Acordei com uma dor de cabeça infernal. Forcei-me a abrir os olhos e encarar o teto cheio de fotos do meu quarto. O sonho que eu havia tido tinha sido muito louco. Como se Connor Stoll fosse aparecer do nada no meu caminho um dia, né? Eu estava impressionada demais com os livros do tal Richard Riordan.

E então o sátiro passou pela minha cama.

Tomei um susto tão grande que um grito acabou por escapar de meus lábios. Uma mão apertou meu pulso esquerdo e eu virei de uma só vez para ver quem era. Ao meu lado, uma garota de 17 anos, de cabelos castanhos enfeitados por uma papoula vermelha, estava sentada com uma das mãos ao redor do meu pulso.

– M-M-Miranda? – gaguejei – Ah meus deuses, aquilo não foi um sonho!

– Nós nos conhecemos? – ela levanta uma sobrancelha – Não me lembro de ter te visto algum dia... Seu nome é Susanna, certo?

– Sim, meu nome é Susanna e não, nós não nos conhecemos.

– Então como sabe meu nome?

– Estou chocada demais para te explicar... Mas porque você está aqui? Cadê o Connor?

– Quíron o mandou ir dormir porque ele ficou dois dias acordado, esperando você abrir os olhos. Desde então, eu tenho revezado com Butch. Falando nisso, você ainda precisa de um pouco disso.

Ela me entregou um pedaço de algo pequeno, branco e mole que parecia muito com torta de limão.

– Ambrosia?

– Sim. Coma.

Analisei o tamanho do pedaço que ela havia me dado e como ele era do tamanho do meu dedão, não achei que seria ruim se eu enfiasse tudo na boca. Adivinhe o gosto. Sim, isso mesmo. Minha ambrosia tinha gosto de brigadeiro.

– Por quanto tempo fiquei apagada?

– 5 dias. Mas está tudo bem. Quíron ligou pra sua mãe assim que você chegou.

– E desde quando ele tem o número da minha mãe?

Miranda deu de ombros.

– Piper, uma filha de Afrodite, lhe mandou algumas roupas para você se trocar. Tem um biombo logo ali onde você pode se trocar. Vou te esperar lá fora já que preciso lhe apresentar o acampamento.

– Ahn... Não precisa. Pode ir fazer o que quiser. Eu me viro. Não vou me perder no Acampamento.

– Tem certeza?

– Sim. Vá se divertir um pouco.

Ela me deu um sorriso de gratidão e foi embora. Levantei da cama e meus pés descalços tocaram o chão frio da enfermaria, o que fez meu corpo todo se arrepiar. Fiquei com medo de que minha perna não sustentasse o peso do meu corpo, mas depois de cambalear um pouco, consegui caminhar até o biombo.

As roupas que Piper havia separado pra mim eram uma bermuda jeans, uma camisa de um ombro só do Acampamento Meio-Sangue com o desenho da sombra de um pégaso e um par de all-stars novos, já que o Cão Infernal levara os meus para o Tártaro. Junto com as roupas que vieram dentro de uma bolsa da Tiffany’s, havia uma escova, um prendedor de cabelo e um pote de creme para pentear.

Troquei minha roupa rasgada e suja pelas roupas novas e fiz uma trança no meu cabelo. Olhei minha perna esquerda e descobri duas cicatrizes. Uma abaixo do joelho e outra no tornozelo. Minha mãe surtaria quando as visse. Minha mãe... Pensar nela depois de tudo aquilo me dava um aperto no coração. Quem realmente era minha mãe?

Minha mão automaticamente voou para o meu pescoço, mas o colar não estava lá para eu esfregar seu pingente. Certo desespero cresceu em meu peito e eu abri o biombo de uma só vez, correndo em direção ao sátiro que eu vira passar por minha maca.

– Hey Sátiro! – chamei

– Oi. O que houve?

– Sabe onde estão minhas coisas? Eu vim pra cá com uma mochila e um colar de bronze celestial. Mas eu desmaiei e não sei se Connor trouxe minhas coisas.

– Era uma mochila preta com pingentes pendurados e um colar com um sigma?

– Sim. Isso mesmo. Sabe onde estão?

– Só um minuto. Vou buscá-los.

Ele foi até uma sala e voltou um minuto depois com minhas coisas nas mãos.

– Sugiro que você vá até o Chalé 9 e peça pra um dos filhos de Hefesto consertar o fecho do seu colar.

– Boa ideia. Obrigada.

Pus minha mochila nas costas, o colar no bolso e comecei minha tour pelo Acampamento.

Comecei descendo a Colina Meio-Sangue correndo e de olhos fechados, só pelo prazer de subi-la de novo como todo semideus faz um dia. Vi o pinheiro de Thalia com o Velocino de Ouro pendurado em um de seus galhos e Peleu, o dragão guardião adormecido a seus pés. Passei pelo portal com o nome do Acampamento escrito em grego e sorri ao perceber que conseguia lê-lo. Segui para os chalés que agora tinham o formato de um ômega (Ω), já que Annabeth e Percy haviam proposto aos deuses a construção de novos tronos e chalés para os deuses menores e seus filhos. Fiquei tentada a entrar no chalé 9, no 3 e no 13, mas eu sabia que não podia pois não conhecia ninguém de nenhum deles. Na verdade verdadeira, eu conhecia sim, mas eu ainda não sabia como explicar esse fato a eles em poucas palavras. Pensei em visitar a caverna particular de Rachel, mas eu não sabia exatamente onde era e seria estranho também, então eu fui para o riacho. Sentei no cais e fiquei olhando meu reflexo na água cristalina.

– Oi! – uma Náiade disse de repente

– Hey. – sorri – Tudo bem?

– Sim. – ela se debruçou sobre a madeira do cais - Nunca a vi por aqui. É filha de quem?

– Sou nova aqui. Ainda não sei de quem sou filha. Está sabendo de alguma notícia sobre Percy Jackson?

– Eu soube que ele está em outro acampamento. Um grupo de semideuses está se reunindo para resgatá-lo.

– E como vai a construção do Argos II? Falta muito pra acabar?

– Nem tanto. Segundo o Leo Irritante Valdez, o navio estará pronto em uma semana.

– Ele está no Bunker 9?

– Provavelmente.

– É muito longe daqui?

– Não vá lá. Você vai se perder na floresta. Se quer falar com ele, espere-o no jantar. Preciso ir. Adeus.

– Espera! Eu...

– Di Immortales! Volta aqui filha de uma medusa! – ouvi alguém gritando atrás de mim – Não! Pro riacho não.

Virei e vi uma folha vir voando na minha direção. Levantei rapidamente e consegui pegá-las antes que esta caísse na água. Era o projeto arquitetônico do chalé de Tique. Uma garota loira de cabelos cacheados, olhos acinzentados e com um colar de contas coloridas no pescoço veio correndo na minha direção. Annabeth. Enrolei o projeto e entreguei a ela.

– Obrigada. – ela murmurou

– Disponha. Hm... É uma boa construir um chalé para a deusa dos apostadores?

– Eles também são semideuses. Merecem um chalé como todos os outros.

– Pensando assim... Faz sentido. Você é uma ótima arquiteta Annabeth.

– Como sabe meu nome?

– Longa história. Acho que terei que contá-la à Quíron e aos Conselheiros-chefes.

– Você é nova por aqui. Qual seu nome?

– Susanna. Mas pode chamar de Susan.

– Ah... Você é a garota que o Connor trouxe... Quíron estava preocupado com você.

– Eu tenho que ir pra Casa Grande, mas preciso encontrar Leo Valdez primeiro. Infelizmente, eu não sei como chegar ao Bunker 9.

– Ele não está lá. Ele foi pro chalé dele para pedir uma mãozinha aos irmãos. Quer que eu te leve lá?

– Você não está ocupada?

– Não exatamente. Eu estou esperando um amigo que ficou de me trazer notícias sobre... – seus olhos ficaram vermelhos

– Percy está no Acampamento Júpiter. Fica perto do túnel Caldecott em Berkeley Hills, Califórnia, ou seja, do outro lado do país. Assim como Jason Grace, ele não se lembra de nada. Mas ele está bem. Fez amizade com dois campistas logo que chegou. É bem a cara dele.

– Como... Como você sabe disso? Você o viu? Vamos! Diga!

Ela agarrou meus ombros e me sacudiu como um boneco, esperando que eu lhe respondesse.

– Você não vai acreditar se eu quiser. Ninguém vai acreditar, na verdade. Quíron talvez.

– Então nós vamos para a Casa Grande agora.

– Espera! Mas e o chalé 9?

– Dane-se o chalé 9! Você fala com Leo no jantar.

Então ela agarrou meu braço e saiu me arrastando consigo.

O Argos estava na varanda, sentado em um banco, jogando xadrez com um sátiro. Quíron, em forma de centauro, observava o horizonte.

– Ah. Olá Susanna. Está se sentindo bem? Fiquei preocupado com você. Sim, eu sou um centauro. Sou o diretor de atividades desse Acampamento. – ele disse ao nos ver – Oi Annabeth.

– Quíron, precisamos conversar. – Annabeth murmurou

– Percy?

– Sim.

– Vamos para o escritório. Susanna, daqui a pouco falo com você.

– Não. Ela vai também. Ela tem muito a nos dizer.

Quíron levantou uma sobrancelha para Annabeth, mas ela continuou com a mesma expressão decidida. Então ele finalmente cedeu e tive que segui-los até o escritório, mantendo-me bem longe da retaguarda de Quíron. Não que eu achasse que ele fosse me dar um coice, mas nunca se sabe.

O escritório dele era como Piper havia descrito. Havia um mapa dos EUA com pontinhos vermelhos em uma parede e um painel com fotos de campistas em outra. Reconheci Charles Beckendorf e Silena Beauregard em uma das fotos e senti meus olhos arderem. Desviei o olhar e então vi Annabeth e Quíron me encarando com uma das sobrancelhas arqueadas e os braços cruzados. Senti meu rosto ficar quente e me encolhi.

– O que tinha a nos dizer, Susanna? – Quíron perguntou

– Podemos nos sentar primeiro? – suspirei – É uma longa história e eu preciso lhes mostrar algo no meu laptop.

– Ahn... Isso é algo perigoso a se fazer. Monstros...

– Eu sei. Os monstros podem rastrear meios-sangues pelo sinal de celular ou de internet, mas não preciso de internet para o que vou fazer.

Quíron hesitou por um momento, mas depois assentiu e me indicou uma poltrona onde eu podia me sentar. Desabei sobre a poltrona e comecei:

– Quando fiz 10 anos, um cara chamado Richard Riordan começou a me mandar e-mails que continham livros. Eles contavam toda a história de Percy aqui no Acampamento. Desde o incidente com o raio-mestre até a Grande Batalha de Manhattan. Por isso eu sei muita coisa sobre o mundo meio-sangue e conheço todos os Conselheiros-chefes de todos os chalés e mais alguns campistas. Eu sei tudo de importante que aconteceu nos últimos 5 anos aqui dentro desse Acampamento.

– Mas se você só sabe o que aconteceu até a Batalha de Manhattan, como... – Annabeth começou

– Eu sei mais que isso. Eu sei sobre a missão de Jason, Piper e Leo. Sei de Gaia. E sei onde Percy Jackson está e o que aconteceu nos últimos 6 meses em que eles esteve desaparecido.