Luz e Escuridão escrita por mihzinha
Cena I
Konoha. Uma praça pública. Entram Neji, Sai, pajem e criados.
SAI — Peço-te, bom Neji: retiremo-nos. Quente está o dia; os Harunos andam pela cidade. Caso os encontremos, não poderemos evitar contendas. O sangue ferve nestes dias quentes.
NEJI — Tu te assemelhas a esses tipos que, mal entram numa taberna, batem com a espada em cima da mesa e gritam: "Queira Deus que eu não venha a ter necessidade de ti!" e que após o efeito do segundo copo, sacam-na contra o taberneiro sem a menor necessidade.
SAI — Serei, acaso, um tipo desse gênero?
NEJI — Vamos, vamos; és tão esquentado como quem mais o for em toda a Itália; muito prontamente raivoso para ser arrebatado.
SAI — E a propósito de quê?
NEJI — Se houvesse mais outro tipo como tu, dentro de pouco tempo não existiria nenhum, porque vos mataríeis mutuamente. És capaz de brigar com um homem por que tem um fio a mais ou a menos na barba do que tu; brigarás com quem estiver quebrando nozes, sem outro motivo além do de teres os olhos cor de nozes. Que olhos, a não serem esses mesmos, seriam capazes de descobrir semelhante briga? Tua cabeça é tão cheia de rixas como de alimento o ovo, se bem que, por causa de brigas, tenha sido batida tantas vezes como clara de ovo. Já brigaste com um homem que tossiu na rua e despertou o teu cão, que dormia ao sol. Pois não tiveste uma rixa com um alfaiate, só por ter ele vestido um casaco novo, antes da Páscoa? E com outro, por ter amarrado os sapatos novos com cordões usados? Sendo, pois, o que és, pretendes dar-me lições de prudência?
SAI — Se eu fosse tão briguento como tu, ninguém compraria os bens alodiais de minha vida, simplesmente por uma hora e um quarto.
NEJI — Simplesmente? Que simplicidade!
SAI — Por minha cabeça, ai vem vindo um Haruno.
NEJI — Por meu pé, a mim isso pouco importa.
(Entram Gaara e outros.)
GAARA — Ficai perto de mim, pois vou falar-lhe. Cavalheiros, bom dia; uma palavra com qualquer um de vós.
NEJI — Só uma palavra com um de nós? Acrescentai mais alguma coisa; que seja uma palavra e uma estocada.
GAARA — Haveis de encontrar-me disposto para isso, quando me fornecerdes oportunidade.
NEJI — Não achais oportunidade, sem que vo-la ofereçam?
GAARA — Neji, tu estás concertado com Sasuke...
NEJI — Concertado? Como! Tomas-nos por músicos? Se nos tomares por músicos, prepara-te para ouvir só desarmonias. Aqui está o arco da minha rabeca, que vos fará dançar. A-la-fé! Concertado!
SAI — Estamos conversando numa praça bastante freqüentada. Retiremo-nos para algum ponto à parte ou ide embora, que sobre nós os olhos estão fixos.
NEJI — Para ver é que os olhos foram feitos. Que nos vejam. Daqui não dou um passo.
(Entra Sasuke.)
GAARA — Ficai em paz, senhores; eis meu homem.
NEJI — Que me enforquem se ele usa vossa farda. Para o campo segui, que ele irá junto. Nesse sentido, é certo: ele é vosso homem.
GAARA — O ódio, Sasuke, que me despertas, sabe dizer-te apenas isto: és um vilão.
SASUKE — A razão de te amar, que eu tenho agora, Gaara, escusa à saciedade a raiva de uma tal saudação. Não sou o que dizes. Adeus; bem vejo que não me conheces.
GAARA — Isso, rapaz, não basta como escusa para quantas injúrias me tens feito. Faze, pois, meia-volta e arranca a espada.
SASUKE — Protesto que jamais te fiz injúria. Tenho-te mais amor do que imaginas, até que saibas o motivo disso. Assim, bom Haruno – oh nome caro! tão caro quanto o meu – fica contente.
NEJI — Oh calma submissão, vil e insultuosa! Alla stoccata! Decidamos logo. (Saca da espada.) Gaara, caçador de rato, queres dar voltazinhas?
GAARA — Que desejas?
NEJI — Nada mais, meu bom rei dos gatos, além de uma das vossas nove vidas, que tomarei a liberdade de tirar, deixando as outras oito para malhar depois, conforme o tratamento que me derdes. Não vos resolveis a puxar vossa espada pela orelha e tirá-la da bainha? Mas ponde pressa nisso, para que a minha não vos atinja as orelhas antes de ficar de fora a vossa.
GAARA (sacando da espada) — Estou ao vosso dispor.
SASUKE — Gentil Neji, guarda a espada.
NEJI — Vamos, senhor; vosso passado.
(Batem-se.)
SASUKE — Sai, saca a espada; desarmemo-los. Cavalheiros, que opróbrio! Evitai isso. Oh Neji! Gaara! O príncipe proibiu expressamente essas brigas nas ruas de Konoha. Gaara! Bom Neji!
(Sai Gaara com seus partidários.)
NEJI — Estou ferido. A peste caia em vossas casas. Morto! E ele não teve nada? Foi embora?
SAI — Como! Foste ferido?
NEJI — Um arranhão, um arranhão somente; mas já chega. Que leve a breca! E o pajem, onde se acha? Patife, vai buscar um cirurgião.
(Sai o pajem.)
SASUKE — Coragem, homem! O ferimento não deve ser profundo.
NEJI — Não; não é tão fundo quanto um poço, nem tão largo quanto porta de igreja. Mas é o suficiente e quanto basta. Perguntai por mim amanhã, que haveis de encontrar-me bem quieto. Para este mundo já estou salgado, posso afiançar-vos! Um cão, um rato, um camundongo, um pulha, um biltre, que briga segundo as regras da aritmética! Por que diabo vos metestes entre nós? Fui ferido por baixo de vosso braço.
SASUKE — Eu estava bem-intencionado.
NEJI — Conduze-me, Sai, a alguma casa; senão, desmaio. A peste em vossas casas! De mim fizeram pasto para os vermes. Já tenho a minha parte. Vossas casas!
(Saem Neji e Sai.)
SASUKE — Este fidalgo, próximo parente do príncipe, sincero amigo meu, por mim, tão-só, ferido foi de morte. Minha reputação está manchada com o insulto de Gaara, esse Gaara que meu parente foi durante uma hora. Doce Sakura! Tua formosura fez de mim um maricas; a coragem do aço se abranda e verga no meu peito.
(Volta Sai.)
SAI — Sasuke, Sasuke, o bom Neji é morto! Foi para as nuvens esse bravo espírito que desprezou tão cedo o pó terreno.
SASUKE — Hoje o fado somente dá o rebate para que o tempo as dores arremate.
(Volta Gaara.)
SAI — O furioso Gaara está de volta.
SASUKE — Vivo! Em triunfo! E morto o bom Neji? Vai para o céu, brandura respeitosa! Fúria de olhar de fogo, sê meu guia! Gaara, ora recebe de retorno o "vilão" que me deste não faz muito, pois a alma de Neji ainda se encontra perto de nossas fontes, aguardando que a tua vá fazer-lhe companhia. Um de nós dois terá, pois, de ir com ele.
GAARA — Pobre rapaz, que estavas de seu lado, és tu que vais partir.
SASUKE — Pois decidamos.
(Batem-se; Gaara cai.)
SAI — Sasuke, foge depressa! Os cidadãos se amotinaram. Morto está Gaara. Não fiques aturdido, pois o príncipe vai condenar-te à morte, se encontrado fores aqui. Despacha-te depressa!
SASUKE — Sou o bobo da fortuna.
SAI — Foge! Ora essa!
(Sai Sasuke.)
PRIMEIRO CIDADÃO — Para onde foi o que matou Neji? O assassino, Gaara, onde se encontra?
SAI — Gaara? Aqui.
PRIMEIRO CIDADÃO — Em nome, então, do príncipe, vos intimo, senhor; vinde comigo.
(Entra o príncipe, com séqüito; Uchiha, Haruno, suas esposas e outras pessoas.)
PRÍNCIPE — Quem desafiou, assim, o meu castigo?
SAI — Dizer-te posso, ó príncipe, a maneira por que teve começo esta cegueira. Pelo jovem Sasuke ali se encontra morto o homem que matou o teu parente, nosso bravo Neji.
SENHORA HARUNO — Como! O primo Gaara? O filho do meu caro irmão? Primo, marido, príncipe, no chão vejo o sangue correr de um meu parente. Se veraz fores, príncipe, realmente, sangue desses Uchihas há de, agora, ser também derramado, sem demora. Oh primo! primo!
PRÍNCIPE — Quem deu começo à luta dolorida?
SAI — Gaara, que Sasuke deixou sem vida; Sasuke, que lhe falou com termos brandos, com ele instando para que pensasse na ausência de motivo da querela, tendo invocado, até, vosso desgosto, tudo isso com voz doce, olhar tranqüilo e ademanes corteses, sem que tréguas conseguisse alcançar da grande cólera do furioso Gaara, que com aço pontiagudo visava uma e mais vezes o peito de Neji valoroso. Este, só chamas, ponta opõe a ponta; com desprezo marcial, a fria morte faz afastar com uma das mãos, ao tempo em que com a outra a devolvia célere ao peito de Gaara que, habilmente, de retorno lha enviava. Em altas vozes Sasuke gritava: "Amigos, separai-vos!" E mais rápido, ainda, que sua língua, seu ágil braço desviava as pontas, entre ambos se interpondo. Mas por baixo do braço dele um golpe malfadado de Gaara a existência atinge em cheio do valente Neji. Então Gaara se põe em fuga, mas retorna logo para Sasuke, que, nesse instante, havia concebido a vingança. Mais velozes que o raio se engalfinham e, assim, antes de eu poder separá-los, cai sem vida o valente Gaara, a cuja vista Sasuke fugiu. Se nisto houver maldade, vivo Sai prosseguir não há de.
SENHORA CAPULETO — Parente é dos Uchihas; bom serviço presta aos seus com mentir-vos em tudo isso. Foi de vinte, no mínimo, a sortida, para tirar apenas uma vida. Justiça, príncipe! e que seja breve: Sasuke matou Gaara; morrer deve.
PRÍNCIPE — Matou quem a Neji antes matara. Quem paga o preço dessa vida cara?
UCHIHA — Príncipe, não Sasuke; ele era amigo de Neji; só fez dar o castigo que a própria lei impunha: incontinenti dando a morte a Gaara imprevidente.
PRÍNCIPE — Por essa transgressão de nosso édito ficará de Konoha já proscrito. Vosso ódio atinge a mim, também, de perto; sangra-me o coração por ele aberto. Mas hei de vos impor a. pena dura que minha dor desde hoje vos augura. Surdo serei a escusas e pedidos; nem lágrimas nem preces os ouvidos poderão abalar-me. Assim, com pressa fazei Sasuke partir; ordem é expressa. Porque se acaso nisso houver demora, ouvido ele terá sua última hora. Levai o corpo. O excesso de demência causa mortes também, por imprudência.
(Saem.)
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