– Você quer acabar comigo mesmo né? – Santana falava no ouvido da ruiva. Assim que teve a oportunidade de se aproximar dela. Os clientes já tinham se acalmado e eram poucos os que permaneciam no balcão. Audrey e Abby os serviam.

– Gostou é? – a ruiva encarou a latina – Pra mim só tinha você na plateia!

– Daqui a pouco te mostro o quanto eu gostei... – ela deslizou a mão na cintura da namorada por baixo da blusa com um olhar cheio de promessas.

Abby observava de longe e bufava. Passou por elas com alguns copos sujos em direção a cozinha, fazendo questão de esbarrar em Santana, derrubando um pouco de cerveja nela.

– Wooow, o que foi isso? – Santana falava alto, olhando pra Jessie, como pedindo explicação – Qual é a dessa menina? Me diz que não foi de propósito que essa hija de la puta me derramou cerveja! – ela olhou pra Audrey pedindo uma opinião.

– Ah essa Abby... nunca aprende... – a garota balançou a cabeça olhando pra ruiva e a latina percebeu que tava perdendo alguma coisa na história.

– Pelo visto essa garota tem algum problema comigo, ou com quem eu estou namorando, é isso? – a latina cruzava os braços encarando Jessica de modo inquisitivo.

– É... é por aí... – a ruiva fazia uma careta tentando desconversar, se distraindo com a arrumação das garrafas na prateleira, logo iriam fechar o bar.

– Pois vamos resolver isso agora! – pegou no braço da ruiva e deu um puxão de leve – Vem aqui, a Audrey fica de olho no balcão – olharam para garota que assentiu, com cara de expectativa. Queria mesmo era ver o “pau comer” lá na cozinha.

Entraram na cozinha. Anthony estava terminando de lavar os copos que Abby havia trazido e a garota não estava mais lá, tinha ido na dispensa pegar alguns guardanapos de pano para o cozinheiro. As duas então seguiram para o quartinho.

– Quer ajuda Abby? – Santana encostou-se na porta cruzando os braços e encarou a garota que estava distraída nas prateleiras. Jessica entrou logo atrás, um pouco hesitante e se aproximou da loira.

– Você pode dizer qual o problema com a gente? Não aguentamos mais suas explosões de humor! Derrubou cerveja na Santana agora a pouco de propósito! – a ruiva falava de um modo imperativo, mas sem alterar a voz.

– Você ainda pergunta o porquê? – ela falava ressentida, olhando pra Santana.

– Abgail, Santana agora é a minha namorada, nossa companheira de trabalho e não faz bem vivermos nesse clima de hostilidade!

– Namorada é? – ela dava um riso sonso - E quando você vai contar pra ela?

– Contar o que sua vaca? – Jessica já estava ficando nervosa e perdia a paciência.

– É, contar o que? – Santana encarou a ruiva com curiosidade.

– Sobre o que tivemos... Sobre você ser um frígida! – ela gritava bem louca.

– Quê?! Não tivemos nada, não tenho nada pra contar! – ela foi pra cima da menina e a empurrou, estava cansada de ouvir essa conversa – E só porque eu não transei com você aquele dia não quer dizer que eu não possa sentir prazer!

– Você e ela? – a latina absorvia a informação ainda parada na porta.

– Duas bêbadas... estávamos confusas, carentes, parecia certo, parecia justo! O erro dela foi achar que só porque eu estava assim ia poder fazer o que quisesse comigo! – a ruiva explicava tentando ficar calma.

– E quase consegui! – ela tinha um olhar magoado e Santana só assistia – Se você colaborasse mais com a situação e não começasse a chorar compulsivamente e dizer que não podia, não devia... Bem quando a coisa tinha começado a esquentar!

– Ok... poupem-me dos detalhes! – Santana pedia. Impossível não sentir uma pontada de ciúme imaginando a namorada com outra, mesmo que na época sequer se conhecessem.

– Abby... eu já te disse... – Jessie respirava fundo, parecia conversar com uma criança - você está confusa com seus sentimentos... você nem sabe se gosta de homem ou mulheres, ou dos dois... Cada dia você acha que é uma coisa! Já conversamos sobre isso! Não venha descontar suas frustrações em mim, ou na minha garota! – Jessica olhou para a latina, temerosa que ela levasse essa história a mal, mas a viu com uma expressão tranquila, entretida na discussão.

– Não importa! Ela nunca vai saber o que eu sei ou te dar o que eu daria! – ela falava ressentida, olhando feio pra Santana - cuidar como te cuidei! – Tentou sair, mas a latina a impediu parando na frente da porta e segurando seu braço.

– Espera aí... deixa eu entender... Você sofre de um amor não correspondido pela Jessie e eu tenho culpa disso? -

– É...é isso! Porque você e não eu? Qual a diferença? – ela olhava sem medo pra Santana, pronta pra uma briga - E me deixa em paz sua vadia! – tentava se desvencilhar da mão que a segurava.

– Opa, opa! Que ainda não te ofendi! Não me force a fazer isso! – ela soltou o braço da garota, mas a empurrou pra trás – Eu e você... Não tem comparação! Se ela me escolheu não tenho culpa! Só posso dizer que ela tem bom gosto! – deu de ombros, zombando da raiva da outra.

– San... não piora... – a ruiva olhou pra ela com olhos calmos – Mas é verdade Abby, eu não mando nos meus sentimentos...

– Eu não sei pelo que a Jessie passou... – a latina continuou olhando com insolência para a loira - mas sei que quando cheguei aqui ela estava bem triste então você não deve ter feito um trabalho muito bom não é? – ela dava um sorriso jocoso.

– Ela que não permitiu que eu me aproximasse... – falava como uma criança emburrada.

– Abby, de novo essa conversa? Eu só te vejo como uma boa amiga... Você precisa de uma psicóloga, vai se tratar! Essa fixação não é normal! Desencana!

– A única doida que precisa de psicóloga aqui é você! Você que é a esquizofrênica depressiva! – ela apontava para Jessie que não esperava ouvir aquelas palavras e imediatamente sua expressão se fechou, ficou com olhos tristes.

– Sai daqui... Leva logo essas drogas de guardanapos lá pra fora – Santana falava de olhos fechados, entre dentes assim que viu a expressão de tristeza no rosto da ruiva e os efeitos que as palavras tinham feito nela – Você não precisa ofender ninguém aqui! Antes de tudo achei que a considerasse uma amiga! Pelo visto nem isso você parece ser...

A garota viu que o tempo tinha fechado pela expressão da morena. Sabia que era hora de sair de cena antes que as coisas ficassem piores. Tinha ido longe demais. Sabia como aquelas palavras deviam ter machucado Jessie. Saiu calada, olhando com olhos amargurados para a ruiva.

– E a propósito – a latina chamou sua atenção, fazendo-a virar-se novamente – a única frígida aqui deve ser você, que não sabe dar prazer pra uma mulher! Jessica é a melhor amante que alguém pode ter. Sinto muito se ela não te achou digna de merecer o poder de fazê-la gozar.

– Sempre posso ter outra chance, talvez isso ainda não tenha acabado... – olhou para a ruiva que tinha uma expressão impassível e depois pra morena que estava prestes a explodir e saiu em passos rápidos, desviando-se de uma caixa de papelão que Santana lançou em sua direção e errou por pouco.

– Recalcada! Eu ainda vou te pegar na curva! Vadia folgada... – a latina resmungava alto, falava sozinha, inconformada com aquela situação – Eu nunca vou perder você pra ela... nem pra ninguém!

Olhou pra Jessica em pé, encostada na parede, calada. Teve a impressão de ver seus olhos marejados. Se aproximou da garota que evitava olhar em seus olhos. Começou a acariciar seus cabelos e não disse nada. Passou seus braços pelo seu pescoço e a prendeu num abraço, ainda acariciando os cabelos, sentindo seu cheiro. Sentia-se triste por que notava que tinha uma parte da sua garota que ela ainda não conhecia e a mesma não parecia querer mostrar. Separou-se do abraço e segurando no queixo da ruiva, forçou a encará-la.

– Eu vou estar aqui... Sempre! – ela falava ternamente – Entendido? – a ruiva assentiu – Eu te amo! – deu um selinho nela e a abraçou novamente – Não tenha medo de mostrar pra mim o que você realmente é... isso acaba comigo – ela agora deixou de escapar um tom triste – Saber que as outras sabem mais de você do que eu.

– Não Santana... Não é que eu não queira dividir minha vida com você... ela já está totalmente nas suas mãos! – ela segurou nas mãos da latina, olhando em seus olhos – Mas aconteceram coisas que eu guardei bem fundo e prefiro não lembrar, prefiro não mexer, tenho medo que a ferida volte a sangrar!

– Se você acha melhor assim... – ela deu de ombros ainda inconformada – Mas quando quiser estarei aqui, toda ouvidos!

– Eu te amo tanto nesse momento que meu coração chega a doer sabia?! – a ruiva a abraçou apertado e a encarou com uma carinha meiga iniciando um beijo lento, cheio de carinho. As línguas se encontravam, acariciavam, se provavam com vontade. As mãos deslizavam por todo o corpo fazendo as duas perderem a respiração.

– Eu acho que sei como você pode demonstrar isso pra mim... Mais tarde – Santana parou o beijo, mordendo o lábio com olhar provocante – Vamos esquecer essa chata da Abby, hoje a noite é nossa!

– Vamos logo fechar esse caixa então! Teremos muito trabalho, se vou demonstrar tudo o que estou sentindo! – Jessie puxou a namorada pela mão, com um olhar tímido, mas cheio de desejo.

XXX

– Quinn... Cadê aquelas duas safadas? – Rachel olhava por todo o bar procurando as amigas. Estavam sentadas e observavam o bar se esvaziar. Dançaram muito, e a morena agora estava descalça, sapatos nas mãos e apoiava a cabeça no ombro da loira que parecia um pouco mais sã. Pelo visto ela era mais resistente à bebida.

– De certo estão dando um amasso em algum canto – a loira não estava muito preocupada com as duas amigas, estava gostando de acariciar os cabelos de Rachel enquanto sentia a mão dela acariciar a sua – Já já aparecem...

– Quinn... – A morena levantou a cabeça e olhou pra loira – quer dormir comigo hoje? – ela encarava aqueles olhos cor de mel esperando uma resposta – Estou sozinha...

– É claro... – os olhos não piscavam - Serei uma ótima companhia! – não se controlou e deu um beijo na testa da morena que sorriu satisfeita e voltou a deitar-se no seu ombro – Até porque não dá pra ficar no apartamento daquelas duas. Estão no cio... – ela apontou pra Santana e Jessica que vinham sorridentes e de mãos dadas até elas.

– E aí Berry, curtindo a noite? – Santana se divertia vendo a amiga desmontada sobre Quinn.

– Sim, foi ótima! Mas agora quero minha cama... Já pagamos a conta, podemos ir? – ela olhava com olhar de “gatinho do Shrek” para Jessica esperando uma confirmação.

– Siiiim! Tracy ainda está no escritório, estão esperando ela sair. Mas Audrey já está terminando de fechar o caixa! Vamos levantar as mesas, dar uma varrida básica e já vamos!

– Vamos ajudar vocês! – Quinn olhou pra Rachel que concordou e se juntaram para a arrumação do salão.

________________________________________________________

– Santana... Eu vou dormir com a Rachel hoje, fazer companhia pra ela – a loira e a latina trocaram um olhar sugestivo enquanto caminhavam lado a lado e Jessie ia conversando com Rachel logo à frente, explicando sobre o bar e qual a sensação de dançar no balcão.

– Fabray, mas nem que você não quisesse você ia dormir lá! Tenho um assunto a tratar com a Jessie que graças a você ficou inacabado hoje de manhã!

– Fique a vontade, não quero ouvir seus gemidos mesmo – ela falou mais perto do seu ouvido – que a propósito são bem altos.

– Sua safada, deixa a Berry saber que eu já possuí esse seu corpo!

– E qual o problema dela saber? Não temos nada... – ela desviou o olhar da latina - e por um acaso a Jessica, sabe? – Quinn ficou meio sem jeito ao pensar nisso.

– Sabe sim! Quis mostrar logo pra ela que sou uma pessoa caridosa e dou aos pobres – ela riu, mas viu a loira séria e continuou – Nem conversamos sobre aquele dia, mas saiba que você não foi uma caridade – a garota a olhou incrédula – É sério! Você é minha amiga poxa! Eu senti prazer ao te fazer sentir-se amada. Quinn, toda essa sua pose aí, você precisa de carinho... Sei disso, porque sou como você! Mas agora, outra pessoa vai te fornecer isso - ela indicou Rachel que caminhava saltitante a frente, com os pés descalços.

– Santana – Quinn falou um pouco baixo, com a voz hesitante – Você acha que isso vai dar certo? Rachel é uma garota encantadora – ela suspirou – mas não sei se ela me vê assim... Não aguento mais uma rejeição.

– Quinn, eu vi vocês duas hoje... dançando, se divertindo... acho que isso tem futuro! Mas só vamos saber se você tentar! Rachel é tão gay...só não percebeu ainda! – ela alisou o braço da amiga com carinho – tira ela do armário, assim como eu te tirei! Vamos todas sair de Nárnia! – ela falou isso mais alto e as duas que iam a frente pararam e olharam pra trás.

– Que conversa é essa aí atrás hein? – Rachel colocou as mãos na cintura, fazendo cara de censura. Ela ainda estava um pouco bêbada e não conseguia passar seriedade nem pra uma mosca.

– É bobagem da Santana, Rach... melhor nem ouvir – a loira balançou a cabeça olhando divertida pra latina que tinha saído correndo e dado um pulo em Jessica se pendurando nela de cavalinho fazendo a menina gritar de susto se desequilibrando um pouco.

– Ahhh finalmente chegamos! Estou realmente exausta! – A morena menor reclamava com manha, mas só Quinn dava atenção para ela.

– Eu também... Toda dolorida daquela dança! – Jessie concordou, recebendo da latina um apertão no pescoço - e agora tem uma macaquinha pendurada em mim para ajudar! – ela apertou a perna da latina que estavam enroladas em sua cintura.

– Vou te dar um trato pra compensar, você vai ficar novinha em folha... – ela cochichou pra namorada ao pé do ouvido.

– Bom, boa noite meninas! Foi um prazer conhecer o trabalho de vocês! – Rachel fez uma reverência para as duas – Quero voltar mais vezes! Não é Quinn? – olhou pra loira que a olhava com olhos bobos, divertidos e assentiu – Agora vamos que estou cansadérrima, preciso de um banho! – pegou na mão da loira e foi puxando.

– Vai lá Fabray! Capricha no banho! – Santana ria da cara de vergonha da amiga e ela e as ruivas acenavam a despedida.

– Quinn então não vem com a gente mesmo? – a ruiva observou as duas subindo as escadas logo à frente delas, olhou divertida para Santana que descia das suas costas e dançava na sua frente com um rebolado provocante enquanto cantarolava com um riso maroto o refrão de “Do you wanna touch me” “Where?” “There!” e riam.

– Neeem pensar que ela ia ficar com a gente! – ela fez uma cara safada – Primeiro, porque não quero ninguém atrapalhando nossa noite de amor – ela a olhou meiga – e segundo porque Rachel está sozinha... E alguém precisa cuidar dessa bebedeira e chatice dela!

– Ah assume, ela é legal! Mas tem razão, ela precisa de companhia.. – olhou para o casal a frente – Você acha que rola?

– Huum... pelo que conheço da Quinn... hoje Berry não escapa! – deu um beijo estalado nos lábios da namorada, apertando sua cintura – E nem você, senhorita!