Jem estava tocando. Will sentia a música penetrando pelas suas veias como uma grande confusão de gelo e fogo.

Will lembrou-se da sua vida. Lembrou-se da dor de perder Ella, lembrou-se do menino incrivelmente magro de cabelos meio prateados deitado ao seu lado em frente ao fogo crepitante da lareira, lembrou-se da noite que passara chorando quando saiu da casa dos pais, lembrou-se da sua irmãzinha. Cecily. Will queria protege-la para sempre, e iria, mesmo que não da forma esperada. E agora ela tinha Gabriel. Lightworm pensou Will com um sorriso nos lábios. Já não havia mais rixa entre ambos , mas era sempre bom lembrar dos velhos tempos. Lembrou-se de Magnus. Se não fosse por Magnus, Will ainda estaria amaldiçoado. Obrigado, pensou.

Sophie, Henry, Gideon, Charlotte, Cecily, Gabriel, Magnus, Jessamine, seus filhos James e Lucie, seus pais, e acima de tudo, Jem e Tessa. Ele iria sentir tantas saudades dessas pessoas. Tessa. Lembrou-se da felicidade que Tessa trouxe para seu coração já endurecido. Lembrou-se da garota indefesa ao mesmo tempo incrivelmente forte que Will resgatou, e de como se apaixonou catastroficamente por essa garota, do primeiro beijo deles com gosto de sangue e água benta e de como uma queimação passou pelas suas veias, aquecendo seu coração. Lembrou-se das lágrimas divididas sobre a morte de Jem, e sobre a sua vida como um Irmão do Silêncio.

Minha Boadiceia, Will pensou, com Tessa nos seus braços.

Meu grande amor, minha grande felicidade era tudo o que conseguia pensar sobre Tessa. Will sempre soube que esse dia chegaria. O dia da sua partida. Sabia que teria de despedir de Tessa.

A ideia de morrer não lhe assustava, o que lhe assustava era a ideia de mesmo sem querer, fazer Tessa sofrer. Ele jamais iria querer isso. Tessa era sua vida, ele não suportaria a ideia de vê-la chorando. Por isso ele estava feliz pela família e amigos que tinham. Eles iriam ajuda-la a passar por isso. E também havia James e Lucie. Seus amados filhos. Ele esperava do fundo do seu coração que eles iriam ser felizes depois da sua partida.

Depois da sua ida ao lago que separava essa vida da próxima. Mas ele não ficaria inteiramente só. Ele esperaria por Jem lá.

Seu parabatai. Ele estava tocando seu violino para Will agora. Pela última vez. Tocava sobre sua vida e sobre sua morte. Sobre seus filhos e seus pais. Sobre seu amor por Tessa e seu amor por Jem. Tocava sobre as felicidades e as tristezas da vida de ambos. Tocava sobre os dois garotinhos solitários que treinavam com as facas juntos, que pulavam de telhado em telhado, dos dois homens que sempre lutaram e sempre lutariam lada a lado, não importa quantas mortes, doenças ou Irmãos do Silêncio venham tentar impedir. Tocou seu amor por Tessa e tocou o parto do primeiro filho dos dois e de como Jem escondeu seu rosto sob as mãos e chorou quando Will e Tessa lhe disseram que o nome do bebê seria James. Acima de tudo tocou o amor entre eles. A ligação. Não a ligação parabatai ou a ligação de irmandade, ele tocou a ligação da eternidade do amor deles. A ligação de suas almas, não pelos rituais parabatai, mas sim pela amizade deles. Que era eterna e indestrutível.

Te encontro na próxima vida pensou Will e, ao som do violino de Jem, que tocava ao seu lado, e com Tessa abraçado a si, fechou seus olhos azuis como o oceano. Para sempre. Era isso. Não houvera lágrimas, apenas eles. Os três. Juntos.