Girls On Fire escrita por JessieVic
Notas iniciais do capítulo
Opa, mais um cap, saindo quentinho do forno! Estou pegando o ritmo aos poucos!
– Good morning, class!
– Booom dia professoraaa! – Vinte rostinhos animados olhavam para a ruiva, que fazia careta diante da resposta em português pra sua saudação. Eram crianças entre 4 e 7 anos que estavam nessa turma. Jessie tentara separar por faixa etária para poder ensinar com diferentes didáticas e aquela era sua seleção preferida, os menores pareciam ser mais carinhosos e animados em aprender uma língua nova, não paravam para pensar que a perspectiva de a usarem era algo distante, como alguns mais velhos pensavam desanimados, mas viam Jessie como uma esperança. Ela era como nós, ela saiu daqui e se deu bem.
– O quê?! Bom dia? Essa aula é de inglês ou português? Vai, mais uma chance pra vocês! – ela respirou fundo e falou novamente – Good morning, class!
– Good morning teacher! – várias vozes gritaram juntas, mas em tempos diferentes, soando muito engraçado e a ruiva ficou satisfeita.
– Eu trouxe uma amiga pra vocês! E ela só fala inglês! Então, se vocês quiserem conversar com ela, vamos ter que treinar! – apontou pra Santana que até aquela hora estava apenas parada na porta, observando o quanto Jessie parecia feliz ali. – Vem, San! – ela puxou com delicadeza a namorada que estava empacada na porta e indicou que ela se sentasse numa cadeira.
As crianças pareciam intrigadas com ela. Não por ser de outro país, apenas por ser diferente. Curiosidade natural.
– Eu já sou amiga dela! – a voz de Ana apareceu no meio dos rostinhos atentos.
– Fica quieta, você sempre quer ser amiga de quem chega... quer aparecer! – uma menina um pouco maior que ela falou em tom de desaprovação – Foi a irmã Esperança que disse... – ela deu de ombros e Aninha ficou boquiaberta, se fazendo de ofendida.
– A Ana já é amiga dela porque foi conversar com a gente, vocês também podem ser! – a ruiva tentava apaziguar – Não é Santana?
– Oi? Desculpa... Eu não entendi... – a latina se espantou ao ouvir seu nome.
– Viu gente? Ela não entende! Tem que falar em inglês! – Jessie falava com as crianças e elas concordavam com a cabeça, com um ar sério – Então tá, quem vai ser o primeiro a perguntar? Quem tiver alguma pergunta, pode escrever num papelzinho que eu ajudo a traduzir.
Um menino com ar tímido levantou a mão e Jessie foi até ele.
– Isso aí Kevin! Coragem! Pode perguntar! – ele puxou a ruiva e cochichou o que desejava falar, ela ajudou e logo em seguida ele perguntou todo tímido.
– Santana, what is your favorite food? – ele perguntou olhando pro chão, ao invés de olhar a latina.
– I like Pizza! And you? – ela olhou pra ele com um sorriso e logo ele olhou para Jessie, pedindo ajuda.
– Ela disse que gosta de pizza! Não finge não, você entendeu! Agora ela quer saber qual é a sua comida preferida.
– I like Lazanha! – ele falou todo contente em acertar. E logo as outras crianças começaram a falar ao mesmo tempo, todos queriam falar de seus alimentos preferidos.
Todos foram se encorajando a perguntar... a idade dela, de onde ela era, o nome completo, a cor preferida. Depois que ela respondia, a ruiva os incentivava a também responderem e falar sobre seus gostos. Santana se divertia com a espontaneidade deles e ficava de coração tranquilo vendo Jessie tão feliz. A ultima pergunta fechou a aula com chave de ouro, um dos meninos todo envergonhado perguntou se ela tinha um namorado.
– A Jessica é namorada dela! – Ana, a menor da turma deixou as duas boquiabertas com a resposta, dita com naturalidade. Não tinham pronunciado a palavra namoradas perto dela, mas a esperteza das crianças e a capacidade de captar as coisas no ar é imensa.
– Elas são meninas, tem que namorar um menino! – o garoto que tinha perguntado mostrou a língua pra Aninha, que já queria retrucar. Era pequena, mas gostava de um barraco. Santana suspirou enquanto pensava consigo mesma: “essa menina é minha filha e eu não sabia!”.
– Calma aí, deixa a Santana responder! – e a ruiva olhou pra latina, jogando a “batata” pra ela, fazendo um olhar sugestivo, como que pedindo ajuda.
– Bom... hum... – ela olhava com receio pra ruiva, não sabia se devia falar a verdade para crianças tão pequenas, mas não demorou pra concluir que a idade era perfeita, já que é de pequeno que se destrói preconceitos – Minha namorada é a Jessie... a Ana está certa.
Foi a vez de Aninha mostrar a língua pro garoto e sorrir toda contente. Algumas crianças nem se importaram mas Lucas, o menino que havia feito a pergunta voltou a insistir, olhando para a ruiva.
– Mas não pode! Tem que ser com um menino!
– Tem que ser com quem a gente gosta! Eu não gosto de nenhum menino, gosto da Santana. Então ela é minha namorada! Vocês podem gostar de quem quiser, não importa se é menino ou menina, importa se ele te deixa feliz, cuida de você, te faz rir... – Jessie tentava explicar pacientemente, mas tinha medo de estar falando demais e as freiras ficarem zangadas.
– Isso é coisa de gay... eu gosto de mulher! – ele falou estufando o peito, se sentindo o macho alfa, com 7 anos de idade.
– Vocês agora não tem que pensar nisso... vocês tem que brincar, estudar... mas um dia vão gostar muito de alguém e se a pessoa também gostar de você vão namorar! Cada um vai escolher de quem gosta e ninguém tem que se intrometer se vai ser menino ou menina! – A ruiva olhava para todos que a observavam espantados porque ela tinha elevado um pouco a voz. Aninha ouvia atenta e concordava com tudo, mesmo não entendendo bem o que ela estava falando sobre o futuro. – Lucas, entendido? Ser gay não tem problema algum e não podemos tratar ninguém de forma diferente por isso.
O menino concordou, meio contrariado, resmungando um pouco. Jessie lamentou não poder fazer mais. Eles eram criados por freiras e ela sabia muito bem o que elas ensinavam durante as aulas de catecismo, não podia ir contra elas. Um braço se elevou no meio do zumzumzum e elas ouviram a pergunta:
– Vocês se beijam?
Começaram a dar risadinhas, Santana não entendendo muito bem do sermão e nem da ultima pergunta e Jessie já achando que aquela bagunça tinha ido longe demais deu um grito.
– Sim, se somos namoradas a gente beija! E pronto, acabaram as perguntas! – ela olhou brava para as crianças que imediatamente pararam com a zuera e o silêncio pairou na sala. Eles gostavam bastante de Jessie e preferiam não vê-la brava. A garota respirou fundo vendo que sua loucura tinha surtido efeito e falou com mais calma – Ok. Vocês foram excelentes na aula! Adorei ver as perguntas que vocês fizeram e fico muito feliz ao ver que vocês estão aprendendo. Agora, com calma, vamos nos despedir da San, e vamos sair que já é hora do lanche!
Ela nem terminou de falar e eles já se levantaram e ao contrário do que faziam geralmente, realmente andaram de vagar e todos davam um tchauzinho pra Santana, alguns soltavam um tímido “Bye”, outros não tinham vergonha e davam abraços. Aninha, folgada como era, tinha parado do lado das meninas, esperando todos saírem, se sentindo da turma delas.
Jessie ficou observando a menina alguns instantes e depois com uma cara de riso perguntou:
– E a senhorita, não vai comer?
– Estou esperando vocês! – ela disse com um sorriso malandro, toda dengosa.
– A gente vai ficar aqui pra conversar, já tomamos nosso lanche... Pode ir na frente, antes que a irmã Clotilde venha atrás de você! – Jessica tentou parecer séria.
– Vocês vão se beijar? – falou toda sorridente e curiosa.
– Estamos no meu local de trabalho...a gente não pode ficar se beijando assim, em qualquer lugar! É falta de respeito! E se alguma das irmãs nos pega beijando? Vai dar uma bronca daquelas!
– Ahh elas nem vão ver... se eu tivesse uma namorada ou namorado ia querer ficar beijando o tempo todo! – falava maravilhada, olhando de uma pra outra com os olhinhos brilhando.
– Tá bom, tá bom... vai saindo antes que eu chame a irmã Esperança pra dar um jeito aqui... – ela foi levando a menina até a porta segurando na sua mão. Mas a menina parou e voltou correndo em direção a Santana.
– Tchau! – Ela abraçou a morena apertado e aí saiu saltitante, dando adeuzinho pra Jessie que a observava estupefata.
As duas ficaram em silêncio se olhando, pensativas, quando a latina resolveu falar.
– Uow... essa menina é meu clone! – balançava a cabeça com um sorriso, enquanto Jessie caminhava até ela e sentava numa outra cadeira ao seu lado.
– Eu percebi isso desde que a vi pela primeira vez... É tão esperta! Você viu que cara de pau, querendo saber se a gente ia beijar? – a ruiva ria, lembrando da carinha da menina.
– Eu não acho que a ideia dela tenha sido tão absurda assim... e ela tem razão, quando diz que gostaria de beijar a pessoa o tempo todo... – a morena deu um olhar sugestivo enquanto fazia carinho na mão da namorada – Também sinto isso! – Deu um beijo no ombro dela e pousou o queixo lá, olhando-a com olhinhos pidonhos.
Jessie não resistiu e colou seus lábios ao dela bem rápido, com medo que alguém visse, mas sua vontade era ficar lá por um bom tempo.
– Dá medo pensar em como ela vai ficar quando você voltar pra New York... ela te adora! – Santana falou e sentiu o corpo da ruiva ficar tenso.
– Também tenho medo de pensar... e medo de voltar... – ela encarou a morena com aqueles olhos verdes tão iluminados, porém tristes – Vai ser difícil ir e deixar isso tudo aqui...
– Eu sei... é difícil... mas estamos juntas nessa! Eu vou te ajudar! Vamos descobrir juntas como sair dessa... Eu prometo! – encarou-a séria e lhe deu um beijo na testa.
Ouviram uma tosse, aquelas que servem para chamar a atenção, olharam e Bellatrix estava parada na porta.
– Bom dia meninas! Tudo bem? – ela caminhou até a filha para dar um abraço e um beijo em Santana – Vocês estão com uma cara ótima! Nem parecem as duas meninas aflitas que eu tinha visto ontem! – ela suspirou como se lamentasse – Não adianta, deixar vocês longe uma da outra foi um erro... eu admito minha parte nisso!
– Mãe...você só fez o que achou melhor – Jessie falava tentando consolar a mãe, mas sabia no fundo o quanto tinha sofrido longe da namorada – Nós amadurecemos com essa experiência infeliz e vindo para o Brasil, dos males o menor, eu conheci essas crianças e arrumei alguma coisa para me ocupar! – ela deu de ombros não querendo pensar nos últimos dias.
– Pelo visto a aula de hoje foi muito interessante, as crianças adoraram conhecer uma pessoa que fala inglês! Estavam agitadas lá no refeitório. – ela falou olhando pra Santana que sorriu tímida. Era melhor Bellatrix nem desconfiar do rumo que as perguntas levaram e nem do discurso LGBT que a filha tinha acabado de dar para os pequenos - A outra turma está vindo aí, vim antes para avisar! Agora preciso ir, o andar de cima me espera pra uma faxina caprichada! Boa aula meninas! – deu mais um beijo nelas e foi saindo.
As meninas ouviram uma barulheira ao longe, a turma dos 8 aos 11 anos estava chegando. Jessie deu um sorriso para a morena, que respondeu soprando com um beijo enquanto voltava a se sentar na cadeira, pronta para se sentir importante e responder muitas perguntas.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Essas crianças...fazem cada pergunta! Pestinhas curiosos!