Xaldin

Num lugar bastante longe de onde Roxas e Axel estavam,sentado em sua cadeira de couro negro,com os cotovelos apoiados em sua mesa de madeira rara e os braços cruzados sob o queixo,estava Xaldin,o cruel padrasto de Roxas.

O homem esperava a visita de alguém que mandara chamar,Seifer,líder do comitê disciplinar de Hollow Bastion,também,para aqueles que conhecem a história,filho do líder da polícia da cidade.Descobrira coisas bastante interessantes ultimamente,desde que Roxas fugiu de casa.

Deixar o loiro escapar de forma tão vergonhosa o deixou em maus lençóis.Já pensou se o moleque conta a alguém sobre o que Xaldin fazia com ele?Isso de forma alguma pegaria bem para sua imagem de vice-prefeito,além do mais,estava pagando muito mais do que uma fortuna para que a imprensa não falasse nada sobre o “súbito desaparecimento do filho do vice-prefeito”.Como se Xaldin considerasse aquele moleque como seu filho.

A porta do amplo gabinete se abriu,e dela apareceu um rapaz de estatura média,vestindo um gorro que cobria-lhe os cabelos e um sobretudo branco.Seifer.O jovem sentou-se na cadeira que ficava de frente para a mesa do mais velho,com um ar mal-educado,como sempre.

-Mandou me chamar?-Ele perguntou,enquanto Xaldin sorria sinistramente.

-Seifer,você sabe que meu “filho” desapareceu,não é?-Xaldin começou,com uma voz confiante como a de qualquer político.

-Não seria melhor dizer que ele fugiu de você?

-Encare do jeito que quiser,você sabe da história.Bem,sabe,eu tenho um pequeno receio de que o moleque vá contar essa mesma história a alguém.Isso definitivamente não seria bom.Estou disposto a terminar essa história de uma vez por todas,se é que você me entende.

-Para que você precisa de mim?

-O problema é que não sabemos onde ele está.

-Quer que eu o encontre?

-Sim.Também quero que você dê um jeito nele,não,melhor,entregue-o a mim.Seqüestre-o e o traga para mim vivo.

-O que eu ganho com isso?

-O que você acha de uma gorda quantia de dinheiro vinda diretamente dos cofres da prefeitura?

-Hum...Não sei...Posso arranjar esse mesmo dinheiro mais facilmente.

-O que quer em troca?

-Quero que me ajude a me vingar de um certo ruivo que me humilhou diante de todos.

-Ruivo é?Não está falando do filho do prefeito da capital,está?O recém-chegado?Aquele que bateu no inatingível Seifer,até eu ouvi falar disso.

-O que me diz?Eu te ajudo e você me ajuda.Com esse seu jeito de político,ninguém vai duvidar de nós.

-Está bem.

-Feito?

-Feito.

Ambos apertaram as mãos,como parceiros faziam.Xaldin finalmente iria dar um fim no moleque pedra-no-sapato que era Roxas sem gastar muito dinheiro.Seifer poderia se vingar como quisesse do ruivo que acabou com sua imagem imaculada,pensando em mil maneiras de fazê-lo sofrer.Sorrisos assustadores apareceram nos rostos de ambos,o mal finalmente começava a agir...

           Axel

Roxas sentou-se no sofá estofado,ao lado de Axel.Ambos esperavam ser atendidos para a entrevista de Axel.Faziam quase 2 horas que estavam ali,e o ruivo estava prestes a gritar de tédio quando o chamaram.Ele se levantou e foi até a sala indicada.Roxas esperou ali mesmo,de pernas cruzadas,bufando.Não imaginava que o sistema fosse tão devagar.

O loiro decidiu sair um pouco para respirar ar puro na rua,não que a poluição da cidade permitisse isso,mas era só modo de falar.Lá fora,pessoas passavam na calçada apressadas,geralmente bem vestidas,algumas carregando bolsas de grife e outras maletas de couro.Era o que se esperava encontrar num bairro de classe tão alta como aquele.

Sentou-se no meio fio da calçada,aproveitando o vento que vinha do leste.O dia estava estranhamente nublado,claro,mas com as nuvens escondendo o sol,o que Roxas não achava tão ruim.Preferia aquele clima meio frio do que o inclemente calor dos dias anteriores.Devia ser por isso que Axel ficava tanto sem camisa em casa.

Axel.Roxas gostava bastante do ruivo,não sabia se era um amor normal para um amigo,nunca tivera muitos para testar.Só sabia que gostava demais do ruivo,mais do que gostava de seus irmãos e talvez até de sua mãe.Era algo meio que mágico.O cheiro do mais velho o acalmava,sua presença o deixava feliz,seu toque o enrubescia de forma engraçada e suas ações o fascinavam de um jeito que não podia ignorar mesmo que quisesse.

Eram assim que melhores amigos deviam se sentir?Será que eles não eram algo mais?Tipo como namorados?Roxas balançou a cabeça,do mesmo jeito que Axel fazia.Impossível.Roxas sabia que o ruivo o considerava como um melhor amigo,só isso,nada mais.Até porque Roxas tinha certeza que Axel devia ser o maior galinha na sua antiga cidade.O ruivo tinha uma beleza extraordinária para Roxas,exótica e viciante,como o fogo.Aliás,tudo em Axel lembrava o fogo,seus cabelos,seus olhos ardentes,suas ações,suas palavras,seu toque...Balançou a cabeça de novo.O que seu pai pensaria se soubesse que filho talvez houvesse se apaixonado por outro homem?

Apaixonar?Era isso mesmo?Roxas estava apaixonado por Axel?Como?O loiro não podia negar que uma vez ou outra sentia um estranho impulso aparecer na sua cabeça,mandando se aproximar do ruivo,tocar seus lábios,pegar nas rubras mechas de cabelo...Balançou a cabeça mais uma vez.Como podia amar Axel?Se é que realmente amava,mas mesmo assim,seria impossível Axel corresponder a um mero moleque,como Xaldin lhe chamava.

“Hum...vamos ver pelo ponto de vista lógico:Quando você vê Axel,fica feliz?”Roxas perguntou a si mesmo em pensamentos “Sim.Quando você vê Axel sem camisa deitado no sofá,fica feliz?.Mais do que feliz.Quando Axel te consola,como você se sente?Vivo por dentro.Quando ele vai trocar seus curativo e vem passar aquela pomada em você,e aí?Aparecem borboletas no meu estômago.Quando você vê seus olhos verde esmeralda?Quero olhar mais de perto e me perder neles.Quando você vê seus lábios tão atraentes?Quero tocá-los com os meus.Quando você vê um poste na esquina?Lembro dele.Quando vê o cachorro da vizinha da frente?Lembro dele.Quando ouve uma música brega no rádio?Lembro dele de novo.Então,meu querido,você está apaixonado com certeza”.

Roxas desesperou-se por dentro.Estava mesmo apaixonado por seu melhor amigo,mas não queria que o ruivo soubesse,aliás,que ninguém soubesse.E se Axel só o quisesse como amigo?Acabariam sua amizade se isso acontecesse,e era melhor continuar sendo só amigo de Axel e amá-lo em segredo do que contar a ele e se separarem.

Roxas suspirou,encostando a cabeça nos joelhos.Como amar era difícil.Quanto menos pensasse no assunto,melhor para ele.Não deixaria que Axel sequer notasse a súbita descoberta de Roxas.

O que Roxas nem imaginava era que um rapaz o espiava,atrás de umas árvores,no dobramento da esquina.Era Seifer,acompanhado de sua gangue mais atrás.Estava andando por aí,tentando descobrir alguma pista do loiro quando o viu sentado no meio-fio. “Mas que sorte!”,Seifer pensou, “agora só falta descobrir aonde ele está ficando”.Seifer iria esperar que Roxas saísse dali e então o seguiria até seu esconderijo.

O que intrigava o líder do comitê disciplinar era por que vestia aquele terno obviamente caro?Onde conseguira o dinheiro para comprá-lo?Parecia estar esperando alguém,quem?Era alguém conhecido?

Sem notar os pares de olhos que o seguiam,Roxas levantou-se e voltou a entrar no edifício que era uma das agências de advocacia.Uma hora depois,Roxas saiu de lá,acompanhado com um ruivo que Seifer reconheceu imediatamente.

“Dois coelhos numa cajadada só,imaginem isso,tão fácil”.Axel e Roxas voltaram a pé para casa,sendo seguidos por Seifer e Cia no caminho.Entraram em casa,e logo Seifer ligava para o gabinete do vice prefeito,agendando uma hora para vê-lo.Não se falava daquele tipo de assunto no telefone.

-Então?Como foi a entrevista?-Roxas perguntou,sentando-se no sofá enquanto Axel bebia água na cozinha.

-Foi bem.Disseram que iam me chamar caso eu fosse escolhido.-O ruivo respondeu,indo se juntar a Roxas.

-Legal.O que vai fazer para o almoço?

-Lasanha.Não quer vir ajudar?

-Hum...eu...

-Anda logo,seu fresco.Venha sujar um pouco as mãos.

Roxas riu e se levantou do sofá,indo até a cozinha,onde Axel estava,já sem camisa,usando um avental com babadinhos.

-Se você rir eu juro que eu te mato.-O ruivo ameaçou,cruzando os braços.

-Eu...Você...desde quando você tem esse avental?Espera,eu preciso tirar uma foto dessa.

-Cala a boca.Tira a camisa do terno,senão vai manchar e eu não quero gastar dinheiro com a lavanderia daqui,é um absurdo.

-Sim,ó dona de casa.

-Você tem pressa de morrer,né?

Roxas obedeceu,desabotoando a camisa e a deixando na sala.Voltou e se pôs ao lado de Axel,que mexia na geladeira sem parar.

-Achei,aqui está.-O ruivo tirou várias coisas de dentro da geladeira,deixando-as sobre o balcão,enquanto Roxas ligava o forno e pegava umas vasilhas.

Cerca de 30 minutos de puro trabalho na cozinha,a lasanha estava no forno.Agora só faltava esperar.Ambos estavam sujos de molho,carne e até farinha que de algum jeito tinha ido parar ali.A cozinha parecia que tinha sofrido uma daquelas guerras de comida de colégio,onde criancinhas jogavam comidas umas nas outras.

-Ok,terminamos.-Roxas falou,limpando o suor da testa com as costas das mãos.

Axel se virou para o menor,olhando seu rosto.Havia uma gota de molho na bochecha de Roxas,a direita de seus lábios,tomando a atenção do ruivo.Aquele estranho impulso voltou a aparecer,e sem pensar,Axel abaixou o rosto até que ficasse da mesma altura que o de Roxas.E então,lambeu a pequena gota de molho,fazendo Roxas enrubescer violentamente e paralisar ali.Axel,tomado pelo impulso,desceu um pouco mais,beijando o pescoço do menor,sentindo o gosto de sua pele tão querida.

O loiro fechou os olhos,aproveitando o momento.Não sabia o que fazer,mas não importava.Axel o estava tocando de forma extraordinária,e isso o deixava feliz.Axel ergueu o menor do chão,sentando-o na bancada.Assim estavam nivelados e Axel não precisava se abaixar tanto.

Axel voltou a subir,procurando os lábios de Roxas,o que não demorou a acontecer.Se encontraram num beijo apaixonado,ardente,parando somente para respirar.

-Axel...-Roxas murmurou,ofegante.-Você beija muito bem,sabia?

O ruivo riu.Então se afastou,olhando Roxas nos olhos,sorrindo.

-Sabia que você é muito fofo quando fica vermelho?Que dorme de um jeito tão bonitinho que me faz querer te pegar nos braços?Melhor,adoro quando você dorme agarrado com minhas roupas.

-Você não se importa?

-De jeito nenhum.Roxas,eu...

-Shhh...-Roxas colocou um dedo nos lábios de Axel,fazendo-o parar de falar.-Não estrague esse momento.Por favor.

-Mas...

-Nada de mas.Só quero ficar com você,Axel.Somos amigos,não somos?Isso é permitido entre amigos?Uma troca de carícias vez por outra?

-Bem...Sim.

Roxas sorriu,enquanto Axel o pegava nos braços e ambos iam para a sala.Axel sentou-se no sofá,aninhando Roxas em seus braços,beijando-o longamente,enquanto ligava a TV só por costume.Roxas entrelaçava seus dedos nas mechas rubras de Axel,descendo até sua nuca e a alisando com as pontas dos dedos,provocando arrepios no mais velho.Roxas não sabia beijar,e até aquele momento nunca tinha beijado ninguém,mas não demorou a pegar o jeito,e logo estava tão bem condicionado quanto Axel.

Cerca de duas horas depois,Roxas de repente parou de corresponder.Axel temeu um pouco,se afastou e viu que o menor tinha caído em sono profundo em seus braços.Sorriu e o levou até seu quarto,deitando-o na cama e dando-lhe um beijo na testa e outro nos lábios.

-Boa noite,Roxy.-O ruivo murmurou,cobrindo o menor com lençóis,saindo do quarto,deixando Roxas dormindo tão profunda quanto serenamente.

Axel agora tinha total certeza que amava Roxas mais do que sua própria vida,no entanto,estava ainda hesitante em se declarar,como qualquer pessoa normal.Estava pensando sobre o que Roxas dissera: “somos amigos...”.Será que Roxas queria apenas aquela amizade?Axel queria ser algo mais,mas se não tivesse opção,preferia ser melhor amigo do que nada para Roxas.

Voltou ao seu sofá e se deitou,desligou a TV e adormeceu em seguida.Mal sabia ele que seu tesouro mais precioso estava prestes a ser roubado...