PDV Ailyn

Olhei para o porta-retrato em cima da minha mesinha e me peguei novamente pensando em como as coisas mudam. De inimigas mortais a irmãs nesses anos que se passaram. Lembrei de ir pegar a correspondência. Havia uma carta endereçada a:

"Minha querida cobra arruivada"

Sorri ao ver isso. Só uma pessoa me chamava assim.

—Loira dos infernos. -Murmurei para mim mesma, enquanto subia novamente para meu apartamento, abrindo a carta assim que fiquei a sós.

Lyn,

Eu nem queria escrever, devo confessar, mas, ao mesmo tempo, sinto que preciso escrever, talvez porque saiba que jamais terei a chance de dizer isso em vida. Quando te conheci, não guardei segredo de que te odiei na hora. Mas, à medida que íamos convivendo, eu ia vendo que você não era como eu pensava. Sem querer, acabou me ensinando que nada é imutável e que as coisas nem sempre são como pensamos. Agora, com o câncer e sabendo que tenho pouco tempo de vida, eu me pego refletindo sobre o que já vivi. Pelo menos enquanto consigo me manter acordada. A melhor coisa do mundo é poder olhar para trás, para os anos que passaram, e ver que, neles, não há arrependimento. De minha vida, apenas retiro boas lições e recordações agradáveis de amigos que conheci. Se não fosse assim, acho que, talvez, eu estivesse com um pouco de medo da morte, mas não estou. Apenas sei que sentirei saudade de todos os que deixei.

Sua

Loira dos Infernos

Dentro do envelope, uma foto, tirada por Atena:

"-E então, paz? -Perguntei, estendo a mão para Annabeth. Ela sorriu.

—Paz. -Concordou, puxando-me para um abraço.

—Olhei pra cá, meninas. -Chamou Atena. Obedecemos e ela bateu a foto.

—Mãe, não precisa fotografar cada segundo da minha vida.

—Pela primeira vez na História, eu concordo com a Annabeth.

Ela me olhou e começamos a rir juntas, como duas loucas.