Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 20
A vida que segue.


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo me faltou um pouco de criatividade. Como eu já disse, eu não queria avançar para não estragar as surpresas que ainda estão por vir. Mesmo assim, espero que gostem. Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/359955/chapter/20

Depois daquela noite, entramos em um nível de conversa que não foi muito bom. E agora o que seria de nós? Não foi uma de suas melhores perguntas e nos desentendemos de novo.

Brigamos simplesmente por termos muitas questões mal resolvidas, mas ficar juntos para todo o sempre era o que eu mais queria.

Ela não contaria a Fernando o que aconteceu com a gente naquele dia, disso eu tinha certeza e também não cobraria de forma alguma. O problema era deles e não meu. Não tinha motivo para me meter. Não ainda.

Ela disse que não teria coragem de magoá-lo, saberia o quanto ele ia sofrer e talvez nunca mais confiaria nela. Isso soou bem irônico para mim, pois o meu coração ela podia trair quantas vezes fosse preciso, já que acreditava que eu sempre a perdoaria e a compreenderia.

— Então vocês... Ah... Você sabe - Júlia sorria maliciosamente.

Eu não disse nada, pois ela tinha razão. Trabalhei aquela manhã com a droga da briga e as palavras de Júlia ecoando na minha mente.

Por que tudo parecia tão difícil quando duas pessoas se amavam de verdade? Ou será apenas que esse amor não é suficiente o bastante para atravessar mais uma crise?

No sábado bem cedo fui encontrar com meu pai na praça de alimentação do shopping para conversarmos como duas pessoas civilizadas.

O encontro distraiu a minha mente. Meu pai era melhor do que eu imaginava. Fez-me rir, foi educado, gentil e um tanto sentimental. Marcamos de sair outras vezes e continuar aquela conversa, mas, da próxima vez, Pedro também iria. Afinal, ele esperava ansiosamente por isso.

— Você está melhor? – ela perguntou sem esperar por uma resposta. — Poxa vida! Desde nossa última conversa sinto que a nossa amizade anda um tanto estranha. Talvez por eu ter sido rude demais com você e a patricinha. Sinto muito. Você pode me desculpar?

— Claro, bobona – abracei-a forte. — Você não foi rude, apenas realista e me fez refletir sobre o assunto. Pensei e conclui que não vou perder meu tempo com coisas incertas. Vou seguir em frente e ver no que isso vai dar. Não quero ter grandes expectativas.

— Certo – ela se afastou. — Ao menos você sabe que ela te ama e você ainda a ama. Quem sabe ainda há uma esperança para vocês mais para frente. Tenha fé.

Lanchamos e conversamos em uma tarde qualquer.


— Vocês formam um casal perfeito, sabia? – Guilherme surgiu sentando ao lado de Júlia. — Por que não assumem de uma vez?

— Por que você não confessa que gosta de mim, Giga? – Giga era o apelido que Júlia havia dando ao perturbante do Guilherme. — Ou está com ciúmes? - ela falava debochada. — Tenho que ir trabalhar! Até mais, queridos.

— Até que ela é atraente mesmo sendo tão exótica – ele confessou olhando seu rebolado. — Mas que pena. Adivinhe? Eu estou ficando com a Amanda, lembra dela?

— Oh, sim – lembrei-me imediatamente. — Amanda Teixeira. Amiga da Malu. Eita! Desde aquela época da viagem vocês estão enrolando? E você nunca me disse nada!

— Não é bem assim caro amigo – ele riu. — Éramos um casal de amigos coloridos, mas agora as coisas estão andando. Mesmo que pareça um tanto estranho para mim, Amanda é o tipo de garota que sabe do que gosto.

— Maravilha! – falei contente. — Fico feliz por vocês. Ela sempre me pareceu uma garota encantadora. Talvez ela te coloque nos eixos. Agora me deixe ir. Preciso resolver uns assuntos.

Estava dentro do carro, ouvindo um som alto quando senti meu celular vibrar dentro do jeans.

— Você não vai acreditar – ela berrou do outro lado da linha. Pude sentir sua emoção de longe. — Lembra daquele carinha todo estranho aqui do trabalho? Tal de... Meu Deus... Como é mesmo o nome do infeliz? Ah, sim! Miguel! Ele finalmente tomou coragem em conversar comigo. E sinto que somos almas gêmeas. Juro para você – ela ria. — Daniel, torça por mim. Esse gatinho ainda vai ser meu.

Sem esperar que eu dissesse qualquer coisa, ela desligou. Fiquei me perguntando qual era o meu problema em ter uma amiga tão estranha quanto Júlia? E ainda por cima era estranha, mas sabia me fazer rir como ninguém. Como eu não a conheci antes? Onde ela esteve todos aqueles anos?

Miguel era um jovem do trabalho dela com uns vinte e poucos anos. Em conversas breves sobre ele, já podia ver em seus olhos um brilho especial. Eu nunca o vi, mas ela o descreve exatamente assim: “Ele é meio lerdo, sabe? Meio intelectual e nerd. Alto, magro, tem o cabelo liso dourado. Raramente o vejo conversar com as pessoas. Sempre que o encontro está lendo com aqueles olhos esverdeados um de seus livros de ficção científica. Uma pele branca, mas não transparente como a sua. Ele tem uma barba mal feita. Está sempre vestido elegantemente. Sinto que ele é o cara por quem tanto procurei. Por Deus! Ele nunca nem falou comigo, mas já estou encantada. Mas não fique enciumado, Daniel. Ainda há um lugar enorme para você aqui no meu coração”.

Creio que ele era um cara bom. Um cara que estaria à altura da grandiosa garota que Júlia era. Mas ao pensar que eles poderiam ter algum tipo de relação, eu sentia certo ciúme. Não gostava da ideia de um garoto qualquer afastar de mim uma amiga e tanto.


— Sabe filho, você me surpreende mais a cada dia – papai disse durante um dos nossos encontros com Pedro junto. — Você é muito mais que um cara tatuado, com esses buracos na orelha – ele riu com Pedro.

Não agradeci porque não sabia ao certo o que dizer, mas sorri satisfeito.

— O Rafa é tão parecido contigo, filho. Ele só é um pouco mais novo, tem vinte anos – ele sorria contente ao nos contar. — Ele é bem maduro para a idade. Vocês vão se dar bem quando se conhecerem por serem calados e quietões. Chega a ser assustador – papai riu.

— Pai, você tem outros dois filhos, não é? Além desse tal de Rafael – Pedro perguntou. — Como são eles?

— O Vitor é um ano mais novo que você, Pedrinho. Ele adora futebol, games e farra. Dá um trabalho! – papai pareceu exausto ao dizer aquilo, mas logo um sorriso amarelo surgiu em seu rosto ao continuar. — Luana é a nossa caçulinha. Tem oito aninhos. É uma graça de menina. Adorável, educada e meiga.

— Quando é que vamos conhecê-los, pai? – outra vez perguntou o curioso Pedro.

— Quando quiserem – ele afirmou. — Bom, eu passo bem mais tempo com seus irmãos do que com vocês e isso me parece injusto. Que tal você ir dormir lá em casa nesse final de semana? Assim poderia conhecer os seus outros irmãos e Eliza.

Eliza, é a mulher do meu pai.

— Combinando – ele abraçou papai de lado.

Já íamos em direção ao estacionamento do shopping, onde estava o carro dele.

— Bom, acho que falamos sobre tudo hoje. Menos sobre como anda sua vida amorosa, Daniel – ele me lançou um olhar intrigante. — Está namorando? Fale um pouco de você filho!

— Não, pai, não estou namorando. Agora estou só aproveitando a vida e pensando no meu futuro – disse forçando um sorriso.

— Tem uma mocinha lá na empresa que trabalha como auxiliar de escritório. Bem, digamos que ela não seja só uma mocinha, mas uma jovem da sua idade, mais ou menos. Ela é bem interessante e muito intrigante também. Misteriosa e lindíssima... Como é mesmo o nome dela?... Agora não lembro. Mas acho que vocês formariam um belo casal.

— Não, pai! - repreendeu Pedro no banco de trás. — Ele ainda gosta da ex-namorada, Malu. Ou ele está começando a gostar da melhor amiga, Júlia.

— Pedro! – interrompi-o nervoso, mas relevando pelo fato dele ainda ser uma criança.

— Logo duas, meu filho? – papai ria da situação. — Não vamos falar sobre isso se não quiser. Eu só lhe dei um conselho. Se algum dia se interessar, apareça lá no escritório.

Papai levou Pedro para sua casa logo após me deixar em casa. Afinal, naquele dia tinha conseguido tirar uma folga no trabalho, mas não abriria mão da aula mais tarde. Era melhor que eu me dedicasse agora, já que estava no último ano.

— Daniel! – Amanda praticamente pulou em meus braços. — Como vai? Vim conhecer a casa do meu namorado – ela sorria para Guilherme.

— Vou deixar o casal a sós e tirar um cochilo – falei sorrindo. — Só não transem sem camisinha, por favor. Não quero ter um sobrinho aos vinte e poucos anos.

— Idiota! – ela ria abraçando carinhosamente Guilherme. — Ei Daniel! Maria Luiza mandou um beijo. Ela sente sua falta.

Não respondi. Tão pouco queria saber sobre ela. Voltei a seguir até o quarto e ali me tranquei pensando em Maria e no que sua amiga acabara de dizer.

Quem ela pensava que era para tratar meus sentimentos como um de seus brinquedinhos favoritos? Primeiro, ela me seduz no parque mesmo tendo um namorado. Depois diz que não sabe como viveu sem mim todo esse tempo e me prova que suas palavras são sinceras até o momento em que pergunta o que será de nós. Brigamos por ela não querer ferir ninguém, mas parece que já não importa em me ferir. Agora vem me mandando um beijo por outra pessoa e dizendo que sente minha falta?

Eu acredito que quando se ama alguém enfrentamos qualquer coisa para estar ao lado dessa pessoa. Não basta só dizer que sente falta, mas também demonstrar. Quem sabe até vindo aqui em casa para surpreender ou me ligar?

Gosto das palavras, mas prefiro atitudes.

Mas não, nada disso. Sinal de sua vida eu não tenho há tempos. E ela ainda quer que sejamos amigos? Como? Se eu a amo tanto que sou capaz de enlouquecer por esse amor. Eu deveria simplesmente tapar esse amor com peneira como quem tapa o sol para se esconder? Não, não, não.

Dormi até o celular despertar. Tomei um banho e me arrumei, mas ainda faltavam quarenta minutos para começar a aula. Queria comer alguma coisa, mas escutei um barulho na porta.

— Daniel? – perguntou ela entrando. - Como vai? Quanto tempo! – ela beijou meu rosto e sorriu.

Era Aninha. Quer dizer, Ana. Ela estava incrível. Seu vestido estava ajustado nas curvas de seu corpo. O cabelo amarrado em um coque alto fazia parecer que ela era mais séria. Uma maquiagem forte a deixava mais atraente e sem contar os saltos que, em minha opinião, deixava qualquer mulher ainda mais madura.

— O que aconteceu com você? – ela perguntou sentando em minha cama. — Nunca mais me procurou, nem me telefonou. Eu pensei em te procurar, mas tive receio. Não queria parecer uma cachorrinha no cio atrás de um macho para fazer amor – ela brincou. — Senti sua falta. Quer conversar?

— Eu também senti a sua falta – menti. - Mas é que nos últimos dias estive muito ocupado com alguns problemas familiares Nada com que precise se preocupar. Já está tudo nos eixos. Bem, sinto muito, mas estou prestes a ir para faculdade – sorri.

— Eu entendo – ela aproximou-se com seus lábios carnudos. — Vim fazer uma visitinha rápida. Não quero te atrapalhar.

Lá estava ela me beijando como nunca. Em questão de segundos, ela já estava sobre mim desabotoando cada botão de minha camisa.

Sim, fizemos amor. Não com todo como um dia eu fiz com Malu, mas soaria grosseiro usar outra palavra para definir o que tinha acontecido.

Ela colocava a roupa de volta. Uma pena. Eu poderia continuar com ela durante a noite toda. Como um bom remédio ela me acalmava e me confortava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, não tirem conclusões precipitadas a respeito de Daniel. Ele não é um safadão, o.k? Ele só está seguindo com a vida e fazendo o melhor que pode para não pensar tanto na Malu.

Deixem seus recadinhos! Gosto muito de ler os comentários de todos, eles me motivam muito a continuar. Pois preciso saber se estão gostando ou não. É importante que colaborem.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Antes Que Seja Tarde" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.