A Bela e a Fera escrita por Acyd-chan


Capítulo 5
Capítulo 5




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-# Meu primo e aquele porco que o domina pouco se importaram com esse lugar.

Tentando acompanhar os passos largos do marido Kagome não respondeu. Sentia a mesma fúria de Inuyasha e , ao lado dele, percorria o castelo. Toda a beleza que podia ter existido na propriedade estava agora, encoberta pela imundície e pela negligência. O belo e rico castelo de que tanto ouvia falar não era adequado ao porco que percorria livremente os aposentos.

Ela lutava contra a raiva. O sentimento era inútil. O dano estava feito. A energia que desperdiçava odiando o causador do estrago seria bem empregada se trabalhasse duro para rapará-lo.

-#Não consigo acreditar que Sesshomaru deixou a situação chegar a esse ponto – Inuyasha comentou.

-#Não – Kagome estava tão ofegante que mal conseguia falar. - Ele parecia apreciar a limpeza.

Ouvindo a respiração arfante, Inuyasha parou para pegá-la nos braços. Kagome era tão leve! Os seios fartos se moviam com o esforço para respirar. Era difícil desviar os olhos do rosto corado. Mesmo assim, a raiva ainda o dominava. Ele voltou a andar. Precisava se mover para lidar com a fúria. Sair do castelo não serviu para aliviar a ira. Do lado de fora, a situação era tão ruim quanto no interior.

-# Há tanto trabalho por fazer – ele comentou.

-# Limpeza, basicamente – Kagome respondeu. - Sim, de cada canto. Cada pedra. - Temos braços suficientes para o trabalho?

Ele beijou-a no rosto.

-# Se não houver, traremos mais gente do vilarejo.

Depois de se certificar que o chão sob uma árvore estava limpo, Inuyasha sentou-se. Kagome não tentou deixar a proteção do abraço. Em vez disso, ela apenas acomodou com mais conforto. Inuyasha já avia notado que ela costumava demonstrar abertamente seu afeto. Essa atitude da esposa despertava nele um sentimento agradável, um sentimento que podia ser perigoso. Essa sensação poderia acabar enfraquecendo a decisão de se manter distante, protegendo assim seu coração já tão castigado. Mas era impossível não retribuir o sorriso caloroso. Não era forte o bastante para resistir a esse tipo de truque de sedução.

-#Está lidando muito bem com tudo isso, minha pequena.

-# Bem, devo confessar que não estou muito satisfeita com a idéia de todo esse trabalho esperando por mim. Porém, todas as tarefas podem ser cumpridas com facilidade, desde que tenhamos braços suficientes. E haverá recompensas por esse esforço. Sob a negligência e a sugeira existe um lugar valioso e belo.

Nos dias seguintes Kagome enfrentou grandes dificuldades para provar as palavras que dissera. O trabalho era árduo para homens e mulheres igualmente. Ela contratou mais alguns trabalhadores, mas foi cautelosa, lembrando que não devia distribuir seu dinheiro livremente. Desde a praga que devastava a população, sabia que não podia mais contar com o trabalho livre e não remunerado dos servos. O pai havia aprendido rapidamente a dominar a arte da contratação e da negociação de pagamento, e ela agora se sentia feliz por ter se dado ao trabalho de aprender com ele. Inuyasha deixou tudo em suas mãos, pois nunca antes tivera de se ocupar de tais questões.

A primeira decisão de Kagome foi limpar tudo. Estava certa de que, concluída essa etapa, poderia ver mais claramente o que precisava ser substituído ou consertado. Por uma semana inteira, ela se dedicou ao trabalho com o mesmo afinco de todos os outros. Quando decidiu que o lugar estava suficientemente limpo, setia-se exausta.

No final daquela semana, ao olhar em volta, ela percebeu que estava cansada demais para apreciar o resultado do esforço. Depois de dispensar os trabalhadores que havia contratado, ela jantou e caiu na cama sucumbindo a exaustão. Quando Inuyasha se deitou, Kagome mudou de posição sem abrir os olhos, incapaz de acordar do sono pesado. Pela primeira vez desde que o conhecera, estava cansada demais até para desejar ao marido uma boa noite de sono.

Sorrindo, Inuyasha aninhou-a nos braços e sufocou o desejo. Sabia que a esposa estava muito cansada. Ela murmurou seu nome, mas nem se moveu entre seus braços. Dessa vez ele teria de conter seu ímpeto. Nada poderia despertar o interesse de Kagome naquele momento. De repente ele torceu o nariz.

-# O que é esse cheiro?

-# Receio que seja eu – Kagome respondeu sonolenta.

-#Sim , isso eu já havia percebido. O que é?

-#Algum produto que utilizei na limpeza da casa.

-# É horrível! Que produto é esse?

-#Melhor não saber. - Ela se removeu do abraço. - Sei que devia ter tomado banho, mas não consegui. Estou muito cansada. Vou dormir do outro lado da cama.

-#Não vai ajudar muito. - Inuyasha levantou.

Ela tentou chamá-lo de volta, mas, sem forças, adormeceu novamente. Sabia que na manhã seguinte se sentiria mal por tê-lo afastado da cama, mas nesse momento estava exausta demais para se importar. Quando já mergulhava novamente no sono profundo, Inuyasha arrancou as cobertas de cima dela.

-# O que está fazendo? - Ela tentou se cobrir, mas ele a tomou nos braços. - Quero dormir!

-# Vai tomar um banho.

-#Estou cansada....... Vou acabar me afogando.

-#Não se preocupe. Eu mesmo vou cuidar de tudo. - Ele a pôs em pé ao lado da tina que enchera um pouco antes.

De repente, Kagome despertou o suficiente para compreender o que estava acontecendo.

-# O cheiro é tão ruim assim?

-# Receio que sim, meu amor. - Ele riu, começando a despi-la.

Kagome estava cansada demais para ficar embaraçada. Ainda não se sentia confortável exibindo a própria nudez, mas o cansaço era mais do que a modéstia. Franca, ela se entregou aos cuidados do marido.

Inuyasha descobriu que banhá-la era, ao mesmo tempo, frustrante e delicioso. Podia tocá-la e contemplá-la com, liberdade, mas, por causa dessa mesma exaustão que era a causa de toda liberdade, não poderia saciar a fome que o contato físico despertava .Às vezes ficava muito perturbado com a facilidade com que ela despertava sua paixão. Mesmo gloriosa como era, essa ânsia era uma perigosa fraqueza.

Ele a tocava sem pressa. Suspirando, decidiu que Kagome despertaria essa mesma fraqueza em qualquer homem. Por mais difícil que fosse aceitá-la, tinha de reconhecer que a reação era inevitável e natural. Cada manhã que acordava e a descobria em seus braços, a surpresa se renovava. Pensar nisso pouco colaborava para aliviar a dor em seu corpo. Já começava a pensar que nunca seria capaz de contê-lo por completo.

Enquanto a enxugava e vestia com uma camisola limpa, Inuyasha não conseguiu evitar um sorriso. Ela parecia embriagada. Com gentileza, ele a pôs na cama. Depois de apagar as velas, deitou-se ao lado dela e a tomou nos braços.

-# Ah, muito melhor – murmurou.

-#Era tão ruim assim?

-# Sim. Agora está cheirosa.

-#Obrigada, Inuyasha. E...... - Apesar do cansaço, podia sentir no corpo do marido as vibrações do desejo. - Eu sinto muito estou exausta.

Ele sorriu.

-# Amanhã estará descansada.

-# Sim, estarei. E daí?

-# E daí que posso esperar.

Ela adormeceu enquanto Inuyasha ainda ria. Sentindo o perfume doce da esposa, ele decidiu que não a deixaria se esgotar novamente. E não tomava a decisão impelindo apenas pelas necessidades do corpo. Pensava também nos riscos à saúde de Kagome. Gostava de ordem e limpeza. Mas esse era um preço alto de mais a pagar. Pensando bem , a frustração que experimentava nesse momento também era um preço alto de mais. Fechando os olhos, ele tentou dormir e ignorar as necessidades não atendidas

Kagome espreguiçou-se sem pressa, ficou observando o marido que se lavava. Ela decidiu que era muito agradável acordar com beijos ardentes e carícias provocantes.

A euforia provocada pelo ato de amor não podia ser ofuscada nem mesmo pela idéia de todo o trabalho que a esperava.

-# Kagome, não quero mais que trabalhe desse jeito.

-#Não?

-# Não. Entendo a necessidade de limpar esse lugar. Mas agora já está tudo limpo. O trabalho que ainda está por fazer pode ser feito sem pressa. Sua saúde é mais importante que a organização de casa. Na verdade, se adoecer, só perderá mais tempo.

-# Sim, você está certo. Pensei nisso quando caí na cama ontem à noite. Foi a imundície. Não consegui suportar.

Ele se aproximou para beijá-la.

-#Eu sei. Mas já está tudo limpo. Só precisa supervisionar o trabalho de manutenção. Cuide de você. E isso é uma ordem – ele concluiu antes de partir.

Kagome não protestou. Essa era uma ordem a que poderia obedecer com facilidade. Havia muitas coisas sem as quais poderia sobreviver, mas limpeza não era uma delas. Não suportaria a sujeira que tinha encontrado na casa. Agora tudo estava limpo. Podia trabalhar menos. Tinha muito tempo para fazer da casa o lugar adorável que ela poderia ser. Daria um passo de cada vez. Em pouco tempo ela começou a se perguntar se mesmo um passo de cada vez não seria demais.

Olhando para o jardim, Kagome resmungou:

-#É difícil distinguir as ervas do mato.

-#Sim – Sango concordou. - É evidente que os tolos nunca se incomodaram com medicamentos.

-#Nem com aromas agradáveis.

-# Isso eu já havia notado.

Kagome arregaçou as mangas e se ajoelhou na terra.

-#Bem, nós não vivemos sem essas coisas. Vamos ver o que é útil no meio dessa confusão. As ervas podem estar enfraquecidas pela falta de cuidado. Porém, creio que ainda há tempo para recuperá-las.

-#Sim. E fazê-las desabrochar. - Sango imitou a prima. - Creio que posso ver algumas plantas úteis.

Um silêncio confortável caiu sofre as duas. Kagome gostava de trabalhar no jardim. A tarefa a acalmava. O trabalho era duro, mas gratificante.

-#Kagome? Você está feliz?

-# Sim, estou. Por quê? Teme que eu seja infeliz?

-# Não. Mas você pouco fala sobre o assunto.

-#Não há muito a dizer. Creio que falamos mais nos momentos difíceis.

-# Sim, às vezes. Quer dizer que ama Inuyasha, então?

-# Ah, essa pergunta.......

-#Sim. Exatamente essa pergunta. Você o ama?

-#Não sei ao certo, Sango. Não é tão fácil saber. Não como eu imaginava que fosse. Só tenho certeza de que gosto muito dele. Mas gostar e desejar eqüivalem a amar? Creio que é possível gostar muito de alguém sem amar essa pessoa. Entende o que digo?

Sango balançou a cabeça.

-#Ele a ama?

-#Quem sabe? Nunca falamos sobre isso. Talvez seja esse silêncio que me mantém na incerteza.

-#Oh. Ele gosta de você. Eu sei.

-#Gosta de mim...... sim. Mas esse gostar leva ao amor, ou é simplesmente o sentimento de um homem por alguém com quem ele divide a cama e tem filhos? Entende o que eu quero dizer? Há muitas respostas para essas questões. Muitas questões. Pode ser amor. Pode ser um sentimento forte e duradouro. Se pudéssemos conversar sobre isso, talvez a confusão se esclarecesse. Mas nunca tocamos no assunto.

-# Precisa dar tempo a ele.

Talvez, mas não sei se Inuyasha é o tipo de homem com quem eu possa conversar sobre essas coisas. Alguns homens se negam a ter esse tipo de conversa.

-#É verdade. Mas há outros que falam de amor com facilidade e mentem.

-# Prefiro o silencioso às mentiras.

-#É mesmo muito melhor. É possível que algo contribua para manter a confusão, algo que, quando esclarecido, poderá revelar as respostas para muitas dúvidas.

-#Bem, há uma coisa. - Ela encolheu os ombros. - Não sei se esse esclarecimento pode resolver tudo. Inuyasha não confia em mim.

-#Não. Está imaginando coisas.

-#Receio que não. Sou tudo que ele aprendeu a evitar. Há uma evidente desconfiança nele, Posso senti-la, embora não tenha certeza de sua profundidade. Pior, não sei quanto dessa insegurança poderei remover. Trata-se de um obstáculo para tudo que podemos sentir um pelo outro.

-# Certamente é. Kagome, acho que tudo que pode fazer é exatamente o que está fazendo. Se alguma mulher merece confiança, essa mulher é você. Logo ele vai perceber que essa insegurança é tola e desnecessária. O tempo resolverá tudo. Afinal, mesmo casados, vocês ainda são praticamente estranhos. Ambos têm muito a aprender sobre o outro. Esse aprendizado leva tempo, mas traz conhecimento e confiança.

-#Talvez. Proferir votos diante de um sacerdote não significa confiança e amor imediatos. Sou muito afortunada. Nunca minha confiança foi desmerecida. Ele não pode dizer o mesmo. Posso confiar com mais facilidade. - Ela sorriu para Sango. - E você, o que decidiu sobre meu marido?

-#Não decidi nada. Não completamente. É verdade que ele pode me causar grande incerteza às vezes.

-#Sim, quando extravasa sua fúria – Kagome riu. - Não há nada a temer nisso, prima.

-#Parece muito segura disso.

-# E estou. Confie em mim. Não há nada para temer na ira de Inuyasha, exceto a possibilidade de ficar surda com seus gritos. Ele brande os punhos, prima. E pode destruir coisas, como fez com a porta do estábulo na semana passada. Mas raramente tocam um ser vivo. Ele conhece bem a própria força e seu temperamento. Sim, ele grita, ameaça..... mas nunca vi meu marido ferir alguém.

-# O criado do estábulo teria gostado de saber disso. Deve ter temido pela própria vida.

-#Imagino que sim. Sua negligência quase aleijou o melhor cavalo de Inuyasha. Muitos outros o teriam punido na hora. Mas o homem continua vivo. E talvez mantenha sua posição de mestre do estábulo, se não cometer outro erro grave.

-#É claro. Vou tentar me lembrar disso na próxima vez em que os gritos de Inuyasha fizerem tremer as paredes.

-#Isto é orégano? - Kagome franziu a testa para a planta diante dela.

Sango estudou as folhas com cuidado.

-#Bem acho que as três do meio são.

Kagome começou a mover o mato que as cercava.

-# Creio que seria mais fácil arrancar o orégano e deixar o mato.

Sango riu, mas logo ficou séria outra vez.

-#Esperava algumas respostas, algum conhecimento. Talvez algumas revelações.

-#Revelações? Sobre o quê?

-#Amor – Sango murmurou corando.

-#Oh, não. Miroku...

-# Sim Miroku. Eu acho. É difícil ter certeza, não só dos meus sentimentos, mas dos dele. Miroku é um mestre na arte do flerte. Receio ver mais em seus sorrisos e em suas belas palavras do que realmente há. Esperava que pudesse me ajudar a esclarecer essa confusão, entender melhor tudo isso.

-# E agora sabe que estou tão confusa quanto você – respondeu kagome. - Lamento prima. Tenho pouco a dizer. Nunca vi Miroku tentar seduzir as criadas da casa. Ele também não costuma acompanhar os outros homens ao vilarejo.

-#Eu sei disso. Mas receio estar vendo apenas o que quero ver. Se diz que também notou o que eu vi, então, talvez, seja verdade, talvez ele seja sincero.

-# Quer saber o que eu faria?

-# Sim. Talvez me ajude.

-# Eu confiaria até ter motivo. E agiria de acordo com sua aparente sinceridade. O excesso de insegurança pode causar a perda de tudo que mais desejamos. Sim, é verdade que o sofrimento é uma possível conseqüência do erro da escolha do objeto de nossa confiança, mas a recompensa que se pode obter justifica o risco. Inuyasha é meu marido, e por isso tenho de suportar a desconfiança dele. Miroku não é obrigado a tolerar sua hesitação. Ele é livre para ir aonde quiser, para procurar alguém que não desconfie de sua sinceridade.

Sango assentiu devagar.

-# Sim, você tem razão. Espero poder seguir seu conselho e ser corajosa o bastante para assumir o risco.

As duas voltaram a trabalhar no jardim em silêncio. O calor do sol vespertino aquecia as costas de Kagome, por isso ela teve consciência de sua remoção. Alguém a observava.

-# Temos nuvens? - Sango perguntou intrigada, erguendo os olhos para o céu claro.

Kagome olhou por cima do ombro e murmurou:

-# Só uma. Uma grande nuvem branca. - Ela sorriu para o marido. - Algum problema, Inuyasha?

-# Pensei que ia trabalhar menos.

Era difícil manter a expressão severa. Kagome estava imunda. Não lembrava em nada a dama que era. E sua aparência inocente o encarava.

-# Essa é a única tarefa do dia.

-#Mas não é fácil, pelo que vejo.

-# Não, mas, como pode ver, tenho ajuda.

-# Isso é tudo?

-# Sim, isso é a comida que terá de estar pronta no final do dia. Os homens tem que comer. Não é muito, Inuyasha. Realmente. Eu gosto disso.

-# Evite apenas o cansaço que a derrubou ontem à noite.

-# Eu prometo. Oh, e Inuyasha? Pode pedir para alguém trazer um carregamento de esterco?

-# Esterco? Para que?

-# Para adubar o jardim. As plantas foram muito negligenciadas. Precisam de nutrição

-# Nutrição? Com esterco? Vou mandar alguém cuidar disso por você – ele decidiu antes de se retirar.

Kagome o viu se afastar. Ele era mesmo muito atraente. A beleza não o enriquecia seu rosto podia ser facilmente encontrada em seu corpo atlético.

Sango riu e corou.

-# O que é agora, sango?

-#Oh, nada..... È só o jeito como você olha para ele, Kagome. Parece sentir.....fome! Sim, fome.

-# É exatamente o que sinto. Meu corpo desperta quando olho para ele.

-# De fato?

-# De fato. Ah, prima, sei que meu marido não é belo, apesar de ter olhos encantadores. Porém, na forma física ele beira a perfeição. Há em seu corpo um poder, uma graça que me fazem pensar num garanhão. Vi essa força desde o início. É claro agora que sei o que acontece no leito nupcial....... Inuyasha e um bom amante, prima. Não tenho com que comparar o que vivemos, mas.... Não , não posso acreditar que outro me daria mais prazer. À noite ou de manhâ.

Sango olhou chocada para Kagome, segurando entre os dedos a erva que acabara de arrancar.

-# De manhã?

Kagome riu.

-# Sim. Uma donzela recebe poucas informações. Esperava apenas suportar meu dever, Talvez não sentir muita dor, ou, caso a sorte me sorrisse, conhecer algum prazer por agradá-lo. Mas obtive muito mais do que isso. Mais do que posso descrever com palavras.

-# É bom, então? - Sango perguntou tímida.

-# Sim, e talvez por isso tenhamos tão poucas informações. Com Inuyasha tudo e tão bom, que começo a pensar que devo sentir amor por ele. Como pode ser diferente? Por outro lado, lembro-me de que ele também aprecia nossa união física. Isso significa que ele me ama? - Ela balançou a cabeça. - Acho que não. A paixão de um homem nem sempre vem do coração. E talvez a da mulher também não. E isso nos remete de volta ao início, à confusão.

Sango assentiu.

-# Para você é mais fácil. A paixão não perturba seus sentimentos nem confunde seus pensamentos. - Kagome sorriu para a prima. - É isso. Como eu imaginava. Porém, embora a corteje, seduza e cubra de atenção, como fazem os amantes, Miroku não é seu amante. Inuyasha era um estranho para mim. E de repente nos vimos casados. Sei que é assim que as coisas costumam acontecer, mas começo a questionar se isso não é errado. Não conheço esse homem que me abraça à noite. E há muitos deveres a que temos que nos dedicar durante o dia. Quando teremos tempo para nos conhecermos? Conversarmos um pouco à noite, quando estamos abraçados no escuro. Mas a paixão que arde entre nós torna essas conversas breves e pouco elucidativas. Ás vezes receio que a paixão se apague. Então, serei forçada a viver com um estranho. Conheceremos o corpo um do outro, talvez tenhamos um filho, mas não nos conheceremos de verdade.

-# Oh, não, Kagome. - Sango tentou confortá-la tocando-a no braço. - Não. Não consigo imaginar tal ocorrência. Vai descobrir que sabe muito mais sobre Inuyasha. Talvez não conheça a profundidade dos sentimentos dele, os temores, esperanças e tudo que há em seu passado, mas sabe alguma coisa, e esse conhecimento só vai crescer com a convivência, porque vocês conversam muito. Eu notei.

Kagome assentiu.

-# Sim, você está certa. Falamos muito, realmente. E essas conversas trarão o conhecimento que quero ter sobre Inuyasha. Preciso procurar conhecê-lo, pensar mais em tudo que conversamos e em tudo que vejo, e o tempo é meu aliado nessa busca. O resto virá com maior facilidade. Terei ao menos uma boa idéia do que ainda preciso saber.

A conversa foi interrompida pela chegada de um homem com o esterco que Kagome havia solicitado. Ela prometeu a si mesma que não esqueceria o que ela e Sango haviam discutido. A conversa havia sido importante. Pensaria também no que já tinha aprendido sobre Inuyasha e no que ainda precisava saber.

Contudo, ela já se preparava para ir dormir quando encontrou tempo para cumprir essa promessa. Deitou-se e ainda teria alguns minutos de solidão até Inuyasha ir se juntar a ela. Pretendia fazer bom uso desse tempo. Deitada, ela cruzou o braço sob a nuca. Examinaria primeiro o óbvio, aquilo que tinha certeza.

Inuyasha era forte, um guerreiro habilidoso e vencedor. Esse era um ponto positivo. Significava que ela e os filhos estariam sempre protegidos.

A hora também fazia parte de seu caráter. Ele era honrado e justo. O dinheiro não havia sido o único motivo por trás de suas lutas. E ele era gentil. Vira essa gentileza na maneira como ele lidava com outras pessoas, em como a tratava. Deus dera a Inuyasha um corpo forte e grande, mas ele nunca abusara desse evidente porte físico.

A chegada repentina do marido interrompeu sua reflexão. Mas ela não se ressentiu, porque sentia que estava progredindo, construindo uma compreensão dos próprios sentimentos. Retomaria a contemplação em outra oportunidade, porque agora queria apenas estar com Inuyasha.

Ele se despiu e começou a se lavar.

-# Parece que cumpriu sua promessa de ir mais devagar com o trabalho – ele comentou.

-# Sim, eu cumpri.

-#É bom ouvir isso.

-# Fui muito obediente.

-# E é muito ardilosa, também. - Ele sorriu.

-# E você? Trabalhou muito?

Mais um dom favorável: senso de humor. Ele também gostava de provocá-la com brincadeiras e piadas debochadas. Kagome apreciava tais características.

-#Trabalhei muito – ele respondeu. - Na verdade, trabalhei o bastante para planejar o nosso próximo movimento. Logo poderemos viajar para as terras que você herdou com nosso casamento.

-# Ouvi dizer que essa área na fronteira pode ser perigosa e problemática.

-# Sim, ouvi a mesma coisa – Ele apagou todas as velas, exceto a que ardia ao lado da cama.

-# Acha que isso e verdade?

Inuyasha deitou-se e a tomou nos braços.

-# Nem sempre essas histórias são verdadeiras. Não sei ao certo o que nos espera, e não saberei até chegarmos lá. Preciso ir conhecer o lugar. Talvez você deva ficar aqui enquanto eu faço o reconhecimento.

-# Prefiro ir com você.

-# Vai discutir com seu marido, então?

-# Bem..... não exatamente.

-#Não exatamente? Que nome daria a essa atitude, então?

-# Conversar sobre o assunto?

-# Poupe sua retórica, pequena – ele disse, rindo. - Também gostaria de ter sua companhia. Prefiro assegurar sua segurança pessoalmente, garantir seu conforto e saber sempre que está bem.

-# Meu pai nunca mencionou todos esses problemas em Riverfall. Talvez eles não existam.

-# Hum...... Talvez.

Kagome sabia que a atenção do marido não estava mais na conversa. A maneira como ele acariciava suas costas era prova disso. Ela sorriu e o abraçou. Os corpos nus se encontraram.

-# Cansou de conversar, Inuyasha? - ela murmurou enquanto o beijava na orelha.

-# Sim. É bom saber que você percebeu.

-# Uma boa esposa deve saber a hora de se calar.

-#Falaremos mais tarde. Agora, meu interesse está voltado para outras questões.

-# Eu já notei. Pode me dizer que questões são essas?

Inuyasha se deitou sobre ela.

-# Prefiro mostrar, minha pequena.

A gargalhada foi sufocada por um longo beijo. Como sempre, Kagome se deixou dominar pela paixão. Só mais tarde, saciada e feliz nos braços do marido, ela se perguntou por que ainda tentava entender o que sentia. Qualquer que fosse o significado de seus sentimentos, sabia que eram positivos e que não precisava se preocupar com eles.

Ela olhou para o homem deitado a seu lado. Gostaria de saber o que ia na meste e no coração dele. Inuyasha não dava pistas ou indicações. Sabia que nunca teria total certeza de seu julgamento se o baseasse apenas nas ações.

Ainda levava gravada na mente a imagem do rosto de Inuyasha no momento em que ele fora informado de que se casariam. Essa era, em grande parte, a razão da apreensão que a atormentava, das dúvidas em que alguns momentos dominavam-lhe a mente. Teria sido melhor se não tivesse visto aquela expressão. Algo no casamento com ela aborrecia Inuyasha, apesar da paixão que ele demonstrava . De algum jeito, teria de resolver o problema. Só esperava que a descoberta não fosse dolorosa demais e que o problema não fosse de muito difícil solução.

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