Era indescritível o que eu havia sentido naquele instante, toda aquela energia canalizada simplesmente por Bruce segurar a minha mão, certamente tínhamos mais poder do que imaginávamos. Assim que nos recuperamos ele me olhou um pouco confuso e certamente eu entendi de onde tinha vindo, porém com um sorriso nos lábios, afinal tínhamos vencido a épica luta contra o mal.

- Yukiw... nós...

- Eu sei meus queridos, fico feliz que tenham conseguido e que estejam bem.

O Yukiw se aproximou e me dando um abraço intenso enquanto eu sorria e o olhava, sua expressão ainda era de preocupação. Uma vertigem correu pelo meu corpo, olhei para Luby que se encontrava agora no chão cabisbaixo.

- Onde está o Nathan?

Eu o olhei adivinhando o que havia acontecido, parte de mim não queria acreditar, mas estava um pouco escuro aquela sala.

- Sophie... ele não...

- O que quer dizer? Meu irmão está... morto?

Bruce perguntou enquanto nós nos entreolhávamos e senti palpitações e uma fisgada por dentro do meu corpo. Não seria possível que isso acontecesse. O Yukiw não pronunciou mais nenhuma palavra, não seria possível.

- Yukiw, diga que ele está bem....

Eu olhei para o Yukiw, meu olhos estavam enormes sem acreditar, aquilo não passava de uma pegadinha insana. O Luby começou a voar e pousou no ombro do Yukiw e nos olhou sereno 

- Eu tentei recuperar a sua energia, porém ele estava muito fraco e não reagiu.

- Cadê ele?

Eu perguntei, o tom da minha voz parecia um pouco alterado, naquele momento senti meu corpo tremer, não não o Nathan? O que ele tinha feito? Nada além de tentar algo melhor para seu reino, nada além de amar uma humana filha da puta e procurar pelo seu irmão. Senti um nó na minha garganta e o Luby  havia sentido isso, ele me olhou e foi até o lugar onde o Nathan estava, aos poucos o clarão foi indo em direção ao seu corpo que estava deitado no chão. Seu rosto estava pálido e seus finos lábios escuros, era ali um corpo que não parecia ter vida e aquela cena fez meus olhos embaçarem. Eu me ajoelhei rapidamente ao lado do seu corpo e tirei aquela metade da máscara que escondia o lado do seu rosto sem as cicatrizes. Nathan tinha um cabelo um pouco maior que o do Bruce, seus traços eram parecidos, seus traços eram finos e grosseiros ao mesmo tempo. Eu não podia.... acreditar... naquilo, o Nathan não podia....

- Nathan... acorde.... acorde... Nathan

Eu colocava minhas mãos em seu ombro balançando o seu corpo e a minha mão direita ia no sentido do seu rosto enquanto meus dedos trêmulos alisavam sua face. Ao perceber que não havia reação dele eu ia me desesperando, talvez porque a ficha não tinha caído ainda e nunca iria cair. O silêncio na caverna era nítido, naquele momento para mim não tinha mais ninguém além de nós dois.

- Nathan... não... acorde por favor

Minhas lágrimas eram incontroláveis, meu rosto estava perto demais do dele, meus olhos percorriam aquela face fria e serena enquanto meus dedos apertavam seu corpo em sinal de que qualquer momento ele despertaria. Eu não aguentava mais olhar aquela cena, então repousei minha cabeça em seu peitoral enquanto apertava sua camisa entre meus dedos ainda o balançavam. Eu perdi o tempo em que fiquei assim, minhas lágrimas o tempo todo rolavam pelo meu rosto, a dor vinha em uma intensidade forte por dentro do meu corpo e em um momento de lucidez eu ergui a minha cabeça olhando para o Yukiw que estava respeitando aquele momento e também triste.

- E se eu... fazer que nem aquele dia com a Jú? Minhas lágrimas não curam?

Ele me olhou com um fundo de esperança e tentei me concentrar com um sorriso no rosto, eu me sentei novamente olhando para o Nathan enquanto todo o meu rosto estava molhado e úmido. Passei minha mão limpando aquelas lágrimas e fechei meus olhos e toquei o seu rosto, lembrei de que com a Jú minhas lágrimas caíram na sua bochecha e dei um beijo na sua testa. Eu repeti aquele mesmo ritual lentamente, encostei meus lábios em sua testa gelada e assim que me afastei eu o olhava com o coração acelerado, eu sei que ele acordaria, eu esperei e ainda fiquei o olhando.

- Sophie... acho que não... Ele estava sem energias suficiente. - Luby tentou ser sincero naquele momento e realista, talvez tentando me fazer acreditar e aceitar aquela situação, mas eu não aceitaria. Não o Nathan, porque tinha que ser ele?? 

As minhas lágrimas voltaram para o rosto, elas eram de desespero por não poder fazer nada, nem mesmo eu conseguia salvar o Nathan, que merda porque não tinha funcionado?? Em um momento o Yukiw tentou me afastar de Nathan, mas eu recuei me fazendo ficar olhando para o seu rosto ainda sereno. Eu inclinei meu rosto no seu, minha testa estava diretamente colada na dele enquanto eu o tentava olhar e sussurrei baixinho apenas para que ele me ouvisse:

- Nathan, eu não quero lhe perder. Volta, volta por todos do seu reino, por mim. Você lembra do baile? Eu fiquei tão assustada com aquela sua cara de durão, mas com o tempo eu percebi que você é maravilhoso Nathan. Eu sei que esteve presente em vários momentos como naquela vez em que eu cantei e você apareceu. Quando você me contou sobre o seu romance com aquela humana eu queria matá-la sinceramente, por fazer sofrer alguém tão importante como você. Você não merecia passar por todo esse sofrimento Nathan e me sinto culpada, talvez se eu não tivesse aparecido você estaria aqui agora vivo e... me perdoa Nathan, eu queria ter sido mais rápida e mais forte. Eu ... sinto tanto.

Assim que terminei de pronunciar aquelas palavras eu senti que haviam rolado mais lágrimas do que eu imaginava, meus lábios automaticamente foram deslizar sobre os dele, eu deslizei meus lábios pelos seus gelados enquanto minhas lágrimas ainda insistiam em rolar pelo meu rosto. Assim que afastei meu rosto do seu eu o olhei ainda sem acreditar naquela imagem, talvez aquele desabafo tinha tirado uma pequena parte da minha dor. Eu já estava desacreditada e sem muitas forças, com dificuldade eu me levantei e comecei a enxugar o meu rosto.

- Sophie...

- O que Luby?

- Nathan está brilhando? - Bruce falou enquanto minha primeira reação foi olhá-lo novamente. Eu me aproximei novamente enquanto aquela bola de energia que permanecia em seu rosto agora parecia estar dentro do seu corpo e ia se espalhando. Era um puto conto de fadas em que a bela adormecida era ele, esse pensamento me fez sorrir enquanto eu esperava que o Nathan abrisse os olhos e foi isso que aconteceu aos poucos, seus olhos e seus lábios estavam entreabertos e percebi que sua respiração foi voltando enquanto ele ia se recompondo eu sorri, as lágrimas inundavam meu rosto agora, porém elas eram de felicidade, era ele ali, ele tinha voltado.

- Nathan... Você está bem?

Ele estava aos poucos se recompondo, eu percebi que sua mão agora estava mais quente, seus dedos tocaram a minha bochecha enquanto meu sorriso estava mais do que estampado no meu rosto e meus olhos se fecharam pela reação em que senti seus dedos percorrendo e aos poucos abri meus olhos o olhando.

- Você não tem o que se desculpar Sophie, quando você apareceu tudo ficou diferente para mim. Você é uma luz nas trevas.

Eu o olhei sorrindo e o Luby agora voava com toda intensidade sobre o Nathan enquanto percebi que o corpo dele brilhava, era a energia que o Luby estava repondo. Aos poucos ele havia recuperado sua força, ele se levantou e caminhou em direção ao Yukiw enquanto os dois se abraçavam

- Nathan, meu filho, que susto que deu na gente. Que bom que voltou.

- Obrigado Mestre Yukiw.

Eu me levantei e olhei para o Bruce que estava em pé enquanto o Nathan sorria o olhando, os dois se cumprimentaram e se abraçaram.

- É bom tê-lo de volta irmão.

Aquela cena me fez pensar sinceramente no que estava acontecendo. Eu admiti para mim mesma naquela instante de que uma parte de mim estava mais do que clara que gostava do Nathan e do Bruce, eu era dividida e honestamente? Eu não queria ser a Elena do The Vampire Diaries que fica entre os dois irmãos. Claro que a situação é diferente, eu não podia ser tão egoísta ao ponto de escolher um e uma parte de mim sentir algo por outro, eu queria estar com alguém completamente honesta, com meus sentimentos voltados apenas para uma pessoa. Claro Sophie... acorde... SE um deles gostasse de você não é? 

Aquele momento de reflexão e pensamentos foram interrompidos enquanto eu ouvi um barulho em outro canto da caverna. Nós nos entreolhávamos e o Bruce automaticamente junto com o Nathan sacaram as suas espadas e eu caminhei junto com eles para aquele canto que parecia escuro. Era um barulho de corrente que aos poucos foi ficando claro a imagem que se formava.

- Me ajudem.

Aquelas palavras foram pronunciadas por aquele homem que estava amarrado nas correntes e então eu prontamente fui tentar soltá-lo enquanto todos ficaram sereno observando aquele momento, além dos meninos estarem com as espadas o tempo inteiro apontadas para ele.

- Ele está desmaiado, será que vocês podem parar um pouco e me ajudar?

- Sabe quem é ele Yukiw? - Eu continuei.

- Não faço ideia minha menina.

- O que faremos? - Luby perguntou curioso.

- Vamos levar ele para Ehipo. - Afirmei com toda certeza.

- Sophie é arriscado demais, não sabemos quem é ele - Bruce falou um pouco mais autoritário.

- Eu sei, mas ele está aqui amarrado nessa caverna. Qual mal poderia ter?

- Eu não confio - Nathan falou olhando para Bruce e ele apenas concordou com o irmão.

- Faremos assim. Levaremos ele para Ehipo, ele ficará no quarto de hóspedes e os guardas ficarão todo o tempo lá o vigiando.

Chegamos em um consenso afinal eu tinha razão, ele estava ferido e pelo tamanho da sua orelha eu diria que era um elfo, algo parecido, seu rosto não era tão visível então eu me afastei para que o Bruce e o Nathan fosse o pegar para saírrmos daquela caverna.

- Luby, ainda tem como nos transportar para o castelo?

- Acho que sim minha Rainha.

Luby começou a voar ao nosso redor, ele era mais poderoso do que eu imaginava, sua magia estava espalhando por aquele lugar e em um passe de mágica literalmente estávamos no salão principal do meu castelo.

- O que aconteceu? Vocês estão bem? Quem é esse?

Liam Field apareceu prontamente enquanto nos olhavam assustados e o Nathan e o Bruce subiram pelas escadas indo em direção ao quarto de hóspedes e eu caminhei atrás deles enquanto eu ouvi o Yukiw falando com sua voz ecoando por todo o salão.

- O Feiticeiro Cosmo foi derrotado, ele era o Senhor dos Malígnos. Esse ainda não sabemos, estava na caverna acorrentado.

Assim que entramos no quarto de hóspedes eu olhei agora o corpo daquele homem sendo colocado na cama, o seu rosto estava na direção oposta o que me fez apenas analisar os machucados sobre o seu corpo.

- Eu trouxe essa bacia e alguns remédios minha Rainha.

- Obrigada. Mas... quem é você?

- O Sr. Field me chamou, me chamo Tasy.

- Obrigada Tasy. Poderia chamar alguns guardas por favor.

- Sim Senhora.

 Eu olhei para ela, realmente era mais graciosa do que a Lilyh, ainda mantinha meu pé atrás com tudo que aconteceu. Eu olhei para o Nathan e o Bruce enquanto ambos permaneciam perto da cama com a mão na cintura, especificamente na espada.

- Eu quero que saiam.

- O que Sophie? Você não vai ficar sozinha com ele. - Bruce  se pronunciou imediatamente.

- Não sabemos quem ele é Sophie, pode ser perigoso. - Nathan falou com uma certa preocupação.

Eu não falei nada, eles tinham razão então me virei e caminhei até a cama enquanto me sentei ao seu lado, eu sentia a tensão naquele quarto, entretanto peguei uma toalha e molhei na bacia e com minha outra mão eu segurei o seu rosto e o fiz virar na minha direção. Seus cabelos era castanho claro jogado sobre a testa, seus olhos eram um pouco menores, porém seu rosto eram traços bem mais grosseiros do que o Bruce. Eu passei com cuidado sobre seu rosto, ele era um mistério ali desfalecido naquela cama, aos poucos eu fui colocando um pó verde que era um tipo de remédio medicinal. Aos poucos eu percebi que seu rosto estava criando reações e seus olhos abriram, era um azul intenso que aos poucos foi estabelecendo uma cor mais escura. Seu olhar estava fixado nos meus e aquela maneira que ele me olhou me fez estremecer por dentro, eu tentei me recompor talvez a emoção daquele dia tinha sido muito intenso para mim. A única pergunta que não ficava somente na minha cabeça foi pronunciada pelos meus lábios:

- Quem é você?