Dot Dot Dot escrita por SatineHarmony


Capítulo 1
Capítulo Único




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— Soubi... — Ritsuka começou, hesitante.

Ao escutar isso, o mais velho curvou-se minimamente sobre a mesa entre eles dois, mostrando interesse, por mais que continuasse a vestir a sua usual máscara serena. Ele observou atentamente o garoto inspirar fundo antes de falar num jato:

— Qual é o nosso relacionamento? — baixou a cabeça, sentindo-se acuado com a confissão. — Quero dizer... O que eu sou para você? — explicou-se.

Soubi recostou-se nas costas da cadeira para ter uma visão mais privilegiada do mais novo. Notou como o moreno fugia do seu olhar, fingindo estar ocupado em tomar o seu milkshake. Inicialmente estranhara aquilo — o menino tê-lo chamado a um estabelecimento público — uma lanchonete —, porém agora tudo fazia sentido.

Ele estava preocupado com a sua reação.

Soubi permitiu um pequeno sorriso torto de se formar em seus lábios diante disso, e este alargou-se após ver as orelhinhas felinas do outro colarem rentes ao crânio, algo que costumava fazer quando estava nervoso.

Pelo canto do olho percebeu que a lanchonete estava quase vazia — havia apenas um grupo de adolescentes e um casal. Aproveitando isso, mais o fato de terem escolhido uma das mesas mais escondidas do lugar, Soubi não hesitou em curvar-se mais uma vez. Seus lábios pararam próximos à orelha direita do menino, e, num gesto carinhoso, envolveu as mãos dele com as suas.

— Nós somos sacrifício e combatente... — deu um beijo quente na sua orelha —... e amantes. — completou num sussurro, voltando a sentar-se de forma correta na cadeira.

Ritsuka reagiu balançando a cabeça, tentando clarear a sua mente. Recompôs-se, finalmente erguendo o rosto para ver o loiro à sua frente:

— Nós não somos amantes. — declarou, de queixo erguido.

Soubi tombou a cabeça para o lado, numa confusão dissimulada:

— Por que não? — apoiou os cotovelos na mesa, repousando a lateral da cabeça em uma de suas mãos. Estendeu o braço em direção ao garoto, a ponta de seus dedos roçando levemente nos seus lábios:

— Eu já o beijei... — sua mão desceu para o pescoço descoberto de Ritsuka. — Eu já o toquei... — notou como a sua pele estava extremamente gélida, então decidiu fechar o zíper do casaco azul do mais novo até o final, protegendo-o do frio. — Eu me importo com você... E eu te amo. — disse esta última parte num sussurro.

Ritsuka fechou fortemente os olhos ao escutar aquilo, e Soubi viu as suas orelhinhas felinas ficarem em estado de alerta, preocupadas.

— Amantes. Amor. Eu te amo. — listou o mais velho, parecendo ignorar a reação do moreno. — Então qual seria a razão para não sermos amantes? Por acaso você não me ama?

Essa pergunta fez Ritsuka encarar Soubi com olhos perplexos. Ao recuperar-se do choque, ele resignou-se a ficar em silêncio, observando-o. Este, por sua vez, retribuiu o olhar com intensidade equivalente.

— Nós não somos amantes... — começou o garoto lentamente — porque não temos algo concreto.

O loiro lançou-lhe um olhar divertido em resposta, e, parecendo render-se a alguma tipo de dilema pessoal, levantou-se de sua cadeira:

— Pois bem. — observou o moreno de cima. — Vamos para casa então.

= ^.^ =

Soubi acompanhou com os olhos os passos do garoto. Ao entrar em seu quarto, Ritsuka limitou-se a sentar à beirada de sua cama. Dali analisou a postura despreocupada do mais velho, porém o menino não se deixava ser enganado — mesmo que seu combatente fosse extremamente enigmático, ele já tinha aprendido a ler vários sinais por trás de suas atuações.

E um deles era a preocupação.

Ele viu pela primeira vez o loiro protelar a conversa, parecendo ocupar-se em observar o quarto do moreno. Ao perceber que não havia escapatória, virou-se para Ritsuka, com um olhar repentinamente decidido:

— Você quer fazer isso? — fez a pergunta que não queria calar. O garoto ajeitou a sua postura na cama, querendo transmitir confiança:

— Eu quero que você prove o que tanto diz. — ergueu uma sobrancelha, seu tom de voz petulante.

A única coisa que impediu Soubi de dar uma risada sarcástica foi o intensivo treinamento que recebera de seu mestre. Não tinha como negar que uma das características mais marcantes de Ritsuka era o seu orgulho. Uma criança pequena com um ego tão grande, pensou, irônico.

O loiro aproximou-se com passos lentos e curtos à cama e sentou ao lado do seu sacrifício, que permaneceu quieto onde estava.

— Me avise... Caso não goste de algo. — pediu num sussurro, uma de suas mãos subindo até o rosto do outro, afagando-lhe as feições. Ritsuka fechou os olhos ao sentir o toque delicado, que resultou em um pequeno sorriso da parte de Soubi.

Logo envolveu a pequena cintura do garoto com um de seus braços, e, em um movimento ágil, colocou-o delicadamente sobre o seu colo. Ele abriu os olhos, assustado:

— Soubi, o que você?... — começou, numa voz trêmula.

— Só estou fazendo o que você ordenou, mestre. — seu nariz roçou na curva do pescoço de Ritsuka — Provando o que eu falo. — explicou.

— Pare com is... — foi interrompido por um suspiro solto após ter a pele de seu ombro beijada. Seus dedos apertaram o tecido da colcha que cobria a sua cama, rendendo-se e relaxando o seu corpo. Ele sentiu as mãos quentes do loiro subirem pelo seu peito, parando em seus cabelos, onde começou a afagá-los. Os seus lábios aproximaram-se da orelha de Ritsuka:

— Eu posso beijá-lo? — perguntou respeitosamente. O garoto respondeu dando de ombros:

— Não me importo, você sempre faz isso. — foi indiferente.

Soubi envolveu o lóbulo da orelha de Ritsuka, deixando a ponta de sua língua roçar de leve em sua pele. Sorriu, satisfeito, ao senti-lo tremer. Então afastou-se:

— Posso beijá-lo de verdade? — foi mais específico: — Da forma que os adultos beijam? — Ritsuka hesitou, ficando tenso novamente. Soubi assentiu em silêncio, e viu o garoto respirar fundo, pensativo, antes de responder:

— Faça o que bem quiser. — fingiu desinteresse.

— Orgulhoso. — comentou, tirando uma de suas mãos do cabelo negro do outro para segurar-lhe o queixo. Delicadamente, virou o rosto de Ritsuka para si, e este fechou os olhos em resposta, aparentando expectativa.

De início o garoto não sentiu diferença alguma — Soubi já roubara dezenas de beijos dele —; era simplesmente os lábios do loiro tocando os seus de forma carinhosa. Por mais que corasse todas as vezes que fosse beijado, e afastasse Soubi de si, ele não podia negar que gostava daquilo. Adorava a sensação da pele do seu combatente, parecendo derreter-se em meio a tanto cuidado.

Ritsuka estava prestes a reclamar quando teve os seus lábios tocados pela ponta da língua de Soubi. Ele sentira algo semelhante quando o outro fizera o mesmo com sua orelha instantes atrás, porém agora fora mil vezes mais intenso. O loiro afastou-se poucos centímetros, fazendo Ritsuka abrir os olhos. Uma mão começou a acariciar a sua nuca.

— É nessa parte que você deve abrir a boca. — instruiu, numa voz baixa.

Ele viu o garoto iniciar uma objeção um quanto que pasma, mas nem o deu chance de vocalizá-la — selou seus lábios nos de Ritsuka, deixando sua língua transpassá-los num movimento esguio porém sutil. Sentiu o corpo do moreno ficar estático sob suas mãos, chocado. Para apaziguar a sua clara tensão, Soubi afagou os seus cabelos confortavelmente, e seu toque no queixo do mais novo suavizou-se. Começou a acariciar a sua boca, incitando a língua de Ritsuka a movimentar-se. O garoto corou com isso, tentando retribuir o beijo de certa forma desajeitada. O loiro reprimiu um sorriso ao vê-lo fechar os olhos, rendendo-se.

Ritsuka ficara profundamente confuso com aquela experiência. Ele tentara encontrar uma comparação para as sensações que estava tendo, e um paradoxo pareceu ser o mais adequado — era conflitante a forma como seus lábios moviam-se lentamente, porém com tal intensidade e fervor que era impossível conciliar a ideia de delicadeza àquilo. Eles se deliciaram com o doce sabor da boca alheia, e então separaram-se com certa relutância.

Soubi observou em silêncio o moreno arquejar em busca de ar, ofegante. Ao vê-lo completamente recomposto, lançou-lhe um olhar significativo antes de descer as suas mãos. Ritsuka teve um espasmo ao sentir os dedos roçarem em seus joelhos, e só agora que não estava mais sob a hipnose do beijo que percebera a posição inadequada na qual estava, sentado no colo do loiro.

Não protestou quando o mais velho agitou suas pernas de forma que estas envolvessem a sua cintura, aumentado o contato entre eles dois — Ritsuka sentia-se feito uma boneca de pano sob as mãos de Soubi, ele tornara-se um completo escravo de seus desejos.

Franziu o cenho, pensativo. Como reagira Soubi na sua primeira vez? Será que ele ficara vermelho de vergonha? Será que tinha sido com uma mulher mais velha? E ele, gostara? Repentinamente decidido, tocou ambos os ombros do dito loiro, fazendo as suas costas tocarem na cama. Ficou surpreso ao vê-lo sem reação sob si. Então disse, numa voz surpreendentemente estável:

— Soubi, me conte sobre quando você perdeu as suas orelhas. - pediu, num tom quase autoritário.

— Ritsuka... — o mais velho piscou os olhos algumas vezes antes de recuperar-se do susto. Ansioso, o garoto curvou-se sobre o corpo do outro, apoiando parte de seu peso nas mãos que estavam em cima da cama. Então explicou-se mais a fundo:

— Como ela era? Quantos anos você tinha?

Sentiu um frio na espinha ao ver Soubi fugir de seu olhar, virando o rosto para que não a sua expressão não fosse vista. Hesitantemente, Ritsuka ergueu uma de suas mãos, seus dedos roçando na linha do maxilar do mais velho:

— Soubi? — chamou-o numa voz baixa. Em resposta, sentiu os braços do mesmo cruzarem as suas costas, fazendo o seu pequeno corpo descansar sobre o peito largo do loiro.

— Me diga todas as suas perguntas, Ritsuka — sua voz era pacífica —, que eu as responderei. — começou a fazer circulares com seus polegares sobre as costas do mais novo.

— Eu, bom... — ele não imaginava que Soubi seria tão receptivo assim. — Ela era bonita? — Ritsuka enterrou seu rosto na camisa do loiro, tentando, em vão, esconder o rubor presente ali.

— Não. — foi sincero.

— Você... Você sentiu dor? — prosseguiu.

— Sim. — garoto engoliu em seco com a resposta. Pigarreou antes de continuar:

— Você gostou?

— Não.

— Você era novo?

— Sim.

Isso fez o corpo de Ritsuka entrar em estado de alerta. Ele sentou—se sobre a cintura de Soubi, com a fisionomia apresentando um misto de preocupação e surpresa:

— Era uma mulher? — observou o rosto do mais velho, iluminado pelo luar que atravessava as cortinas finas do quarto. — Ou era um homem?

E então Soubi fez algo que surpreendeu Ritsuka profundamente.

Ele chorou.

Foi uma sequência de movimentos rápidos demais. De forma nebulosa, o garoto viu o loiro sentar-se sobre a cama, ainda com ele em seu colo. Sua cabeça recostou no peito do menor, que apoiou o seu queixo sobre seus longos cabelos loiros. Ritsuka sentiu a umidade concentrar-se em sua camisa, por mais que o outro não indicasse sintomas típicos de choro — soluços, tremores e suspiros.

Uma mão enterrou-se nos cabelos castanhos do garoto, acariciando-lhe a nuca. Ele teve que esforçar-se para escutar a baixa voz de Soubi.

— Ele era meu sensei. — confessou — Ele achava que as orelhas era um sinal de fraqueza.

— Ele era um idiota, isso sim. — pensou em voz alta. O loiro pareceu sorrir minimamente com a sua reação. — Eu manterei as minhas orelhas, Soubi. — decidiu — Isso tudo é resultado de um pedido egoísta meu, seria errado fazermos algo.

— Eu... — o garoto ignorou o mais velho:

— Como combatente, você sempre me protege. Agora eu o protegerei, impedindo-o de submeter-se a algo parecido de novo. Não quero ser a causa da sua dor, Soubi. Eu manterei as minhas orelhas por você. — abraçou-o mais fortemente.

— Essa é muita consideração sua, Ritsuka. — ele deu um beijo sutil em seus lábios. — E é por isso que somos amantes. — disse, entrelaçando seus dedos nos do outro.

— Parece que sim. — rendeu-se. Ao escutar isso, o mais velho sentiu o seu coração ficar mais leve. Fechou os olhos, sentindo-se finalmente em paz. O silêncio durou poucos minutos: — Soubi... — o moreno chamou-o num sussurro.

— Sim, Ritsuka? — respondeu, sua voz leve.

— Nós somos amantes estranhos. — comentou, descontraído. E tudo o que restou para o loiro foi reprimir uma risada diante dessa observação.


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