Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 23
Finalmente juntos.


Notas iniciais do capítulo

A felicidade finalmente volta a reinar. Daniel e Malu são muitos mais felizes quando estão juntos, apesar das controversas. Os dois cresceram e amadureceram enquanto estavam separados. O que foi bom de certa forma.



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— Seu maluco! – ela sorria. — O que você faz aqui? Você me enganou! – ela soltou uma risada.

— Deixe que eu me explique mais tarde – disse baixinho passando a mão em seu rosto. — Não vai me apresentar aos seus novos amigos?

— Oh! – ela soltou um gritinho encantador. — Pessoal, esse aqui é o Daniel... Um grande amigo da titia. Digam olá.

Salut! – disseram todos em um alto e claro coral em francês.

Fiquei ali com Maria até ela terminar de tentar contar a tal história de contos de fadas a aquelas crianças que mal entendiam o que ela dizia em português e um francês enrolado.

Depois, eles formaram um fila e foram até a cantina improvisada. Mais tarde, após o almoço, ainda não tínhamos tido tempo para conversar, mas eu estava a seguindo enquanto ela tinha que trabalhar. Admirava seu trabalho com excelência.

O sol se pôs. Eu já havia liberado aquele taxista há tempos. Malu já estava tirando o jaleco para voltar ao lugar onde estava hospedada com os demais companheiros de trabalho quando tivemos que chamar outro taxista.

— Ufa! Finalmente posso descansar depois de mais um longo dia de trabalho – ela suspirou. — Bom, mas o senhor ainda não me contou o verdadeiro motivo de estar aqui.

— Você deveria saber – ajeitei seus cabelos carinhosamente por trás da orelha. — Estou aqui por você.

— Está brincando? – ela riu toda boba. — Não pode ser! Você não seria capaz de cometer tamanha loucura.

— Não seria, mas agora sou – pressionei meus lábios sobre os seus. — Eu amo você. Não deixaria você passar por esse momento da sua vida sozinha enquanto eu estava no Brasil preocupado com você e sentindo sua falta.

— Bobo – ela me beijou.

Maria pagou o taxista já com o real trocado pela moeda do país.

— E agora? – ela perguntou me ajudando com as coisas. — Quer ficar comigo essa noite até encontrar um lugar para você? Para mim tudo bem. O lugar é pequeno, mas é tudo o que tenho para lhe oferecer no momento.

— Ah, tudo bem – sorri beijando-a novamente. — Mas não queria ficar só por essa noite. Queria ficar até o fim da nossa viagem, pode ser?

— Claro! – ela sorriu jogando-se em meus braços. — É exatamente o que eu quis dizer, mas fiquei com receio.

O pequeno apartamento realmente não era como eu imaginava. Era bem menor que o normal, tinha um ar abafado e cheiro de produtos de limpeza. Não era tão desagradável, mas nada que estivesse a sua altura.

A porta de madeira escura dava de frente com a sala de estar com um único sofá, um ventilador no chão e uma televisão de poucas polegadas. Outra porta dava para a cozinha, um fogão de quatro bocas, a geladeira perto da pia e umas micro-ondas de décadas atrás. O banheiro ficava mais escondido com um chuveiro não elétrico, um vaso sanitário e uma pia sem espelho. O quarto tinha uma cama de solteiro e o guarda-roupa próximo à única janela tinha algumas gavetas quebradas.

— Você pode dormir no chão – ela deu de ombros virando as costas para esconder o riso bobo.

— Só se for com você – agarrei-a por trás.

Até finalmente se virar para mim em um movimento rápido, beijar minha boca entre sorrisos fáceis de arrancar o fôlego. Os olhos fixos nos meus brilhavam encantadoramente.

— Que bom que você veio – ela sussurrou no meu ouvido, depois, encaixou-se dentro dos meus braços.

— Que bom que te encontrei – sussurrei de volta apertando seu corpo magrinho de encontro ao meu.

Beijamo-nos intensamente, até eu derrubá-la na cama. Estava por cima soltando seus cabelos longos, desabotoado o sutiã, abrindo o zíper do jeans. Enquanto o céu lá fora se enchia de estrelas, a brisa suave entrava pela janela pequena do quarto, o som dos nossos beijos abafados no ar, o zumbido da cama estalando com nossos movimentos.

Estávamos nos amando mais uma vez, pra minha sorte. Claro.

— Ei – gritei da cozinha sem camiseta. Apenas com uma bermuda de malha fria por conta do calor. E ela lá do quarto perguntou o que eu queria, enquanto ajeitava minhas roupas junto das dela no quarto que acabara de nos amar. — O que temos aqui para comer? Estou faminto – resmunguei abrindo a geladeira completamente vazia.

— Não há nada. Nem se quer tive tempo de fazer umas comprinhas. O tempo aqui é realmente muito corrido – ela surgiu pressionando seu corpo atrás do meu. Beijando minhas costas pouco a pouco com seus lábios úmidos e doces. — Poderíamos aproveitar e dar uma volta para que conheça melhor a cidade, que tal? Ontem mesmo passei em um lugar que tinha um cheiro incrível de comida típica daqui... Poderíamos...

— Sim. Vamos – assenti abraçando carinhosamente. Ainda podendo sentir aquele corpo quente no meu. — Mas antes necessito que me dê mais um beijo. – pedi feito uma criança mimada desejando doce dos pais.

E ela me beijou após um longo e lindo sorriso. Trocamo-nos rapidamente e saímos pelas ruas. Como se o tempo que passamos separados nunca tivesse existido. As mãos dadas. Como no tempo que éramos inocentes, namorados e loucos um pelo outro. Não que agora fosse diferente. Só não éramos mais namorados, mas quem via de fora diria que sim, ainda éramos feitos um para o outro.

O lugar era pequeno como todos os outros que vi pelas janelas do taxi, e mesmo assim estava exaustivamente lotado. Sentamos em uma mesa menor ainda perto das janelas aliviado por poder respirar o ar fresco da noite gelada.

Um homem simpático se aproximou e perguntou o que iríamos comer naquela ocasião. Com um francês, Malu pediu o peixe típico da região e marisco de água doce grelhados com molho de gergelim. Como complemento arroz, mandioca e milho. O que parecia estranho para quem era costumado com a simplicidade do prato brasileiro, mas nada de tão extraordinário assim até ela pedir o vinho de palma para degustarmos.

— Nossa! – provei meio apreensivo, olhando para aquele liquido exótico. — Não é nada mal. – sorri satisfeito.

— Eu disse que você ia gostar – ela sorria partindo o molusco em seu prato. — Você precisa provar a cerveja nacional.

Já satisfeito, saímos para dar uma volta na humilde cidade enquanto ela me mostrava tudo que já havia conhecido. Fiquei impressionado. Nada era tão extraordinário, rico ou o que eu havia imaginado. Mais no fundo eu sentia que cada lugar tinha uma riqueza e simpatia única que me atraia.

— Eu preciso dormir cedo, Daniel – ela disse enquanto assistíamos televisão na sala escura.

— Não, amor – supliquei. — Fica mais vai. Eu nem estou com sono ainda. Estou tão animado por estar aqui com você que ficaria acordado o tempo todo só para não perder um instante ao seu lado.

— Bobo. Preciso mesmo ir dormir. Amanhã acordo bem cedinho para trabalhar.

— E eu? – perguntei curioso.

— Amanhã você poderá me ajudar se quiser – ela garantiu puxando-me para o quarto enquanto eu tentava desligar o aparelho de televisão.

Finalmente, fomos nos deitar. Tranquei a porta da sala e deixei a porta do quarto encostada. A única iluminação que me fazia enxergar o rostinho perfeito de Malu era o luar entrando pela abertura da janela.

Fazia calor. Dividíamos a cama de solteiro agarrados. Ela vestia seu pijama rosa curto que deixava boa parte do seu corpo a mostra. Não sei como aguentei não fazer nada enquanto ela tentava dormir. Assim, eu só tinha uma escolha também: tentar dormir.

Beijei seus cabelos e apertei Malu para perto de mim. Suspirei fundo e fechei meus olhos. Inalando o perfume dos seus cabelos bem próximo ao meu rosto.

— Durma bem, princesa – sussurrei em meio à escuridão. — Eu amo você mais que tudo.

Ela sorriu, eu pude sentir. Não disse nada. Conformei-me e sem mais pensamentos eu dormi. O mais importante era estar com ela.

Depois de um agitado sonho, acordei pela madrugada assustado. Abri os olhos e me deparei com Malu adormecida feito um anjo. Beijei seu rosto carinhosamente e resolvi acariciar seus cabelos soltos sobre o rosto iluminado.

Acabei voltando a dormir.

Ao amanhecer, o sol entrava pela janela batendo no meu rosto e notei que já estava sozinho na cama. Ela estava na minha frente vestida com uma camiseta minha e com roupas íntimas, o meu boné na cabeça, os pés descalços no chão gelado, um sorriso perturbante e o rosto corando.

— Fiquei bonita? – ela fez graça desfilando desajeitada pra mim.

— Você é bonita – pulei para beijá-la, mas ela saiu correndo entre risos.

— Preciso tomar um banho. Imediatamente – ela olhou para o relógio de pulso. — Toma banho comigo? Não podemos perder tempo.

Dentro de meia hora já estávamos arrumados. Pegamos um táxi em direção ao trabalho voluntário que ela faria aquele dia. Havia muitas crianças necessitadas. Algumas eram de dar dó e tirar lágrimas dos olhos.

Via Maria apreensiva, com os olhos úmidos enquanto tratava de alguma criança, uma por vez. E sentia o aperto no peito em saber que era exatamente isso que ela encontraria pela frente pelo resto da vida na carreira em que resolveu seguir.

Mais tarde, umas três horas, sentamos no meio fio e comemos um sanduíche delicioso. Ela conversava. Dizia coisas que via durante o expediente. Tudo tão impressionante e abalável. Ouvia calado, com toda atenção necessária.

— Luena? – Malu gritou, me assustando ao avistar a pequenina que brincava ali perto. – Está com fome amor? – ela perguntou em francês à pequenina que confirmou com um gesto com a cabeça. — Vamos comprar algo para você?

Levantamo-nos e seguimos Maria Luiza para onde quer que ela fosse. E melhor, ela me apresentou Luena pelo caminho.

Malu traduzia ao seu modo tudo que a menina falava para que eu pudesse entender. Era uma garotinha simpática e carinhosa.

Lembrei-me do presente.

— Porque não vamos até em casa? Preciso mostrar uma coisa para vocês – sugeri olhando para Malu com cumplicidade.

— Bom – ela olhou as horas. — Tenho ainda meia hora de almoço, se não demorar muito podemos ir sim.

Certo. Foi o que fizemos ao tomar um táxi até o apartamento. Enquanto elas me esperavam no carro, procurei pela casa o embrulho rosa. Lembram? Comprei no aeroporto antes de viajar. Não foi para Maria, mas para pequena Luena que já era tão importante para ela em tão pouco tempo.

— Esse aqui é para você – entreguei para Luena sentada no colo de Malu. Sorrindo.

— E eu pensando que era uma surpresinha para mim – Malu olhou sorridente. — E na verdade foi mesmo. Melhor do que eu esperava.

Dos olhos de Luena pareciam sair faíscas quando ela rasgou o embrulho e deu de cara com uma boneca encantadora.

Merci – ela agradeceu em francês olhando para mim timidamente. Ela me abraçou forte e voltou os olhos brilhosos para a boneca em sua frente.

— Você a fez muito feliz, Daniel – comentou Malu olhando para Luena e a boneca.

— E você? Eu te fiz feliz? – perguntei.

— Você me faz feliz – ela jogou-se em meus braços.

Jantamos em casa sobre o velho carpete no meio da sala e assistimos a um filme. Mais tarde, fizemos amor outra vez e fomos dormir. Praticamente, uma vida de casados. E quem dera fosse tão real quanto parecia. Mas só parecia... Pelo menos por enquanto.

Nos dias que seguiram, Maria Luiza trabalhou tanto que quase não parou em casa e quando chegava estava sempre muito exausta. Eu preparava algo especial para ela e Malu fazia uma forcinha para me dar atenção, já que eu estava ali justamente por ela.

Eu não pude ajudar. Pelo menos não todo o tempo. Então, no apartamento sozinho enquanto ela estava com sua equipe de trabalho, eu ajeitava a casa e tentava dar ao ambiente um toque a mais de conforto e delicadeza. Uma missão quase que impossível, mas já que eu não tinha muito o que fazer era tudo o que me restava.

Vez ou outra criava coragem para dar uma volta pela vizinhança e conhecer alguns novos lugares. Mesmo que sem Malu. Encontrei uma lan house com poucos computadores, uma movimentação enorme e um sinal de internet péssimo. Foi o suficiente para conseguir falar com Júlia pela que estava em Porto Alegre com o namorado. E com a minha família, na qual amo e me importo mesmo a quilômetros de distancia.


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Notas finais do capítulo

Me contem: vocês gostaram dos dois terem finalmente se "acertado"? Estamos próximos do fim, é muito importante que eu saiba se vocês estão gostando do que leem.



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