O dia amanheceu nublado, nenhum raio de sol para ajudar a iluminar o pensamento turvo e esse ar de tristeza que pairava ao redor de onde quer que ela fosse. Santana observava da janela a agitação lá fora.  Kurt e Rachel haviam saído a um bom tempo e mais uma vez ela estava sozinha com seus pensamentos. Deu um suspiro profundo e saiu do quarto ainda de pijamas.

Foi até a cozinha, abriu a geladeira e procurava algo para comer,  mesmo que não estivesse com tanta fome.  Ah essa geladeira que parecia uma floresta! Berry e todos os seus legumes e vegetais! Santana precisava de substância, uma barra enorme de chocolate ou uma pizza gigante. Hoje ela estava pouco ligando pra dieta. Iria morrer só e abandonada mesmo.

Então a latina lembrou que hoje era terça feira e esse era o dia que ela havia combinado com a gerente do bar Coyote Ugly para conhecer o ambiente e fazer o teste para o seu trabalho. Como ela pode esquecer? Dançarina e garçonete sensual. Não era exatamente o que ela sonhava quando veio morar com os colegas, mas era o que havia para começar e fazer o dinheiro render, porque infelizmente as economias que sua mãe tinha juntado todos esses anos não se multiplicavam sozinhas e viver em outra cidade, principalmente na Big Apple não era nada barato. Para ela sentir-se parte de New York ela precisava se colocar em evidência, participar dessa cidade que nunca dormia.

Santana encontrou no armário o cereal em formato de estrelinhas de Rachel e juntou com o iogurte light do Kurt que ela encontrou na geladeira. Ia ser isso mesmo que ela ia comer. As gêmeas Olsen eram a família que ela tinha em New York e apesar de provocá-los, se intrometer na vida deles e usar as coisas dos amigos ela tinha um grande amor por eles. Ela só não precisava demonstrar isso todo tempo para eles não adquirirem confiança. Era sempre bom manter a pose de durona.

Voltou para o seu quarto pensando no que vestir para sua “entrevista” de emprego. Enquanto isso ela relembrava do dia em que por acaso estava passando na frente do bar e pensou que não custava perguntar se estavam contratando garotas gostosas e de sangue latino para abrilhantar a noite.

O bar era amplo, com a luz ambiente um pouco baixa. Algumas garotas andavam pelo salão arrumando cadeiras colocando-as sobre as mesas e outras esfregavam o chão com o auxilio de uma vassoura. No fundo estava tocando alguma música do Bom Jovi que na hora ela não ligou pra reconhecer. Estava uma pouco nervosa apesar de tudo. Uma das garotas que subia as cadeiras e avistou e veio falar com ela.

- Posso ajudar em alguma coisa? Estamos fechados ainda... – Disse uma loira peituda olhando para Santana da cabeça aos pés. Ela era bem bonita e estava bem arrumada, apesar de estar no meio de uma faxina com uma bandana na cabeça.

- Oi, meu nome é Santana. Você trabalha aqui faz tempo? Sabe se estão precisando de garotas pra trabalhar? Alguma substituição?  – Santana tentava parecer humilde mas ao mesmo tempo queria mostrar que não estava tão ansiosa por uma resposta afirmativa.

- Bom, isso não é comigo... você pode vir na terça? Hoje a Tracy, gerente do bar não está aqui, foi pra uma feira de bebidas e acho que só volta amanhã, com certeza de ressaca! Então melhor esperar mais um dia. Chegue umas 18:30, quando o bar estiver abrindo. Assim você já faz um teste. Foi assim que aconteceu comigo... – a loira tentava parecer simpática e deu uma piscadela para a latina. Que retribuiu com um sorriso ao mesmo tempo ficando vermelha. O que estava acontecendo? Santana Lopez tímida?

- OK, na terça feira eu apareço por aqui. Algum traje específico para essa ocasião? Não sei o que vocês usam aqui além do que aparece nos filmes...

- Não...um vestido coladinho como esse que você está usando agora está ótimo!  Ah e não acredite nesses filmes. Ninguém que trabalha aqui teve um final feliz ou encontrou o príncipe encantado. Ainda. – A loira disse isso piscando mais uma vez para Santana e saiu voltando ao trabalho.

Santana não sabia o que fazer, ficou empacada observando a loira voltar para a mesa onde mais duas garotas estavam conversando enquanto limpavam, uma morena de estilo latino como Santana e outra ruiva, de pele bem clara. A loira peituda falou alguma coisa com elas e com nenhuma descrição as três garotas olharam ao mesmo tempo para Santana, acenaram e voltaram aos seus afazeres ainda cochichando.

Santana estava com medo do que poderia encontrar. As garotas foram simpáticas, mas talvez a gerente não fosse assim. E se a loira peituda tinha lhe pregado uma peça fingindo ser simpática e dando dicas de como se vestir só para tirar uma com a cara dela? É isso que acontece nos filmes não é? A morena então decidiu vestir uma calça de couro preta que ela adorava e escolheu uma blusa de cor branca básica para colocar por baixo do casaco. Bom, ela iria para o Coyote só as seis da tarde, até lá ela precisava encontrar algo para se distrair, foi até a estante e escolheu um filme da coleção gay do Kurt. Encontrou Burlesque. É, bem apropriado com a situação da vida dela.

O filme havia terminado quando Kurt e Rachel chegaram e encontraram Santana dormindo no sofá,  abraçada a sua “namorada-almofada”. Os amigos se entreolharam e acharam melhor não acordar a latina. Era o melhor a fazer, pois tinham amor a vida.

Rachel estava empolgada, sua audição para Funny Girl estava cada dia mais próxima e ela não aguentava de ansiedade. Tudo que ela pensava eram em treinar a voz.

- Rach, eu já disse para se acalmar! Sofrer por antecipação só vai te trazer rugas – Kurt disse isso enquanto guardava sua bolsa no cabide ao lado da porta e se instalava numa das poltronas.

- Kurt, isso é a melhor coisa para se fazer e ocupar minha mente. Eu sou uma artista, não posso desviar meus pensamentos para outras coisas e ultimamente meu coração anda brigando muito com meu cérebro. Se não pensar em ensaiar vou acabar levando meu pensamento a refletir sobre minha vida amorosa catastrófica.

- Bom,  nisso você tem razão!  Pense que esses últimos acontecimentos te fizeram um favor e agora você pode ser livre e também pode refletir que talvez você esteja escolhendo as pessoas erradas  para se relacionar.

- Pessoas? Você incluiu Finn nesse seu comentário? – Rachel sentou-se na outra poltrona encarando o amigo. – Você acha que ele também é uma perda de tempo? De novo essa história Kurt? Quanto mais o tempo passa, mais acho que o destino meu e do Finn é ficarmos juntos.

- Ai Rachel, amplie seus horizontes! Tantas pessoas interessantes pelo mundo! Um dica: pessoas, não só homens – Kurt falou essa ultima frase em tom de término de conversa e se levantou para ir em busca de algo pra comer. Levantou rápido pensando no que tinha acabado de falar para Rachel. Se pudesse voltar atrás não falaria isso. A amiga agora o olhava com um olhar confuso tentando entender o que ele tinha acabado de sugerir. E ele não queria ter que explicar. Na pressa em fugir para a cozinha acabou enroscando os  pés numa das botas de Santana que estavam no meio do caminho e deu um grito nada masculino enquanto caía como um saco de batatas em cima da amiga que estava dormindo.

- Mas que merda é essa Porcelana? Isso é jeito de acordar sua companheira de casa? – Santana se levantou assustada e viu que já eram 17:30 no celular de Rachel que estava sobre a mesinha de centro. A diva continuava sentada com o olhar perdido pensando no que Kurt havia lhe falado e só despertou ao ver Santana mexendo no seu celular.

- Hey Santana, já te disse pra não mexer nas minhas coisas sem pedir! – Rachel se levantou pegando o celular da mão da latina, que ficou assustada com essa reação. – Eu...eu vou pro meu quarto, as aulas acabaram comigo hoje.

- O que aconteceu com o Hobbit? Eu só queria ver as horas. Aliás, muito obrigada por me acordar Kurt, não foi da melhor maneira possível mas eu acordei a tempo da minha entrevista.

Kurt ainda estava assustado pela reação de Rachel e ficou mais ainda quando Santana o agradeceu por acordá-la.

- De nada...Mas  que entrevista? Você vai  aparecer na TV? – Kurt não estava entendendo nada.

- Nossa, e olha que foi eu acordei agora! Estou mais desperta que você lindinho! Não vou aparecer na TV, ainda – Ela frisou essa ultima palavra enquanto passava a mão e levantava o queixo do amigo – É uma entrevista de emprego pro Coyote, lembra que te falei?

- Ahhh sim... o emprego de dançarina, garçonete e g.p de luxo? – Kurt provocou a amiga.

- Bom, estou melhor que você, naquele seu estágio chato. Pelo  menos vou ter um monte de garotas gostosas ao meu redor enquanto trabalho.

- Santana, e desde quando eu te invejaria por estar rodeada de garotas gostosas? Francamente! Eu quero distância disso! – Kurt falou fazendo o sinal da cruz – Já basta aguentar você, a Berry e toda essa avalanche de hormônios femininos nesse lugar que um dia ousei chamar de lar.

- Nossa, a rainha do drama agora! Você quer um Oscar agora ou pode esperar até eu voltar? – Santana disse isso enquanto saía correndo pro quarto se arrumar, chegando lá gritou pra Kurt – Falando sério agora, vai ver se a Berry tá bem. Essa garota pode ser doida às vezes.

- É melhor deixá-la sozinha por hoje. Se ela quiser conversar que me procure. Acho que ela tem muito o que pensar... – Kurt disse isso na porta do quarto da latina, quase que sussurrando.

- Mas o que foi que você disse pra ela? – Santana já estava quase pronta. Já estava vestida com sua calça matadora e botas de cano alto. Faltava arrumar os cabelos. Começou a prender metade enquanto falava com Kurt .

- Que ela deveria repensar sua vida amorosa, porque com os homens parece que nunca dá certo! – Kurt disse ainda sussurrando, com medo que a outra amiga ouvisse.

- Wou! Você tá sugerindo que ela deveria tentar com...mulheres? – ao ver a confirmação com a cabeça que Kurt fez , ela já completou – Pode parar Hummel! Eu to fora dessa! Berry...eca!

- Santana, caso você não tenha percebido, você não é a única mulher do mundo! Agora vai logo lá pra sua entrevista de poledance – Kurt foi tirando a amiga e a empurrando em direção a porta do apartamento.

- Obrigada pelo desejo de boa sorte, Porcelana!  Sei que você me ama! – E soprou um beijo para o amigo, saindo de lado no corredor sem perder a pose e majestade.