Depois daquilo o final de semana passou normalmente, estou indo para a escola com todas as memórias ainda frescas na cabeça como se ainda estivesse acontecendo. Na entrada da escola vejo a Lia com a Jeny e com a Bhree, na hora que vou chama-la vejo o Bernardo se aproximando e a chamando para entrar, ela me olha, aceita então o vejo Bernardo soltar um sorriso na minha direção.

  Aula de redação e a professora tinha passado um exercício onde eu deveria escrever um poema, ler na frente da turma e dedicar a alguém.

  ___Trevor, sua vez! –Diz a professora.

  ___Um sentimento antes adormecido, agora se aflora de um jeito difícil.

        Tudo que antes eu tinha certeza, agora se bagunça como em uma brincadeira.

        Minha vida de ponta a cabeça, a historia parada, a historia mexida, a historia que não define o futuro da minha vida.

        Incertezas, inseguranças, decepções eu vou viver mas o que eu quero mesmo é estar sempre com você. –Termino de ler sempre olhando para a Lia e abaixo a cabeça.

  ___Nossa Trevor! Você colocou seus sentimentos nesse poema mas ela é dedicada a quem? –Pergunta a professora.

  ___Para a... a... ela é dedicada para uma amiga só isso! –Digo e me sento sem ao menos ver se alguém entendeu para quem era.

  ___Luke! Sua vez! –Continua a professora com o exercício.

  ___Eu fiz não! –Responde rindo.

  ___Como assim não fez? –Pergunta a professora irritada.

  ___Não fazendo, viu como é fácil? –Retruca o Luke.

  ___Então Luke eu quero conversar com o seu pai amanhã mesmo! Quem está rindo agora? –Fala ela.

  ___Eu! Porque meu pai está viajando! –Continua ele ainda rindo.

  ___Avise quando ele voltar! –Diz.

  Bate o sinal e a professora se retira, estou sentado no meu lugar, olho para trás e vejo o Luke vindo em minha direção, será que ele não cansa de brigar? Será que nem de luto o Luke consegue ficar?

  ___Ai que lindo! O Trevor aqui gosta da Lia e achou que ninguém iria reparar! –Começa a Bhree.

  ___Lindo não é amor? Que pena que a Lia estava dando uns beijos no Bê na festa. –Diz o Luke me provocando.

  ___Eu sabia que o Trevor não era grande coisa, a Lia e o Bê é o casal perfeito. –Continua a Bhree.

  ___E vocês sabem porque a Lia não quis o Trevor? –Agora todos estão olhando para o Luke.

  ___Não. Porque? –Pergunta a Bhree rindo.

  ___Porque todos abandonam ele, não é Trevor? Até o seu pai abandonou vocês, quando se cansou.

  Essas palavras me deixam tonto como se alguém acabasse de me espancar, como ele pôde? Como ele pôde falar isso? Me lembrando da cena do dia em que meu pai nos deixou uma lágrima escorre do meu rosto.

  ___Está chorando Trevor! Quer papai de volta? –Diz com aquela voz irritante.

  ___Para Luke! Já chega! –Grita a Lia do fundão.

  ___Não precisa, Lia! –Digo me levantando da cadeira e enxugo meu rosto.

  ___Você viu Lia, o Trevor não precisa mais de você! –Luke está rindo.

  ___Você está certo Luke, meu pai foi um covarde ele nos abandonou, ele fugiu mas é melhor ter um pai covarde do que ter um pai ladrão. –O Luke se fecha de ódio e a Bhree agarra ele para não me atacar.

  ___Trevor! O que você está dizendo é uma coisa muita séria. –Diz a Lia.

  ___Então vocês não sabem, não é? –Pergunto.

  ___Saber o quê? –Pergunta a Lia.

  ___O pai do Luke não está viajando. O pai do Luke está preso por desvio de dinheiro público e o riquinho aqui está falido, não é mesmo? –Falo e observo a reação de todos que olham com desprezo.

  O silêncio paira entre nós e não escuto nenhuma resposta ou murmuro em defesa do Luke, eu sabia que o único jeito de fazer ele se sentir mal era falando abertamente que ele estava pobre já que esse tipo de pessoa só se preocupa com dinheiro. Ele se levanta e se retira da sala sem ao menos olhar na minha cara e quando olho para a porta vejo que a professora escutou tudo.

  ___Professora, posso ir atrás do Luke? –Pergunta a Bhree.

  ___Não Bhree! Quem deve ir atrás dele é o Trevor! –Responde a professora.

  ___Eu porque? –Pergunto com desprezo.

  ___Olha Trevor eu sei que você e o Luke não se dão muito bem mas o que eu acabei de ver e escutar passou de todos os limites. –Fala a professora calma.

  ___Você quer que eu peça desculpas a ele? Pode esquecer. –Digo me sentando.

  ___Não precisa pedir desculpas apenas converse com ele. –Continua ela.

  ___Eu e o Luke não temos nada para conversar. –Continuo tentando fugir do pedido.

  ___Trevor! –Fala a professora.

  ___Está bom! Eu falo com ele. –Me levanto e vou a caminho da porta.

  O Luke não merece nada disso de pedir desculpas ele precisa de mais humilhação. Mas fico pensando será que não estou sendo muito ruim com ele? Será que estou fazendo com ele a mesma coisa que ele fez comigo? Porque estou tão diferente? Não consigo responder nenhuma dessas perguntas, e qualquer pessoa inteligente perceberia que tem alguma coisa errada comigo, a força, a fome, a raiva, tudo está intensificado como se estivesse em uma panela de pressão.

  ___Luke? –Digo quando o vejo sentado no chão longe da sala.

  ___O que você quer? –Pergunta com a cabeça baixa.

  ___A professora me mandou conversar com você. –Respondo.

  ___Eu não preciso conversar com ninguém, muito menos com você. –Diz me desprezando.

  ___E você acha que eu vim aqui para te levantar e para te pedir desculpas? –Digo voltando a ser rude mesmo contra minha vontade.

  ___Então veio fazer o quê? –Pergunta com raiva.

  ___Eu estou aqui para te lembrar que você fez coisa muito pior comigo todo esse tempo e o que eu fiz agora é só o começo de toda agonia que você vai passar em minhas mãos e também para te falar que o seu pai agora sempre vai ser lembrado como um ladrão. –Falo rindo e ele se levanta furioso.

  ___Nunca mais fale do meu pai ou...

  ___Ou o que Luke? Você vai chamar seu pai para te defender? –Interrompo os gritos dele.

  ___Você vai se arrepender do dia em que me conheceu! –Ele está completamente vermelho de raiva.

  ___Não vou não! Sabe porque? Porque você me tornou a pessoa que sou agora, então tome cuidado com pessoas que você não conhece direito, elas podem te surpreender muito. –Falo e não consigo para de rir da cara dele.

  ___Agora entendi tudo! Foi a sua mãe, não foi? –Diz ele começando entender tudo.

  ___O quê? –Pergunto sabendo o assunto mas querendo ouvir da boca dele.

  ___Foi ela que te contou sobre meu pai! Agora me lembro ela trabalha lá dentro, mas não se preocupe ela vai ser demitida. –Ele fala e fica rindo como um psicopata prestes a capturar uma nova vítima.

  ___É mesmo! Seu pai vai demiti-la da cadeia nem sendo mais o prefeito! Cresce Luke já está na hora de encarar a realidade, você não manda mais em nada. –Respondo e seu sorriso se fecha rapidamente,

  ___Já tenho problemas suficientes não preciso de mais um. –Fala e se encaminha em direção a sala.

  O Luke está passos a minha frente e estamos indo para o mesmo caminho, quando ele está na porta da sala já entrando puxo o pé dele em direção ao outro fazendo-o cair de cara no chão, como sou muito discreto todos pensam que ele caiu sozinho, me abaixo e me aproximo dele.

___Toma cuidado Luke, ás vezes estamos no topo e caímos sem explicações só nos restando o chão e a humilhação. –Me levanto e me sento no meu lugar.

  A professora não se encontra na sala então todos estão fora dos seus lugares, observo o Luke indo para sua carteira e ninguém dá muita bola, com exceção da Bhree, da Lia, da Jeny e um menino do time que acho que já passou por uma situação parecida.

  Eu me encontro na primeira carteira, com sentimentos diversos de tudo que está acontecendo, eu fico triste pelo que o Luke está passando e não desejaria isso a ninguém mas ao mesmo tempo eu me sinto feliz e quero a ele mais humilhações.

  ___Trevor! –Fala o Renner baixinho puxando a cadeira e se sentando do meu lado.

  ___O que foi? –Pergunto rabiscando o meu caderno.

  ___Eu acho que você pegou muito pesado com o Luke. –Começa o Renner.

  ___Olha eu não preciso de ninguém para dizer o que eu estou fazendo certo ou errado, entendeu? –Falo bravo.

  ___Calma! Eu só estou comentando. –Fala assustado com minha reação.

  ___Então esqueça isso,está bom? –Falo e me volto para o caderno novamente.

  ___Está bem, mas porque você ficou tão bravo? –Pergunta.

  ___Porque o que eu fiz com o Luke não se compara com o que ele fez comigo todo esse tempo e quando ele fazia ninguém se importava mas quando decido fazer o mesmo eu me torno o vilão. –Respondo.

  ___Ok! Vamos mudar de assunto você está muito nervoso. –Diz rindo.

  ___Eu não estou nervoso, só um pouco estressado. –Digo rindo também.

  ___Então se você não está nervoso eu posso te perguntar uma coisa? –Pergunta o Renner.

  ___Você acabou de me perguntar. –Respondo rindo porque de um modo muito estranho todo o excesso de raiva desapareceu só deixando o meu lado tímido sumido á algum tempo.

  ___Não é essa, e é sério. –Diz.

  ___Então fala. –Tento quebrar o suspense.

  ___Eu sei que você gosta da Lia já tem algum tempo. –Começa.

  ___Comecei no mesmo dia em que você chegou, mas continua. –Corrijo ele.

  ___Certo, mas ela já tinha tempo que gostava de você e depois teve esse lance do beijo do Bernardo e vocês ficaram frios um com o outro, entende? –Pergunta.

  ___Na verdade não estou entendendo nada que você está querendo dizer até agora. –Respondo.

  ___É que vocês eram tão unidos quando cheguei e depois daquilo ela se afastou, então você faz um poema que sem dúvida alguma foi para ela e ela nem sequer expressa emoções, não veio te agradecer e prefere ficar do lado do Luke do que do seu. –Diz olhando para trás onde a Lia está.

  ___E... –Falo para ele continuar.

  ___E que você não acha que devia dar um tempo nessa historia,esquecer a Lia por um tempo, ou você prefere perder ela para sempre? –Me pergunta educado.

  ___Mas não foi você mesmo que falou para eu falar tudo o que eu sentia por ela? –Faço outra pergunta só que meu tom não está muito educado.

  ___Eu sei é só que... eu não sei se vai dar muito certo você ficar brigando com o Bernardo pela Lia como se ela fosse um pedaço de carne, no final disso você não vai ganhar nada exceto dois inimigos, a Lia e o Bernardo. –Fala.

  ___Entendi. Você acha que a Lia vai ficar com raiva por eu estar brigando por ela como se ela fosse algum tipo de troféu. –Digo pensativo.

  ___Isso! Agora você entendeu que nenhuma mulher gosta disso, então se ela gostar mesmo de você ela vai te escolher e não ao contrario. –Fala terminando o assunto.

  ___E ai mudando de assunto você não vai me dizer em que cidade você morava? –Pergunto retomando o assunto “vida do Renner”.

  ___Renner sente-se no seu lugar! –Fala a professora.

  ___Depois eu te conto. –Murmura e se retira para o seu lugar.

  ___E vocês do fundo todos calados eu deixei dever para ser feito não quero conversas paralelas. Andem, andem todos nos seus lugares fazendo o dever. –Grita a professora.

A aula ocorre normalmente mesmo que esse normal seja varias olhadas aqui e ali de todos, cochichos, murmúrios e um clima pesado. O Luke se encontrando em quase total solidão, eu sendo odiado pela Lia e ela recebendo inúmeras cantadas ridículas do Bernardo como eu disse normal.