Ponto de vista: Jen

Tudo estava normal por ali. Os novatos de 12 anos estavam alguns amedrontados, outros cheios de coragem e orgulho. Os mais velhos, de 16 a 18, estavam levemente entediados, já lhes era comum essa esperança toda não valer de nada. Jen imaginava se não se sentiam frustrados o tempo todo por não conseguirem o que queriam.

Estavam quase todos ali, sentados nas cadeiras que haviam na praça, que mais parecia um teatro a céu aberto. Dava para ouvir os cochichos e os gritinhos de animação vindos dos outros. Era assim todos os anos, garotas à esquerda, garotos à direita. Como sempre, os pais ficavam ao fundo. Mais à frente estavam os mais velhos, de 18 anos, e os de 17 atrás. E assim ia, até chegar nas crianças de 12 anos.

Jen estava devaneando, pensando no que haveria este ano, se realmente se ofereceria, ou o que faria naquele momento, quando tudo silenciou-se de repente. Era agora o momento de sortear os nomes.

Ponto de vista: Peter

Finalmente! Em alguns minutos, seria o momento de sortear os nomes. É claro, haveria aquele curta-metragem ridículo sobre os Jogos, e o suspense e tensão habituais, mas mesmo assim, mal podia esperar. Naquele mesmo dia, iria estar em um trem, embarcando para a Capital. Era seu momento, então, por que estava tão tenso?

Sim, era por causa dos outros. Os outros garotos da Academia de treinamento de Carreiristas também cobiçavam essa chance. Quem poderia culpá-los? Era algo honroso e desejado por muitos no Distrito 1, e Peter entendia a sensação mais do que ninguém. Mas... aquele era o seu momento! Não poderia abrir mão de tudo o que queria, não agora.

Seus pensamentos cessaram junto com as vozes. O silêncio mortal anunciava: Era este o momento. Agora seriam selecionados os Tributos.

Ponto de vista: Jen

Jen então ergueu os olhos e a avistou em cima do enorme palco. Effie Trinket, a mulher que fazia a Colheita de nomes todos os anos. Este ano, era impossível não notá-la com o tom berrante de rosa que estava por todo o seu vestido e em seu cabelo. A maquiagem intensa já era algo comum naquela mulher completamente incomum. Effie então começou seu discurso habitual com a mesma frase.

–Bons Jogos Vorazes, e que a sorte esteja sempre a seu favor! Bem, antes do início da cerimônia, passaremos um filme vindo diretamente da Capital.

A tela de projeção desceu, e Jen voltou a olhar para baixo, e se perder em devaneios. Já sabia de trás para frente todas as palavras daquele filme, e não necessitava vê-lo de novo. Falava sobre os Dias Escuros, sobre os Jogos, e sobre a esperança de paz que eles trazem à todos.

"... E que a sorte esteja sempre a seu favor!" a frase ouvida anunciava o fim do curta-metragem. E como sempre, era seguida pelas palmas animadas de Effie, que parecia nunca se cansar de assistir ao vídeo.

–Bom, agora serão sorteados os nomes para a 72ª Edição dos Jogos Vorazes! Como de costume, primeiro as damas.

Ela remexeu uma bola de vidro cheia de nomes, e finalmente tirou de lá um papelzinho. Jen estava levemente aflita, porém o suspense e a animação eram maiores. Effie então anunciou alto e claro o nome que havia retirado.

–Jennyffer Oliver!

Ponto de vista: Peter

Está bem, pensava Peter enquanto observava a garota indo em direção ao palco, e então agora é a hora de escolherem o outro tributo.

Não podia negar, a garota era bonita. Seus cabelos lisos e castanhos pareciam dançar enquanto ela caminhava até o palco. Antes que pudesse subir as escadas, ela ajeitou o vestido azul que usava, e respirou fundo. Então, finalmente chegou ao palco, ao lado de Effie Trinket, com um sorriso no rosto. Não, Peter! Não agora, dizia ele a si mesmo, foco. Este não é o momento de pensar em garotas. E realmente, aquele não era o momento. Estava prestes a fazer o que queria.

–Agora -anunciou Effie- será sorteado o tributo masculino!

Enquanto a mulher remexia outra bola de vidro, Peter começou a refletir. Não se ofereceria se fosse sorteado um garoto com maiores chances, é claro. Mas torcia para que fosse sorteado um daqueles fracotes que não treinavam, que não queriam ir para os Jogos.

Effie então tirou um papel de dentro da bola, e o leu em voz alta, como tinha feito com Jennyffer.

–Michael Thompson!

Peter então olhou para frente, mas não houve movimento. Ele então virou a cabeça, e viu um garotinho apavorado levantando-se na última fileira. Era seu primeiro ano nos Jogos, e ele estava chorando silenciosamente. Peter, além de feliz, sentiu-se no dever de ajudar. Não poderia deixar uma criança frágil como aquele garoto ir para um lugar tão mortífero como a arena. Sabia o que tinha que fazer.

O menino, Michael, já estava no meio do corredor, indo em direção ao palco. Apertava firmemente as mãos ao corpo, para evitar que tremessem. Foi então que Peter, sem pensar duas vezes, pôs se de pé e ergueu a mão.

–Eu me ofereço como Tributo.