela foi se levantando do sofá – Pode ficar vendo TV. Não pensei em nada, quem sabe durante o banho não tenho uma ideia criativa?

– Macarrão com molho de tomate e almôndegas? – Jessie olhava para a namorada com ar de riso – Realmente, você inovou na criatividade.

Desde que Santana havia saído do banho, ela não permitiu que a ruiva fosse para a cozinha. Disse que o cardápio seria uma surpresa. Jessie não reclamou, chegou até a tirar uma soneca no sofá. Ficava toda feliz de ver a namorada tentando agradá-la. Quando o almoço ficou pronto, a latina anunciou toda animada a refeição.

– Era a única coisa que eu tinha certeza que eu ia fazer corretamente. – ela deu de ombros - Receita da minha vó esse molho! Somos latinos, mas adoramos uma comida italiana! – Ela pegava o prato da ruiva para servi-la.

– Eu adorei! Foi feito com carinho, pelo meu amor! – ela dava um sorriso bobo observando a latina compenetrada, colocando comida no prato agora pra si mesma.

– Foi, com muito carinho e esforço! E olha, até adiantei a lavagem da louça! – ela mostrou na pia uma quantidade de panelas já lavadas – E também guardei as compras! – falou como se quisesse receber uma medalha de bom comportamento.

– Meu amor é tão eficiente! – a ruiva falava toda orgulhosa com os olhinhos brilhando - Huuum, isso está muito saboroso! – ela falou animada com a boca cheia ao experimentar o macarrão. – A almôndega também! Que tempero é esse, meu bem?

– Você tá falando sério? – ela perguntou um pouco insegura.

– Absolutamente! Está ótimo! Come logo e para de enrolar! – olhou para a namorada, com o cabelo preso num rabo de cavalo, ainda com o avental preso na cintura e um ar satisfeito enquanto provava sua própria comida.

– Huuum... Modéstia a parte está bom mesmo!

Ficaram por um tempo em silêncio, apenas apreciando a refeição e a música que vinha da televisão servia de trilha sonora.

– Você consegue adivinhar a ideia que acaba de passar pela minha cabeça?

– Não...tenho até medo! – Santana mostrou a língua pra ela.

– Vamos brincar de a Dama e o Vagabundo! – ela falou animada.

– Mexer na almôndega com o nariz? – a latina perguntou com ar de riso.

– Nãooo – Jessie revirou os olhos – A cena do macarrão, pelo amor de Deus! Mas se quiser, pode fazer a do almôndega também... – ela deu uma piscadela.

– Sério mesmo? Vou ter que procurar um macarrão grande aqui no meio? – a morena olhava para o prato e para a ruiva que confirmava com a cabeça.

– Acheeei! – a ruiva falou animada – Olha, essa ponta é minha! Pega a sua! – ela segurava o macarrão. Santana revirou os olhos, mas tava achando graça da empolgação dela. Segurou o macarrão com a boca.

Morderam o macarrão até que os lábios se juntaram num selinho. Abriram os olhos e no mesmo instante caíram na risada.

– Era meu sonho, poxa! – a ruiva falou humildemente, dando de ombros.

– Você não existe, minha ruivinha! – Santana balançava a cabeça, encantada com aquela garota. A cada momento, se sentia mais sortuda por tê-la iluminando sua vida.

– Agora, deixa eu pegar mais uma rodada que está muito bom! – ela falou, já se servindo.

A tarde passou vagarosa. Arrumaram a bagunça da casa e logo estavam descansando no sofá. Jessie sentada e Santana deitada sobre suas pernas. A ruiva fazia carinho no cabelo da latina, que estava quase pegando no sono com o cafuné.

– Jess... – a morena resolveu falar o que vinha rondando sua cabeça – Esses dias aqui com você estão sendo um sonho e eu não quero estragar tudo... – ela saiu do colo da ruiva e ficou ao seu lado, olhando em seus olhos – Mas eu preciso voltar pra New York! E eu desejo do fundo do meu coração, que você volte comigo! Nós nos fortalecemos juntas!

– San, eu já disse que é complicado pensar nisso repentinamente... – a ruiva tentava sair pela tangente.

– Repentinamente? – a latina falou espantada – Você está tendo tempo suficiente pra pensar nisso! E claro, não estou falando pra arrumarmos as malas hoje e irmos embora. Mas precisamos estabelecer uma meta! Não podemos ficar vivendo um conto de fadas para sempre!

– Você sabe o que quer quando chegar lá... e eu? Eu não sei! Eu me apavoro ao pensar nisso! – a ruiva tentava dar uma explicação.

– O primeiro passo é estar lá! – a morena tentava incentivar – Andei pensando... que tal você ir pra alguma universidade lá? Existem vários programas de bolsa! Se você gosta de ensinar, poderíamos investir em algo assim! Você continuaria fazendo o que descobriu gostar! Você daria uma ótima professora primária! Várias criancinhas chamando: “Tia Jessy, tia Jessy!” – ela fez uma voz fininha.

– Será que eu consigo? – apesar de relutante, a ruiva acabou se animando com a sugestão –Vou ter que me dedicar e estudar bastante pra universidade... e depois conseguir um emprego em alguma escola... sendo brasileira – ela falava pensativa, já sofrendo por antecipação.

– Meu Deus, amor! Você tem que deixar acontecer! – Santana segurou as mãos da namorada – Olha, não há razão para ter medo! Eu te dei um objetivo para voltar pra lá! – ela sorriu – E depois, quando eu já tiver virado uma cantora famosa, e você uma professora de sucesso, nós podemos abrir um orfanato, uma instituição de caridade... O que você quiser! O que não podemos é ficar aqui, nesse sofá, esperando a morte chegar!

– Ai San... você falando assim parece que vai ser tão fácil! Você é tão seduzente... – ela falou com um rostinho contente.

– Não será fácil, mas estaremos juntas pro que der e vier! – Santana lhe deu um beijo rápido nos lábios – Agora vamos lá, estabelecendo metas! – ela tomou fôlego – Você irá acertar as coisas no orfanato, despedir-se das crianças, deixar tudo em ordem. Vai ser dolorido deixá-las, mas em breve podemos voltar – Jessie escutava a namorada falando, de modo pensativo.

– Falando assim parece fácil, mas já me vejo sofrendo horrores deixando aquelas crianças... Eles foram minha distração, meu bote salva-vidas durante esses meses... – ela suspirou pesadamente, como que finalmente tomando uma decisão – Ok. Vou ligar pra minha mãe e avisar que preciso conversar. Ainda nessa semana resolvemos isso!

Santana abriu um sorriso e bateu palmas de excitação, viu que tinha conseguido convencer a ruiva teimosa. Pelo menos uma parte da missão “volta a New York” já estava cumprida.

As horas pareciam passar mais rápido. A ruiva havia ligado para sua mãe e ela já tinha adiantado um pouco da conversa. Bellatrix sabia que mais cedo ou mais tarde Santana conseguiria convencer a filha a voltar. Apesar de estar feliz por ela conseguir encarar os acontecimentos passados, uma vozinha insistente na sua cabeça a alarmava que talvez New York não seria um bom lugar para sua menina estar.

Foram dormir cedo, não sem antes Santana fazer drama para receber sua massagem prometida.

– Ok... eu faço! Você merece! – Jessie falou fingindo relutância.

– Devo ficar pelada? – ela deu um olhar muito sugestivo para a ruiva que sentiu-se arrepiar. Como aquela morena conseguia ter tanto poder de sedução sobre ela?

– Pode ficar só de calcinha por enquanto! – ela se fez de forte. – San, você está com dores! Vamos ser profissionais! – ela falava meio rindo enquanto procurava uma música de relaxamento no celular e observava que a namorada ia se despindo e fazia uma pausa dramática ao desabotoar o sutiã. Agora ela e seus dois seios encaravam Jessie, aguardando novas intruções. – Ok, agora pode deitar de bruços!

– Ahhhh – ela fazia graça enquanto deitava.

– Uma calcinha que cobria as partes intimas não tinha não né? – a ruiva zombava do fio dental de renda quase transparente que a latina usava.

– Essas eu deixo para quando estou naqueles dias... e olhe lá! Parece que não me conhece menina! Tá difícil encarar minha bunda é? – olhou de soslaio e riu da cara da namorada que olhava meio hipnotizada pra seu corpo.

Jessie conseguiu focar na massagem. Sentou sobre as pernas da morena e com movimentos leves deslizava as mãos por suas costas, distribuindo o óleo de massagem.

– Huuum, isso é gelado... – Santana falou gostando da sensação.

– Achei na sua mala! Não se faça de desentendida! - ela se aproximou do ouvido dela e sussurrou - Daqui a pouco começa a esquentar – a ruiva começou a pesar a mão e apertar os pontos tensos nos ombros da morena.

– Huum tá bem dolorido... Jess alivia aí por favAHHHHHHHHHHHH – se o gemido fora exagerado ela não sabia mas a morena ficou quieta depois dessa, parecia que estava finalmente entregue aos movimentos. Ambas em silêncio, só se ouvia a música relaxante ao fundo.

Jessie desceu mais as mãos, percorria toda a coluna massageando com carinho, chegou nos quadris e no bumbum. Santana tinha desistido da safadeza, sequer fez comentários insinuantes, apenas gemia baixinho. Estava realmente doendo devido a queda da cama mais cedo.

Demorou-se na massagem, percorria com as mãos aquela pele morena, agora com um certo brilho do óleo de massagem, um cheiro doce na ar. Pareciam estar conectadas naquele momento com alguma coisa que a ruiva não sabia explicar, apenas deixava-se levar pela música. Começou a dar leves beijos pelas costas da namorada e percebeu que ela tinha adormecido.

Jessie deitou-se ao lado dela e continuou acariciando suas costas enquanto observava sua expressão calma enquanto respirava e inspirava de forma leve. Ela parecia estar num sono profundo e a ruiva observava encantada. Deu um beijo leve em sua testa e dominada pelo cansaço logo adormeceu também, com um sorriso tranquilo nos lábios. A música continuava a tocar.

Os próximos dias prometiam fortes emoções.